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Uma voz clama no deserto: Advento pela mão de Isaías

O autor propõe para cada semana do Advento um versículo-chave do livro de Isaías, a fim de captar a essência da mensagem deste tempo litúrgico e de facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do coração de Cristo.

Rafael Sanz Carrera-8 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Durante o tempo litúrgico do Advento, três figuras bíblicas destacam-se de forma especial: o profeta IsaíasJoão Batista e Maria de Nazaré. Nesta reflexão, centrar-nos-emos na figura de Isaías. Desde a antiguidade, uma tradição universal reservou às suas palavras muitas das primeiras leituras deste tempo. Talvez porque, nele, a grande esperança messiânica ressoa com uma força única, oferecendo um anúncio perene de salvação para a humanidade de todos os tempos.

Ao contemplarmos as leituras para o tempo de Advento deste ano (ciclo C), apercebemo-nos da presença abundante de Isaías. Embora possa parecer ambicioso, tenciono selecionar, para cada semana do Advento, um dos textos que nos são propostos, juntamente com um versículo-chave. Desta forma, espero captar a essência da mensagem do Advento e facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do seu coração.

Segunda semana do Advento

As referências a Isaías na segunda semana do Advento são abundantes e significativas:

  • Segunda-feira: Isaías 35, 1-10 - Transformação do deserto e cura para a humanidade.
  • Terça-feira: Isaías 40, 1-11 - Mensagem de conforto e de preparação do caminho do Senhor.
  • Quarta-feira: Isaías 40, 25-31 - Afirmação do poder e da força divinos para os fracos.
  • Quinta-feira: Isaías 41, 13-20 - Promessa de libertação e de conversão.
  • Sexta-feira: Isaías 48, 17-19 - Deus como Redentor, dando instruções para seguir os seus mandamentos.

Profecia e versículo-chave (2ª semana)

Entre os textos de Isaías lidos na segunda semana do Advento, Isaías 40,1-11 parece ser o mais significativo neste contexto. Esta passagem oferece uma profunda mensagem de conforto e de esperança, antecipando a vinda do Senhor para libertar e restaurar o seu povo através de um mensageiro, finalmente realizado em São João Batista: "Uma voz clama: 'No deserto, preparai um caminho para o Senhor; no ermo, preparai uma estrada para o nosso Deus...'" (Isaías 40,3).

Razões para a escolha do verso

  1. Necessidade de preparação. "Uma voz grita: "No deserto, preparai o caminho do Senhor..." Este versículo é identificado nos Evangelhos como o cumprimento da missão de João Batista (Mateus 3,3; Marcos 1,3; Lucas 3,4-6; João 1,23), o precursor de Cristo que anuncia a proximidade do Reino de Deus. O Advento é um tempo de preparação para a vinda de Jesus, tanto na sua primeira vinda (o seu nascimento) como na sua segunda vinda (parusia). Este versículo sublinha a necessidade de preparar o coração para a vinda do Senhor.
  2. Simbolismo da conversão. A imagem de um caminho reto no deserto representa a obra restauradora que Deus realizará no mundo e nos corações humanos. Os obstáculos são suavizados, os desertos enchem-se de vida e o Senhor vem confortar e redimir o seu povo. Esta mensagem está em sintonia com o espírito do Advento, que convida à esperança e à renovação espiritual.
  3. O conforto do perdão. Todo o capítulo 40, especialmente os versículos 1-2, começa com um apelo à consolação do povo de Deus: "Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus; falai ao coração de Jerusalém, gritai-lhe, porque o seu serviço está feito e o seu crime está pago", onde se assegura que os pecados foram perdoados e que a restauração está próxima. Isto enquadra-se perfeitamente no tema do Advento, que nos recorda que a vinda de Jesus é o cumprimento dessa promessa de redenção.

Por estas razões, Isaías 40,1-11, e mais concretamente o versículo 40,3, exprime a mensagem-chave da segunda semana do Advento: preparar o caminho do Senhor na coração e a vida, com a esperança da sua vinda como fonte de conforto, libertação e restauração. Por sua vez, o versículo de Isaías 40:3 encontra o seu cumprimento em Jesus Cristo através do ministério de João Batista, que preparou o caminho para a vinda de Jesus, o Messias. João, ao apelar ao arrependimento, torna possível que as pessoas estejam espiritualmente preparadas para receber Cristo. Assim, Jesus é o "Senhor", cujo "caminho" foi preparado nas almas. E assim, em Jesus, cumpre-se a promessa de redenção e de restauração.

O autorRafael Sanz Carrera

Doutor em Direito Canónico

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Vaticano

Os novos cardeais, um sinal da universalidade da Igreja

O Papa Francisco continua a promover mudanças significativas no Colégio dos Cardeais, reflectidas no décimo consistório do seu pontificado, que se destaca pela ênfase na diversidade, nas periferias e na unidade eclesial. O evento inclui a criação de 21 novos cardeais, 20 dos quais eleitores, reforçando a sua visão de uma Igreja aberta e global.  

Redação Omnes-7 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Papa Francisco continua a transformar o Colégio Cardinalício com a nomeação de novos cardeais num consistório que sublinha o seu compromisso com a diversidade e as "periferias" da Igreja. Os 21 novos cardeais reflectem um enfoque estratégico na juventude, na representação global e nas prioridades pastorais do Pontífice.

A homilia do Pontífice

Na sua homilia, Francisco reflectiu sobre o significado de seguir o caminho de Jesus, recordando aos presentes que não se trata de um caminho para a glória terrena, mas para a glória de Deus, marcado pelo sacrifício e pelo serviço. "Jesus sobe a Jerusalém. A sua subida não é para a glória deste mundo, mas para a glória de Deus, o que implica uma descida ao abismo da morte", sublinhou o Pontífice, destacando que na Cidade Santa o Senhor entregar-se-á na cruz para dar uma nova vida. Em contraste, o Papa recordou a atitude dos discípulos Tiago e João, que pediram para se sentar à direita e à esquerda do Mestre "na sua glória" (Mc 10, 37). Este contraste, salientou Francisco, revela "as contradições do coração humano", algo que continua a ser verdade hoje.

Um apelo ao exame do coração

O Papa convidou todos, especialmente os novos cardeais, a um exame profundo: "Para onde vai o meu coração? Em que direção se move? Talvez esteja no caminho errado? Citando Santo Agostinho, exortou os presentes a "voltar ao coração", onde habita a imagem de Deus, e a partir daí retomar o caminho de Jesus.

"Seguir o caminho de Jesus significa sobretudo regressar a Ele e colocá-lo de novo no centro de tudo", explicou Francisco, alertando para o facto de não se deixar distrair pelo supérfluo e pelo urgente. Recordou que até a palavra "cardeal" se refere ao ferrolho que segura uma porta, simbolizando que Cristo deve ser "o fulcro fundamental" e "o centro de gravidade" do serviço dos cardeais.

Encontro, comunhão e unidade

O Papa sublinhou a importância de uma paixão pelo encontro e pelo serviço aos mais vulneráveis. "Jesus nunca caminha sozinho", disse, sublinhando que vai ao encontro dos que sofrem, levanta os caídos e enxuga as lágrimas dos que choram. Citando Dom Primo Mazzolari, recordou que "na estrada a Igreja começou; nas estradas do mundo a Igreja continua".

Além disso, Francisco exortou os cardeais a serem "construtores de comunhão e de unidade" num mundo fragmentado, reiterando as palavras de São Paulo VI sobre a busca da unidade como a caraterística distintiva dos verdadeiros discípulos de Cristo.

Perfil dos novos cardeais

O décimo consistório do Papa Francisco gerou uma série de reflexões sobre o seu pontificado e os desafios que a Igreja enfrenta atualmente. Nesta ocasião, o Papa criou 21 novos cardeais de 15 países, reflectindo mais uma vez o seu interesse por uma Igreja universal e diversificada, empenhada nas periferias sociais e geográficas. Isto sublinha a intenção de Francisco de dar visibilidade às comunidades cristãs em contextos difíceis, onde a fé e o empenhamento social são essenciais.

Dos 21 novos cardeais, 20 serão eleitores, ou seja, com menos de 80 anos e elegíveis para participar num conclave. O número total de cardeais passará assim para Os eleitores serão 141. Destes 140, 80 % (112 cardeais) foram nomeados por Francisco. Em 2025, outros 13 cardeais atingirão a idade de 80 anos, deixando 127 eleitores.

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Vaticano

Resumo da situação financeira do Vaticano

O Papa Francisco prossegue a reforma financeira do Vaticano, centrando-se no Fundo de Pensões, agora sob a administração do Cardeal Kevin Farrell, e na APSA, que procura otimizar os seus activos. Embora as reformas tenham melhorado a gestão e a transparência, continuam a existir desafios financeiros devido à diminuição das receitas e dos lucros do IOR, estando a ser aplicadas medidas rigorosas para garantir a sustentabilidade.

Andrea Gagliarducci-7 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

Com a nomeação de um administrador único para o Fundo de Pensões do Vaticano, na pessoa do Cardeal Kevin J. Farrell, o Papa Francisco prossegue o seu caminho para a reforma das finanças do Vaticano. Um caminho que está a sofrer uma mudança geracional e que, em todo o caso, envolveu todos os organismos financeiros do Vaticano, criando uma nova estrutura que está agora a dar frutos.

Em 2014, quando o Cardeal George Pell explicou a grande reforma da economia do Vaticano numa conferência de imprensa muito participada, enunciou alguns princípios fundamentais.

Princípios para a reforma

A primeira: o Vaticano não estava falido, mas era necessário racionalizar os recursos, talvez centralizá-los (era a época em que se falava de "gestão de activos do Vaticano") para permitir que todos ganhassem mais e melhor.

Em segundo lugar, a reforma das pensões era necessária, não porque o Fundo de Pensões estivesse endividado, mas porque enfrentava os problemas estruturais de todos os Estados do mundo, ou seja, haveria mais pensionistas e durante mais tempo, pelo que as novas gerações não teriam capacidade para sustentar o fundo numa determinada altura.

Em terceiro lugar, a reforma serviu para assegurar um maior controlo, respeitando as obrigações internacionais e visando uma gestão mais gerencial dos fundos.

Tratava-se de três princípios válidos, que tiveram de ser adaptados à situação peculiar do Vaticano, onde, durante anos, os orçamentos foram um assunto mais artesanal do que profissional. Os IOR (o banco do Vaticano) introduziu a auditoria externa em meados dos anos 90, na sequência de uma reforma dos seus estatutos. A APSA (Administração do Património da Santa Sé) controlava várias empresas na Suíça, França e Inglaterra, que só mais tarde foram objeto de um processo de racionalização. O Estado da Cidade do Vaticano tinha um orçamento próprio, enquanto os Oblatos de S. Pedro não tinham, embora os donativos fossem sempre utilizados para a missão do Papa, que incluía também a cobertura dos défices da Cúria.

Luz e sombras no orçamento

Atualmente, existe um orçamento público da Santa Sé, um orçamento público da Administração do Património da Sé Apostólica (o "banco central" do Vaticano), um orçamento público do Instituto para as Obras de Religião (o chamado "banco do Vaticano"), a Autoridade do Vaticano para o Combate ao Branqueamento de Capitais - agora denominada Autoridade de Informação e Supervisão Financeira - publica um relatório anual. No entanto, o orçamento do Estado da Cidade do Vaticano não é publicado há anos e, além disso, nunca foi publicado um balanço do Fundo de Pensões do Vaticano.

O que é que podemos deduzir destes orçamentos? No que respeita ao IOR, os lucros diminuíram drasticamente. No último relatório do IOR, os lucros líquidos atingiram 30,6 milhões de euros, dos quais 13,6 milhões de euros foram distribuídos por obras religiosas e caritativas, enquanto 3,2 milhões de euros foram doados a várias instituições de caridade. Em 2022, o lucro foi de 29,6. Mas estes números estão muito longe do lucro de 86,6 milhões declarado em 2012. Desde então, tem vindo a diminuir, com pequenos aumentos: em 2013, o IOR registou um lucro de 66,9 milhões; em 2014, de 69,3 milhões; em 2015, caiu mesmo para 16,1 milhões. Em 2016, voltou aos 33 milhões, em 2017 o valor manteve-se relativamente constante em 31,9 milhões de euros, enquanto em 2018 o lucro foi de 17,5 milhões.

Situação do IOR

Os lucros regressaram aos 38 milhões de euros em 2019 e, em 2020, a crise da COVID fez baixar os lucros para 36,4 milhões de euros. Mas no primeiro ano pós-pandemia, um 2021 ainda não afetado pela guerra na Ucrânia, voltamos a uma tendência negativa, com um lucro de apenas 18,1 milhões de euros, e só em 2022 voltamos ao limiar dos 30 milhões.

À medida que os lucros diminuem, a contribuição do IOR para o apoio da Cúria Romana diminui. O orçamento da Cúria, de cerca de 200 milhões de euros, é um "orçamento de missão" e consiste quase exclusivamente em despesas, enquanto as receitas provêm principalmente de donativos. A Cúria, de facto, não vende serviços, mas está ao serviço do Santo Padre.

Não existem dados recentes sobre o orçamento do Estado da Cidade do Vaticano, que, em todo o caso, registou um forte excedente graças à venda de bilhetes nos Museus do Vaticano, que caiu a pique nos dois anos da pandemia. No entanto, existem dados sobre o orçamento da APSA, publicados em julho.

Falta de transparência

A APSA actua não só como o "banco central do Vaticano", mas também como um fundo soberano, uma vez que é responsável por toda a gestão dos activos do Vaticano. Este ano, registou um lucro de 45,9 milhões de euros, conseguido através de uma melhor gestão dos investimentos. Mas é um orçamento que tem de ser lido em claro-escuro. As notícias que circulam nos meios de comunicação social falam de contratos de leasing a empresas externas e fala-se mesmo de uma venda do Annona, o supermercado do Vaticano, que deverá ser entregue em concessão a uma cadeia de supermercados italiana.

Em suma, há uma forte necessidade de lucro. O Papa Francisco escreveu aos cardeais pedindo-lhes que racionassem os recursos, reduziu os seus salários em 10 por cento, estipulou que até as casas de serviço deviam ser alugadas a preços de mercado e, no início do seu pontificado, implementou um bloqueio de rotação. Foram medidas duras que puseram à prova o sistema do Vaticano, até então largamente baseado na colaboração interdepartamental sob a coordenação da Secretaria de Estado.

Existem novas políticas de investimento, descritas no sítio "....Mensuram Bonam" mas há também a necessidade de encontrar recursos. Resta compreender como é que a Santa Sé, que há dez anos não se encontrava em condições económicas tão difíceis, como admitiu o Cardeal Pell, se viu hoje obrigada a enfrentar uma situação económica tão delicada.

Novos gestores

Enquanto as reformas económicas deram um passo em frente e outro atrás, há toda uma nova geração de funcionários a entrar nas finanças do Vaticano. O presidente da APSA é o arcebispo Giordano Piccinotti, que conhece bem o mundo das finanças, tendo sido administrador das fundações salesianas na Suíça. O cardeal Christoph Schonborn é o novo presidente do IOR, enquanto o presidente do Conselho de Superintendência, Jean-Baptiste de Franssu, continua no poder, apesar de já ter cumprido dois mandatos. A autoridade de combate ao branqueamento de capitais caminha para uma transição, talvez mesmo para uma presidência, como o demonstra a recente nomeação de Federico Antellini Russo para a dupla função sem precedentes de diretor e vice-presidente da Autoridade.

E depois há o Fundo de Pensões do Vaticano. O cardeal Farrell foi nomeado administrador único, com o objetivo de levar a cabo uma reforma para eliminar o défice, mas o cenário de pesadelo é que a provisão de pensões seja suspensa até que os orçamentos estejam em ordem, como, afinal, aconteceu na Argentina durante a crise económica do início dos anos 2000.

O que é certo é que as finanças do Vaticano passaram por um longo período de reforma, em que foram chamados consultores externos para delinear planos de reestruturação. Talvez a decisão de mudar tudo antes de avaliar o que foi feito tenha tido consequências.

O autorAndrea Gagliarducci

Evangelização

Peregrinação à Cruz com Carlota Valenzuela

Carlota Valenzuela tornou-se célebre pela sua peregrinação de Finisterra a Jerusalém; esta experiência transformadora levou-a a dedicar-se à evangelização e à orientação de peregrinações, destacando o seu trabalho no Caminho Lebaniego como um percurso de fé e de comunidade.

Javier García Herrería-6 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 8 acta

janeiro de 2022. Carlota Valenzuelauma mulher de 32 anos de Granada, inicia uma peregrinação a pé de Finisterra a Jerusalém. Depois de uma infância feliz, estudou Direito, Ciências Políticas e fez um MBA em Comércio Externo no ICEX. Aos 28 anos, sabia quatro línguas, trabalhava num bom emprego na multinacional Acciona e tinha uma óptima vida social em Madrid. No entanto, apesar das suas conquistas, sentia-se vazia por dentro. 

Carlota explica-o da seguinte forma: "Depois de ter alcançado muito daquilo a que o mundo chama "sucesso", faltava-me algo no coração. Achei que fazia sentido perguntar a Deus, que me tinha criado, o que é que Ele queria de mim para me fazer feliz. Depois de ter iniciado uma rotina de oração diária constante, Deus pôs no meu coração o desejo de ir em peregrinação a Jerusalém. Acrescenta, com humor, que "é preciso ter cuidado com o que se pede a Deus", mas parece que a sua vontade sincera de encontrar "a Sua vontade" deu frutos e aumentou muito a sua intimidade com Deus ao longo dos onze meses da sua "caminhada" pela Europa (viajou por Espanha, França, Itália, Eslovénia, Croácia, Montenegro, Albânia, Grécia, Chipre e Israel).

Jerusalém

Ao longo do caminho, Carlota conheceu a beleza da Igreja e o poder da Providência. Todas as noites tinha de procurar uma casa disposta a acolhê-la. No entanto, quando chega a Israel, os seus planos são interrompidos quando recebe a notícia do fim da doença da sua avó. Antes de apanhar o avião para Granada, teve tempo para visitar o Santo Sepulcro e colocar a mão no buraco onde foi pregada a cruz de Cristo. Depois de percorrer 6.000 quilómetros, esperava um grande dom espiritual quando chegou ao lugar santo mais importante da cristandade. 

Mas ele não sentiu nada. 

Apenas silêncio. 

Silêncio e desilusão, 

especialmente por não ter obtido uma graça divina especial, proporcional a todos os dons espirituais que tinha recebido nos meses anteriores. 

Chegou à sua terra natal a tempo de acompanhar a sua avó nos seus últimos momentos. E nesses momentos, tomando-a pela mão, "compreendi que Cristo estava verdadeiramente presente na carne sofredora da minha avó. Tudo o que eu não sentia no Santo Sepulcro, encontrava-o ali, onde o Senhor me esperava. 

Após a morte da sua avó, Charlotte regressou à Terra Santa e fez uma peregrinação de duas semanas. 

Dedicado à evangelização

A experiência da peregrinação transformou completamente a vida de Carlota e ela decidiu não voltar ao seu trabalho, mas dedicar-se à evangelização: deu conferências com o seu testemunho em muitas cidades de Espanha e da América Latina; esteve três meses em missão na Argentina; escreveu uma "Via Crucis" meditando a paixão a partir do coração feminino; e apresentou os documentários da série "Hagan Lío", de Juan Manuel Cotelo, documentando histórias de pessoas que responderam ao chamamento de Deus com generosidade e eficácia. 

O último projeto de Carlota começou a tomar forma no início de 2024. Juntamente com a sua amiga Diana, percorreu os 72 quilómetros do Caminho Lebaniego, onde se convenceu de que poderia fazer sentido organizar algumas peregrinações, com um forte sentido espiritual, para aproximar as almas dos pés do maior "lignum crucis" do mundo. 

@Alejandro Romero

Foi assim que, em maio, recebeu um primeiro grupo de 20 peregrinos. Como os frutos espirituais para os participantes foram muito positivos, decidiu levar novos grupos em agosto e mais dois em outubro. A última peregrinação contou com a presença de vários líderes católicos: padres e freiras presentes nas redes sociais ou leigos dedicados à evangelização. 

O que é o Caminho Lebaniego

O Caminho Lebaniego é uma das rotas de peregrinação mais singulares de Espanha, que conduz ao Mosteiro de Santo Toribio de Liébana, na Cantábria. Este mosteiro é famoso por guardar o maior Lignum Crucis do mundo, o maior fragmento conhecido da cruz de Cristo, o que faz dele um importante destino de fé e espiritualidade. A madeira mede 635 mm na haste vertical e 393 mm na travessa, com uma espessura de 40 mm.

Um peregrino venera o "Lignum crucis" de Liébana. @Alejandro Romero

Foi São Toríbio de Astorga, guardião das relíquias de Jesus Cristo em Jerusalém, que, com a autorização do Papa do seu tempo, levou um pedaço do braço da Cruz de Cristo para Astorga, cidade de que era Bispo. Esta relíquia foi levada para Liébana no século VIII, pois os cristãos queriam pô-la a salvo dos muçulmanos, que estavam muito avançados na sua invasão. Desde então, milhares de peregrinos percorrem este caminho para venerar o "Lignum Crucis", dando ao mosteiro um lugar privilegiado como Jerusalém, Roma ou Santiago de Compostela.

Uma peregrinação fácil de organizar

@caminolebaniego.com

Planear uma peregrinação ao longo deste itinerário é fácil e acessível graças ao seu sítio Web oficial, Caminolebaniego.com Este sítio fornece todas as informações necessárias para o percorrer: mapas pormenorizados, recomendações de alojamento e serviços e informações práticas sobre as etapas. A sinalética do percurso, marcada com uma cruz vermelha sobre um fundo branco, garante uma experiência tranquila mesmo para os principiantes.

O Caminho Lebaniego destaca-se não só pelo seu significado religioso, mas também pela beleza das suas paisagens. O percurso parte da costa cantábrica, em San Vicente de la Barquera, e entra nos espectaculares vales e montanhas dos Picos de Europa. Cada etapa surpreende pela sua riqueza natural, combinando o murmúrio dos rios, a serenidade das florestas e vistas de cortar a respiração. Há, no entanto, alguns troços de asfalto, embora as estradas sejam seguras e pouco movimentadas. 

@Alejandro Romero

Vozes que narram a experiência da estrada

Carlota vê o Caminho Lebaniego como um caminho de ascensão à cruz, porque para chegar ao Mosteiro de Santo Toribio é preciso subir desde o mar (se se parte de San Vicente de la Barquera) ou de outros lugares de origem. Para as pessoas que viveram esta peregrinação guiada pela mulher que caminhou de Finisterra a Jerusalém, esta experiência criou um espaço de introspeção, de cura e de encontro com o divino. Nas palavras de quem viveu esta experiência, o Caminho Lebaniego não é apenas uma viagem física, mas uma autêntica viagem espiritual.

Para Fernando Gutiérrez, leigo missionário e fundador da Missão Filhos de Maria, a peregrinação foi um desafio físico que lhe permitiu "sofrer com o Senhor" e encontrá-lo nos pequenos gestos e nos corações puros dos outros companheiros. "Foi uma experiência inesquecível, pela presença do Senhor Crucificado e pelo seu incomparável amor a partir da Cruz, num contexto comparável às caminhadas que Jesus fez com os seus discípulos.

Na mesma linha, Reyes e Alberto, pais que carregam o fardo da perda recente de um filho, contam como a caminhada até Santo Toribio lhes ofereceu um enorme conforto: "A nossa cruz, que era muito pesada, de repente começou a ficar mais leve e a fazer algum sentido.

Mercedes, outra das peregrinas, partilha como esta experiência marcou um ponto de viragem na sua vida espiritual: "Venho de anos muito difíceis, e poder deixar os meus fardos a Jesus faz-me sentir mais leve. Além disso, o ambiente aberto e respeitoso permitiu-me quebrar preconceitos em relação à Igreja e experimentar o sacramento da confissão depois de décadas sem o praticar. Foi um novo começo. Foi também uma grande experiência partilhar todas as minhas perguntas e dúvidas sobre a Igreja com os meus colegas peregrinos. Durante muitos anos, estive afastado da Igreja e com uma fé muito limitada, e até zangado por não compreender muitas das limitações da Igreja. Esta peregrinação ajudou-me a quebrar preconceitos, a encontrar um ambiente super aberto e respeitoso para partilhar a minha fé, e também a minha falta de fé, e a perceber que há mais coisas que nos unem do que nos separam. Continuo a trabalhar nas questões que ainda permanecem sem resposta para mim em relação à Igreja, mas agora vivo-as do ponto de vista da reconciliação e da construção de pontes, e não do ponto de vista da raiva.

Rodrigo, religioso passionista, destaca o impacto que a caminhada com outros caminhantes teve sobre ele, porque "partilhar experiências de fé com pessoas humildes e admiráveis desafiou-me e enriqueceu-me profundamente. Na veneração da Cruz que fizemos à chegada a Santo Toribio, disse para mim próprio: 'Na Cruz, tudo muda'. Partilhei com os meus companheiros que nós, padres, normalmente ouvimos muitas reflexões espirituais, mas são de outros padres, do bispo ou do superior provincial, mas raramente ouvimos reflexões dos leigos. E para mim foi uma alegria ouvir leigos tão cheios de Deus, que partilharam a sua vitalidade espiritual de uma forma natural. Foi algo que me enriqueceu imenso.

Para Mónica, esta peregrinação foi um grande dom, "que ainda tenho e terei sempre, ganhei intimidade com Deus, que até então não tinha; conhecer e saborear o estar em silêncio e contemplar a beleza exterior e interior que há em tudo o que se faz. Desde que caminhei, sinto-me mais forte, mais corajosa, consciente de que O tenho a Ele e à Sua Mãe; sinto-me segura do seu amor, de que estão comigo! 

O Padre Steven é um sacerdote diocesano que serve várias aldeias dos Picos da Europa. Em três ocasiões, teve a oportunidade de oferecer os seus serviços pastorais em peregrinações com Carlota e considera isso "um grande presente". Sublinha a união que nasce destes encontros: "Somos uma família espalhada pelo mundo. A fé em Jesus Cristo une-nos e dá-nos vida, e isso sente-se nesta experiência. A Carlota transmite facilmente uma relação profunda e preciosa com a cruz, que contagia nas conversas com os peregrinos, nas confissões e na Eucaristia". 

