De S. Paulo a Jaccob Gapp: salvos na esperança

O Jubileu da Esperança, convocado pelo Papa Francisco, recorda-nos que a fé precisa da constância da esperança para permanecer firme no meio das provações.

28 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 4 acta
Jaccob Gapp

O Jubileu da Esperança, convocado pelo Papa Francisco para o ano 2025, ainda está a decorrer. Como sabemos, os jubileus têm a sua origem na tradição hebraica e a Igreja chama-os para conceder graças especiais, incluindo a possibilidade de obter uma indulgência plenária. O Jubileu da Juventude, celebrado em Roma com a participação do Papa Leão XIV nos últimos dias de julho, teve uma ressonância particular.

Ainda é cedo e, além disso, não é possível fazer um balanço dos frutos espirituais de um Jubileu, mas para todos os católicos o Jubileu da esperança é um convite a aprofundar e a viver mais plenamente esta virtude teologal.

A esperança em S. Paulo

São Paulo escreve aos cristãos de Roma: "Justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, por quem também temos acesso pela fé a esta graça, na qual estamos firmes e nos alegramos na esperança da glória de Deus" (Rm 5,1-2). O Papa Bento XVI, na encíclica Spes salvi, de 30 de novembro de 2007, ensina que "a esperança é uma palavra central da fé bíblica, de tal modo que, em muitas passagens, as palavras fé e esperança parecem intercambiáveis. Assim, por exemplo, nesta mesma passagem ou na Carta aos Hebreus, onde o autor liga estreitamente "a plenitude da fé" (10,22) com "a firme confissão da esperança" (10,23)".

Pode dizer-se, portanto, que a virtude da esperança exige e enriquece a virtude da fé com a qualidade da constância, da fidelidade e da permanência. Viver a virtude da esperança seria, portanto, permanecer firme na fé. A fé precisa desta fidelidade e permanência porque, nesta vida, está sujeita a provações e, em muitas ocasiões, a duras provas. O texto de S. Paulo aos Romanos, acima citado, continua: "E não só isso, mas também nos alegramos com as tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência prova, e a provação dá a esperança" (Rm 5,3-4).

Por sua vez, esta permanência na fé, que é a esperança, é sustentada, em última análise, pelo amor de Deus: "a esperança - conclui o Apóstolo - não se envergonha, porque o amor de Deus foi derramado pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Rm 5,5).

Assim, podemos concluir, somos "salvos na esperança" (Rm 8,24), mas uma esperança inteiramente fiável, graças à qual podemos enfrentar o nosso presente, mesmo que seja cansativo. A esperança cristã é fiável porque conduz a uma meta, porque podemos estar seguros dessa meta e porque essa meta é tão grande e gloriosa que justifica o esforço do caminho.

Só nós devemos viver esta esperança, que se enraíza na fé, com a certeza de uma convicção pessoal e profunda.

Jaccob Gapp

Jaccob Gapp foi um sacerdote e educador marianista austríaco, guilhotinado pelo regime nazi a 13 de agosto de 1943 e beatificado por S. João Paulo II a 24 de novembro de 1996. Foi preso pelas autoridades nazis quando se encontrava na Áustria, os seus superiores transferiram-no para França e daí para Espanha, mas em novembro de 1942, durante uma excursão a partir de Espanha, atravessou a fronteira com França e foi preso pela Gestapo. Um livro sobre a sua vida, intitulado "A Gestapo", acaba de ser publicado em espanhol.Todas as coisas passam, só o céu permanece"O autor e editor é o Padre Emilio Cárdenas.

Jaccob Grapp não parece ter as "qualidades de um santo". Não era muito calmo, apaixonado e impulsivo, mas as suas cartas da prisão são um esplêndido testemunho de esperança cristã. "Só resta o céu", escreve, ou "é preciso viver e exprimir as convicções (cristãs) como histórias e não como probabilidades" ou, por fim, "só poderei falar aos outros da minha esperança quando a tiver tornado minha no íntimo". Heinrich Himmler, chefe da Gestapo, observou que se um milhão de membros do partido nazi fossem tão empenhados como o Padre Gapp, a Alemanha conquistaria o mundo sem dificuldade.

A fé é "hipóstase".

Esta certeza não se baseia numa convicção puramente subjectiva. A virtude da esperança cristã não é apenas "todo o futuro", mas o facto de já possuirmos, de algum modo, "algo" da herança que nos espera. Bento XVI comenta este facto na encíclica "Spes salvi" n.º 7, exegindo o texto da Carta aos Hebreus 11,1: "A fé é a garantia do que se espera, a prova do que não se vê". A fé é "hipóstase" do que se espera e prova do que não se vê. Os Padres e teólogos da Idade Média traduzem a palavra grega "hypostasis" pelo termo latino "substância". Com a fé, a vida eterna começa em nós. As realidades esperadas já estão em germe em nós.

As traduções protestantes, que mais tarde influenciaram também algumas traduções católicas, reduziram esta palavra "hipóstase/substância" ao seu sentido subjetivo, deixando de lado o seu sentido objetivo. A palavra "hipóstase" não é apenas a expressão de uma aptidão puramente interior, como disposição do sujeito, o que é verdade, mas não faz plena justiça ao termo "hipóstase/substância". Não se trata apenas de convicção interior, mas também de "prova", "prova", "prova". Basta pensar, por exemplo, na doutrina católica da Eucaristia.

Durante a Missa do Jubileu em Tor Vergata, o Papa Leão XIV pediu aos jovens para "dar voz à esperança que Jesus vivo nos dá, até aos confins do mundo". Que este pedido do Papa seja o fruto do Jubileu 2025.

O autorCelso Morga

Arcebispo Emérito da Diocese de Mérida Badajoz

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