"Não imponhais mais encargos do que os necessários" (Act 15,28-29). Há alguns dias, ao reler os Actos dos Apóstolos, deparei-me com estas palavras do primeiro Concílio da Igreja e, apesar de já terem sido lidas muitas vezes, impressionaram-me particularmente.
São proferidas no contexto da controvérsia entre os primeiros cristãos judaizantes e os primeiros cristãos provenientes dos gentios. Este foi um conflito sério que a Igreja, nos seus primórdios, teve de enfrentar, e mostra como o Espírito Santo levou os apóstolos a tomar uma decisão que se revelou decisiva para clarificar a natureza da salvação em Cristo e para o subsequente avanço do Evangelho por todo o mundo.
As palavras do Concílio de Jerusalém vêm na esteira das pronunciadas por Jesus aos fariseus: "Vós impondes fardos pesados e difíceis de suportar..." (Mt 23,4). No contexto das carnes sacrificadas aos ídolos, São Paulo ensinará os seus fiéis coríntios a agir livremente, tendo apenas o cuidado de que essa liberdade não se torne uma ocasião para a queda dos ignorantes (Cor 8,9). Isto quer dizer que só o amor fraterno deve ser a norma suprema da liberdade cristã.
Nas páginas do Novo Testamento, vibra aquele espírito de liberdade - não impor fardos desnecessários! a que por vezes somos tão propensos.
O Prelado do Opus Dei, numa carta de 9 de janeiro de 2018 sobre a liberdade cristã, insiste na profunda relação entre o amor de Deus e a liberdade. Toda a vida cristã é uma resposta livre à pergunta que Jesus nos faz pessoalmente: "Amas-me?
"A vida cristã - diz o Prelado - é uma resposta livre, cheia de iniciativa e disponibilidade, à pergunta do Senhor" (n. 5).
Nunca podemos perder aquele profundo espírito de liberdade e de responsabilidade pessoal que é genuinamente cristão. Por vezes, não sabemos porquê, tendemos a prender-nos ou a prender os outros a regras ou obrigações que não são necessárias e que podem obscurecer a alegria e a agilidade para a corrida que nos espera (cf. Heb 12, 1). Na formação cristã - continua o Prelado - é importante também evitar uma ânsia excessiva de segurança ou de proteção que encolhe a alma e nos torna pequenos (n. 12). Em suma, toda a carta vale a pena e convido-vos a lê-la ou a relê-la, porque será sempre de grande utilidade. É o que me parece.