@Alejandro Romero

Outra das personagens locais que se podem encontrar ao percorrer o Caminho Lebaniego é Fidel, o taxista mais conhecido da zona. No seu trabalho diário, atende muitos peregrinos carregando os seus pertences, recolhendo-os quando estão feridos ou levando-os a Santander ou a outros lugares quando terminam a sua caminhada. Embora esteja habituado a ver a transformação dos peregrinos, o encontro com os grupos de Carlota deu-lhe a ele e à sua mulher um grande impulso na sua vida espiritual, ao ponto de tentar encaixar a sua agenda para participar na missa diária ou noutras actividades com os grupos.

Sonia Ortega, professora de Sagrada Escritura na Universidade de San Dámaso e responsável com a sua família por uma missão na Libéria, define a experiência como "um itinerário espiritual". Para ela, a viagem foi um reflexo da própria vida: "No caminho, enfrentam-se dificuldades, superam-se, sobem e descem, mas sempre com esperança. Chegar ao pé da cruz não se pode descrever com palavras, é preciso vivê-lo.

O Caminho Lebaniego, narrado através destas vozes, é apresentado como uma experiência transformadora onde se conjugam a fé, a comunidade, a natureza e a redescoberta pessoal. Como diz Carlota, "peregrinar é rezar com os pés". Cada passo em direção a Santo Toribio não só aproxima os peregrinos do "Lignum Crucis", mas também de uma renovação espiritual que transcende o material e deixa uma marca indelével nas suas vidas.

Evangelho

Maria, arca da nova aliança. Imaculada Conceição (C)

Joseph Evans comenta as leituras para a Imaculada Conceição (C) e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-6 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Adão e Eva tinham tentado erguer-se contra Deus, chegando mesmo a ser seus iguais: "...".sereis como Deus no conhecimento do bem e do mal". (Gn 3,5). A consequência disso não foi a sua elevação, mas a sua queda, não a sua exaltação, mas a sua vergonha. "Abriram-se-lhes os olhos e descobriram que estavam nus; entrelaçaram folhas de figueira e cingiram-se com elas". (Gn 3,7). Este vestuário improvisado (mais tarde Deus fará melhor, vestindo-os ele próprio com peles de animais: Gn 3,21) é o resultado do pecado: já não podem olhar-se com inocência. O pecado deturpou as suas paixões e as suas relações. Distorceu também a sua relação com Deus, de quem se escondem com medo e vergonha (Gn 3,10).

Basicamente, o pecado distorce, como os espelhos distorcidos ou rachados. Conhecer o mal, provar o pecado (como Adão e Eva provaram o fruto proibido), já não nos ensina. Desfoca a nossa visão da realidade. A maior falsidade é o pecado e, portanto, o demónio, "mentiroso e pai da mentira" (Jo 8,44), está tão empenhado em promovê-la.

Mas, no seu plano de salvação, Deus começou por estabelecer um limite ao mal na Virgem Maria, concebida "cheia de graça" (Lc 1,28) e criatura totalmente santa, que o dilúvio fétido de Satanás não conseguiu sequer molhar (Ap 12,14-16). Desta margem sem pecado, Cristo partiu para dominar as águas do caos (Jo 21,4; Mc 4,35-39). Maria viveu plenamente a realidade porque era profundamente humilde. Enquanto a primeira Eva procurava exaltar-se, a nova Eva está convencida da sua própria humildade e proclama-a (Lc 1,28-29.38.48). Ela foi a pessoa que mais viveu a palavra de Nosso Senhor de que aquele que se humilha será exaltado (Mt 23,12) e, por isso, vemo-la elevada à glória, revestida do esplendor da graça e do cosmos (Ap 12,1).

Esta é a Imaculada Conceição, a festa que hoje celebramos com alegria transbordante. Celebramos não só a exaltação da nossa Mãe espiritual, mas também, nela, a exaltação final da humanidade e da Igreja. Celebramos a realidade de que Maria foi concebida sem pecado no seio de sua mãe, em função de sua própria maternidade divina. Porque ela conceberia um dia o sem pecado, o Deus todo santo feito homem, Deus fez a sua mãe também sem pecado, a Arca da Aliança (Ap 11,19), o vaso imaculado para receber não só as palavras de Deus, mas o próprio Deus.

Homilia sobre as leituras da Imaculada Conceição (C)

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Ecologia integral

Raúl Flores: "O maior risco de exclusão social são os jovens e as famílias".

Aqueles que mais sofreram com a crise financeira de 2007/2008 e a crise da covid-19 ainda não recuperaram, de acordo com uma antevisão do IX Relatório FOESSA, a publicar no final de 2025, apresentado pela Cáritas. Os jovens, as famílias com crianças pequenas, as mulheres e os imigrantes são os grupos de maior risco. Os problemas de habitação afectam um em cada quatro agregados familiares em Espanha.

Francisco Otamendi-5 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Uma parte da sociedade espanhola não conseguiu recuperar das consequências do crash financeiro de 2008. Um exemplo desta falta de recuperação pode ser visto em 2024, quando 9,4 milhões de pessoas, ou seja, 19 % da população, se encontrarem em diferentes situações de pobreza. exclusão social.  

Este número é consideravelmente mais elevado do que em 2007, quando 16 % da população se encontrava nestas circunstâncias. E dos actuais 9,4 milhões de pessoas, 4,3 milhões encontram-se naquilo a que se chama exclusão social grave.

Cáritas acaba de apresentar uma antevisão dos resultados do 9º Relatório FOESSA, que será tornado público no último trimestre de 2025, através de Natalia Peiro, secretária-geral da Cáritas Espanhola, e Raúl Flores, secretário técnico da Fundação FOESSA e coordenador da Equipa de Investigação da Cáritas Espanhola. Hoje o Omnes fala com este último, mas antes, alguns conselhos de Natalia Peiro

Depois de recordar "todas as pessoas afectadas pelas graves inundações" em Valência e noutras localidades, o Secretário-Geral referiu-se à Plano Agradeceu a solidariedade de muitas pessoas e organizações. Por outro lado, salientou que "os dados macroeconómicos positivos" devem ajudar-nos a "concentrar a nossa atenção nos mais vulneráveis".

Raúl Flores e Natalia Peiro na apresentação do relatório

De acordo com o relatório FOESSA, as famílias do nosso país ainda não estão a recuperar. Sr. Flores, pode quantificar isto?

- De facto, uma parte da sociedade espanhola não conseguiu recuperar das consequências da grande recessão de 2008. Um exemplo desta falta de recuperação é o facto de, em 2024, 9,4 milhões de pessoas, ou seja, 19,% da população, se encontrarem em várias situações de exclusão social. Este número é significativamente mais elevado do que em 2007, quando 161,% da população se encontrava nesta situação.

Refere-se a milhões de pessoas em situação de exclusão social, e mesmo de exclusão social grave. Defina exclusão social grave, para fins técnicos, embora seja fácil de imaginar.

- A exclusão social é muito mais do que a privação material, é muito mais do que a pobreza monetária, a privação económica. A exclusão social refere-se à acumulação de dificuldades que influenciam e determinam as condições de vida, mas que têm a ver com uma grande variedade de dimensões, como o emprego e o consumo, mas também a saúde, a habitação, a educação, os direitos de participação política, o isolamento social e os conflitos sociais. Dos 9,4 milhões de pessoas em situação de exclusão social, 4,3 milhões encontram-se naquilo a que chamamos exclusão social grave.

Quando nos referimos à exclusão social grave, o que queremos dizer é a acumulação de muitas dificuldades. A grande maioria das pessoas em situação de exclusão social grave é afetada por três ou mais das oito dimensões que analisamos. Isto significa que não têm apenas dificuldades no emprego ou na capacidade económica, mas também em áreas como a saúde, a habitação, a educação, o isolamento social ou o próprio conflito social. E algumas dificuldades juntam-se a outras, criando situações crónicas e prolongadas.

Nesta antevisão, centram-se, em particular, no grave problema da habitação...

- Observámos que, no diagnóstico, uma parte significativa da sociedade enfrenta dificuldades de acesso e de manutenção habitação. A habitação tornou-se o programa mais transversal para toda a sociedade, o que nos faz compreender que o nosso regime de proteção da habitação está longe dos regimes existentes na nossa vizinhança.

Especificamente em termos de política de habitação para arrendamento público, o parque habitacional público é de apenas 2,5 % em comparação com a média da UE de 8 %.

Isto significa que temos de continuar a progredir na criação e extensão deste parque habitacional público, que não só serve como forma de acesso prioritário e facilita o acesso das famílias mais vulneráveis, mas também actua como um equilibrador num mercado da habitação claramente orientado para o investimento e que ainda não é capaz de defender o direito à habitação.

Que grupos estão mais ou menos em risco de exclusão social?

-O risco mais elevado de exclusão social nesta ocasião reflecte aquilo a que chamámos um fosso entre gerações. Por um lado, as pessoas com mais de 65 anos continuam a reduzir os seus níveis de exposição à exclusão social, com níveis que são hoje quase metade dos registados em 2007, 8 % de exclusão social entre as pessoas com mais de 65 anos contra 16 % em 2007. 

Mas do outro lado deste fosso encontramos a população infantil e a população mais jovem, entre as quais os seus níveis de exposição à exclusão social e, especificamente, à exclusão social grave duplicaram. Eram 7 % em 2007 e agora são 15 % em 2024.

Estas percentagens são importantes. Se possível, aprofundar um pouco mais.

- O perfil das pessoas em situação de exclusão social, apesar de ser um perfil muito variado, encontra alguns grupos com maior exposição, nomeadamente as famílias monoparentais, 29 %, as famílias com filhos menores de 24 anos, 24 %, as famílias com uma pessoa com deficiência, 24 %, e ainda as pessoas de origem estrangeira, onde a exclusão social aumenta para 47 %, nomeadamente os migrantes extracomunitários. 

Por outro lado, há também que ter em conta que, dentro deste perfil de grupos de maior risco, se destacam as famílias e os agregados familiares chefiados por mulheres. A exclusão social aumenta para 21 % nestas famílias chefiadas por mulheres, contra 16 % nas famílias chefiadas por homens.

Passemos ao emprego. Parece que este deixou de ser um antídoto infalível contra a exclusão social.

- O emprego perdeu a sua capacidade histórica de integração social e económica. A nossa sociedade observa atualmente como, apesar do crescimento do emprego e da redução do desemprego, gerámos emprego de uma forma dual. Criaram-se empregos com capacidade inclusiva, com remunerações adequadas e estabilidade que permitem projectos de vida e familiares, mas também se criaram empregos que se somaram a todos os empregos precários, sem estabilidade e com salários que não permitem uma vida digna em muitas zonas do nosso país.

Nestas situações, temos vindo a observar que o emprego é cada vez menos um fator de proteção contra a pobreza e a exclusão social. 12 % dos activos estão em situação de pobreza monetária e 10 % estão em situação de exclusão social. 

Portanto, se o emprego deixou de ser um mecanismo de inclusão, temos que buscar elementos que nos ajudem a ir além do emprego como garantidor de direitos e temos que buscar políticas públicas que realmente garantam os direitos necessários à população.

Foram também referidos problemas de saúde mental.

- Felizmente, a sociedade espanhola está mais consciente e preocupada com a saúde mental como um dos elementos fundamentais da saúde geral. A crise da COVID-19 tornou-nos mais conscientes da importância do bem-estar emocional e das dificuldades enfrentadas pelas pessoas com problemas de saúde mental.  

Atualmente, somos confrontados com uma desigualdade crescente na abordagem desta questão da saúde mental: a desigualdade fundamental entre aqueles que podem pagar um regime de saúde privado e aqueles que têm de esperar pelas listas de espera que o sistema público apresenta nestas circunstâncias.

A este respeito, temos de reforçar e melhorar o investimento num sistema nacional de saúde e num catálogo de saúde pública que aborde questões tão importantes e cruciais como a saúde mental.

Analisam também a proteção das crianças e as políticas familiares.

- Para além dos discursos que ouvimos há muitos anos sobre a necessidade de proteger a família e de proteger a fase da educação, que são obviamente reais e importantes, temos de passar aos factos, e passar aos factos significa gerar investimento e reflecti-lo nos orçamentos públicos. O investimento que fazemos hoje nas crianças está longe do investimento que é feito nos países que nos rodeiam na Europa.

Se olharmos apenas, por exemplo, para os benefícios económicos por criança dependente, a Espanha dedica apenas 36 % do que dedica em média na União Europeia. Esta falta de investimento nas crianças e nas políticas orientadas para a família é a razão dos elevados níveis de exclusão social desta parte da sociedade.

Por último, falou de propostas. Resuma quatro ou cinco. 

- Como sociedade, enfrentamos uma série de desafios importantes se não quisermos continuar a deslizar para a sociedade de risco. Entre todos esses desafios, devemos destacar três elementos que são fundamentais para travar esta sociedade de risco. Vamos referir-nos ao desafio do emprego, o das crianças e o da habitação.

Em primeiro lugar, no que respeita ao emprego, é essencial ter consciência de que ainda há muitas pessoas que não estão no mercado de trabalho e que muitas das que estão no mercado de trabalho não têm capacidade suficiente para assegurar um nível de vida mínimo. 

Isto expõe-nos à necessidade de continuar a desenvolver o sistema de garantia de rendimento mínimo. Temos uma ampla margem para melhorar este sistema de garantia de rendimento mínimo, uma vez que atualmente apenas gastamos 30 % da média da União Europeia em rendimentos de inserção. 

E, juntamente com esta necessidade de reforçar a integração social monetária, é também importante considerar a necessidade de progredir no direito à inclusão social como um elemento fundamental para melhorar os itinerários de inclusão entre as famílias. Já falámos das crianças e da habitação.

O autorFrancisco Otamendi

Evangelho

Vales vazios e montanhas altas. Segundo Domingo do Advento

Joseph Evans comenta as leituras do segundo domingo do Advento e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-5 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Há um belo tema de consolação nas leituras de hoje, centrado inicialmente em Israel, mas que também se aplica espiritualmente a nós. Tanto a primeira leitura como o Evangelho apontam para a "paisagem" que acompanha o regresso de Israel a Deus. Não se trata simplesmente de um regresso com a cabeça baixa e o rosto contrito, mas exige uma reordenação maciça do terreno, poder-se-ia mesmo dizer uma recriação do mesmo: é preciso preparar um caminho através do deserto, preencher vales, baixar montanhas e colinas, endireitar caminhos tortuosos e sinuosos, tornar mais transitáveis as estradas acidentadas. 

Foi por isso que Deus enviou João Batista antes de Cristo para preparar o caminho. Tudo tinha de ser preparado. Ele pregava um batismo para o perdão dos pecados. As pessoas vinham ter com ele para serem baptizadas no Jordão, como expressão simbólica da consciência da sua impureza espiritual e da sua necessidade de perdão. João chamava-as à conversão de muitas maneiras práticas.

Também nós somos chamados a responder ao apelo de João à conversão, o que pode implicar trabalhar nas estradas tortuosas, nos vales vazios, nas montanhas altas, nos caminhos sinuosos e nas estradas difíceis que encontramos em nós próprios.

Todos nós temos caminhos tortuosos. Muitas vezes não somos rectos. Não dizemos as coisas como elas são. Tentamos ser astutos e desonestos. Escondemo-nos na nossa vergonha em vez de enfrentarmos e confessarmos a nossa culpa. O esforço para sermos mais honestos, sinceros e diretos pode ser uma área de conversão.

Estamos cheios de vales vazios - os talentos e o tempo que desperdiçámos. Onde deveria haver crescimento e fertilidade, há esterilidade e desperdício. Será que podemos encontrar formas de utilizar melhor o nosso tempo e os nossos talentos?

Todos nós temos muitas montanhas e colinas altas que precisam de ser derrubadas. Somos muito orgulhosos. Pensamos que somos tão grandes. Devemos rezar por humildade.

Depois, há os caminhos tortuosos. São a nossa tendência para perder tempo, para adiar. Precisamos de mais coragem e força para pôr mãos à obra, sobretudo nas coisas difíceis, para não procrastinar, para pegar o touro pelos cornos. 

Finalmente, há os caminhos difíceis. Todos nós temos arestas no nosso carácter. Podemos ser rudes e bruscos, impacientes e demasiado exigentes com os outros. Trabalhar estas "arestas" pode ser um bom objetivo para o Advento. Talvez não consigamos trabalhar em todas elas, mas talvez possamos concentrar-nos numa ou duas áreas em que podemos tentar melhorar.

Homilia sobre as leituras do segundo domingo do Advento

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Vaticano

Língua chinesa, breves homilias na Audiência do Papa

A novidade da Audiência de quarta-feira foi a leitura, pela primeira vez, por uma leitora chinesa, que ficou em quinto lugar, depois da leitora espanhola. O Papa Francisco insistiu na brevidade das pregações, não mais de 8 ou 10 minutos, que devem ter "uma ideia, um afeto e uma proposta sobre Jesus, o Senhor".

Francisco Otamendi-4 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Com a novidade de um leitor de língua chinesa, é a primeira vez que isto acontece numa Público O Papa Francisco disse na quarta-feira no Vaticano que "hoje, com grande prazer, iniciamos a leitura do resumo da catequese em chinês".

"Gostaria, pois, de apresentar as minhas mais calorosas saudações ao Chinês Invoco a alegria e a paz sobre todos vós e sobre as vossas famílias. Sobre todos vós e sobre as vossas famílias invoco alegria e paz. Que Deus vos abençoe", disse o Pontífice.

As palavras do leitor na língua Chinês foram incluídos em quinto lugar, depois do francês, do inglês, do alemão e do espanhol, e antes do português, do árabe, do polaco e do italiano, com os quais o Papa costuma terminar.

Núcleo do Evangelho

Diante do leitor chinês, que como os outros leitores leu um trecho da Carta de São Paulo aos Coríntios, o Santo Padre recordou a mensagem central da pregação evangelizadora: "Depois da Páscoa, a palavra 'Evangelho' assume o novo significado de boa notícia sobre Jesus, ou seja, o mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo. É a isto que o apóstolo chama 'evangelho' quando escreve: 'Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê' (Rm 1,16)".

O Pontífice sublinhou que "na pregação cristã há dois elementos constitutivos: o conteúdo, que é o Evangelho; e o meio, que é o Espírito Santo. Os dois estão intimamente unidos, ou seja, a Palavra de Deus é transmitida com a unção do Espírito Santo; sem o Espírito, faltaria a alma, a vida da pregação, seriam difundidas apenas ideias ou preceitos a cumprir".

Primeiro anúncio, que precisa sempre de ser ouvido de novo

Mais adiante, acrescentou que "na catequese, o primeiro anúncio ou 'querigma' tem um papel fundamental, que deve estar no centro da atividade evangelizadora e de toda a tentativa de renovação eclesial. [...] Quando este primeiro anúncio é chamado "primeiro", isso não significa que esteja no início e depois seja esquecido ou substituído por outros conteúdos que o superam. É o primeiro em sentido qualitativo, porque é o anúncio principal, aquele que deve ser sempre ouvido de novo e de maneiras diferentes".

A oração e a pregação de Jesus

No entanto, "poderíamos perguntar-nos: se a ação evangelizadora depende do Espírito Santo, podemos também nós fazer alguma coisa? Como podemos colaborar na ação evangelizadora da Igreja? E o Papa respondeu: com "a oração", e "ser

Temos de estar atentos, não para nos pregarmos a nós próprios, mas para pregarmos Jesus. Isto significa que, antes de empreendermos um apostolado, precisamos de rezar, de invocar o Espírito Santo para nos ajudar. E essa missão tem de estar centrada em Cristo, não nos nossos próprios desejos ou necessidades".

Pregação breve

Sobre este ponto, Francisco insistiu que a pregação não deve durar 8 minutos, e depois diria 10, entre outras razões porque temos tendência a ver homens a sair para fumar um cigarro durante a homilia. E a pregação deve ter "uma ideia, um afeto e uma proposta", sublinhou.

Imaculada Virgem Maria e apoio polaco aos ucranianos

Na sua saudação aos peregrinos de língua espanhola, o Papa disse que "estamos a celebrar nestes dias a Novena em preparação para a Solenidade do Imaculada Conceição. Peçamos a Maria, nossa Mãe, que, como ela, permaneçamos abertos e disponíveis à ação do Espírito Santo na nossa vida e na missão que a Igreja nos confia. Que Jesus vos abençoe e a Virgem Santa vos proteja.

Isto é também sublinhado pela saudação final em italiano: "O tempo do Advento, que acaba de começar, apresenta-nos nestes dias o exemplo luminoso do Virgem Imaculada. Que ela vos encoraje no vosso caminho de adesão a Cristo e sustente a vossa esperança.

Depois, dirigindo-se aos peregrinos de língua polaca, recordou-lhes que "no próximo domingo celebraremos na Polónia o 25º Dia de Oração e Ajuda Material à Igreja no Oriente. Agradeço a todos aqueles que apoiam a Igreja nestes territórios, especialmente na Ucrânia devastada pela guerra, com orações e ofertas, e abençoo-vos do fundo do coração.

Critérios de evangelização e de paz.

Antes de dar a Bênção, o Pontífice considerou que "não querer pregar a nós mesmos significa também não dar sempre prioridade às iniciativas pastorais promovidas por nós e ligadas ao nosso próprio nome, mas colaborar de boa vontade, se nos for pedido, nas iniciativas comunitárias, ou naquelas que nos são confiadas por obediência. Que o Espírito Santo ensine a Esposa a pregar assim o Evangelho aos homens e mulheres de hoje".

Por fim, o Papa reiterou o seu apelo de longa data para que se reze pela paz. "A guerra é uma derrota humana, destrói, rezemos pelos países em guerra, há tantas crianças inocentes que sofrem".

O autorFrancisco Otamendi

Todas as estradas 

Há um ditado muito conhecido que diz que todos os caminhos vão dar a Roma. Raramente, como no contexto de um Jubileu universal da Igreja, estas palavras assumem um significado mais profundo.

4 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Há um ditado muito conhecido que diz que todos os caminhos vão dar a Roma. Raramente, como no contexto de um Jubileu universal da Igreja, estas palavras assumem um significado mais profundo. Mais ainda, se possível, no meio de um mundo em que os caminhos parecem pouco nítidos e a esperança de uma meta se torna pouco clara e irrealista. Quase se poderia dizer que a Igreja tem, humanamente falando, pouco ou nada a celebrar. 

Das telhas para baixo, o júbilo e a alegria tornam-se quase um desafio para o católico de hoje, mas o importante é que nós, cristãos, somos chamados (com os pés no chão, na lama) a olhar para o céu, a seguir a lógica do peregrino.

"Que felicidade esperamos e desejamos? Pergunta o Papa Francisco na Bula de Convocação do Jubileu, Spes non confundit. em que o próprio pontífice responde: "Não se trata de uma alegria passageira, de uma satisfação efémera que, uma vez alcançada, continua a pedir mais e mais, numa espiral de cobiça em que o espírito humano nunca está satisfeito, mas sim sempre mais vazio. Precisamos de uma felicidade que se realize definitivamente naquilo que nos realiza, isto é, no amor, para que possamos exclamar desde já: sou amado, logo existo; e existirei para sempre no Amor que não desilude e do qual nada nem ninguém me poderá separar".

É este o objetivo do peregrino do Jubileu. O peregrino não é um simples caminhante por estradas inacabadas. O peregrino tem uma meta que ultrapassa o ponto cardeal terrestre para entrar na forma da vida, no coração. Ele é caminhante e construtor; com o Espírito Santo, abre novos caminhos à medida que caminha. Não os cria, descobre-os com o olhar faminto do amor.

Celebrar um novo Jubileu sob o signo da esperança é mais um dos paradoxos com que os católicos se fazem presentes no mundo. 

Recordar que Deus perdoa a cada um de nós, para além do mal que possamos ter feito, é recordar que há vida: se há vida, há esperança; se há esperança, há vida. Reconhecer que cada um de nós precisa de ser salvo, precisa de voltar ao seu dono original, como aquelas terras que voltaram aos seus donos originais nos Jubileus do Antigo Testamento. 

Um regresso que marca o início de uma nova vida em Deus: "Uma tal experiência de perdão só pode abrir o coração e a mente ao perdão. O perdão não muda o passado, não pode mudar o que já aconteceu; e, no entanto, o perdão pode permitir que o futuro mude e seja vivido de uma forma diferente, sem rancor, raiva ou vingança.".

O autorOmnes

Espanha

Sevilha promove "o poder evangelizador da piedade popular".

O Congresso Internacional de Confrarias e Piedade Popular, que se realiza em Sevilha de 4 a 8 de dezembro, é a ocasião para o Papa Francisco afirmar numa carta que "a piedade popular do nosso tempo constitui uma força evangelizadora muito eficaz para os homens e as mulheres", recordando os santos Papas João Paulo II e Paulo VI.

Francisco Otamendi-4 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O II Congresso Internacional de Confrarias reunirá na capital andaluza mais de 1800 congressistas, 60 por cento dos quais provenientes da arquidiocese de Sevilha e os restantes de outras dioceses espanholas e de países e regiões com tradição de fraternidade: Ibero-AmericanosO evento contou com a presença de uma delegação dos Açores, composta por italianos, belgas, holandeses, alemães, americanos e suíços, entre outras nacionalidades.

O primeiro congresso teve lugar na Catedral de Sevilha, de 27 a 31 de outubro de 1999, e culminou com a coroação canónica da imagem de María Santísima de la Estrella.

Carta do Papa Francisco

O Carta A mensagem do Papa foi dirigida em latim ao seu enviado especial ao CongressoEdgar Peña Parra, substituto para os Assuntos Gerais da Secretaria de Estado da Santa Sé. Nela, Francisco escrevercitando no início S. João Paulo II, que "é necessário que a Mãe Igreja continue a evangelizar de novo através das confrarias, que levam a todos a luz, a redenção e a graça do Salvador" (Jubileu Internacional das Confrarias, 1 de abril de 1984).

"Estamos convencidos de que a piedade popular do nosso tempo é uma força evangelizadora muito eficaz para homens e mulheres (...).Evangelii gaudium126)", continua o Pontífice, "que transmite 'uma sede de Deus que só os pobres e os simples podem conhecer. Torna a generosidade e o sacrifício capazes até de heroísmo quando se trata de manifestar a fé" (S. Paulo VI, Evangelii Nuntiandi, 48)".

