Jhosmar Rodríguez é um jovem de Trujillo, de 22 anos, recém-licenciado e jogador de futebol amador na Taça do Peru. Mas o que ele nunca imaginou é que uma saída de rotina com a namorada acabaria por marcar a sua vida para sempre. Na noite de 21 de fevereiro, às 20h40, o telhado da praça de alimentação do Real Plaza de Trujillo, na cidade de Trujillo, foi coberto por um incêndio. desmoronado de repente. Seis pessoas morreram. Ele sobreviveu, mas perdeu uma perna... e também o seu companheiro, que morreu no acidente.
O desabamento apanhou-o de pé e, em segundos, uma viga caiu sobre a sua perna direita. "Fiquei ajoelhado... Não me podia mexer, não me podia virar, não podia fazer nada".
Esteve preso durante mais de cinco horas, a esvair-se em sangue, mas sempre consciente. "Nunca desmaiei nem desmaiei... No início, resisti com os joelhos, mas quando já não aguentava mais, apoiei-me com os braços numa cadeira que consegui alcançar. Foi assim que me aguentei nas últimas horas. Ele foi o último a ser resgatado. "Deram-me um sedativo quando ainda estava de joelhos".
"A minha mãe nunca me deixou cair".
Durante esse tempo entre as vigas e a escuridão, Jhosmar não parava de pensar na sua família. "Pensava no que tudo isto iria ser para eles... dava-me forças pensar na minha mãe e nos meus irmãos". É o mais novo de cinco filhos de uma família simples, crente e muito unida. O pai é professor reformado; dois irmãos são polícias; outro irmão é contabilista, como ele. Todos esperam com grande expetativa.
Mas se alguém foi fundamental para a sua reconstrução emocional, foi a sua mãe. Mulher de fé inabalável, ia à igreja todos os dias e não se cansava de apoiar o filho quando ele vacilava. "No início, ele estava muito zangado... até ressentido com Deus", admite ela. "Mas a minha mãe estava sempre lá, a gritar comigo, a corrigir-me, para que eu não me desviasse. Estou-lhe muito grata... Deus trabalhou através dela.
A sua mãe ensinou-o desde muito cedo a amar Deus. "Ela levava-me à igreja, à escolinha onde se dava catequese às crianças. Essa semente deu frutos: Jhosmar foi catequista, recebeu todos os sacramentos e hoje, mesmo numa cama de clínica, continua a rezar todos os dias com mais confiança. "Agradeço a Deus porque me protegeu. Peço-lhe que me acompanhe neste longo caminho de recuperação.
"Quero ser um santo
Apesar da dor e das consequências físicas, Jhosmar não desiste. Sonha, luta, reza. "Sempre quis ser um santo", confessa sem afetação. "Vivi a minha vida sem fazer mal a ninguém, rezando, apoiando na igreja, acompanhando a minha mãe...".
Embora saiba que o momento em que se encontra é difícil, não se deixa derrotar: "Quando se acorda, o choque do que aconteceu mistura-se com a nova realidade. Perguntamo-nos o que será da nossa carreira, do futebol, de tudo. Mas com o tempo, ficamos mais fortes.
Antes do acidente, tinha acabado de concluir a sua licenciatura em contabilidade e finanças. Jogava na Copa Peru, "futebol macho", como lhe chama, percorrendo os bairros e os campos de Trujillo. Hoje, o seu novo campeonato é a reabilitação. "O futuro é incerto, mas eu tenho fé.
"O que conta é o interior, não o exterior".
A mensagem que quer deixar aos jovens da sua situação é simples e profunda: "Isto vai acompanhar-me toda a vida, sim, mas não tenho de me sentir menos. O medo da rejeição tem de ser retirado da nossa cabeça. O que conta é o que está dentro de nós, não o que está fora".
Jhosmar encontrou no meio da dor não só a sua força, mas também o seu objetivo. Reza pelo Papa, pelos outros feridos, pelos seus médicos, por aqueles que mais perderam. Recebeu o apoio de toda uma equipa médica que o encorajou desde o primeiro dia: "Em Trujillo, encontrei técnicos e enfermeiros incríveis, todos de topo. Empurraram-me para dentro e para fora".
Hoje, enquanto prossegue a sua reabilitação na clínica San Pablo, em Lima, Jhosmar não se define pelo que perdeu, mas pelo que ganhou: uma nova forma de encarar a vida, com os pés - agora apenas um - bem assentes no chão e a alma voltada para Deus. "Como fomos amados, assim podemos amar. Só quero que a minha vida continue a ter sentido. E sei que vai ter.
Padre peruano