"O Evangelho sustenta o nosso coração".

O texto exprime também a alegria do Papa pela celebração do congresso: "Animados pela consciência de que o Evangelho alimenta ou sustenta os nossos corações, e empenhados em estudar as necessidades de toda a Igreja, alegramo-nos especialmente com o II Congresso Internacional das Confrarias e da Piedade Popular que, precisamente nas bodas de prata da sua primeira celebração, se realizará na gloriosa cidade de Sevilha no próximo mês de dezembro".

Arcebispo de Sevilha: "levar Cristo aos homens e às mulheres".

O Arcebispo de Sevilha, Monsenhor José Ángel Saiz Menesesdedicou o seu carta de domingo No primeiro domingo do Advento, intitulado "Caminando en Esperanza" (Caminhando na Esperança), o congresso foi inaugurado com um concerto na catedral de Sevilha pela Orquestra Sinfónica Real de Sevilha.

No texto, o arcebispo de Sevilha explica que "as confrarias são chamados a entrar num diálogo profundo com os homens e mulheres de hoje para levar Cristo à sua vida; um diálogo fundado numa relação pessoal com o Senhor Jesus, que se exprime no encontro com os irmãos e irmãs. Este deve ser a sua alma e a sua identidade, o que implica uma dedicação decidida à evangelização e à pastoral da Igreja".

Na mesma linha, acrescenta que "as irmandades devem oferecer um testemunho credível de vivência da fraternidade que lhes dá o nome". Ao mesmo tempo, insiste no "apelo a sermos faróis de caridade no meio de um mundo cheio de luzes, sombras e desafios".

Programação, Eucaristia

Segundo os organizadores, o programa deste encontro internacional sofreu algumas alterações em relação à sua configuração inicial, devido ao Consistório de 8 de dezembro em Roma.

Nove conferências, três mesas redondas e a celebração da Eucaristia no final de cada uma das quatro sessões do congresso são as linhas gerais do congresso. programa. Salvatore Fisichella, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, que será apresentado pelo Bispo de Málaga, Monsenhor Jesús Catalá.

Seguir-se-ão as intervenções dos Cardeais Kevin J. Farrell, apresentado por Reyes Muñiz Grijalvo; Marcello Semeraro, apresentado pelo Bispo de Cádiz-Ceuta, Rafael Zornoza; e José Tolentino de Mendonça, apresentado pelo Bispo de Córdoba, Demetrio Fernández.

Edgar Peña Parra; o Núncio Apostólico em Espanha, Monsenhor Bernardito Auza; o Arcebispo de Valladolid e Presidente da Conferência Episcopal Espanhola, Monsenhor Luis Argüello; o Arcebispo de Granada, Monsenhor José María Gil Tamayo, e no dia 8, na cerimónia de encerramento, o Arcebispo de Sevilha, Monsenhor Saiz Meneses.

O Trabalho social do congresso reverterá a favor dos sem-abrigo, no âmbito da intervenção da Cáritas Diocesana de Sevilha, e "prolongar-se-á no tempo", segundo os organizadores.

La Macarena recebe a Rosa de Ouro

Ontem, terça-feira, a Santísima Virgen de la Esperanza, popularmente conhecida como la Macarena, recebeu a Rosa de Ouro Edgar Peña, na presença do Arcebispo de Sevilha e de numerosas autoridades. A cerimónia foi acompanhada pelo Coro Polifónico da Confraria Macarena.

A Rosa de Ouro é um presente exclusivo oferecido pelos pontífices para exprimir reverência pela Virgem Maria. Tem raízes antigas e simboliza a bênção papal. A tradição remonta ao Papa Leão IX, que a instituiu em 1049. É feita de prata dourada e representa uma roseira com flores, botões e folhas, tudo colocado num vaso de prata de estilo renascentista com o brasão papal.

O autorFrancisco Otamendi

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Uma leitura cristã de "A história sem fim".

A "História Interminável" de Michael Ende tem referências filosóficas e literárias óbvias, mas, conhecendo o passado e a vida do autor, não parece demasiado rebuscado descobrir um fundo cristão neste clássico universal.

4 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O ano de 2024 marca o 40º aniversário da estreia do filme germano-americano "A História Interminável" (Wolfgang Petersen, 1984). Quando foi lançado, era o filme mais caro produzido fora dos Estados Unidos ou da União Soviética e era uma adaptação da primeira metade do romance homónimo do escritor alemão Michael Ende (Alemanha, 1929-1995). Embora para o autor do livro o filme fosse "um gigantesco melodrama comercial baseado na pieguice, na fofura e no plástico", conseguiu cativar - com a sua inesquecível banda sonora - toda uma geração de crianças que apreenderam algumas das mensagens mais profundas contidas neste clássico da literatura juvenil.

Biografia de Michael Ende

Michael Ende é o único filho do pintor surrealista Edgar Ende (um dos artistas "degenerados" segundo os nazis) e de Luise Bartholomä, fisioterapeuta. A sua infância foi marcada pelo ambiente artístico e boémio em que o pai se movia. Na sua juventude, esteve envolvido num grupo anti-nazi chamado "Frente Livre da Baviera" enquanto era estudante, mas teve de abandonar os estudos para servir no exército alemão. Mais tarde, a sua família mudou-se para uma zona de artistas em Munique, que teve uma grande influência em Ende.

Depois de ingressar na escola antroposófica do filósofo Rudolf Steiner, e após a estreia da sua primeira peça "It is Time" (dedicada ao massacre de Hiroshima), Ende estudou representação na escola de Otto Falckenburg, em Munique, e publicou as suas três peças mais famosas: "Jim Button e Luke, o Maquinista" (1960), "Momo" (1973, de carácter surrealista e metafísico, proibida na Alemanha comunista devido à sua dura crítica social) e "A História Interminável" (1979). Casou e viveu em Roma durante 26 anos com a cantora Ingeborg e, após a morte da sua mulher, casou uma segunda vez com a japonesa Mariko Sato. Era um grande fã de tartarugas, que aparecem em vários dos seus romances.

O cosmos é um anfiteatro

Numa entrevista concedida no final de 1983, Michael Ende declarou-se "convencido de que, fora do nosso mundo percetível, existe um mundo real do qual o homem provém e para o qual se dirige novamente. É uma ideia que discuti longamente com o meu pai, a quem devo o que sou e a ideia do mundo como algo misterioso. Para mim, a natureza não é uma mera soma de química e física", que gostaria de ter tido filhos, que tinha tendência para a depressão, que se considerava cristão, que acreditava "que vivemos agora nesse mundo prometido e que existe uma hierarquia infinita de inteligências superiores... como os chamados anjos e arcanjos". Afirmou também que "a humanidade é o umbigo do mundo. Para mim, o cosmos é um enorme anfiteatro onde os deuses e os demónios observam o que fazemos aqui, caso contrário não percebo porque temos de viver.

Quando lhe perguntaram porque é que Deus permite o mal, respondeu: "Porque é necessário, o mal é tão necessário como o bem. Na história da salvação de Cristo, Judas é completamente necessário. Desdémona é tão importante como Iago. O ponto de vista histórico e estético não conhece a moral". E disse também que já não se interessava pela política porque foi um dos que "em 1968 seguiu o caminho esperançoso do movimento estudantil; no entanto, os ortodoxos instauraram um terror psicológico em que me senti como a última criança. Não podia acreditar que todo aquele Marx e cabelo comprido conduzissem a uma verdadeira solidariedade.

As referências de "The Neverending Story".

O seu romance "A história sem fim" tem referências filosóficas e literárias evidentes. Nesta história de aventuras, aparentemente ingénua, aparece a ideia de vazio e o conceito de "nada"; a viagem do guerreiro Atreyu; o pântano da tristeza e a sabedoria da velha tartaruga Morla, o destino do dragão Falcor ou Fujur; o poder de acreditar e as esfinges do Oráculo do Sul; a Imperatriz infantil; a teoria dos reflexos, a projeção e a coragem de se confrontar com o seu verdadeiro eu; a coragem de deixar o medo para trás, o poder dos sonhos e a importância, em tempos tão superficiais, da imaginação.

Tal como nas filosofias grega, judaica, hindu e outras, o conceito de ser ou não ser e as consequências da negação de si próprio estão presentes neste romance. Idéias de Hegel, Kant, Heidegger e do existencialismo de Sartre se manifestam na história de formas diferentes, mas com a mesma mensagem: o nada é o oposto do ser, do verdadeiro ser. No Portal do Espelho, Atreyu enfrenta um dos maiores desafios do ser humano: o confronto com o seu verdadeiro eu. Ali, onde "as pessoas bondosas descobrem que são cruéis e os corajosos se tornam cobardes. Porque quando confrontadas com o seu verdadeiro eu, a maioria das pessoas foge. Esta mensagem faz parte do pensamento de Jacques Lacan e da sua obra sobre "o eu". Desde o título do livro, há reminiscências do eterno retorno de Nietzsche.

As crenças e o sentido da existência

Ao longo da história, Atreyu é salvo em vários momentos por um dragão branco sortudo: o amado Fálcor ou Fújur, presente nos momentos mais difíceis, apoiando-o e encorajando-o a acreditar novamente. Este "companheiro de sorte" está presente em várias civilizações milenares, como a chinesa, e faz parte do carácter inesperado e surpreendente do caminho. Outro momento chave da história é o encontro de Atreyu com Gmork, um lobo mercenário de "nenhures", que lhe fala do poder dos sonhos na vida humana e de como a fantasia não tem limites. Quando os humanos deixam de acreditar, desejar e sonhar, a ausência existencial cresce e ameaça o nosso verdadeiro eu. Como diz Gmork no romance, "se as pessoas deixam de acreditar, a sua existência torna-se sem sentido e fácil de controlar. E quem controla tem o poder.

O contexto cristão de "The Neverending Story".

Conhecendo os antecedentes e a vida de Michael Ende, não parece muito rebuscado descobrir um fundo cristão neste clássico universal. Alguns exemplos poderiam ser: a importância da leitura e dos livros (o livro da história - a Sagrada Escritura), a salvação vem de uma criança (Bastian-Cristo), a redenção através de um aparente fracasso (Atreyu-Cristo), o protagonismo na história de uma rapariga (a Imperatriz infantil que vive na Torre de Marfim - a Virgem Maria), a tristeza e a desesperança como arma das forças do mal (o afundamento do cavalo Artax no pântano da tristeza, o niilismo da velha tartaruga Morla, o avanço do nada - a ação do demónio sobre as almas), a importância do nome (o nome "filha da lua" dado por Bastian à pequena Imperatriz - o nome que Deus dá a todas as suas criaturas e às pessoas a quem confia missões especiais na história da salvação), todo o recomeço quando tudo parece perdido (a reconstrução de Fantasia por Bastian - a redenção de Jesus Cristo que faz novas todas as coisas depois da destruição provocada pelo pecado), etc.

Lembro-me de ver o filme 1984 pela primeira vez no cinema quando tinha quatro anos e muitas vezes depois no cinema e na televisão. Embora na altura não compreendesse tudo o que estou a escrever neste artigo, achei as suas ideias fascinantes e úteis para a minha vida. Quando, em 1995, decidi entregar-me totalmente a Deus, lembro-me da cena do filme em que Atreyu vence o seu medo e atravessa a perigosa passagem entre as esfinges do Oráculo do Sul para cumprir a sua missão. Que Michael Ende se divirta para sempre no Verdadeiro Paraíso.

Zoom

Representantes portugueses apresentam a cruz da JMJ à delegação sul-coreana

No final da Missa da Solenidade de Cristo Rei do Universo, no Vaticano, uma delegação de jovens portugueses entregou a cruz das JMJ a um grupo de jovens da Coreia do Sul.

Redação Omnes-3 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Vaticano

Celebrações de Natal no Vaticano em 2024

A Sala Stampa publicou o calendário das celebrações no Vaticano a que o Papa Francisco vai presidir no Natal. Este ano, 2024, a abertura da Porta Santa, que marca o início do Ano Jubilar, terá lugar a 24 de dezembro.

Redação Omnes-3 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto

A Sala Stampa publicou o artigo calendário das celebrações de Natal no Vaticano para 2024.

A Missa solene da Natividade do Senhor, presidida pelo Papa Francisco no dia 24 de dezembro, às 19h00, na Basílica de São Pedro, está ligada este ano à abertura da Porta Santa, no início do Ano Jubilar de 2025.

No dia seguinte, 25 de dezembro, o Pontífice pronunciará o seu discurso de Natal e, às 12 horas, dará a bênção "Urbi et orbi". Uma semana depois, no dia 31 de dezembro, às 19 horas, Francisco celebrará as Vésperas da Solenidade de Maria Santíssima Mãe de Deus, seguidas do canto do "Te Deum". No dia 1 de janeiro, o Papa celebrará a Santa Missa, por ocasião da solenidade e da Dia Mundial da Paz.

Como última celebração do período natalício, o Santo Padre presidirá à Missa de 6 de janeiro, Solenidade da Epifania do Senhor, às 10 horas, na Basílica de São Pedro.

Todas as celebrações eucarísticas e a bênção do dia de Natal podem ser seguidas em direto no canal YouTube de Notícias do Vaticano.

Livros

Nuria Casas: "A sociedade diz-nos que podemos fazer tudo sozinhos, e isso não é verdade".

Nuria Casas é autora do livro "A cicatriz que perdura", no qual conta a sua história de superação de um distúrbio alimentar. Este difícil percurso serviu-lhe, entre outras coisas, para redescobrir Deus e conhecer mais de perto o seu coração misericordioso.

Teresa Aguado Peña-3 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Nuria Casas acredita que o sofrimento tem um sentido, por isso escreveu "O sofrimento tem um sentido".A cicatriz que perdura"O livro é uma coleção das suas reflexões sobre o seu percurso para ultrapassar um distúrbio alimentar (DE).

A cicatriz que perdura

Autor: Nuria Casas
Editorial: Aldaba
Número de páginas: 168
Língua: Inglês

Para além de ser uma história de superação da anorexia, "A cicatriz que perdura" é um testemunho de esperança e resiliência. Uma adolescente cristã, oriunda de uma família de 6 irmãos e de um ambiente saudável, encontra-se num poço do qual descobre que não consegue sair sozinha. Nuria Casas, autora do livro, convida-nos a refletir sobre como as feridas mais profundas se podem tornar uma força. Conseguiu transformar a sua dor numa fonte de inspiração e, com apenas 24 anos de idade, foi encorajada a publicar este livro com o qual muitos, apesar de não estarem ligados a uma ATT, se sentiram identificados.

O que é que o incentivou a escrever este livro?

- Normalmente, as pessoas têm a ideia para o livro e depois escrevem-no. Para mim, aconteceu um pouco o contrário... Sempre precisei de escrever, canalizei tudo para esse lado e nos momentos de caos e escuridão precisei ainda mais. Quando ia ter alta, foi a própria psiquiatra que me disse "tens muitas coisas escritas, não tens? Ela já tinha lido reflexões minhas. Depois comecei a olhar para aquilo, a pôr tudo em ordem e de repente vi que, se pusesse capítulos e um índice, podia ser um livro.

Pensei em guardá-lo para mim, mas isso colidia com a minha filosofia de vida, que é "tudo é para o melhor". Qual é o sentido de eu andar por aí a dizer que tudo é para o melhor, ter isto escrito sabendo que pode ajudar alguém, e guardá-lo para mim? E foi assim que o livro nasceu.

Sendo uma rapariga normal num ambiente saudável, como é que se chega a esse ponto de um ATT?

- É verdade que não há uma coisa específica. Todos temos a nossa bolsinha, e o que eu explico no livro é que a anorexia não surge do nada: é uma doença, mas é sempre a consequência de alguma coisa. No fundo, o que é físico e o que é visível é a ponta do icebergue, mas tudo o que está enterrado é a causa de tudo. 

Muitos leitores disseram-me que, sem terem qualquer tipo de relação com a DE, se sentiram identificados comigo, porque o livro é sobre a minha anorexia, mas no fundo fala de feridas que todos temos, do sofrimento em geral que toda a gente experimenta a dada altura.

No livro, diz: "Fugir não cura a dor, agrava-a". O que diria a uma pessoa que nega o seu sofrimento, que não aceita que é cega e tem de ir ao oculista? Como a ajudaria a amar a sua cruz?

- Embora não concorde com a filosofia de Freud, ele disse algo muito sensato: tudo o que enterramos acaba sempre por sair, e quanto mais tempo demora a sair, pior é. Isto pode até ser visto no nosso corpo quando somatizamos algo. É por isso que é melhor enfrentá-lo o mais cedo possível e ainda mais quando se tem consciência do motivo pelo qual se está a sofrer. Há pessoas que, depois de enterrarem tanto o problema, quando querem recuperá-lo não sabem o que se passa e têm de voltar atrás e procurar a causa de tudo.

Também é importante o exercício da aceitação: aceitar o bom e o mau não é apenas aceitar o que não gosto em mim, mas também o que me aconteceu. Não gostaria que tivesse acontecido, mas não o posso mudar, por isso como é que lido com isso da melhor maneira possível?

Que conselhos daria para aceitarmos as nossas fraquezas, para aceitarmos as nossas imperfeições, para nos aceitarmos tal como somos?

- Quem te ajuda a aceitares-te completamente é Deus. Porque foi ele que te criou. E não só te criou, como te coloca nas situações que te são apresentadas. E nem sempre o compreendemos no momento em que sofremos, mas tudo faz sentido. O que me está a acontecer agora, e está a ser uma experiência forte, é que as pessoas estão a contactar-me, estou a compreender o significado de todo o sofrimento destes anos. Muitas pessoas estão a pedir-me para as iluminar à luz da minha experiência e isso faz-me ver que o sofrimento que passei não foi em vão. 

Há duas formas de sair do sofrimento: a primeira é pensar que o mundo foi injusto consigo e acha que tem o direito de ser injusto com o mundo, fechando-se em si próprio. A outra é abrir-se aos outros, porque sofreu tanto que não quer que ninguém volte a passar pelo que você passou sem ter as ferramentas que lhe pode dar com a sua experiência, desenvolvendo assim uma empatia natural. Afinal de contas, as pessoas que sofreram normalmente ligam-se melhor ao sofrimento dos outros. Esta segunda via leva-o a reconhecer-se como fraco, aceitando a sua natureza, os seus limites e a sua fragilidade. Ao mostrar a sua fraqueza aos outros, descobre subitamente que essa fraqueza é na verdade uma força, porque através dela serve para ajudar os outros com a luz da sua experiência.

Acredita que todos devem partilhar do seu sofrimento?

- Penso que pode ajudar-nos a falar mais sobre a vulnerabilidade, porque estamos numa sociedade que nos transmite a mensagem de que podemos fazer tudo, podemos fazê-lo sozinhos e não precisamos de ninguém. E isso não é verdade. Como dizia Aristóteles: os seres humanos são sociais por natureza. Ou seja, precisamos dos outros e, muitas vezes, até ficarmos em baixo, não nos apercebemos desta verdade.

 Por outro lado, cada um tem de encontrar os seus pontos de apoio e saber onde eles estão. No livro explico: Deus manda sempre cruzes porque sabe que naquele momento podemos carregá-las porque nos dá a graça de as carregar e ao mesmo tempo dá-nos sempre pontos de apoio e no meu caso foram 100 % a minha família e os meus amigos.

Sou explicadora e dou aulas de algumas disciplinas no 2º ESO e de filosofia no bacharelato, que adoro. Uma vez alguém me disse: "Não percebo onde vais buscar a paciência com as crianças", porque é verdade que tenho a turma mais intensa de todo o ensino secundário. E sim, é claro que tenho de ter paciência com os meus filhos, mas penso que as pessoas que sofreram são capazes de ver para além da pessoa, ou seja, uma criança está a portar-se muito mal, tudo bem, mas o que é que ela tem? Queremos ir um pouco mais longe. Compreendi que a paciência vem do facto de que, como comigo as pessoas que me quiseram ajudar foram tão compreensivas, então também devo ser compreensivo com aqueles que sofrem o mesmo que eu. Dar o que recebi.

O que é que a luz da fé traz à experiência de uma tal doença? Qual é a diferença entre a forma como um católico e um não crente lidam com ela?

- Só posso contar-vos a versão da pessoa que é crente. É verdade que neste processo tive momentos de grande escuridão em relação a Deus e de estar muito zangado com Ele e não entender absolutamente nada, por isso talvez também tenha um pouco dessa visão, mas o que me ajudou foi Deus. É por isso que, sem Ele, parece-me muito difícil. É possível, e há muitas pessoas que o conseguiram, embora também seja verdade que depende muito do círculo que nos rodeia.

Deus ajudou-me na parte profunda da aceitação de mim mesma, não querendo ter tudo sob controlo. A anorexia é uma forma de ter algo sob controlo num momento em que tudo está a desmoronar-se ou tudo está caótico. O que acontece no momento em que deixamos Deus entrar? Aprendemos a deixar esse controlo nas suas mãos. De facto, o momento em que voltei a ligar-me a Deus foi quando rezei uma oração como esta: "Não aguento mais. Estive todos estes meses a querer fazer tudo sozinho, mas agora deixo-o nas tuas mãos". Isto parece muito bonito e muito teórico, mas a partir daí a ação de Deus na minha vida reflectiu-se em factos concretos. Até então, estava relutante em ir ao médico, mas no dia a seguir a essa oração decidi ir e comecei a deixar-me ajudar.

Muitas vezes as pessoas que vêm de uma família cristã tomam a fé como um dado adquirido e vivem-na como um simples moralismo, um fazer as coisas corretamente, até terem um encontro pessoal com Deus e começarem a compreender realmente o Seu amor, a experimentá-lo nas suas vidas. Como foi o seu encontro com Ele?

- É verdade que, muitas vezes, há pessoas que precisam de se afastar de Deus para o encontrarem pessoalmente. Aconteceu-me encontrar Deus na universidade, na altura da minha recaída. Foi a primeira vez que pensei em Deus como Nuria. Tinham-me explicado que Deus era bom, mas no meu sofrimento pensei: "Ou o Deus que sempre me explicou que é tão bom e que me ama tanto não existe, ou existe, mas não me ama e não quer saber de mim".

Não percebi porque é que eu sofrendo. Mas no momento em que voltei a encontrar-me com Deus, compreendi. De repente, a cruz tornou-se o meu tema preferido, porque compreendi que é precisamente quando nos envia cruzes que mais nos ama. Se fôssemos perfeitos, se tudo corresse bem e não precisássemos de nada, pensaríamos: "Porque é que preciso de Deus se sou perfeito?" A cruz, portanto, faz-nos ver que não podemos fazer tudo sozinhos e que precisamos dele. Quando nos envia uma cruz, está a amar-nos porque nos diz: "Quero que estejas perto de mim".

O autorTeresa Aguado Peña

ColaboradoresRaquel Rodríguez de Bujalance

A situação das mulheres em África

As mulheres africanas estão a redefinir o seu papel na sociedade, desafiando estereótipos e quebrando barreiras. Apresentamos uma breve viagem pela diversidade, desafios e triunfos das mulheres no continente mais diverso do mundo.

3 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

A África tem uma população de 1,4 mil milhões de pessoas espalhadas por centenas de grupos étnicos que falam mais de mil línguas. O papel das mulheres nesta paisagem diversificada é profundamente influenciado pela cultura específica de cada região.

Alguns países africanos, como a África do Sul e o Ruanda, registaram progressos significativos em termos de igualdade. O Gabão, a Namíbia e a Etiópia são também países governados por mulheres.

 Entretanto, as mulheres de outros países africanos, como o Burundi, a República Centro-Africana e o Níger, considerados os mais pobres e menos desenvolvidos do mundo, parecem estar presas à pré-história. Sem esquecer partes da República Democrática do Congo, Sul do SudãoMoçambique, Chade, Eritreia, Etiópia, Mali, Burkina Faso, onde as mulheres são vítimas de deslocações forçadas e de violência sexual, utilizadas como armas de guerra. 

Do mesmo modo, o fosso entre as mulheres das zonas urbanas e rurais continua a ser enorme. Nas cidades, as mulheres estão a entrar cada vez mais no mercado de trabalho, enquanto nas zonas rurais isoladas persistem práticas tradicionais que limitam as suas oportunidades.

As mulheres africanas desempenham um papel fundamental no desenvolvimento do continente, sendo as principais impulsionadoras em várias áreas. Apesar de enfrentarem desafios como a violência, a desigualdade de género, a pobreza e a falta de acesso a todos os tipos de recursos, as mulheres em África demonstram todos os dias uma resiliência e uma liderança excepcionais. Elas são fundamentais na economia informal ou na agricultura, que são a base de muitas economias africanas, sendo em grande parte responsáveis pela produção e comercialização de alimentos. 

O microfinanciamento, a criação de cooperativas, o investimento na educação das mulheres ou os programas de formação em liderança permitiram a muitas mulheres criar empresas, aumentar a sua independência e contribuir para o desenvolvimento local. A educação traduz-se imediatamente numa diminuição da pobreza, numa melhoria da saúde comunitária e numa melhor educação para as crianças, e os programas de liderança estão a impulsioná-las a liderar movimentos sociais e políticos, lutando pelos seus direitos e por uma maior representação social e política.

O autorRaquel Rodríguez de Bujalance

O diretor de comunicação da Harambee.

Os ensinamentos do Papa

No limiar do Jubileu 2025: a esperança, uma âncora que nunca falha

A poucos dias do início do Jubileu 2025, a Bula "Spes non confundit" do Papa Francisco destaca a esperança como tema central. Inspirada também na encíclica "Spe Salvi" de Bento XVI, destaca a esperança cristã como âncora e motor da transformação espiritual e da reconciliação.

Ramiro Pellitero-2 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

No início de maio, foi publicada a Bula Papal "Spes non confundit" ("A esperança não confunde") para anunciar o Jubileu de 2025. O Ano Jubilar está agora a poucas semanas de distância. 

Por esta razão, apresentamos aqui alguns pontos-chave do documento, sublinhando a sua ligação com a encíclica "Spe Salvi" de Bento XVI.   

Porque é que "a esperança não desilude"? O que é que S. Paulo quer dizer com estas palavras escritas aos cristãos de Roma? Em que consiste a esperança? Como podemos, aqui e agora, viver na esperança e testemunhá-la aos que nos rodeiam?

O fundamento da nossa esperança

O subtítulo da carta do Papa exprime o desejo e a súplica de que "a esperança encha os corações" de quem a lê. O contexto desta carta é que, antes de Cristo, toda a humanidade estava sem esperança, porque estava sujeita ao pecado. Precisava de ser reconciliada com Deus. E isso não é feito pela antiga Lei (mosaica), mas pela fé como meio de alcançar a justificação (vv. 1-4) através da doação de Cristo. A sua ressurreição é o fundamento da nossa esperança de uma vida transformada. É uma esperança que não desilude, "porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" ("Romanos" 5, 1. 2-5). 

Foi assim que, sob o signo da esperança cristã, o Apóstolo encorajou os convertidos de Roma. Até então, ele tinha evangelizado na parte oriental do Império, agora Roma esperava-o com tudo o que isso significava, daí o grande desejo de chegar a partir dali a todos: um grande desafio que tinha de enfrentar, em nome do anúncio do Evangelho, que não conhece barreiras nem fronteiras (cf. n. 2). 

Esta esperança é a mensagem central do próximo Jubileu, que, segundo uma antiga tradição, o Papa convoca de vinte e cinco em vinte e cinco anos como um período de ação de graças, de renovação espiritual e de reconciliação.

Francisco antecipa o acontecimento: "Penso em todos os peregrinos da esperança [lema do Jubileu] que virão a Roma para viver o Ano Santo e naqueles que, não podendo vir à cidade dos Apóstolos Pedro e Paulo, o celebrarão nas Igrejas particulares". 

Pede e deseja que "seja para todos um momento de encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, a 'porta' da salvação" (cfr. John 10, 7.9). Por isso é também "a nossa esperança" (1 Timóteo 1,1). "Nossa" aqui não significa apenas dos cristãos, mas é oferecida a todos os homens de todos os tempos e lugares. Porque "todos esperam" (n. 1) e muitos desanimam. 

O texto de Francisco recorda-nos, sem dúvida, a encíclica de Bento XVI sobre a esperança cristã (2007). Aí se diz que o homem tem muitas esperanças, sejam elas maiores ou menores" (em relação ao amor, à profissão, etc.), mas não são suficientes para preencher a expetativa que só pode ser realizada por uma "grande esperança", fundada em Deus (cf. "Spe salvi", n. 30). Ao mesmo tempo, as nossas acções, o nosso sofrimento e o horizonte do juízo final podem ser "lugares de aprendizagem (escolas) da esperança" (ibid., 32-48). Bento convida a modernidade a fazer uma autocrítica de uma esperança frequentemente depositada no mero progresso. Mas propõe também uma autocrítica aos cristãos: pede-lhes que "aprendam de novo em que consiste verdadeiramente a sua esperança" (n. 22), sobretudo na linha de evitar uma certa perspetiva individualista da salvação; porque a "esperança para mim" só pode ser autêntica se puder ser também "esperança para todos", como nos pede a comunhão com Jesus Cristo (cf. n. 28). 

Estamos a ver como estas luzes reaparecem no ensinamento de Francisco, por vezes com acentos diferentes.  

A mensagem cristã de esperança

"A esperança, de facto, nasce do amor e funda-se no amor que brota do Coração de Jesus trespassado na cruz" (n. 3). Um amor que vem para nos dar a participar da sua própria vida (cf. "Romanos" 5, 10), a partir do batismo, pela graça e como ação do Espírito Santo. 

A esperança não desilude, porque é fundada e alimentada por este amor divino por nós. E não é que São Paulo ignore as dificuldades e os sofrimentos desta vida. Para o Apóstolo, "a tribulação e o sofrimento são as condições próprias de quem anuncia o Evangelho em contextos de incompreensão e perseguição" (n. 4; cf. "Romanos" 5,34; 2 "Coríntios" 6,3-10). Não como algo simplesmente irremediável a suportar, mas precisamente "o que sustenta a evangelização é a força que brota da cruz e da ressurreição de Cristo" (ibid.), e tudo isto nos leva a pedir e a desenvolver a virtude da paciência (que implica contemplação, perseverança e confiança em Deus, que também é paciente connosco), também ela fruto do Espírito Santo. "A paciência (...) é filha da esperança e, ao mesmo tempo, sustenta-a" (ibid.).

O Papa Francisco citou por vezes Charles Péguy, quando no "Pórtico do Mistério da Segunda Virtude" (1911) compara a fé, a esperança e o amor a três irmãs que andam de mãos dadas. A esperança, a mais pequena, fica no meio, quase despercebida - pouco se fala dela - ao lado das suas irmãs, tão belas e resplandecentes. Mas, na realidade, é a esperança que as sustenta e as faz avançar; sem ela, perderiam o seu ímpeto e a sua força. Em todo o caso, a fé, a esperança e a caridade estão uma na outra, "interpenetradas", na medida em que partilham as energias - de conhecimento, de amor e de ação - do próprio Cristo nos cristãos,

Jubileus no caminho da esperança

Os jubileus são celebrados regularmente desde 1300, com precedentes de indulgências durante as peregrinações já no século anterior. "As peregrinações a pé são muito propícias a uma redescoberta do valor do silêncio, do esforço, do essencial" (n. 5). Estes itinerários de fé permitem sobretudo aproximar-se "do sacramento da Reconciliação, ponto de partida insubstituível para um verdadeiro caminho de conversão" (Ibidem).

Além disso, este Jubileu está em continuidade com os dois imediatamente anteriores: o Jubileu ordinário do 2000º aniversário do nascimento de Jesus Cristo, no início do novo milénio, e o Jubileu extraordinário durante o Ano da Misericórdia em 2015. Pretende também ser uma preparação para o próximo Jubileu, em 2033, para os dois mil anos da redenção operada pela morte e ressurreição do Senhor. O evento terá início com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro, no Vaticano, a 24 de dezembro. Seguir-se-ão, dentro de alguns dias, cerimónias semelhantes nas outras três grandes basílicas romanas. Nas igrejas particulares, realizar-se-ão celebrações semelhantes. A conclusão será a 28 de dezembro de 2025. O sacramento da Penitência está no centro do Jubileu, ligado à indulgência que também pode ser obtida nas igrejas particulares. 

Sinais de esperança

A tudo isso, Francisco acrescenta que não podemos apenas alcançar a esperança que nos é oferecida pela graça de Deus, mas redescobri-la nos "sinais dos tempos" ("Gaudium et spes", 4), que em sentido teológico nos permitem interpretar, à luz da mensagem evangélica, os anseios e as esperanças dos nossos contemporâneos, para transformá-los em "sinais de esperança" (cf. n. 7). Entre esses sinais, propõe Francisco, deveriam estar o desejo de paz no mundo, o desejo de transmitir a vida, os gestos que correspondem à mensagem de liberdade e de proximidade que o cristianismo traz (a começar pelo nível social, com referência aos presos e doentes, aos deficientes, etc.).

Os que representam a esperança são os que mais precisam de "sinais de esperança"os jovens. Muitos são capazes de reagir prontamente ao serviço dos outros em situações de catástrofe ou de instabilidade; outros estão sujeitos a circunstâncias (nomeadamente a falta de trabalho) que favorecem a sua sujeição à melancolia, à droga, à violência; os migrantes, por exemplo, encontram-se frequentemente numa situação de instabilidade., os exilados, os deslocados e os refugiados, que vão à procura de uma vida melhor; os mais fracos, porque seremos julgados com base no serviço que lhes prestamos (cf. Mt 25, 35 ss.); os idosos e os pobres, que são quase sempre as vítimas e não os culpados dos problemas sociais.

Dois apelos à esperança

Na linha destes sinais ou gestos de esperança que se esperam de todos, de várias formas e intensidades, o Papa convida-nos a repensar duas questões de ontem e de sempre, não menos urgentes: o destino e a distribuição dos bens da terra ("não se destinam a uns poucos privilegiados, mas a todos", n.º 6); a anulação das dívidas a países que nunca as poderão pagar (sem esquecer a "dívida ecológica"(cf. ibid. 6).

Em nenhum momento Francisco esquece o fundamento, no seu caso e no caso dos cristãos, destes apelos: Jesus Cristo (que nos revelou o mistério de Deus Uno e Trino como mistério de amor), cuja divindade voltaremos a celebrar por ocasião do 1700º aniversário do Concílio de Niceia, e cuja Páscoa - esperemos - nós, cristãos, poderemos celebrar numa data comum. 

A âncora da esperança

No dinamismo das virtudes teologais, sublinha o Bispo de Roma, "é a esperança que, por assim dizer, indica o rumo, a direção e a finalidade da existência cristã" (n. 18). Através dela, aspiramos à vida eterna, como destino definitivo e conforme à dignidade humana; pois "temos a certeza de que a história da humanidade e a de cada um de nós não se encaminha para um ponto cego ou para um abismo sombrio, mas dirige-se para o encontro com o Senhor da glória" (n. 19). 

Sobre o fundamento da fé em Cristo, morto e ressuscitado para a nossa salvação, nós, cristãos, esperamos e anunciamos a esperança de uma vida nova, baseada na comunhão plena e definitiva com Deus e com o seu amor. Isto foi testemunhado sobretudo pelos mártires cristãos (o Jubileu será uma boa ocasião para uma celebração ecuménica). E o juízo final será um testemunho do predomínio deste amor, que vence o mal e a dor do mundo. 

Para podermos participar plenamente na comunhão com Deus e com os santos, somos exortados a rezar pelos defuntos do purgatório e a pedir-lhes a indulgência jubilar; a confessar os nossos pecados no sacramento da Penitência para obtermos a indulgência (remoção dos efeitos residuais do pecado), também para nós; promover a prática do perdão (que torna possível uma vida sem rancor, sem raiva e sem vingança), porque "o futuro iluminado pelo perdão permite ler o passado com olhos diferentes e mais serenos, mesmo que ainda estejam raiados de lágrimas" (n. 23). 23). Tudo isto com a ajuda dos "missionários da misericórdia" que Francisco instituiu no Ano da Misericórdia. E com o "altíssimo testemunho" de Maria, Mãe de Deus, mãe da esperança, estrela do mar: "Não estou eu aqui que sou tua mãe? 

E Francisco sublinha: "Esta esperança que temos é como uma âncora da alma, sólida e firme, que penetra para além do véu, lá onde Jesus entrou por nós, como precursor" (n. 25, cf. Hb 6,18-20).

No meio das tempestades da nossa vida, diz o sucessor de Pedro, "a imagem da âncora é sugestiva da estabilidade e da segurança que possuímos se nos confiarmos ao Senhor Jesus, mesmo no meio das águas agitadas da vida". E espera que a nossa esperança, sobretudo no Ano Jubilar, seja "contagiosa" para todos os que a desejam.

Vaticano

De 9 a 15 de dezembro

Resumo esquemático dos principais discursos e audiências que tiveram lugar no Vaticano durante o mês de dezembro.

Redação Omnes-2 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Quarta-feira 11

No Público em geral O Papa Francisco disse que está a rezar pela paz e estabilidade na Síria neste "momento delicado da sua história". Concluiu também o ciclo de catequeses - dezassete no total - sobre o Espírito Santo, neste caso falando da relação que este tem com a virtude teologal da esperança.

Martes 10

Três arguidos condenados por má gestão de fundos comunitários coro da Capela Sistina. O antigo diretor foi condenado a 3 anos, o antigo diretor financeiro a 4 anos e 8 meses e a sua mulher a 2 anos.

Lunes 9

O Papa Francisco recebe em audiência os participantes no Congresso Internacional sobre o Futuro da Teologiaorganizado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação. O desejo de que a teologia ajude a "repensar o pensamento" e o convite a torná-la "acessível a todos", sublinhando a necessidade do contributo das mulheres, porque "uma teologia só de homens é uma teologia de meia tigela". 

Do conta @Pontifex Na rede social X, o Papa aponta o dedo às guerras, "desencadeadas pela cobiça de matérias-primas e dinheiro", e a uma economia armada que gera instabilidade e corrupção. 


Domingo 8

O Santo Padre vem à Piazza di Spagna, em Roma, como é tradição todos os dias 8 de dezembro, para prestar homenagem ao Papa. homenagem à Imaculada Conceição.

Sábado 7

O Papa cria 21 novos cardeais20 dos quais eleitores, reforçando a sua visão de uma Igreja aberta e global.

Viernes 6

Na Sala Paulo VI, o primeiro dos três meditações para o Natal do novo pregador da Casa Pontifícia, sobre o tema "A porta do espanto".

Por ocasião da reabertura de Notre DameFrancisco pede que seja um sinal de renovação em França.

Francisco saudou as delegações que deram donativos o presépio e a árvore para a Praça de São Pedro e a Sala Paulo VI. O Menino Jesus está deitado na manjedoura sobre um lenço palestiniano.

Jueves 5

O Papa Francisco encontra-se com os participantes num encontro promovido pelo Congregação das Canonisas Monjas do Espírito Santo em Sassia e reflecte sobre o significado de "viver sem nada de próprio", um voto de pobreza expresso na regra da família religiosa.

O Santo Padre recebeu em audiência os membros da delegação de Caritas de ToledoEspanha.

Quarta-feira 4

O Papa recebe o Irmãs da Sagrada Família de Nazaré por ocasião do 150º aniversário da fundação.

O primeiro-ministro húngaro Orbán esteve em audiência com o Papa durante mais de meia hora, durante a qual foram debatidas as questões da guerra na Ucrânia e os esforços de paz, a presidência húngara do Conselho da UE, o apoio à família e aos jovens.

"100 presépios no Vaticano"Sétima edição da exposição na colunata da Praça de São Pedro.

Martes 3

No último reunião do Conselho dos CardeaisO encontro, que se realizou nos dias 2 e 3 de dezembro na Casa Santa Marta, na presença do Papa, abordou vários temas da atualidade da Igreja e do mundo, também na sequência do recente Sínodo. O trabalho foi também uma oportunidade para refletir sobre a situação nos diferentes países de origem dos cardeais "para partilhar preocupações e esperanças sobre as actuais condições de conflito e crise".

O Vídeo do Papa com a intenção de oração do Santo Padre para o mês de dezembro, convida-nos a rezar para que "o próximo Jubileu nos fortaleça na fé, nos ajude a reconhecer Cristo ressuscitado no meio da nossa vida e nos transforme em peregrinos da esperança cristã".

Segunda-feira 2

O Papa Francisco enviou um carta pastoral ao povo da Nicarágua, reafirmando a sua proximidade espiritual, encorajando-o a manter a fé em tempos difíceis e sublinhando a devoção à Imaculada Conceição como fonte de esperança e unidade.


Domingo 1

No AngelusFrancisco exorta-nos a enfrentar as dificuldades, as angústias e as falsas convicções "levantando a cabeça", confiando no amor de Jesus que nos quer salvar e que se aproxima de nós em todas as situações da nossa existência e nos ajuda a redescobrir a esperança. confiando no amor de Jesus que nos quer salvar e que se aproxima de nós em todas as situações da nossa existência e nos ajuda a reencontrar a esperança.

Vaticano

O Papa quer visitar Niceia em 2025

O Papa Francisco manifestou o desejo de visitar Nicéia, a atual Iznik, em 2025, no âmbito de uma viagem à Turquia para assinalar o 1700º aniversário do Concílio de Nicéia.

Relatórios de Roma-2 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

O Papa Francisco manifestou o seu desejo de se deslocar a Niceia em 2025. A visita do Papa far-se-á no âmbito da celebração do aniversário do Concílio de Niceia.

A par do aniversário, católicos e ortodoxos aguardam com expetativa um outro acontecimento do calendário: ambas as Igrejas celebram a Páscoa de 2025 no mesmo dia, 20 de abril.


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Vaticano

O Papa envia uma mensagem de esperança ao povo da Nicarágua

O Papa Francisco enviou uma carta pastoral ao povo da Nicarágua reafirmando a sua proximidade espiritual, encorajando-o a manter a fé em tempos difíceis e destacando a devoção à Imaculada Conceição como fonte de esperança e unidade.

Redação Omnes-2 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Papa Francisco dirigiu uma emocionante carta pastoral ao povo nicaraguense, reafirmando a sua proximidade espiritual e encorajando-o na sua devoção à Imaculada Conceição, figura central da fé do país. No contexto da Novena da Imaculada Conceição, o Pontífice expressou o seu afeto à comunidade cristã de Nicarágua e salientou a sua fidelidade a Deus e à Igreja como faróis que iluminam a sua vida.

O Papa Francisco começou a sua mensagem recordando o amor que os nicaraguenses têm por "Papachú", uma expressão local que reflecte a sua confiança filial em Deus. Reconheceu os desafios que as pessoas enfrentam e convidou-as a manter a fé: "Precisamente nos momentos mais difíceis, em que se torna humanamente impossível compreender o que Deus quer de nós, somos chamados a não duvidar da sua solicitude e da sua misericórdia.

Sendo filhos da Virgem

O Santo Padre destacou o papel da Virgem Maria como modelo de confiança e proteção. Neste sentido, sublinhou a riqueza espiritual da devoção nicaraguense, reflectida no tradicional grito: "Quem causa tanta alegria? A Conceição de Maria!", que encarna a dedicação e a gratidão de um povo que reconhece a Virgem como sua Mãe protetora.

Em preparação para o Jubileu de 2025, Francisco encorajou os fiéis a encontrarem força na sua fé, particularmente na oração do Rosário: "Ao recitar o Rosário, estes mistérios penetram na intimidade do nosso coração, onde se abriga a liberdade das filhas e dos filhos de Deus, que ninguém nos pode tirar". Sublinhou que esta prática, para além da meditação dos mistérios de Cristo e de Maria, permite-nos integrar na oração as nossas próprias alegrias, tristezas e esperanças.

O Papa apelou também à perseverança na confiança em Deus, especialmente em tempos de incerteza. "Quero dizê-lo com força: a Mãe de Deus não cessa de interceder por vós, e nós não cessamos de pedir a Jesus que vos mantenha sempre na sua mão", disse, mostrando-se solidário com as dificuldades que a nação enfrenta.

A Virgem e a Nicarágua

A concluir a sua mensagem, Francisco reiterou a proteção da Imaculada Conceição, sublinhando a profunda ligação do povo a Maria através da expressão: "Maria da Nicarágua, Nicarágua de Maria".

A carta pastoral terminou com uma oração especial escrita para o Jubileu, na qual o Pontífice pediu a Deus a paz e as graças necessárias para superar os desafios actuais. "A tua graça transforma-nos em dedicados cultivadores das sementes do Evangelho... na expetativa confiante dos novos céus e da nova terra", rezou o Papa, encorajando os nicaraguenses a manter viva a esperança.

Esta mensagem reforça a importância da fé e da devoção na vida do povo da Nicarágua, recordando-lhe que, mesmo nos momentos de maior adversidade, tem a orientação de Deus e o apoio da Igreja. A celebração da Imaculada Conceição, marcada por um fervor único, continua a ser um símbolo de unidade e de força espiritual para toda a nação.

Vocações

Um missionário leigo nas selvas da Amazónia

Marita Bosch, missionária leiga, trabalha na Amazónia há 9 anos com a Equipa Itinerante. Desde o seu início, numa lixeira no Paraguai, a sua vocação centrou-se no serviço aos mais pobres. Na Amazónia, enfrenta os desafios ambientais e sociais, vivendo uma espiritualidade de presença gratuita e de ligação com os excluídos.

Marita Bosch-2 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 7 acta

O meu nome é María del Mar Bosch, mas sou conhecida por Marita. Nasci em 1973 em Valência, Espanha, embora tenha crescido em Porto Rico. Sou missionária leiga e estou na Amazónia há 9 anos, como parte da Equipa Itinerante. 

Estudei educação na Universidade Loyola em Nova Orleães, EUA (1991-1995). Desde o início dos meus estudos, tinha uma certeza interior que me dava paz: quando me formasse, ia fazer uma experiência de missão. Era uma intuição interior que me guiava e, embora não soubesse como iria acontecer, dava-me clareza. 

Os anos de universidade foram passando e eu cultivava esse desejo no meu coração e procurava oportunidades que quisessem responder a essa profunda inquietação. No meu último semestre de estudos tive a bênção de conhecer um jesuíta, Fernando López, que me convidou a ir para o Paraguai, onde ele já vivia há 10 anos. Assim, depois de me ter formado, com 21 anos, fui viver durante seis meses numa comunidade com jesuítas, leigos e mulheres, situada na grande lixeira de Cateura, nas favelas de Bañado Sur, em Assunção, a capital do país. 

Paraguai

A lixeira e as pessoas que lá trabalhavam, sem dizer muitas palavras, questionavam a minha vida. As pessoas da lixeira recolhiam o lixo e separavam os materiais recicláveis para venda. Muitas vezes, encontravam também, dentro dos sacos que chegavam nos camiões do lixo, bebés que tinham sido abortados ou mortos à nascença e deitados como lixo nas lixeiras espalhadas pela cidade, sobretudo nos bairros mais ricos.... Os fetos eram recolhidos pelos recicladores, pessoas pobres, simples e humildes; limpavam os corpinhos, vestiam-nos com roupas brancas e colocavam-nos num pequeno caixão feito por eles; velavam-nos e rezavam toda a noite; "baptizavam-nos" dando-lhes um nome e, assim, tornavam-se os seus "anjinhos"; finalmente, enterravam-nos no pátio das suas casinhas.  

Escusado será dizer que toda a realidade me atingiu e me desafiou. O cheiro forte que vinha do lixo fazia o meu corpo reagir. Mas o impacto maior foi que, no meio do lixo, descendo entre os pobres e empobrecidos, encontrei Deus "cara a cara", bem de perto. Esses rostos despertaram a minha consciência e a minha vocação missionária. Seis meses ali marcaram-me e deram-me a direção e os elementos fundadores e essenciais da minha vida. Fui confrontado com perguntas profundas: o que vou fazer da minha vida? O que queres de mim, Senhor? No meio do lixo, com os "descartados" pela sociedade, encontrei o sentido da minha vida. 

Marita, à esquerda da fotografia.

Tocar os pobres

Os pobres já não eram abstractos, mas rostos concretos, amigos, famílias queridas com quem partilhava histórias; tinham cheiros e cores, sorrisos e dores; eram meus irmãos e irmãs. E isso perturbava o meu quotidiano e dava profundidade ao que eu vivia. Ouvir uma petição na missa "pelos pobres" já não era a mesma coisa. Agora havia uma ligação afectiva e efectiva com eles; um compromisso vital com os pobres selado pelo Senhor. 

Depois de 6 meses no Paraguai, tive de regressar a Porto Rico. Primeiro, porque tinha de pagar os meus empréstimos universitários. Em segundo lugar, porque tinha prometido à minha família (sobretudo à minha mãe) que regressaria. No entanto, o que mais pesou no meu regresso a Porto Rico foi o interrogatório de um casal da Comunidade de Vida Cristã do Paraguai que colaborou na favela na estação de rádio comunitária "Solidaridad".

Adoptaram uma menina - baptizada Mará de la Paz - encontrada viva numa pequena caixa no meio do lixo. Ela foi apresentada como sinal de vida na ordenação sacerdotal de Fernando López SJ, que teve lugar no meio da lixeira. Um dia o casal perguntou-me: "No vosso país, já viram uma realidade como esta? E, perante a minha reação negativa, insistiram: "Mas já olhaste? "Bem, não!" - Eu disse-lhes. Isso fez-me regressar ao meu país com uma visão diferente e, acima de tudo, com outras buscas.

Porto Rico

Voltar a Porto Rico era confrontar-me com a minha realidade. Tinha medo. Pensava que tudo o que tinha vivido na lixeira podia continuar a ser apenas uma simples experiência da minha juventude. Três conselhos ajudaram-me e ajudam-me hoje como missionário leigo:

1) A oração, que hoje, a partir da minha experiência na Amazónia e como parte de uma equipa itinerante, me fala de uma espiritualidade em aberto;

2) Comunidade, "fazer comunidade ao longo do caminho" e partilhar estas preocupações e buscas com outras pessoas;

3) "Descer ao encontro de Deus" - este ponto deu-me muita luz: "Marita, quando sentires que estás a perder o teu caminho, desce ao encontro do Senhor nos pobres e nos excluídos".. Descer a esses rostos concretos onde Deus se fez e continua a fazer-se tão presente para mim. Eles ajudam-me a reposicionar-me no sentido profundo da minha vida e da minha missão neste mundo como mulher crente, como mulher missionária, como discípula do Senhor.

Nesta nova etapa da vida, de volta a Porto Rico, o meu coração estava mobilizado e ativamente inquieto, procurando como e onde responder ao que tinha "visto e ouvido". Assim, abri a minha vida a várias experiências curtas de voluntariado: El Salvador (1999), Haiti (2001), Amazónia (2003), Nicarágua (2006) e novamente Amazónia (2015). Também a várias experiências de missão no meu país ao longo dos anos: na prisão, vivendo em favelas com as Irmãs do Sagrado Coração, no grupo de canto da paróquia, como ministro da Eucaristia e oferecendo aulas de alfabetização.  

Descobrir uma vocação missionário

E em todas estas experiências tive a pergunta e o discernimento "cravados" profundamente no meu coração e na minha oração, onde me queres Senhor? E como todas as vocações, esta foi amadurecendo pouco a pouco. Deus é fiel! Vejo como este longo processo foi também necessário para discernir e preparar o meu coração para assumir hoje, com alegria e liberdade, esta vocação, saindo da minha zona de conforto, deixando a segurança que me deu o meu emprego no Colégio San Ignacio de Loyola em Porto Rico, na área pastoral durante 6 anos.

Finalmente, o Senhor mostrou o caminho - o rio e eu chegámos à Amazónia em 2016. Nos 9 anos em que estou na Amazónia como missionário leigo, descubro que estar aqui é um privilégio. É um privilégio poder juntar esta diversidade de povos e culturas, diferentes formas de sentir, pensar, organizar e viver, ter a incerteza como a maior certeza e estar na Equipa Itinerante enfrentando os desafios e soluções dos povos com quem caminhamos e navegando com a intuição fundadora da Equipa: "Andar pela Amazónia e ouvir o que as pessoas dizem; participar na vida quotidiana das pessoas; observar e registar tudo cuidadosamente; sem se preocupar com os resultados e confiar que o Espírito mostrará o caminho. Coragem, começa por onde puderes!. Claudio Perani SJ (fundador da Equipa Itinerante em 1998).

Impacto pessoal

Percorrendo os rios e as florestas da Amazónia, através das suas fronteiras politicamente impostas, vi uma "radiografia" deste pulmão que adoece diariamente devido à seca extrema, aos incêndios, à exploração madeireira, ao agronegócio e aos pesticidas, aos grandes projectos portuários, rodoviários, hidroeléctricos, mineiros e petrolíferos, garimpo e o tráfico de droga, etc. Quem manda é "don dinero". O que interessa é o lucro e o benefício de alguns, sem se preocuparem com a vida dos pobres, dos povos indígenas ou dos outros seres que habitam a Amazónia... 

Estes anos de missão ajudaram-me muito a crescer: a encontrar e a enfrentar os meus próprios limites e contradições, fragilidades e vulnerabilidades, medos e feridas que tenho de trabalhar; a viver a missão a partir de uma eficácia diferente, "eficácia da presença gratuita"; a cultivar uma espiritualidade em aberto que confia que Deus está à nossa espera em cada curva do rio e nos diferentes outros; a rezar a minha própria história e a curá-la. É viver na (in)segurança do Evangelho, na itinerância geográfica e interior (que é a mais difícil); com menos segurança material, mas com maior segurança interior e alegria, cheia de sentido e de gratidão a Deus e aos pobres por me terem ajudado a encontrar o meu caminho. 

A partir das itinerâncias geográficas e interiores nesta Amazónia estou a aprender a caminhar naquilo a que chamamos "...".sinodalidade"caminhar juntos na diversidade. Isso só é possível com a graça de Deus e a "Alegria do Evangelho"; com a ajuda das minhas irmãs e irmãos em missão-comunidade no caminho. Caminhando juntos, confiantes no amor de Deus Pai-Mãe, do Filho e do Espírito que nos acompanha nas nossas frágeis canoas.

É uma graça estar aqui como leigo missionário, mas é também uma grande responsabilidade, sentir-me como um eterno aprendiz na Equipa Itinerante, como parte e parteiro destes novos caminhos eclesiais da REPAM, CEAMA, Rede Itinerante da CLAR-REPAM, etc. 

A Equipa Itinerante

Nas minhas primeiras experiências de missão, pensei que ia sozinho. Eu, pessoalmente, sem nenhuma instituição, com os meus próprios meios e recursos. Mas quando finalmente dei o passo para fazer parte da Equipa Itinerante, disseram-me que tinha de ser enviado e apoiado por uma instituição ou organização.

A Equipa não é uma instituição, mas a soma de instituições. Mas vejo que, mesmo antes disso, foi através da mediação de outras pessoas que me ajudaram a fazer a experiência da missão: desde o jesuíta que me convidou pela primeira vez para a lixeira de Cateura, onde me apaixonei pela missão, mas também a minha família que me soube acompanhar sem necessariamente me compreender, a minha paróquia e amigos, familiares e pessoas que nem sequer conheço... Graças ao apoio de muitas pessoas, apoio espiritual e financeiro, mas também muitas outras formas de acompanhamento que recebi, pude chegar até aqui. Deus serve-se de muitas mediações.

Foi muito importante deixar-me acompanhar pelo Deus presente nos diferentes povos com rostos concretos, que nos acolhem nas outras margens e nas diferentes voltas e reviravoltas do rio que não controlamos. Deus presente nas mais diversas realidades e circunstâncias: umas cheias de beleza, outras de injustiça, dor e morte, que agitam e empurram o meu coração para tentar ser um instrumento dócil e fiel ao lado do crucificado e da madeira cortada, "eficácia da presença gratuita" ao lado do Calvário da Amazónia como as três Marias e João (Jo 19,25). Só assim poderemos ser sementes plantadas que façam florescer a Ecologia Integral que Deus sonhou desde o início e que nos convida a cuidar. 

"Tudo está interligado" (LS, 16), diz-nos o Papa Francisco em Laudato Si. Estou certo de que estamos todos interligados e que os problemas desta selva têm a ver com essa "outra selva de asfalto e betão". As soluções também estão interligadas. E à medida que cada um de nós colocar a sua semente, os seus dons, na selva onde Deus nos plantou, juntos construiremos essa Vida Abundante que Ele nos prometeu (Jo 10,10). Que sejamos capazes de fazer silêncio (como a semente plantada) para escutar a Sua Voz no grito dos pobres e da Mãe Terra violada, na voz dos nossos irmãos e irmãs mais excluídos, vulneráveis e esquecidos. Eles são os preferidos de Deus. E Deus convida-nos a ser missionários para, no dia a dia, procurar, caminhar, gastar e arriscar a vida com eles.

O autorMarita Bosch

Leigo missionário

Feliz Ano Novo!

Antonio Moreno reflecte sobre o início do ano litúrgico cristão com o Advento, que cultiva a esperança perante o imediatismo e o stress da sociedade atual. Propõe redescobrir o tempo como uma oportunidade para viver com profundidade e fé.

1 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Com o primeiro domingo de Advento inauguramos o novo ano litúrgico. A Igreja põe o seu contador a zero semanas antes do calendário civil, porque cultiva uma virtude em baixa: a virtude da esperança.

Hoje estamos todos com pressa, ninguém quer esperar, tudo é "rápido", aqui e agora, "melão e fatia na mão", como dizemos no sul. Se o metro demora mais de 8 minutos, destrói a nossa manhã; se há mais de dois clientes à nossa frente na fila do supermercado, já estamos a pedir ao caixa que chame um colega para abrir outra caixa; e os "roscones de Reyes" já estão à venda em todos os supermercados, para não morrermos de desejo daqui a um mês, que é quando tradicionalmente são postos à venda.

A ansiedade corrói-nos, com consequências graves para a saúde mental das crianças, dos jovens e dos idosos; e os vícios estão na ordem do dia, porque não conseguimos refrear os instintos que exigem satisfação imediata. 

A cozinha de chupa-chupa foi suplantada por estabelecimentos de fast food ou de entrega ao domicílio. As relações forjadas ao longo de anos de namoro com o objetivo de formar uma família para toda a vida deram lugar a tempos de coabitação não mais longos do que a vida de um cão com guarda partilhada ou encontros fugazes através do Tinder, se não mesmo uma simples libertação virtual. As crianças já não passam as suas horas de ócio a brincar ao guisado ou ao elástico, mas correm de um lado para o outro com uma infinidade de actividades extracurriculares e roubam horas de sono para jogar jogos de vídeo online até altas horas da madrugada.

As roupas, os carros, os electrodomésticos, os móveis e tantos outros bens de consumo têm uma vida útil cada vez mais curta e são, de facto, concebidos para serem substituídos em breve. Mais de uma hora sem responder a um Whatsapp é falta de educação; não colocar um coração no post de um amigo esta manhã pode custar-lhe a amizade; não responder a uma chamada perdida é feio... Desumanizámos o tempo, tornámo-nos seus escravos. Por amor de Deus, que stress!

O ano cristão, que nesta ocasião abrimos com o mês de dezembro, ajuda a devolver ao tempo a sua dimensão humana, tendo a semana (domingo) como foco central. As festas são distribuídas ao longo do ano, alternando tempos fortes com tempos "menos" fortes, mas igualmente cheios de significado e pontuados por datas significativas. A recordação quotidiana dos santos humaniza também o dia, pois eles são exemplos de que é possível amar sem medida. 

O calendário litúrgico reúne o Chronos e o Kairos. Chronos, na mitologia grega, refere-se à contagem do tempo para a qual usamos o relógio ou o almanaque. Com Kairos, o tempo exprime-se como uma oportunidade, como um momento transcendente. O ano cristão procura realizar momentos em que Deus se faz presente na história particular dos homens e das mulheres ao longo dessa longa lista de horas, dias, semanas e meses. Procura que o Eterno, que não tem fim porque não tem princípio porque está fora do tempo, abra fendas, portais entre as fendas do universo para se encontrar e se fundir no abraço da fé com aqueles que sentem que a sua vida tem um destino infinito.

Antecipando o início do ano para viver o Advento, a espera, cultivamos a verdadeira festa, porque não há melhor beijo do que o tão esperado, não há melhor gole de cerveja do que o primeiro depois de um dia de calor, não há melhor prémio do que o alcançado após longas horas de trabalho, de estudo ou de formação. 

Aquele que espera só se desespera se se tiver deixado encolher pela tendência atual para a imanência, esquecendo que somos cidadãos celestes. A falta de natalidade é a prova mais evidente desta onda de desespero que está a varrer o Ocidente.

Perante os profetas da calamidade e os presságios sombrios das notícias, deposito a minha esperança naquele avô que, todas as manhãs, espera de mãos dadas com a sua neta deficiente pelo autocarro para o centro de dia; naquele migrante que salvou uma vizinha, tirando-a do perigo da inundação na sua rua; naquele padre que, depois de horas sentado no confessionário, decide esperar um pouco mais, caso alguma pessoa teimosa ainda precise da misericórdia de Deus. São estes os sinais dos tempos de que fala o Papa no seu touro de convocação do Jubileu da Esperança. "É necessário, diz ele, prestar atenção a tudo o que há de bom no mundo para não sermos tentados a considerarmo-nos vencidos pelo mal e pela violência. 

São sinais simples e pouco espectaculares, mas juntos brilham mais do que o sol.

Fique atento. A esperança está a abrir-se à sua volta a cada momento, em cada fenda do espaço e do tempo e temos um ano inteiro pela frente para a experimentar. Feliz Ano Novo!

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

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Vocações

O casamento e uma vida justa

O casamento não é uma simples associação para realizar um trabalho comum, e muito menos uma troca de serviços: é dar vida a um vínculo pessoal que afecta a pessoa enquanto tal.

Alejandro Vázquez-Dodero-1 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Justiça é dar ao próximo o que lhe é devido, o que implica respeitar os direitos de cada um (cfr. Catecismo da Igreja Católica, 1807).

De facto, a conceção clássica de justiça foi resumida em algumas palavras significativas: "dar a cada um o que lhe é devido". Esta definição pressupõe que alguém deve e alguém dá, ou seja, que há pessoas em relação. Por conseguinte, pensar a virtude da justiça é pensar em relação.

Ora, só se considerarmos a igual dignidade e liberdade de cada um é que se pode dizer que as relações entre as pessoas são justas. Não pode haver, por exemplo, relações justas entre as pessoas se elas forem escravas umas das outras, porque essa subjugação implica não perceber "quem são os outros" e o que eles precisam de mim. 

Tenho de perceber quem são os outros e quais são as suas circunstâncias para lhes dar o que merecem. E, claro, a pessoa humana não é um escravo, para seguir o exemplo dado.

Em qualquer caso, antes de exigir, respeitar

Por outro lado, para poder exigir que os outros cumpram as suas obrigações para comigo, tenho de cumprir os meus próprios deveres. 

Tais deveres manifestam-se nas ocasiões mais comuns da vida de cada um, derivando dos contratos e convenções que são acordados. Referimo-nos aos cuidados com o famíliaA atenção do trabalho e das suas implicações, a atenção da comunidade de vizinhos, amigos, iniciativas, etc.

Assim, só cuidando da minha família, do meu trabalho, da comunidade de vizinhos em que vivo, dos meus amigos e das iniciativas que tomo, e de outras circunstâncias que me rodeiam, é que poderei exigir legitimamente os deveres dos outros. 

Equidade entre marido e mulher e o seu ambiente familiar

O ambiente familiar é um lugar privilegiado para viver a virtude da justiça. Por exemplo, o reconhecimento do cansaço de cada cônjuge no final de um longo dia de trabalho faz parte da virtude da justiça. Uma consequência disso será a prática de algumas caraterísticas da virtude da caridade, como a bondade no tratamento: se o meu cônjuge está exausto, será justo - e portanto caridoso - tratá-lo com consideração.

Outros exemplos do que precede na família são o respeito dos filhos pelos pais e avós, a cooperação na guarda dos filhos e nas tarefas domésticas, a ocupação do tempo com os filhos de acordo com as suas próprias circunstâncias, etc.

Justiça e fidelidade no casamento

O que é correto entre marido e mulher é, antes de mais, reconhecerem-se como tal e comportarem-se de forma coerente. A fidelidade conjugal é um dever mútuo de justiça, um bem a que o outro tem direito, na medida em que se deram e se aceitaram mutuamente em toda a profundidade e extensão da sua dimensão pessoal, respetivamente masculina ou feminina.

Como todos os deveres de justiça, em virtude da exterioridade e da alteridade que os caracteriza, é possível que o justo seja vivido de muitas maneiras, com maior ou menor convicção e amor.

Pela mesma razão, a injustiça da infidelidade pode ocorrer de formas subjetivamente muito diferentes: desde um pecado deliberadamente escolhido e lúcido em toda a sua gravidade, até uma atitude muito superficial que dificilmente compreende o valor da fidelidade e que pode até estar ligada a uma falta de vontade conjugal autêntica.

A fidelidade à palavra dada e, portanto, aos compromissos assumidos, é uma virtude intimamente ligada à justiça em todas as suas manifestações.

Cada um dos cônjuges deve ser fiel ao outro como parceiro conjugal de uma forma que transcende o nível das acções e das circunstâncias da vida conjugal e familiar.

O casamento não é uma simples associação para realizar um trabalho comum, e muito menos uma troca de benefícios recíprocos: é dar vida a um vínculo pessoal que, como todas as relações familiares, afecta a pessoa enquanto tal.

É preciso estar convencido de que não se pode ser marido "por um tempo", que a fenomenologia do amor humano com as suas promessas para sempre responde a uma estrutura do nosso ser pessoas humanas naturalmente sexuadas e unidas na complementaridade correspondente a esta dimensão sexual.

Por outras palavras, é o próprio objeto do casamento, as pessoas dos cônjuges na sua conjugalidade, que permite compreender o carácter permanente do vínculo e a exigência de uma fidelidade incondicional.

A fidelidade encontra-se assim no cumprimento ativo dos compromissos. Pensa-se que basta não trair, quando, na realidade, não ser responsável perante o outro, não procurar o seu bem, não fazer a minha parte na relação são já formas de trair a fidelidade.

Algumas perguntas de discernimento para verificar se, na prática, estou a viver o meu casamento de forma justa:

  • Quais são os meus compromissos e quais os deveres que deles decorrem?
  • Apoio e partilho os encargos com o meu cônjuge ou deixo-o sozinho?
  • Procuro ocasiões para fazer o meu cônjuge feliz?
  • Estou atento ao meu cônjuge?
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Argumentos

Isaías e o Advento: a vinda de um rei justo

O autor propõe para cada semana do Advento um versículo-chave do livro de Isaías, a fim de captar a essência da mensagem deste tempo litúrgico e de facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do coração de Cristo.

Rafael Sanz Carrera-1 de dezembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Durante o tempo litúrgico do Advento, três figuras bíblicas destacam-se de forma especial: o profeta IsaíasJoão Batista e Maria de Nazaré. Nesta reflexão, centrar-nos-emos na figura de Isaías. Desde a antiguidade, uma tradição universal reservou às suas palavras muitas das primeiras leituras deste tempo. Talvez porque, nele, a grande esperança messiânica ressoa com uma força única, oferecendo um anúncio perene de salvação para a humanidade de todos os tempos.

Ao contemplarmos as leituras para o tempo de Advento deste ano (ciclo C), apercebemo-nos da presença abundante de Isaías. Embora possa parecer ambicioso, tenciono selecionar, para cada semana do Advento, um dos textos que nos são propostos, juntamente com um versículo-chave. Desta forma, espero captar a essência da mensagem do Advento e facilitar um percurso espiritual que nos aproxime do seu coração.

Primeira semana do Advento

A presença de Isaías nesta primeira semana do Advento é particularmente significativa. Cada dia encontramos uma das suas profecias messiânicas:

  • Segunda-feira: Isaías 2, 1-5 - Profecia sobre a paz universal e a conversão das armas em instrumentos de trabalho.
  • Terça-feira: Isaías 11, 1-10 - Descrição do Messias que reinará em sabedoria e estabelecerá um reino de paz.
  • Quarta-feira: Isaías 25,6-10a - Anúncio de um banquete para todas as nações e a vitória sobre a morte.
  • Quinta-feira: Isaías 26, 1-6 - Visão de uma cidade forte habitada por um povo justo, símbolo de paz e de salvação.
  • Sexta-feira: Isaías 29, 17-24 - Promessa de restauração, libertação dos oprimidos e conversão espiritual.
  • Sábado: Isaías 30:19-21, 23-26 - Expressão da compaixão divina, orientação e promessa de abundância e cura.

Profecia e versículo-chave (1ª semana)

Entre os textos de Isaías que lemos nesta primeira semana, considero a visão de Isaías 11,1-10 como a mais significativa, e estes são os versículos-chave: "Mas do tronco de Jessé brotará um ramo, e da sua raiz crescerá um rebento. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de inteligência, o Espírito de conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor" (Is 11,1-2).

Argumentos a favor da escolha

  1. Esta passagem é fundamental na teologia messiânica. Isaías 11,1-10 antecipa a vinda do Messias como descendente de Jessé, pai de David, ligando-se assim à promessa davídica de um reino eterno (2 Samuel 7,16). Esta linhagem cumpre-se em Jesus, o "descendente" da casa de David, como demonstram as genealogias de Mateus 1,1-17 e Lucas 3,23-38.
  2. Isaías descreve o Messias não apenas como rei, mas como restaurador da justiça e da paz, uma esperança que marca o Advento. A paz universal, representada na coexistência dos animais (Is 11,6-9), aponta para um reino sem violência que será instaurado na vinda de Cristo, tanto na sua primeira como na sua futura vinda gloriosa.
  3. Isaías 11,2 anuncia que o Espírito do Senhor repousará sobre ele: "o espírito de sabedoria e de inteligência, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor", uma clara antecipação do batismo de Jesus no Jordão, onde o Espírito Santo desce sobre ele (Mateus 3,16-17).
  4. Isaías 11,10 prevê que o "descendente de Jessé" será um sinal para as nações e que todos os povos virão ter com ele. Esta mensagem de esperança universal está no centro do Advento, que celebra a vinda de Cristo como Salvador de toda a humanidade: Jesus é a luz que ilumina as nações (Lucas 2,32).

Em conclusão, Isaías 11,1-10 resume o cerne da esperança messiânica da primeira semana do Advento: a vinda de um rei justo, cheio do Espírito de Deus, que trará paz e reconciliação ao mundo. Os versículos-chave, Isaías 11,1-2, simbolizam esta promessa de renovação e restauração na figura do Messias, que os cristãos reconhecem em Jesus Cristo, na sua entrega na cruz e no seu regresso glorioso.

O autorRafael Sanz Carrera

Doutor em Direito Canónico

Livros

Anna Peiretti: "O ícone é uma janela que se abre para Deus".

Os ícones convidam-nos a entrar no Evangelho, são janelas que se abrem para Deus e ajudam-nos a procurar a beleza, diz Anna Peiretti à Omnes. Anna Peiretti, natural de Turim, licenciada em filosofia e teologia, escritora e editora, acaba de publicar "Espiritualidade da beleza. Uma viagem através da arte divina dos ícones".

Francisco Otamendi-30 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

A pintura de ícones não é apenas uma forma de arte maravilhosa, mas também uma dimensão na qual podemos viver mais intensamente a nossa fé. Há ícones conservados em museus russos, o mais famoso dos quais é o Museu Tretyakov em Moscovo, mas também em mosteiros na Grécia, no Sinai, na Síria...", explica Anna Peiretti (Turim, Itália, 1968) nesta entrevista.

O seu livro é de certa forma autobiográfico, porque "a experiência com os ícones guiou a minha oração desde a minha juventude. A imagem foi sempre importante como apoio, como ajuda", e "incluí os ícones que me são mais queridos, os da minha vida quotidiana".

São "ícones de origem ortodoxa, considerando algumas obras da tradição da Europa de Leste, mas também da tradição grega", explica Anna Peiretti, para quem "os ícones apresentados ao nosso olhar convidam-nos a entrar na cena do Evangelho".

Espiritualidade da beleza. Viagem na arte divina dos ícones

AutorAnna Peiretti
Editorial: TS Edizioni
Ano: 2024
Número de páginas: 208
Língua: italiano

Como é que surgiu a ideia para este livro?

- A experiência com os ícones guiou a minha oração desde os meus anos de juventude. A imagem sempre foi importante como apoio, como ajuda. Senti a necessidade de partilhar com aqueles que lêem e rezam com este livro uma experiência espiritual extenuante, a difícil fidelidade à oração quotidiana, a tentativa de escapar às preocupações materiais, a falta de atenção na escuta da Palavra. Pois bem, o ícone foi "o bastão de apoio" para saber que, enquanto se foge, ao mesmo tempo o Invisível se aproxima visivelmente e se dá à perceção humana.

O ícone é uma janela que se abre para Deus. É como um vitral no qual podemos contemplar o sol sem perigo para a nossa retina. Graças ao ícone, cria-se um espaço no qual nos é possível encontrar Deus. E como todos os encontros, também este é feito de olhares, de diálogo, de silêncio e de alegria. Assim nasceu...

A grande maioria dos ícones é de origem ortodoxa, não é verdade?

- Ícone, do grego "eikôn", que significa imagem, é o termo técnico que utilizamos para designar as imagens sacras na arte bizantina, considerando a pintura sobre painel, por oposição à pintura sobre parede. Devemos pensar numa imagem sacra portátil, em mosaico, pintada sobre madeira ou tela e executada em têmpera, encáustica ou mesmo esmalte, prata e ouro.

Neste projeto escolhi ícones de origem ortodoxa, considerando algumas obras da tradição da Europa de Leste, mas também da tradição grega. Por ícone entendemos a expressão religiosa ortodoxa... mas isso não significa que com este termo possamos também considerar obras de arte de carácter religioso pertencentes a outras tradições e origens geográficas.

Onde se pode admirar os ícones mais importantes do mundo?

- A pintura de ícones não é apenas uma forma de arte maravilhosa, mas também a dimensão em que podemos viver mais intensamente a nossa fé. Há ícones conservados em museus russos, o mais famoso dos quais é o Museu Tretyakov, em Moscovo, mas também em mosteiros na Grécia, no Sinai, na Síria...

Existem também ícones em Itália, por exemplo, no museu dos ícones em Veneza, no Instituto Helénico. A catedral de Monreale tem ícones impressionantes nas suas paredes. No meu livro, porém, considero o valor do modelo iconográfico que o ícone representa. Não é preciso ir a um museu para o contemplar. Quero criar uma experiência de beleza quotidiana, dentro das paredes da nossa própria casa. No meu livro, incluí os ícones que me são mais queridos, os da minha vida quotidiana.

A espiritualidade da beleza. Diz que a função do ícone é "a oração feita arte".

- As cores simbólicas e os cânones pictóricos transfiguram a arte em oração. O azul é o céu, o vermelho é a vida, o branco é o divino... Poderíamos também dizer o contrário: a oração transfigura-se em arte. Se eu pensar no modo como um ícone é composto, então há arte, mas há também oração ao mesmo tempo; o monge precede sempre na contemplação o mistério que quer representar. Ninguém pode assinar o ícone; o iconógrafo põe-se ao serviço do Espírito. Considero que o ícone é o fruto da oração, mas ao mesmo tempo esta imagem, para quem a contempla, dá frutos de oração.

"Estar em frente a um ícone não é, portanto, um ato puramente estético, mas acede-se a uma mensagem, a uma dimensão que cheira a Infinito", afirma.

- Penso que no coração há esta mesma disposição das coisas: a palavra e o ícone. O que o Evangelho diz com a palavra" - afirma-se num Concílio do Oriente - "o ícone, a imagem densa de uma Presença, anuncia-a com cores e torna-a presente". A história é uma só, a mensagem é uma só, a meditação é uma só. O ícone e a Palavra (o Livro) são feitos da mesma substância: a narração que Deus faz de si mesmo.

Penso que se trata de um argumento comum a todos: na experiência espiritual, a Bíblia não pode estar ausente. A imagem, através da perceção visual, dá força à mensagem da Palavra. O ícone é a oração feita arte, no sentido em que introduz na dinâmica do diálogo o Livro que fala e eu que escuto. É toda a Igreja que escuta. Não creio, portanto, que o ícone peça apenas para admirar as cores e as formas, mas que se apresente como epifania de uma mensagem teológica. No livro, proponho a leitura e a meditação de algumas passagens bíblicas, das quais o ícone revela algum significado, entre muitas outras.

Os ícones apresentados ao nosso olhar convidam-nos a entrar na cena do Evangelho, a deslizar o olhar entre os pormenores, a deter a nossa atenção num elemento. O pintor de ícones é um diretor que dispôs os objectos representados segundo uma intenção precisa. O ícone convida-nos a entrar na imagem, ao mesmo tempo que nos convida a entrar no significado de uma passagem do Evangelho, a procurar o nosso próprio significado.

Uma última coisa. Durante o Jubileu 2025, em Roma, haverá uma exposição de ícones dos Museus do Vaticano. Conhece o projeto?

- Não conheço este projeto, mas espero ter a oportunidade de visitar esta exposição. Penso que falar da espiritualidade da beleza é um grande sinal de esperança. Os olhos estimulados pela beleza ultrapassam o coração; a beleza ultrapassa continuamente, alimenta a esperança. Penso que a nossa fé, em relação ao mistério inesgotável de Deus, deve ser alimentada pelo desejo de ir cada vez mais longe, em direção ao que ainda está escondido, para o descobrir incessantemente.

Os ícones são sempre "imagens de esperança". A busca da beleza é a tarefa do cristão que quer reconhecer a imagem de Deus no mundo e em si mesmo. O invisível é-nos oferecido nos rostos dos nossos irmãos e irmãs, nos sinais sacramentais, mas também na beleza dos ícones em que é possível contemplá-lo.

O autorFrancisco Otamendi

Mundo

Parlamento britânico autoriza projeto de lei sobre suicídio assistido

A Câmara dos Comuns britânica deu luz verde, por 330 votos a favor e 275 contra, a um projeto de lei que visa dar às pessoas com mais de 18 anos que vivem em Inglaterra e no País de Gales e que têm menos de seis meses de vida o direito de pôr termo à sua vida. O projeto de lei "Terminally III Adults (End of Life)" (Adultos em estado terminal (fim de vida)) necessita ainda de meses de trabalho antes de se tornar lei.

Francisco Otamendi-29 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

A expetativa em relação à iniciativa da deputada trabalhista Kim Leadbeater, co-patrocinadora do projeto de lei, era grande na câmara baixa, sendo a primeira vez em quase dez anos que a questão é debatida no parlamento. Em 2015, um projeto de lei semelhante foi rejeitado por uma larga maioria.

O projeto de lei dividiu o Parlamento EuropeuOs eurodeputados votaram livremente, deixando de lado a tese do partido. Na votação final, o projeto de lei sobre os adultos em estado terminal foi aprovado com 330 votos a favor e 275 votos contra, pelo que continuará a sua tramitação parlamentar.

Para contextualizar, vale a pena recordar que nas últimas eleições, em julho deste ano, os trabalhistas obtiveram uma vitória significativa sobre os conservadores, conquistando 412 lugares num total de 650, contra 121 para os conservadores, 72 para os liberais democratas e os restantes para outros partidos.

Em alguns países, especialmente na Europa

O êutanasia e/ou o suicídio assistido são despenalizados em poucos países do mundo. Países Baixos. Bélgica, Luxemburgo, Canadá, Espanha, Áustria (suicídio assistido), Colômbia (permitido constitucionalmente, mas sancionado criminalmente), Suíça (cooperação com o suicídio autorizada sob certas condições), alguns estados dos EUA (quando a expetativa de sobrevivência é de seis meses ou menos), e Nova Zelândia e alguns estados australianos (como "morte assistida").

Os bispos britânicos, galeses e escoceses apelam à oração

Os bispos ingleses e galeses há muito que apelam aos católicos para que se unam em oração para que este projeto de lei sobre o suicídio assistido não avance. No início deste mês, o Cardeal britânico Vincent Gerald Nichols apelou aos católicos para que se juntem a ele e aos bispos para fazerem uma pausa de uma hora no dia 13 de novembro de 2024 para rezarem pela dignidade da vida humana antes da votação de hoje sobre o suicídio assistido no Reino Unido. Perante o Santíssimo Sacramento, nas igrejas paroquiais ou nas suas próprias casas.

O apelo foi lançado através do web da Conferência Episcopal. Num declaraçãotambém assinado pelos prelados escoceses, os bispos explicam "o que significa 'compaixão' no fim da vida: cuidar e acompanhar as pessoas, particularmente em tempos de sofrimento".

Proteção dos mais vulneráveis e cuidados paliativos

O texto "defende fortemente os vulneráveis da sociedade que estão em risco devido a esta proposta de legislação, e os bispos defendem que os cuidados paliativos devem ser financiados de forma mais adequada e estar disponíveis de forma consistente para todos os que deles necessitam em Inglaterra, no País de Gales e na Escócia".

"As pessoas que sofrem precisam de saber que são amadas e valorizadas. Precisam de cuidados compassivos, não de ajuda para acabar com as suas vidas", afirmam os bispos. "Os cuidados paliativos, com o alívio especializado da dor e um bom apoio humano, espiritual e pastoral, são a melhor e mais adequada forma de cuidar das pessoas no fim da vida.

"Lamentavelmente, o tempo é insuficiente".  

"O tempo dado ao Parlamento para considerar o projeto de lei sobre o fim da vida dos adultos com doenças terminais, que permitirá o suicídio assistido, é lamentavelmente inadequado", acrescentam os bispos.

Embora o projeto de lei indique que serão criadas salvaguardas, "a experiência de outros países onde o suicídio assistido foi introduzido mostra que essas salvaguardas prometidas são rapidamente esquecidas. Na Bélgica, nos Países Baixos, no Canadá e em partes dos Estados Unidos, os critérios para o suicídio assistido foram significativamente alargados, na lei ou na prática, muitas vezes para incluir pessoas com doenças mentais e outras que não têm um diagnóstico terminal".

Os bispos afirmam a crença católica na dignidade humana e na santidade da vida, mas temem que uma lei que permita o suicídio assistido possa levar algumas pessoas a experimentar "o dever de morrer".

Quase meio milhão de pessoas a necessitar de cuidados paliativos

O correspondente de saúde do BBCA emissora, que fez uma extensa cobertura do debate parlamentar, afirmou durante os discursos que se estima que três quartos das pessoas necessitam de cuidados paliativos no final da vida, cerca de 450 000 pessoas por ano em todo o Reino Unido. Mas um número significativo de pessoas não tem acesso a esses cuidados, estimado em cerca de 100 000.

Divisão nas fileiras trabalhistas e nos Tories

No seu discurso de encerramento na Câmara dos Comuns, a deputada trabalhista Kim Leadbeater sublinhou que a votação de hoje do "projeto de lei sobre a morte assistida", como lhe chamou, marca "o início e não o fim" do debate sobre a questão.

A deputada trabalhista Rachel Maskell (Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas) referiu que o financiamento dos cuidados paliativos "regrediu e os hospícios estão a reduzir os seus serviços, o que tem de ser resolvido antes de começarmos a discutir a lei da morte assistida".

O deputado conservador Danny Kruger defendeu que, melhorando o sistema de cuidados paliativos do país e financiando os hospícios, seria possível fazer "muito mais" pelas pessoas. Kruger disse que seria então possível "ajudar as pessoas a morrer com o mínimo de sofrimento". "Não vamos tolerar o suicídio, que, aliás, mais uma vez, há provas de que em todo o mundo o suicídio está a aumentar na população em geral, o suicídio é contagioso", afirmou.

O autorFrancisco Otamendi

Chulapos, bebés e a sorte de ter nascido em Madrid

Nós, madrilenos, estamos tão convencidos de que nascer em Madrid é uma coisa boa que a Câmara Municipal lançou uma campanha para promover a natalidade com o slogan: "Que maravilha é trazer ao mundo uma chulapa ou um chulapo".

29 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

É sabido que nós, madrilenos, somos um pouco arrogantes e acreditamos (com base em argumentos sólidos) que nascer em Madrid é uma sorte. Somos tão fixes que nos chamam chulapos e chulapas. Estes termos poderiam ter uma origem depreciativa, mas nós, madrilenos, decidimos adoptá-los com orgulho.

Estamos tão convencidos de que nascer em Madrid é uma coisa boa que a Câmara Municipal lançou um campanha A campanha foi lançada com o slogan: "A maravilha de trazer ao mundo uma chulapa ou um chulapo". É verdade que, no momento em que escrevo, os links do sítio Web da Câmara Municipal não funcionam e é difícil encontrar o plano detalhado da campanha. Mas isso não importa, porque a água de Madrid continua a ser a melhor de Espanha.

Ter filhos é uma coisa fixe de se fazer

Para além da graça do cartaz, em que se vêem dois bebés encantadores vestidos de forma tradicional madrilena, o que é interessante neste plano de promoção é o facto de não colocar a tónica no lado negativo da conversa sobre a natalidade. Numa altura em que há muita pressão de alguns quadrantes para que ter filhos não seja bom para o planeta ou para o corpo, ver uma administração pública a utilizar o termo "maravilha" é uma lufada de ar fresco.

Não vamos entrar em pormenores sobre o plano e as circunstâncias do partido que está por detrás da campanha. No entanto, é interessante que estejam a promover os aspectos positivos da parentalidade.

Temos a sensação de que ter filhos é agora uma coisa corajosa. Quase parece que temos de ser um pouco arrogantes para defender o facto de querermos constituir família. Talvez seja uma boa altura para adotar um pouco dessa arrogância madrilena e chegar à frente mostrando a beleza de ter filhos. É possível que o atrevimento da capital venha a ser útil para reivindicar o valor da família. A realidade é que, quer sejam chulapos ou não, trazer filhos ao mundo é uma coisa maravilhosa.

Cartaz da campanha de promoção da natalidade (Câmara Municipal de Madrid)
O autorPaloma López Campos

Redator-chefe da Omnes

Vaticano

Papa pede que a história da Igreja seja vista sem anacronismos

O Papa Francisco pediu que se estudasse a história da Igreja sem anacronismos nem preconceitos, tomando os factos no seu contexto espácio-temporal, evitando lendas e juízos apressados, e promovendo uma sensibilidade histórica que permita aprender com os erros e apreciar a verdade com objetividade e rigor.

José Carlos Martín de la Hoz-29 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Há alguns dias, o Santo Padre Francisco voltou a surpreender-nos com algumas palavras letras completamente inesperadas -Pelo menos para mim, dirigidas a estudantes, investigadores, professores e a todos aqueles que se interessam pela História da Igreja e, em geral, pelas disciplinas históricas no seio da Igreja. De facto, as palavras do Santo Padre aplicam-se também à história civil em geral. É certo que a história é necessária para construir uma civilização sólida e para "interpretar melhor a realidade social".

Exatamente, neste tempo de mudança, estamos no fim de uma era e no início de outra, da qual mal se vislumbram mais do que algumas caraterísticas muito gerais (globalizada, solidária, feminista, digital, espiritual). O Papa Francisco continua incansavelmente, no âmbito do seu programa de governo inspirado pelo Espírito Santo, a abordar todas as questões de particular interesse para uma verdadeira e profunda renovação da Igreja Católica, com a esperança de a lançar numa mobilização apostólica e numa influência espiritual mais importante em todo o mundo.

A história como mestra da vida

Não há dúvida de que a História é verdadeiramente uma mestra da vida e, como tal, deve ser pesquisada, estudada e escutada para aprendermos as inúmeras lições que tem para nos transmitir e, claro, às gerações vindouras.

Para isso, é fundamental a inclusão da História e das disciplinas históricas em geral nos planos de formação das universidades e centros de formação, a catequese a todos os níveis e uma grande e generalizada publicação de textos em papel e em formato digital, que cheguem a todos os católicos e a todas as pessoas de boa vontade para serem estudados com rigor.

É necessário, recorda o Papa, saber apresentar os factos devidamente enquadrados nas coordenadas espácio-temporais de cada época de que se trata, através de um rigoroso exame da documentação e, finalmente, com uma correta antropologia que tenha em conta as circunstâncias em que ocorreram.

Preconceitos e ideologias

Além disso, e isto é veementemente apontado pelo Papa Francisco, devemos evitar "ideologias de cores diferentes que destroem tudo o que é diferente" e, portanto, ser o mais objectivos possível sem cair nos anacronismos habituais: interpretar acontecimentos passados com a mentalidade de hoje, sem usar a hermenêutica adequada.

O Santo Padre recorda-nos que é importante evitar os preconceitos ou os juízos a priori, com os quais os documentos são por vezes lidos com animosidade ou inveja, bem como as falsas "boas intenções", como diz o provérbio quando afirma que "tudo no passado era melhor". A não descoberta das raízes dos problemas impedir-nos-ia de retirar da história as verdadeiras lições, necessárias "para não tropeçarmos duas vezes na mesma pedra".

Deste modo, podemos adquirir e transmitir a todos os cristãos aquilo a que o Santo Padre chama "uma verdadeira sensibilidade histórica", que nos leva a ler romances históricos, a estudar os documentos do magistério ou dos arquivos, a escrever história e não lendas.

Lendas negras

O Santo Padre alude indiretamente às lendas negras, ou rosas, que facilmente se constroem na sociedade. Por um lado, alguns utilizam estas lendas, baseadas em factos objectivos habilmente utilizados, para atacar a Igreja e os seus objectivos espirituais. Por outro lado, há quem esconda problemas e factos difíceis de explicar para adoçar a história real da Igreja.

Por exemplo, o Santo Padre recorda longamente como, na genealogia do Senhor no Evangelho de São Mateus, não foram eliminados os personagens que levavam uma vida indecorosa, embora fossem parentes distantes do Senhor.

Não há dúvida de que, neste domínio da história, há uma grande diferença entre sabedoria e erudição. A primeira, a sabedoria, é um dom do Espírito Santo, um dos mais apreciados, com o dom do discernimento, que é o fruto maduro do estudo, da contemplação das coisas para ir ao fundo das questões e ver onde há erro a purificar, ou lição a aprender, ou honra a restaurar segundo a justiça, ou castigos e penas medicinais a aplicar. Em suma, recorda o Santo Padre, é importante evitar os juízos precipitados e as primeiras impressões na investigação da história.

Sem medo da verdade

Não basta acumular dados, datas e papéis. É necessário acalmar o espírito, entrar na mentalidade da época, nas correntes de pensamento, nas decisões magisteriais precedentes e, sobretudo, no "sensus fidelium" para, com a ajuda do Espírito Santopara assinalar uma linha de interpretação que as colecções documentais vão subscrever: "Nunca avançamos sem memória, não evoluímos sem uma memória completa e luminosa". 

É muito interessante a visão da Igreja que o Santo Padre sublinhou em vários momentos, como num hospital de campanha ou quando fala de uma "Igreja mãe que deve ser amada tal como é". Na Igreja, sublinha o Santo Padre, a misericórdia e o perdão de Deus são conservados, porque os méritos infinitos da paixão e da morte do Senhor lhe foram entregues.

Por fim, o Papa encoraja os historiadores a conviverem e a dialogarem mais, a trocarem pontos de vista e a examinarem a documentação pertinente com objetividade e com o desejo de se aproximarem o mais possível das acções pastorais que foram realizadas, visando o bem das almas e a sua salvação eterna. Ao mesmo tempo, não se podem esconder os erros dos homens e as incoerências de fé e de vida que, em muitas ocasiões, provocaram desconfiança na Igreja. 

ColaboradoresFernando Gutiérrez

Sejam missionários da esperança!

O Papa Francisco declarou 2025 como o Ano Jubilar da Esperançaconvidando-nos a ser "peregrinos da esperança" face ao pessimismo. Somos chamados a evangelizar um mundo confiante de que Deus já o conquistou.

29 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O ano de 2025 foi declarado pelo Papa Francisco "....Ano Jubilar da Esperançaque nos chama a todos a sermos "peregrinos da esperança". Isto não é uma coincidência. Nada é: "O Espírito Santo dir-vos-á o que dizer, ele falará por vós". Nosso Senhor disse-o muito claramente. E também aquele que dirige a sua Igreja, o seu Vigário aqui na terra. 

Quando ouvimos no nosso ambiente, no nosso trabalho ou na nossa família, algumas vozes que nos convidam, que nos empurram para o pessimismo, que afirmam que o mundo está cada vez pior, convido-vos a refletir e a defender, se acreditais nisso, com firmeza, que não é verdade. Que o mundo é, como sempre foi, mundano e que só há uma coisa a fazer: evangelizá-lo. Nada mais. Nada mais. E nada menos, claro. 

A necessidade do mundo atual já não é exclusivamente material. Embora possa ser difícil de acreditar, o mundo não está a morrer por uma tigela de arroz ou por um par de calças novas, mesmo que milhões de pessoas não consigam comer mais do que uma refeição por dia, e por vezes nem sequer uma. O mundo está a morrer, antes de mais, por falta de amor e de esperança. Pusemos Deus de lado e todos nós, em maior ou menor grau, pusemos a nossa esperança em bezerros de ouro, em pequenos deuses, em tudo o que perece. Esquecemo-nos do eterno, de um céu que podemos começar a viver a partir daqui. Tudo isto fez com que vivêssemos em sociedades cada vez mais depressivas, onde a angústia e o desespero foram progressivamente tomando conta da realidade quotidiana de muitos seres humanos. 

Há pouco mais de um mês, comecei a peregrinação de Santo Toribio de Liébana a Belém com um único desejo no meu coração: que o Menino Jesus me dê força, me ajude a levar o Evangelho da Vida a todos os cantos do mundo. É esta a esperança com que me uno ao Santo Padre no Ano Jubilar que está a começar. A esperança do nascimento que milhões de seres inocentes têm todos os dias. A esperança de ver a luz daquelas crianças que hoje estão no ventre das suas mães e não sabem que futuro as espera. A esperança da vida perante o pessimismo da morte. A esperança que Deus nos propõe perante o desespero a que o maligno nos convida. A esperança de construir um mundo melhor perante o desespero daqueles que acreditam que isso não é possível. Deus já venceu e só nos pede o mesmo que o Papa Francisco:

Sejam peregrinos da esperança.

Sejam missionários da esperança!

O autorFernando Gutiérrez

Leiga missionária e fundadora da Missão Filhos de Maria.

Recursos

A Teologia do Corpo" faz 40 anos

Hoje, 28 de novembro, a "Teologia do Corpo" de João Paulo II faz 40 anos: está a atingir a maioridade, cativando homens e mulheres, jovens e idosos, casados e celibatários, inspirando e sustentando um grande número de iniciativas na Igreja e na sociedade.

Valle Rodríguez Castilla-28 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

O termo "Teologia do Corpo" refere-se ao primeiro e maior ensinamento de João Paulo II nos seus anos de pontificado, o maior do Magistério da Igreja dedicado a um único tema. De 5 de setembro de 1979 a 28 de novembro de 1984, sobretudo através das audiências das quartas-feiras, 134 catequeses sobre a pessoa, o amor e a vida, a virgindade por causa do Reino, o matrimónio e a fecundidade foram-nos dadas pelo "Papa da família". As primeiras começaram como preparação para o Sínodo dos Bispos de 1980 sobre o matrimónio e a família ("De muneribus familiae christianae"), e todas elas terminaram com a publicação da Exortação "Familiaris consortio" (fruto dos trabalhos deste Sínodo).

28 de novembro de 1984 Nasce a "Teologia do Corpo

A 28 de novembro de 1984, sob o título "Síntese conclusiva: respostas às questões sobre o matrimónio e a procriação no âmbito bíblico-teológico"João Paulo II pregou a última catequese da sua "Teologia do Corpo".; Com ela, nasceu a Teologia do Corpo, que se tornou visível.

Neste mesmo texto, João Paulo II baptizou o seu legado doutrinal como "O amor humano no plano divino" e "A redenção do corpo e a sacramentalidade do matrimónio".. Ele não a baptizou de "Teologia do Corpo": o termo "Teologia do Corpo". foi justificado como um conceito necessário para poder basear todo o seu ensino numa base mais alargada.

Nesta última catequese, o Papa partilhava também a estrutura e o método da sua "Teologia do Corpo". O conteúdo doutrinal dividia-se em duas partes: a pessoa humana e a sua vocação ao amor. Como método, a luz da revelação iluminando a realidade do corpo e vice-versa - aquilo a que ele próprio chamou, noutras ocasiões, a "antropologia própria". 

Na esteira da "Humanae vitae".

Como podemos ver, esta catequese de 28 de novembro de 1984 foi fundamental no conjunto das catequeses, sobretudo porque nela - após cinco anos - o Papa João Paulo II abriu o seu coração e revelou a sua intenção, comunicando à Igreja e ao mundo que todas as reflexões deste documento constituíam um amplo comentário à doutrina contida na "incompreendida encíclica 'Humanae vitae'"., a encíclica de São Paulo VI sobre "o gravíssimo dever de transmitir a vida humana". ("Humanae vitae tradendae munus gravissimum", "Humanae vitae tradendae munus gravissimum").).

A "Teologia do Corpo" veio recordar-nos que, na encíclica Humanae vitae, a questão fundamental é o autêntico desenvolvimento do homem, um desenvolvimento que se mede pela "ética" e não apenas pela "técnica". No final desta catequese de 28 de novembro de 1984, João Paulo II sublinhava que na civilização contemporânea, sobretudo na ocidental, havia uma tendência oculta e explícita para medir o progresso do homem com a medida das "coisas", isto é, dos bens materiais, quando a medida do progresso do homem deveria ser a "pessoa".

Por fim, as 134 catequeses de João Paulo II e as suas quase 600 páginas terminavam com estas palavras: "Nesta área [referindo-se à área bíblico-teológica] encontram-se as respostas às questões perenes da consciência do homem e da mulher, e também às difíceis questões do nosso mundo contemporâneo relativas ao matrimónio e à procriação". Eram perguntas com respostas teológicas.

28 de novembro de 2024: o início de uma nova primavera para o cristianismo

E agora, a 28 de novembro de 2024, quarenta anos depois dessa última catequese, as questões sobre o amor, a vida, a pessoa, a diferença sexual, o matrimónio, a sexualidade, a procriação, o celibato... continuam. Para onde foram as suas respostas? São ainda teológicas? Qual é o contributo da "Teologia do Corpo" para as novas questões - a utopia da neutralidade, a ideologia de género, o transumanismo...?

Christoper West, o maior divulgador da "Teologia do Corpo" dos nossos tempos, fundador e diretor do "Institute for the Theology of the Body". de Filadélfia, num entrevista para Aceprensa em outubro passado, declarou: "A 'Teologia do Corpo é uma resposta muito bem pensada e convincente a toda esta crise (...) Para um momento como este, foi-nos dada a Teologia do Corpo de João Paulo II. É o antídoto teológico, mas ainda não foi verdadeiramente injetado na corrente sanguínea da Igreja. Quando isso acontecer, veremos a nova primavera do cristianismo que João Paulo II previu".

A "Teologia do Corpo" é uma dádiva para a Igreja e para o século XXI.

Yves Semen, na introdução do seu livro "A espiritualidade conjugal segundo João Paulo II"., afirma que João Paulo II deu a "Teologia do Corpo" à Igreja e ao mundo do século XXI: "Do século XXI, não do século XX".

Na mesma linha, George Weigel, na sua obra "Biografia de João Paulo II, Testemunha de Esperança", afirmava que a "Teologia do Corpo" era "uma bomba-relógio teológica que poderia explodir com efeitos espectaculares ao longo do terceiro milénio da Igreja". Uma afirmação que é já uma profecia: cada vez mais realidades do nosso tempo (pastorais, académicas, sociais...) se voltam para os ensinamentos de João Paulo II com a necessidade de iluminar as suas experiências à luz da revelação; a sua beleza antropológica e teológica faz explodir os desejos de quem se aproxima dela em busca de um Desejo superior...

Resta-nos apenas poder contemplar estes "efeitos espectaculares" ("a primavera da Igreja"), e que a maravilha restitua os nossos corpos tal como foram amados, criados e redimidos; para serem, finalmente, ressuscitados na Glória.

O autorValle Rodríguez Castilla

Formação e acompanhamento: namoro e casamento.

Evangelho

Coração vigilante. Primeiro Domingo do Advento

Joseph Evans comenta as leituras do primeiro domingo do Advento e Luis Herrera faz uma breve homilia em vídeo.

Joseph Evans-28 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Poderíamos pensar que as leituras de hoje correspondem à solenidade de Cristo Rei do passado domingo e não à celebração do primeiro domingo do Advento. Pensamos no Advento como um tempo de preparação para a vinda de Cristo como homem. Mas o Evangelho de hoje fala-nos da sua segunda vinda em majestade no fim dos tempos.Então verão o Filho do Homem vir numa nuvem com grande poder e glória.

O Advento tem um duplo objetivo. Ele olha para trás, para a vinda de Cristo na sua fraqueza de criança, e para a frente, para a sua vinda na glória como Rei e Juiz universal. E para estarmos preparados para ambas as coisas, precisamos da mesma atitude: vigilância orante e contínua conversão de vida. "Tende cuidado convosco, para que o vosso coração não se entorpeça com a farra, a embriaguez e os cuidados da vida, e aquele dia vos sobrevenha subitamente..... Estai, pois, sempre despertos, orando para que possais escapar a tudo o que está para acontecer e comparecer perante o Filho do Homem.".

"Senhor, ensina-me os teus caminhos, instrui-me nas tuas veredas".rezamos no salmo. É uma bela oração para nos ajudar a viver o Advento. "Senhor", podemos rezar, "mostra-me os caminhos para estar pronto para a tua vinda, mostra-me os caminhos para ir ter contigo, para que venhas ter comigo". Porque o amor é sempre um amor que vem ao encontro do outro. Esses caminhos, diz-nos o salmo, são os da humildade, da misericórdia e da fidelidade. E na segunda leitura, São Paulo exorta-nos ao amor fraterno: "Que o Senhor vos encha e vos faça transbordar de amor uns pelos outros e por todos"..

A vigilância para receber Cristo exige vigilância para receber os outros. Requer vigilância sobre as nossas más paixões, sobre a nossa língua, vigilância talvez também sobre as muitas desculpas que damos para justificar a nossa preguiça e o nosso egoísmo. Se estivéssemos mais vigilantes para as corrigir, poderíamos estar mais vigilantes para acolher os outros e, através deles, Cristo.

Homilia sobre as leituras do primeiro domingo do Advento

O padre Luis Herrera Campo oferece a sua nanomiliaUma breve reflexão de um minuto para estas leituras dominicais.

Os ocupantes da alma

O cristão deve fazer um despejo e expulsar os ocupantes da alma que se instalaram sem que por vezes nos apercebamos.

28 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

Durante muitos anos, a humanidade lançou-se na conquista do espaço exterior. A corrida tecnológica levou, durante algum tempo, a viajar até à Lua, a colocar satélites em órbita, a tentar comunicar com formas de vida supostamente inteligentes em qualquer canto do Universo. O cosmos, que tinha fascinado o homem desde os primórdios da humanidade, quando este olhava para o céu, foi apresentado como o próximo continente a conquistar, tal como o novo mundo americano tinha sido no seu tempo. A Terra tinha-se tornado demasiado pequena para nós. O homem precisava de continuar a dar passos, por mais pequenos que fossem, que constituíssem um grande passo para a humanidade. Neil Armstrong "dixit".

Mas, mais do que o espaço exterior, precisamos hoje de conquistar o espaço interior. Um espaço mais fascinante do que todo o universo criado. Um espaço que permanece inexplorado e desconhecido em muitos dos seus cantos. Um espaço que nos abre a grandes questões e a grandes encontros. Um espaço no qual, em última análise, podemos encontrar-nos a nós próprios e aos outros. Porque o contacto com os outros faz-se através do corpo, mas faz-se na alma, no interior do nosso ser. Um espaço que, bem o sabemos, é o lugar sagrado onde Deus se encontra, onde nos encontramos com o Deus vivo e vivificante.

Um estilo de vida lento

Pela sua interioridade (o homem) é superior a todo o universo; a essa interioridade profunda regressa quando entra no seu coração, onde o espera Deus, o perscrutador dos corações, e onde decide pessoalmente o seu próprio destino" ("...").Gaudium et spes", 14).

Embora vivamos num tempo de especial ruído e dificuldade para a vida interior, é preciso reconhecer que a dificuldade de entrar em si mesmo e estabelecer esse diálogo íntimo com Deus sempre esteve no homem. É um trabalho que cada um tem de realizar no seu processo de amadurecimento e alargamento como pessoa. Quanto mais profundo se é, quanto mais vida interior se tem, mais quotas de personalidade se atingem. Inversamente, quanto mais superficiais e menos introspectivos formos, mais estaremos à mercê dos sentimentos, dos movimentos exteriores e da manipulação.

Mas se esta luta para entrar dentro de si próprio foi uma constante na história da espiritualidade, hoje sentimos que esta exigência do mundo exterior aumentou exponencialmente. E apercebemo-nos de que existe uma dificuldade especial, quase constitutiva da nossa sociedade e da nossa cultura, para viver a partir de dentro. Estamos conscientes, e até o experimentámos na nossa própria carne, da força que as exigências externas ganharam, sobretudo através da tecnologia, e que nos está a levar progressivamente a perder a nossa capacidade de interioridade.

Sem dúvida que viver no meio do mundo, querendo ser sal e luz na nossa sociedade, tem como contraponto o facto de participarmos intensamente nas suas lutas e dificuldades. Mas este é precisamente um dos aspectos em que a nossa vida deve ser profeticamente contra-cultural. Hoje, um estilo de vida diferente, mais "lento" do que "rápido", é possível e necessário, e o mundo exige-o. (alguns promovem atualmente o conceito de "slow food" em oposição ao de "fast food"), mais "in" do que "out", mais humano do que tecnológico. Mais quietude, mais interioridade, mais humanidade.

Uma verdadeira revolução

Nós, cristãos, somos chamados a ser os guardiães dessa interioridade. Pessoas que alertam para as alterações climáticas que podem arruinar o nosso coração. Cultivadores desses espaços verdes da alma que oxigenam o indivíduo e a sociedade no seu conjunto. Mestres dessa espiritualidade de que os nossos irmãos e irmãs têm fome e que, para além das árvores que abraçamos, se preenche quando sentimos na alma o abraço do próprio Cristo na Cruz e na Eucaristia.

As nossas vidas serão autênticos espaços verdes da alma na nossa sociedade e na Igreja se cultivarmos com especial cuidado esta vida interior e não nos deixarmos arrastar pelo turbilhão desta sociedade. E talvez o valor especial que pode ter para os nossos contemporâneos é que, sendo homens como eles, com as suas mesmas preocupações, com as suas mesmas lutas, podemos abrir-lhes caminhos realistas de vida interior e de intimidade com o Senhor.

O problema para este cultivo da vida interior é que, em vez de sermos habitados, encontramo-nos muitas vezes ocupados, como comentava D. Mikel Garciandía, bispo de Palência. Ocupados com mil coisas, muitas delas muito santas, mas que não nascem do nosso ser, mas são puro fazer. Este tipo de ação, como bem sabemos porque o sofremos, desgasta-nos e pode até quebrar-nos. Em vez de sermos habitados, ficamos preocupados com as circunstâncias e as situações que se abatem sobre nós e tomam conta da nossa vida. A confiança corajosa em Deus e na sua Providência amorosa já não nos habita. Muitas vezes, não nos encontramos habitados, mas ocupados, ou seja, "agachados"., porque a nossa alma não é a casa deles e não lhes pertence por direito - por causa dos demónios que a assaltam e se apoderam dela, e é preciso que um mais forte venha e os expulse da sua morada.

Os cinco ocupantes

Penso que nós, cristãos, devemos fazer um despejo e expulsar os ocupantes da alma que se instalaram sem que, por vezes, nos apercebêssemos. Temos de recuperar o que é nosso, conquistar o espaço interior da nossa casa. Eis uma lista simples dos ocupantes da alma que descobri na minha própria casa.

Ruído. Há ruído na rua, nas casas, em todo o lado... E há ruído na alma. Um ruído que vem sob a forma dos media, de vídeos de YouTubeDe mensagens de WhatsApp, de likes nas redes sociais. Um ruído que está em todo o lado e que se insinua nas nossas almas. Um ruído que nos impede de ouvir os lamentos dos homens e as suas necessidades, que não nos deixa ouvir os lamentos da nossa própria alma. Um ruído que nos impede de escutar Deus.

O ruído é o primeiro ocupante da nossa alma. Ruído de sons, mas também ruído visual com imagens que se aproximam de nós a uma velocidade vertiginosa. Ou o ruído publicitário, que se insinua nos nossos gostos e preferências por meio de algoritmos. Ruído que atordoa e entorpece a nossa alma e os nossos sentidos. Ruído que não nos deixa espaço para o pensamento criativo e inspirado.

O ruído é o primeiro ocupante da nossa alma que temos de expulsar com uma ordem judicial que nos imponha um silêncio amoroso.

2 - Ativismo. O segundo agachamento é o ativismo. Um dos mais frequentes no mundo atual. Quando a ocupação, o fazer, toma conta da alma, é impossível ser habitado. Estamos ocupados, mas não habitados.

O fazer que nasce do ser e é uma consequência da nossa identidade faz-nos crescer, constrói-nos. Torna-se um dom. Mas o fazer que nasce do desejo de ter sucesso, de alcançar, de uma simples maquinaria que não podemos parar, destrói-nos. É o fazer que nos desfaz. É a manteiga espalhada em demasiado pão. É a vida esticada como uma pastilha elástica. É o não chegar lá, que a vida não me dá, que acaba por ser um fazer que no fundo é uma forma de preencher um vazio. O vazio de uma casa, a nossa alma, que não está habitada.

O segundo ocupante da alma está connosco há muito tempo e o despejo não é fácil. Ele reclama os seus direitos. Ele dirá ao juiz que esta casa é dele. Que temos de fazer, fazer, fazer bem aos outros, que o mundo precisa de nós, que as pessoas precisam de nós. Que precisamos de nos sentir úteis... Só uma vida de fé profunda, que nos faça viver a partir da espiritualidade de Nazaré, poderá expulsar este invasor não redimido.

3 - A superficialidade. O terceiro ocupante da nossa alma é a superficialidade. A cultura do divertimento, a cultura das reivindicações constantes, a cultura da falta de pensamento profundo e rigoroso... Tudo nos convida à superficialidade, a viver na nossa pele, nos nossos sentimentos. Somos todos governados por estímulos que nos chegam do exterior e nos tornam muito manejáveis e vulneráveis. Vivemos, se não no exterior, pelo menos à superfície de nós próprios.

Isto pode acontecer também a nós cristãos. Que nos contentemos com uma vida interior superficial, de momentos, de experiências... Mas que não vivamos a partir da união autenticamente mística com Deus a que somos chamados. Não desprezemos este terceiro ocupante e entremos no mato.

4 - A curiosidade, a mudança, a novidade, o snobismo, a tirania da moda. A quarta ocupação da alma está intimamente relacionada com a anterior. A nossa sociedade cai facilmente na armadilha de viver numa montanha russa permanente. Estamos tão obcecados com experiências ao máximo que, no final, não sentimos nada. É o excesso de estimulação de que as crianças sofrem e que todos nós experimentamos. Aborrecemo-nos com o quotidiano. Fugimos da rotina. E é por isso que precisamos constantemente de experimentar novas experiências. Não estamos no agora... que é o único lugar e tempo que podemos habitar. Somos turistas que espreitam uma ou outra experiência. Nunca estamos em casa.

Narcisismo-auto-referencialidade. O último ocupante da nossa casa somos nós próprios! Mais uma vez, esta é uma das caraterísticas da nossa sociedade do "selfie" e do "like". Acontece quando nos tornamos o centro do mundo e, como um narciso, temos de nos olhar no novo lago que é agora a fotografia do telemóvel e sentir o apreço e o aplauso dos outros nos "likes" que nos dão. Então, também nós nos afogamos num egocentrismo estéril. Não encontramos Deus, nem encontramos os nossos irmãos e irmãs. Encontramo-nos apenas a nós próprios. Mas encontramo-nos realmente perdidos. A nossa falsa imagem, a nossa máscara, as nossas frustrações ocuparam o lugar onde deveríamos viver.

Ele é o invasor mais difícil de expulsar, mas o mais necessário. O esquecimento de Maria na Visitação é a nossa melhor ajuda para o fazer.

Escusado será dizer que a batalha para despejar os ocupantes vai ser dura. Dir-se-ia que a própria legislação os protege e que eles vão alegar que têm o direito de lá ficar. Porque há de facto o risco de se tornarem uma cultura, um hábito, um modo de vida e de ficarem a viver na nossa alma.

É por isso que o despejo tem de começar o mais rapidamente possível.

O autorJavier Segura

Delegado docente na Diocese de Getafe desde o ano académico de 2010-2011, realizou anteriormente este serviço no Arcebispado de Pamplona e Tudela durante sete anos (2003-2009). Actualmente combina este trabalho com a sua dedicação à pastoral juvenil, dirigindo a Associação Pública da Fiel 'Milicia de Santa María' e a associação educativa 'VEN Y VERÁS'. EDUCACIÓN', da qual é presidente.

Vaticano

O Papa encoraja a "evangelização alegre" e o apoio aos ucranianos

No seu discurso aos peregrinos de várias línguas, às quais se juntará em breve o chinês, o Papa Francisco encorajou os presentes a irradiarem alegria, fruto do encontro com Jesus, no Advento que começa no domingo, seguindo o exemplo de São Filipe Néri. Além disso, rodeado de alunos franceses, pediu orações para as crianças ucranianas neste inverno.

Francisco Otamendi-27 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

Semear e rezar pela paz, especialmente para a Ucrânia e a Terra Santa, e transmitir a alegria do Evangelho com a chegada do Advento, foram temas centrais da catequese O Papa Francisco deu o seu testemunho na quarta-feira, com dezenas de crianças sentadas nos degraus do estrado na Praça de São Pedro.

Por exemplo, ao dirigir-se aos fiéis de diferentes línguas, Francisco recordou que "no próximo domingo começamos o Advento, o tempo de preparação para o Natal", e encorajou-os a "viver este tempo de graça, irradiando a alegria que é fruto do encontro com Jesus, com uma oração vigilante e uma esperança ardente".

Rezar pelos jovens ucranianos no inverno

Ao exortar à oração pela paz, dirige-se em particular às crianças parisienses presentes na escadaria, pedindo-lhes que não esqueçam os rapazes. Ucranianos que estão em guerra, não têm aquecimento e sofrem com o frio num inverno muito forte e rigoroso. "Rezar pela juventude e pelos jovens ucranianos".

Em particular, nas palavras que dirigiu aos peregrinos polacos, dissePolónia O Papa disse: "Sejam caridosos e pacificadores, apoiando aqueles que estão doentes e sofrem por causa das guerras, especialmente os ucranianos que enfrentam o inverno. Abençoo-vos do fundo do coração.

Com Jesus há sempre alegria e paz

No seu discurso em italiano, o Papa retomou o ciclo de catequeses "O Espírito e a Esposa", e centrou a sua meditação no tema "Os frutos do Espírito Santo. A alegria", com a leitura de um excerto da Carta de São Paulo aos Filipenses.

São Paulo, na Carta aos Gálatas, diz-nos que "o fruto do Espírito é o amor, a alegria e a paz, a magnanimidade, a mansidão, a bondade e a confiança, a mansidão e a temperança" (Gal 5, 22)", começou o Santo Padre. "Estes frutos são o resultado de uma colaboração entre a graça de Deus e a liberdade humana, que todos somos chamados a cultivar para crescer na virtude. Entre todos estes frutos, gostaria de destacar o da alegria". 

A alegria do Evangelho torna-se contagiosa

"Ao contrário de qualquer outra alegria que possamos experimentar nesta vida, que no fim será sempre passageira, a alegria do Evangelho não está sujeita ao tempo, pode ser renovada todos os dias e torna-se contagiosa. Além disso, a partilha com os outros fá-la crescer e multiplicar-se", afirmou.

Vemos este fruto do Espírito evidente, por exemplo, "na vida de muitos santos, como São Filipe Nérique soube dar testemunho do Evangelho, contagiando todos com a sua alegria, bondade e simplicidade de coração".

"Alegrai-vos sempre no Senhor".

O Papa recordou a sua Exortação Apostólica Evangelii gaudium. A palavra "evangelho" significa boa notícia. Por isso, não pode ser comunicada com caras de espanto e semblante sombrio, mas com a alegria de quem encontrou o tesouro escondido e a pérola de grande valor".

"Recordemos a exortação que S. Paulo dirigiu aos crentes da Igreja de Filipos - recordou por fim - e que agora nos dirige a nós: 'Alegrai-vos sempre no Senhor, repito, alegrai-vos e mostrai a todos um espírito muito aberto. O Senhor está próximo" (Fl 4,4-5)".

Quanto a São Felide Neri, o Papa recordou que "o santo participou no Jubileu de 1575, que enriqueceu com a prática, posteriormente mantida, da visita às Sete Igrejas. Foi, no seu tempo, um verdadeiro evangelizador pela alegria".

Funeral do Cardeal Ayuso Guixot

Ao meio-dia, na Basílica de São Pedro, terá lugar a Missa em sufrágio do falecido Cardeal espanhol Miguel Angel Ayuso Guixot, Prefeito do Dicastério para o Diálogo Inter-religioso, que será celebrada pelo Cardeal Giovanni Batista Re, Decano do Colégio Cardinalício: "Em todas as suas actividades apostólicas foi sempre animado pelo desejo de testemunhar, com doçura e sabedoria, o amor de Deus pelo homem, trabalhando pela fraternidade entre os povos e as religiões", declarou Papa Francisco sobre o Cardeal Ayuso Guixot, que pertencia à congregação dos Missionários Combonianos do Sagrado Coração de Jesus.

O autorFrancisco Otamendi

Vaticano

Atualizar a comunicação da Igreja, uma conversa com Massimiliano Padula

Segundo Massimiliano Padula, sociólogo da Pontifícia Universidade Lateranense, a Igreja é hoje chamada a promover um itinerário cultural que ajude os fiéis a compreender os tempos, os lugares, as linguagens e os códigos da cultura digital.

Giovanni Tridente-27 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Na quinta-feira, 28 de novembro, o Pontifícia Universidade Lateranense de Roma organiza um seminário 20 anos após a publicação de "Comunicação e Missão", o Diretório da Conferência Episcopal Italiana sobre a comunicação social na missão da Igreja. O Documento nasceu num contexto histórico em que se começava a falar de profissionalização da comunicação e foi um impulso decisivo para que muitas realidades eclesiásticas começassem a investir neste campo.

Duas décadas depois, fazemos o ponto da situação com Massimiliano Padula, sociólogo dos processos culturais e comunicativos que ensina Ciências da Comunicação Social na Universidade Lateranense, para perceber qual o impacto que este documento pode ainda ter nas realidades eclesiais de outros países.

De onde surgiu a ideia de "celebrar" o 20º aniversário de um documento pioneiro relacionado com a comunicação da Igreja?

- O evento nasceu de uma dupla necessidade. Antes de mais, refletir sobre a intenção pastoral que determinou o impulso para o pensar, escrever e publicar: oferecer às realidades eclesiais uma oportunidade para se recentrarem no papel da mulher na Igreja. comunicações sociaismas também nas mudanças que estavam a ocorrer no mundo contemporâneo de então. O desejo dos bispos italianos era o de encorajar uma verdadeira mudança de mentalidade e de disposição no modo de percecionar e viver a missão da Igreja no contexto da cultura dos media.

A segunda necessidade diz respeito à sua atualização no mundo digital contemporâneo, e isto diz respeito não só à Itália, mas à Igreja universal. Em 2004, apesar da progressiva difusão da Internet, o cenário mediático era predominantemente caracterizado por aquilo a que hoje chamamos "meios de comunicação tradicionais". A televisão, a rádio, os jornais e as editoras continuaram a ter um profundo impacto na opinião pública.

Hoje, com a web, as diferenças nacionais são muito menos evidentes, pelo que é necessário desenvolver projectos e processos de comunicação integrados e globais que, embora com as necessárias adaptações, se dirijam a todas as realidades eclesiais.

Que inovações foram decisivas para os organismos envolvidos na comunicação a nível eclesiástico?

- Qualquer pessoa em Itália que tenha estado envolvida na comunicação no campo religioso provavelmente "encontrou" o Diretório, estudou-o e pôs mais ou menos em prática as suas orientações. O Diretório ultrapassou depois as fronteiras italianas para se tornar - também para outras Igrejas - uma fonte de inspiração e um modelo de pensamento cristão e de práticas de comunicação eficazes.

A principal inovação é, portanto, ter dado dignidade teológico-pastoral à comunicação. De facto, há muitos anos que o mundo católico (conferências episcopais, dioceses, comunidades religiosas) investe na comunicação, pondo em prática muitas das iniciativas previstas no Documento. Entre elas, a renovação da catequese e da educação da fé, o apoio à formação tecnológica, a melhoria da sinergia entre os meios de comunicação nacionais e locais, a regeneração das salas paroquiais e a definição do perfil do chamado "animador de cultura e comunicação".

Este último, em particular, representou uma novidade importante: trata-se de um verdadeiro "ministério" que, ao lado das funções reconhecidas de catequista, animador da liturgia e da caridade, é responsável pela coordenação da pastoral da cultura e da comunicação nas dioceses, paróquias e comunidades religiosas.

Em 20 anos, o panorama da comunicação mudou profundamente. Que perspectivas devem ser actualizadas no Anuário?

- Embora considere que talvez seja o momento oportuno para a sua revisão, estou também convencido de que a palavra "anuário" perdeu um pouco a sua eficácia. De facto, refere-se a algo estabelecido, indicativo, pouco flexível. O mesmo se aplica aos decálogos ou manifestos, que têm certamente propostas válidas, mas correm o risco de reduzir as boas ideias e práticas a meros slogans. Isto é ainda mais evidente no atual universo digital, difícil de intercetar, compreender e delimitar.

Por conseguinte, creio que hoje a Igreja universal, posta à prova por contingências como a secularização, mais do que propor preceitos ideais, deve favorecer um itinerário cultural que ajude os fiéis a compreender os tempos, os lugares, as linguagens e os códigos da cultura digital.

E isso pode ser feito enquadrando a pastoral digital não como uma área pastoral específica, mas como uma dimensão transversal da ação eclesial. Hoje, de facto, o digital não significa apenas comunicação, mas "toca" a liturgia, a catequese, os jovens, a família, a esfera social, o ensino da religião e tudo o que uma Igreja vive como serviço ao povo de Deus.

Por fim, uma reflexão sobre a cultura digital e a inteligência artificial: como é que as paróquias, dioceses, comunidades religiosas e igrejas nacionais podem viver estes novos processos para evangelizar e construir o bem comum?

- Na Mensagem para o 53º Dia Mundial das Comunicações Sociais 2019, o Papa Francisco escreveu como é fundamental passar - no que diz respeito às redes sociais - do diagnóstico à terapia, preferindo à lógica efémera do like a do amen, fundada na verdade e "pela qual cada um adere ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros".

Por isso, é muito bom criar possibilidades e inter-relações com estas questões, tal como é importante formar-se nelas, mas creio que, hoje, uma das tarefas da Igreja enquanto instituição, mas também de todas as mulheres e homens de boa vontade, é voltar a tomar consciência da Graça da própria humanidade e reafirmar a sua beleza, mesmo em espaços de programação online ou algorítmicos.

Espanha

Os bispos espanhóis condenam inequivocamente a "cura intergeracional".

A Comissão Episcopal para a Doutrina da Fé de Espanha emitiu uma nota doutrinal sobre a "cura intergeracional", alertando para a sua falta de base na tradição e doutrina da Igreja. Esta prática, promovida por alguns padres, é vista como um sincretismo teológico perigoso que pode causar danos espirituais. A nota sublinha que o pecado é pessoal e não se transmite de geração em geração, defendendo a eficácia do batismo e da graça de Deus.

Redação Omnes-26 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Nos últimos anos, algumas dioceses espanholas identificaram a prática da chamada "cura intergeracional" em orações e retiros promovidos por movimentos carismáticos. Preocupados com esta situação, os bispos da Comissão para a Doutrina da Fé da Conferência Episcopal Espanhola solicitaram estudos a especialistas em teologia e psicologia para analisar esta prática. Depois de avaliarem os relatórios, em março de 2024, decidiram elaborar uma nota que sintetizasse a informação sobre esta prática e oferecesse uma avaliação doutrinal, destacando os seus riscos e apontando a sua incompatibilidade com a tradição e a fé da Igreja. Este documento foi aprovado em setembro de 2024 para divulgação oficial e tem sido publicado em 26 de novembro.

O que é a "cura intergeracional"?

A teoria e a prática da "cura intergeracional", também designada por "cura da árvore genealógica", têm a sua base nas obras polémicas de vários autores que combinam psicologia, terapia e espiritualidade. Um dos principais expoentes é Kenneth McAll, médico e missionário anglicano, que se baseia na psicologia de Carl Gustav Jung para estabelecer uma ligação entre a doença e as forças do mal. Mais tarde, esta ideia foi desenvolvida pelo claretiano John Hampsch e pelo padre Robert DeGrandis, que popularizou esta prática no seio do Renovamento Carismático Católico graças à sua proximidade com este movimento.

Estes autores defendem que o pecado pode ser transmitido entre gerações, argumentando que os pecados não perdoados dos antepassados seriam responsáveis por perturbações físicas e psicológicas nos seus descendentes. De acordo com esta perspetiva, a cura é conseguida através da identificação desses pecados na árvore genealógica e da utilização de instrumentos espirituais como as orações de intercessão, os exorcismos e, sobretudo, a celebração da Eucaristia. Através destas práticas, procura-se que Jesus ou o Espírito Santo quebre os laços do pecado, provocando uma cura que é frequentemente descrita como imediata e completa.

Intervenções dos professores

O magistério católico alertou para os riscos teológicos e pastorais da "cura intergeracional". Em 2007, a Conferência Episcopal Francesa sublinhou que esta prática simplifica excessivamente a transmissão das doenças psíquicas, anula a liberdade individual e distorce a teologia sacramental ao negar todo o poder do batismo. No mesmo ano, o bispo de Suwon, Paul Choi Deog-ki, explicou que a ideia de herdar pecados é incompatível com a doutrina católica, uma vez que o batismo limpa completamente os pecados individuais.

Em 2015, a Conferência Episcopal Polaca publicou uma análise aprofundada, concluindo que esta prática não tem fundamento nas Escrituras, na Tradição e no Magistério, contradizendo a verdade da misericórdia divina e a eficácia do batismo e da reconciliação. Estas intervenções sublinham que os pecados não são transmissíveis e que a graça sacramental é suficiente para libertar o indivíduo.

Fundamentação teológica

O Magistério da Igreja rejeita a teoria da cura intergeracional, que propõe que os pecados dos antepassados podem influenciar as gerações posteriores. De acordo com a doutrina católica, o pecado é sempre pessoal e exige uma decisão livre da vontade, como se afirma na exortação Reconciliação e Paciência (1984). Só o pecado original se transmite de geração em geração, mas não de forma culposa, como sublinha o Catecismo.

Além disso, a responsabilidade pelos pecados é individual, não colectiva, e a salvação é dada gratuitamente através de Cristo. O batismo apaga todos os pecados, incluindo o pecado original, e não deixa consequências que justifiquem a transmissão dos pecados. A Eucaristia e as orações pelos mortos, embora válidas, não têm como objetivo a cura intergeracional. A Igreja também regulamenta as orações de cura, exigindo que sejam celebradas sob a supervisão da autoridade eclesiástica para evitar distorções na liturgia.

Vaticano

Francisco afirma que o documento final do Sínodo pertence ao Magistério ordinário do Papa

O Documento Final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, aprovado a 26 de outubro de 2024, reúne as reflexões do caminho sinodal iniciado em 2021. Embora não tenha um carácter normativo imediato, o texto oferece orientações para a implementação criativa e contextual de novas formas de ação pastoral e ministerial, neste sentido a ser entendido como o magistério ordinário do Papa.

Redação Omnes-26 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

O Papa deseja que as conclusões do Documento Final do Sínodo sobre a Sinodalidade sejam tidas em conta como Magistério ordinário do Papa. O Documento final da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, aprovada a 26 de outubro de 2024, é o fruto de um processo sinodal iniciado em outubro de 2021. Este caminho tem sido um exercício de profunda escuta do Povo de Deus e de discernimento dos pastores, com o objetivo de identificar passos concretos para reforçar a comunhão, promover a participação e renovar a missão confiada por Jesus Cristo. As orientações do Documento são o resultado de um percurso que começou nas igrejas locais e se estendeu aos níveis nacional, continental e global, culminando em duas sessões da Assembleia Sinodal em 2023 e 2024.

O Documento, que representa uma expressão do magistério ordinário do Papa, contém orientações para conduzir a Igreja a uma praxis sinodal mais profunda e coerente com os desafios actuais. Embora não tenha um carácter estritamente normativo, convida as Igrejas e os grupos locais a implementar as suas indicações através de processos de discernimento e de tomada de decisões, adaptando-se aos diferentes contextos culturais e pastorais. Em muitos casos, isto implica a aplicação de normas já existentes no direito eclesial atual, tanto na sua versão latina como oriental. Noutros, abre a porta a formas criativas de ministério e de ação missionária, favorecendo experiências que terão de ser avaliadas.

Os bispos devem apresentar-se em Roma

A fase de implementação será acompanhada pelo Secretariado Geral do Sínodo e por vários dicastérios da Cúria Romana. Os bispos, por sua vez, terão a tarefa de relatar o andamento das suas visitas ad limina, documentando as decisões tomadas, os frutos alcançados e as dificuldades encontradas. Este acompanhamento visa assegurar que as orientações do Documento sejam efetivamente implementadas, promovendo uma Igreja mais sinodal e missionária.

Um dos destaques é o apelo à inculturação das soluções pastorais, respeitando as tradições e os desafios locais. Isto reflecte uma abordagem flexível e dinâmica que reconhece a diversidade dentro da unidade da Igreja. Ao mesmo tempo, sublinha a importância de procurar novas formas de acompanhamento pastoral e estruturas ministeriais que respondam às necessidades de comunidades específicas.

O caminho sinodal, longe de terminar com a publicação do Documento, é entendido como um processo contínuo. Inspirado pelo Espírito Santo, o seu objetivo último é rejuvenescer a Igreja, renovar o seu compromisso com o Evangelho e avançar para a plena e visível unidade dos cristãos. Para o Papa, a sinodalidade não se limita a interpretar o ministério hierárquico, mas enriquece-o, marcando um modo de caminhar juntos na comunhão e na diversidade.

Doutrina e prática pastoral

O Documento coloca também em perspetiva a relação entre doutrina e prática pastoral. Reconhecendo a necessidade de unidade doutrinal, abre espaço para diferentes interpretações e aplicações sobre questões específicas, sempre na fidelidade ao Evangelho e sob a orientação do Espírito. Esta abordagem permite à Igreja responder melhor aos desafios contemporâneos, actuando como um testemunho vivo da fé no meio das complexidades do mundo de hoje.

Finalmente, o Sínodo é apresentado como um instrumento para aprender e desenvolver cada vez melhor o estilo sinodal, entendendo que este processo envolve dimensões geográficas e interiores. Isto requer uma contínua abertura ao Espírito, que guia a Igreja para uma maior harmonia e comunhão com Cristo, seu Esposo. O Papa conclui reiterando a necessidade de acções concretas para acompanhar as palavras partilhadas, confiando que o Espírito Santo sustentará este caminho de renovação e de missão.

Zoom

O Papa saúda os vencedores do Prémio Ratzinger 2024

O Papa Francisco cumprimenta os dois vencedores do Prémio Ratzinger 2024: o professor irlandês Cyril O'Regan e o escultor japonês Etsuroo Sotoo.

Paloma López Campos-26 de novembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Família

Jaime Rodríguez: "O corpo não é uma prisão, mas algo de bom e belo".

A Teologia do Corpo, desenvolvida por São João Paulo II nos anos 80, continua a atrair a atenção de milhares de jovens de hoje, como confirmou o padre Jaime Rodríguez, assegurando que a antropologia cristã "apela ao coração" das novas gerações.

Paloma López Campos-26 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Jaime Rodríguez é um sacerdote do Legionários de CristoFoi ordenado há 16 anos. Trabalha no Instituto Desarrollo y Persona da Universidade Francisco de Vitória e dirige o programa online de Teologia do Corpo, o que o torna um dos principais promotores de iniciativas como "A Teologia do Corpo".O Festival do Corpo"Trata-se de uma experiência formativa que aproxima dos jovens os ensinamentos da Igreja sobre o corpo e a sexualidade.

Nesta entrevista, o Padre Jaime Rodríguez fala sobre a antropologia cristã e as oportunidades que a sociedade atual oferece para redescobrir o valor do homem.

Porque é que a Teologia do Corpo, um ensinamento promovido por João Paulo II há muitos anos, é importante hoje em dia?

- Normalmente, a Teologia do Corpo está ligada a João Paulo II e isso é bom porque foi ele que a desenvolveu, mas ele não disse nada de novo. O que ele fez foi explicar o Génesis e a antropologia cristã, o que sempre tinha sido dito, mas de uma forma nova. Desta forma, João Paulo II conseguiu transmitir as verdades não por dever, mas por valor.

O Papa polaco disse, nos anos 50, que o fracasso da ética cristã reside no facto de ter formulado os seus conteúdos sob a forma de preceitos e deveres. João Paulo II pensou que era melhor apresentar os conteúdos em termos de beleza e de valor. Abordou o tema do amor, o sexualidadeO estilo que utilizou ressoa muito junto dos jovens, porque vimos de uma formação catequética um pouco moralista, e o que vejo quando transmitimos este programa é que as pessoas reagem dizendo que é isto que desejam. O estilo que utilizou ressoa muito nos jovens, porque vimos de uma formação catequética um pouco moralista, e o que vejo quando transmitimos este programa é que as pessoas reagem dizendo que era isto que desejavam no seu coração, mas que ninguém lhes tinha explicado assim. É por isso que a Teologia do Corpo não é uma moda: é a velha verdade dita de uma forma que se liga melhor.

Como podemos falar com as pessoas sobre o "valor" da sua pessoa e do seu corpo numa era de tanta exposição nas redes sociais, em que até se pode ganhar dinheiro mostrando o corpo e a intimidade?

- João Paulo II afirma que o corpo é uma expressão da pessoa. Por seu lado, Christopher West explica que o problema da pornografia não é que ela ensine demasiado, mas que ensina muito pouco, porque instrumentaliza o corpo e o transforma num objeto. A pornografia transforma pessoas que são únicas e irrepetíveis, com uma dignidade infinita, num objeto que pode ser comprado e vendido.

Rousseau, embora distante da antropologia cristã, disse em "O Contrato Social" que ninguém no mundo deveria ser tão rico a ponto de comprar outro e ninguém tão pobre a ponto de se vender. Através da Teologia do Corpo, as pessoas descobrem a dignidade e o valor do seu corpo. É por isso que ela não é apresentada do ponto de vista do certo e do errado, mas do ponto de vista da descoberta do dom que cada pessoa é. Graças a estas ideias, as pessoas sentem-se cheias de reverência e admiração pelo seu próprio corpo e também pelo corpo dos outros.

Que pistas daria a uma pessoa que não sabe nada sobre a Teologia do Corpo para se iniciar nestes ensinamentos?

- Em termos muito gerais, há dois elementos essenciais da Teologia do Corpo que se encontram no Génesis 1 e 2. Na primeira secção, Deus cria o homem à sua imagem e semelhança, homem e mulher os criou. Com base nisto, toda a Teologia do Corpo fala da masculinidade e da feminilidade como imagem de Deus. Isto implica que o nosso corpo não é a prisão da alma ou um meio de reprodução, mas algo de bom e belo criado por Deus.

Por outro lado, o Génesis 2 indica que o homem deixará o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher e serão uma só carne. Deus diz-nos que a pessoa é criada para a família. De facto, João Paulo II diz que o homem é a imagem de Deus mais em comunhão do que em solidão. Na antropologia cristã, o que temos na origem é a comunhão, não temos o indivíduo isolado, mas alguém que diz "isto é carne da minha carne e osso dos meus ossos", Deus afirmando que "não é bom que o homem esteja só".

A Teologia do Corpo pode ser mal interpretada, pois só olha para o homem e esquece-se de Deus. Qual é o papel de Cristo nestes ensinamentos?

- João Paulo II foi acusado de ser antropocêntrico, dizendo que tinha sucumbido ao modernismo. O Papa polaco respondeu dizendo que se pode falar de antropocentrismo desde que a ideia de homem seja o homem a quem Cristo se uniu com a sua Encarnação. Na Teologia do Corpo, não falamos do homem como um ser do cosmos que apareceu por acaso, mas do homem como a humanidade à qual Cristo se uniu na Encarnação. Isto leva-nos a uma perspetiva trinitária e cristocêntrica.

Então isto é só para os católicos?

- Não. Isto, que é bom, belo e verdadeiro, não é uma ideia apenas para os católicos, mas um ensinamento para todo o mundo. João Paulo II disse que o critério de verificação da Revelação, na qual se incluem estes ensinamentos, é a experiência. Através da nossa experiência, podemos saber se a Teologia do Corpo é razoável e verdadeira, e a realidade é que as pessoas acabam por se aperceber que estes ensinamentos se adequam aos anseios do seu coração. Todos os que têm um corpo podem encontrar na Teologia do Corpo uma explicação da sua identidade e do seu apelo ao amor.

Que oportunidades oferece a sociedade atual para redescobrir a Teologia do Corpo?

- A grande oportunidade é que os jovens de hoje não aceitam facilmente os valores que lhes são propostos, são uma geração muito crítica e descristianizada. Os jovens escutam o que um ministério, uma ideologia e também a Igreja lhes dizem, já não como imposições, mas como propostas. Portanto, como os jovens já não vêem a fé como algo imposto, se estão convencidos, abraçam-na. Esta é uma oportunidade, porque há toda uma geração cansada das verdades aparentes ditas por uma sociedade falida.

Os jovens de hoje são um terreno fértil que se entusiasma com a proposta cristã, porque esta apela aos desejos do seu coração. Eles sabem que podem fazer o que quiserem, mas Cristo pergunta-lhes: "Quereis o que fazeis? Fazeis o que quereis?"

Um exemplo disto são os rapazes e raparigas que vêm à "Festa do Corpo". Eles estão cansados de mentiras bonitas e encontraram na Teologia do Corpo uma verdade que ressoa nos seus corações. Não querem uma vida louca de rutura, mas a oportunidade de viver um amor verdadeiro.

Cultura

"Quase", mais do que uma história sobre os sem-abrigo

Jorge Bustos materializa nestas páginas a única razão de ser do jornalista, essa profissão que fala de tudo o que não vive: contar as histórias que merecem ser ouvidas.

Maria José Atienza-26 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

A sua leitura demora apenas dois dias. A rapidez da sua leitura deve-se provavelmente, em grande parte, ao facto de Quase prende o leitor desde o início.

O jornalista Jorge Bustos faz uma crónica sobre os sem-abrigo, como ele próprio intitula esta obra, não na perspetiva económica ou sócio-descritiva do político, nem como uma dessas pregações moralizantes dos novos padres leigos em que muitos de nós, comunicadores, nos transformámos. 

Quase é um relato em primeira mão, escrito a partir da sala de jantar do centro de acolhimento, do autocarro partilhado e das conversas confidenciais dos pequenos passeios de uma excursão.

Quase

AutorJorge Bustos
Editorial: Libros del Asteroide
Páginas: 192
Ano: 2024

Quase nasce de um olhar de reconhecimento, não de um olhar rápido, para esses milhares de "sem-abrigo" que povoam as nossas ruas do primeiro mundo. Aqueles que estão tão perto de nós que nem sequer os vemos, que "assimilámos" no conjunto da paisagem, mas que são o fracasso mais retumbante de uma sociedade que, como o próprio Bustos assinala, os colectiviza para "diluir a responsabilidade, que pertence sempre a decisões específicas de pessoas específicas".

Quase é feito de fragmentos de histórias inacabadas, porque ainda estão a ser vividas enquanto lê estas linhas: a vida dos sem-abrigo, as suas luzes e sombras, a tarefa ingrata e ao mesmo tempo maravilhosa daqueles que cuidam deles; o trabalho das Irmãs da Caridade que são, para além de irmãs, pai e mãe de centenas de pessoas a quem ninguém quer chamar família.

Com a acuidade estilística que o caracteriza, Bustos passa de jornalista-contador a jornalista-ouvinte, encarnando um narrador que reflecte, analisa, recorda... e desaparece quando necessário. Partilha com os verdadeiros protagonistas - os invisíveis - a comida e a conversa. E também com aqueles que cuidam deles, no Centro de Acolhimento de San Isidro, em Madrid (Quase), noutros centros como La Rosa ou Juan Luis Vives.

Nestas páginas, há toxicodependentes que nascem com sintomas de abstinência, mulheres que foram abusadas vezes sem conta, professores cujo álcool os fez descer da sala de aula para noites num banco frio na rua, e imigrantes marcados por rótulos de um ou outro sinal. Os seus membros não aparecem como pobres espezinhados (embora mais do que um tenha a marca de uma sola na cara), mas com a dignidade de quem, como mulher ou como homem, tem um coração e uma história entre as costelas.

Na era da informação baixo custo (e rápido), do apresentador de talk show e do jornalista ChatGPTO facto de um dos nossos aceitar descer à rua durante mais de duas horas para fazer uma reportagem é uma demonstração mais do que louvável de particular devoção à profissão e de respeito pelo leitor.

Se, como neste caso, ele dedicou dias e noites ao assunto e até a celebração do seu próprio aniversário, passamos a algo mais do que um relatório informativo ou de "denúncia".

Jorge Bustos materializa nestas páginas a única razão de ser do jornalista, essa profissão que fala de tudo o que não vive: contar as histórias que merecem ser ouvidas. Ser a voz daqueles que não a podem contar, que não têm voz ou que nem sequer têm consciência de que são as suas vidas que realmente materializam o pulsar de uma sociedade.

Quase é um livro que não se acaba de ler quando se chega à página 189. É até engraçado pensar que se está "quase" a acabar, mas não se está. Porque, se tiveres coração, coragem e olhos... Ou melhor, se tiveres olhos no coração, vais continuar a ler as páginas de Quasetodos os dias, nas ruas da sua cidade.

Vaticano

A árvore de Natal do Vaticano chega à Praça de São Pedro

O abeto que servirá de árvore de Natal chegou à Praça de São Pedro, no Vaticano.

Relatórios de Roma-25 de novembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
relatórios de roma88

Um abeto da floresta do Vale do Ledro chegou ao Vaticano, onde será iluminado como árvore de Natal do Vaticano no dia 7 de dezembro.

Um presépio será exposto ao lado da árvore, que também poderá ser vista a partir de 7 de janeiro. Ambas as decorações de Natal estarão em exposição na Praça de São Pedro até 12 de janeiro de 2025.


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Recursos

Porque é que os filósofos têm um patrono e não têm um patrono?

Muitos ficam surpreendidos ao saber que os filósofos têm um patrono feminino em vez de um patrono masculino, especialmente porque, na história da filosofia, a maior parte dos grandes filósofos foram homens. Este artigo explica porque é que uma mulher tem este privilégio único.

Enrique Esteban-25 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

A Igreja tem uma mão-cheia de santos que foram grandes filósofos - Santo Agostinho, Santo Tomás, Santo Anselmo, São Boaventura e Santo Alberto Magno - pelo que é surpreendente que a padroeira dos filósofos seja precisamente uma mulher, Santa Catarina de Alexandria. Mas que méritos teve esta rapariga de 18 anos para ser proclamada padroeira de tantos grandes pensadores? Que grande inteligência possuía ela?

A história de Santa Catarina de Alexandria

Catarina de Alexandria é mencionada pela primeira vez na hagiografia entre os séculos VI e VIII, uma documentação bastante tardia, uma vez que explica que a mártir morreu no Egito no início do século IV.

A documentação variada sobre a história do santo culminou no "...".Lenda dourada"O livro do arcebispo de Génova, Santiago de la Voragine, conta-nos que Catarina era uma nobre cristã, filha do rei Costo de Alexandria, uma jovem educada nas artes liberais, de grande beleza e virtude. Catarina tinha dezoito anos quando o imperador Maxêncio (ou Maximino) chegou a Alexandria e ordenou que se fizessem sacrifícios pagãos por ocasião da sua visita. Catarina recusou e, entrando no templo, tentou convencer o imperador com uma retórica impecável.

O imperador, impressionado com a sua eloquência, convocou sábios de todo o Império para refutarem os seus argumentos. Estes sábios foram convertidos ao cristianismo por Catarina e queimados vivos por esse facto. Catarina foi açoitada e aprisionada, condenada a morrer à fome. Mas dois anjos acompanharam-na no seu cativeiro, curando as marcas da flagelação, e uma pomba trazia-lhe diariamente comida. Durante a sua prisão, conseguiu converter a mulher do imperador, o seu general Porfírio e duzentos outros soldados.

Quando o imperador chegou de novo, mandou torturar Catarina com uma máquina feita de rodas dentadas que, ao tocar no corpo da jovem, explodiu em mil pedaços, matando quatro mil pagãos que assistiam à condenação. A imperatriz, censurando o marido pela crueldade dos seus actos e reconhecendo a sua conversão, foi também decapitada, assim como o general Porfírio e os seus soldados convertidos.

Por fim, o imperador mandou decapitar a jovem mulher, depois de Catarina ter recusado o seu pedido de casamento. Do seu corpo não saiu sangue, mas leite.

Vários séculos de desconhecimento sobre a santa lançaram dúvidas sobre a sua existência; no entanto, como exemplo didático de vida cristã, Santa Catarina é padroeira de muitos ofícios, dada a sua extrema erudição, e é considerada uma intercessora perante problemas de todo o tipo.

História eclesiástica de Eusébio, do século IV, fala de uma mulher alexandrina que enfrentou o imperador (não é claro se foi Maxêncio ou Maximino). Pensa-se também que a história de Santa Catarina poderá ter sido inspirada e ser um contraponto à de Hipátia (falecida em 415), uma filósofa egípcia de grande erudição e religião pagã, que terá sido assassinada por uma multidão de cristãos numa altura de grande tensão política e religiosa na região. Outras fontes que falam da santa são Passio (séculos VI-VIII) ou a Grego Menogolio do imperador Basílio, onde é retratada pela primeira vez com os seus atributos. Todas estas fontes documentais culminariam na Lenda dourada.

Seja como for, parece que a partir do século VIII a veneração de Santa Catarina era comum entre os cristãos do Egito, pois acreditava-se que ela estava enterrada no Sinai. As relíquias da santa foram encontradas no Sinai no século IX, onde, segundo a tradição, teriam sido transportadas por anjos; as representações mais antigas provêm de Bizâncio e de finais do século X (ilustração na Menólogo de Basílio), quer como figura isolada, quer como ciclo biográfico ou com cenas narrativas específicas.

Estudo do tipo iconográfico do martírio de Santa Catarina de Alexandria

As primeiras imagens da santa a aparecer no Ocidente datam do século XII, quando o seu culto foi difundido pelos cruzados, pouco antes de Santiago de la Vorágine registar a história da vida de Catarina na sua Lenda dourada.

A partir do século XIV, regista-se um aumento notável do número de representações e uma diversificação dos temas. Não só aparece isolado com os atributos tradicionais, como a roda dentada do seu suplício, a palma da mão como símbolo do martírio, os diversos sinais de erudição (como livros, instrumentos matemáticos ou uma esfera terrestre), a coroa como sinal de origem nobre ou esmagando a cabeça do imperador, como também se generalizam novos temas, como o noivado místico. A ideia de uma vida consagrada a Deus como forma de casamento é recorrente a partir do século XIV. Assim, Santa Catarina de SienaSanta Catarina de Alexandria, Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz, fazem referência nos seus escritos (ou lemos nos escritos de outras pessoas depois da sua morte) a uma relação semelhante de entrega. De facto, não existe tal episódio na documentação sobrevivente de Santa Catarina de Alexandria; nem mesmo Tiago de Voragine relata tal situação, e apenas indica o que Deus disse à santa momentos antes da sua decapitação. "Vem, minha amada, vem, minha esposa, vem! Outros temas recorrentes são o debate com os filósofos do imperador, o seu martírio e a sua conversão.

Vale a pena referir as semelhanças encontradas entre esta santa e a já referida Santa Catarina de Sena: a ambas é atribuída uma grande erudição (não é em vão que Santa Catarina de Sena é Doutora da Igreja), um debate contra os sábios da época ou o episódio do noivado místico, bem como os seus nomes próprios. Não é descabido pensar que existe uma certa relação entre a vida da santa do século XIV (melhor documentada) e a evolução da iconografia de Santa Catarina de Alexandria.

Já foi referido que a representação artística de Santa Catarina de Alexandria é muito comum na iconografia cristã desde a Idade Média. O século XVI deixou exemplos ricos e variados da iconografia da santa em todas as suas variantes. É bem conhecida a pintura de Caravaggio (1598) que mostra Santa Catarina com os seus atributos mais caraterísticos: a palma, a roda e o punhal.

@Wikipedia Commons

Entre os noivados místicos, é comum encontrar representações em que o santo, ajoelhado diante do Menino Jesus, beija-lhe a mão ou recebe um anel em sinal de aliança. Os atributos típicos são também frequentemente representados. Exemplo disso é a pintura a óleo de Alonso Sánchez Coello (1578) em que se vê a santa com a aliança no dedo.

@PICRYL 

Uma pintura de Lucas Cranach, o Velho (1506), mostra o momento em que a roda de tortura se parte e mata os pagãos que estão à volta do santo e que assistem ao espetáculo.

@Wikipedia Commons

Existe uma grande variedade de representações de Santa Catarina de Alexandria em toda a Europa, onde a sua figura é venerada em muitos sítios. É considerada santa pelas Igrejas Católica, Copta, Ortodoxa e Anglicana.

BIBLIOGRAFIA

-De la Vorágine, Santiago, A LENDA DOURADA. VOLUME 2. Alianza Forma, Madrid, 1989.

-Monreal y Tejada, Luis. ICONOGRAFIA DO CRISTIANISMO. El acantilado, Barcelona, 2000.

-Record, André. AS FORMAS DA CRIAÇÃO NA ICONOGRAFIA CRISTÃ. Alianza Forma, Madrid, 1991.

-Franco Llopis, B.; Molina Martín, Á.; Vigara Zafra, J.A. IMAGENS DA TRADIÇÃO CLÁSSICA E CRISTÃ. Ramón Areces, Madrid, 2018.

O autorEnrique Esteban

Professor de História da Arte.

Experiências

Duas mulheres muito diferentes unidas pela vida

Domtila, do Quénia, e Antonia, do Chile, são duas mulheres com percursos de vida muito diferentes. Aparentemente, não têm nada em comum, mas há quase dez anos que trabalham juntas na Fundação Maisha, apoiando mulheres quenianas que têm de enfrentar a gravidez sem qualquer apoio e em condições de extrema pobreza.

Maria Candela Temes-25 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Domtila e Antónia são duas mulheres com percursos de vida muito diferentes. Uma está a aproximar-se da velhice, a outra está no início da idade adulta. Uma é originária de Kibera - um dos aglomerados humanos mais pobres do planeta - a outra vem de um meio abastado de Santiago do Chile. Uma é professora reformada, a outra é enfermeira-parteira. Não estão unidas pela origem, cor da pele, rede de amigos ou profissão. E, no entanto, desde que se conheceram, há quase dez anos, são inseparáveis. 

As biografias de Domtila e Antónia foram entrelaçadas pela mesma paixão e desejo: ajudar outras mulheres em situação de vulnerabilidade e fazer do mundo um lugar onde cada vida é acolhida como um dom, com respeito e cuidado. Como resultado deste compromisso comum, nasceu a Fundação Maisha. Suaíli significa Vida.

A história da "Mamã Domtila".

Domtila Ayot, mais conhecida por "Mama Domtila", é uma força da natureza. Quando fala, exala uma energia que a enche de juventude. Torna-se apaixonada e as suas palavras e histórias inundam-na. Encontramo-la em Nairobi e, com grande generosidade, partilha as suas memórias e abre as portas da sua casa.

Domtila, gostaria de começar por lhe pedir que se apresentasse.

-Venho de Kibera, em Nairobi, em favela maior do Quénia e a segunda maior de África. Tenho 76 anos, seis filhos e vários netos. Trabalhei durante anos, até à minha reforma, como professora numa escola católica. 

Como começou o seu empenhamento na defesa da vida nascente?

-Um dia, passeando pelo meu bairro, vi algo pendurado numa árvore, com uma forma estranha. Só quando me aproximei é que me apercebi que era um feto humano. Nas ruas secundárias de Kibera, não é raro encontrar fetos abortados abandonados ao ar livre. Senti-me desafiado, por isso fui para casa e escrevi o meu número de telefone em tiras de papel. Depois, colei-as em diferentes locais do bairro, oferecendo a minha ajuda. Foi assim que nasceu o "Edel Quinn Centre of Hope", para gravidezes de crise e apoio às mulheres.

O que é que leva as mulheres a optarem pelo aborto clandestino, com todos os riscos que isso implica?

-Estas gravidezes são frequentemente o resultado indesejado de abusos e violações - geralmente no seio da família - ou de relações esporádicas entre jovens que não receberam qualquer educação sexual. Muitas das pessoas que recorrem a esta prática perigosa ainda estão na adolescência. Como professora, apercebi-me de que precisavam de formação e de ajuda, pois muitas mulheres em Kibera enfrentam a gravidez sem qualquer apoio e em condições de extrema pobreza. Os episódios de dor e de esperança que testemunhei ao longo dos anos são incontáveis. 

Começou a partir do "Edel Quinn Hope Centre", sem quase nenhuns meios.

-Na minha paróquia, recebi uma formação alargada sobre questões bioéticas relacionadas com a família, a sexualidade e o início da vida. Consegui envolver toda a minha família nesta aventura. No início, o meu marido resistiu. Depois, ele próprio me disse que havia lençóis ou outros produtos que podíamos doar na loja onde nos regantávamos. Até à sua morte, foi um grande apoio para mim. 

Antónia, uma parteira sem fronteiras 

Em 2015, Domtila encontrava-se numa encruzilhada. Tinha-se demitido do cargo de presidente do movimento pró-vida da paróquia, apesar de ter sido novamente eleita por unanimidade. Queria continuar a ajudar muitas mulheres, mas encontrava-se sem meios e a precisar de braços. Nesse momento, Antonia Villablanca cruza-se no seu caminho.

Antónia, como é que conheceste a Domtila?

Em 2015, era estudante de enfermagem e estava a preparar-se para ser parteira. Numa viagem de solidariedade do Chile ao Quénia, conheci a Domtila. Ela tinha ido como voluntária com uma amiga, Fernanda, que também é enfermeira-parteira, para trabalhar num hospital de baixa renda. Aí fiquei a conhecer as condições deploráveis em que muitas mulheres dão à luz no país africano e ouvi falar desta pequena iniciativa local lançada em Kibera.

Qual é a situação da maternidade no Quénia?

-No Quénia, apenas 40 % dos nascimentos ocorrem em hospitais. A taxa de mortalidade materna é de 377 por 100.000 nascimentos, em comparação com 12 nos países desenvolvidos. O Quénia tem também o terceiro maior número de mães adolescentes do mundo, com 21 % de gravidezes adolescentes no país. Cerca de 13 000 jovens abandonam a escola todos os anos devido a uma gravidez não planeada. As taxas de aborto clandestino são muito elevadas, atingindo 30 abortos por cada 100 nascimentos. A maternidade de substituição está atualmente em plena expansão, uma vez que não existe legislação restritiva, e constitui uma saída económica para muitas mulheres pobres. 

Como resultado da sua primeira viagem a Nairobi, nasceu a Fundação Maisha.

-O encontro com Domtila foi o início de uma colaboração que levou ao nascimento da Fundação Maisha em 2016. Maisha em Suaíli significa "vida". Criámo-lo juntamente com três outros amigos chilenos: Wenceslao, Sebastián e Julián. 

Começou como uma rede de apoio que buscava acolher as mães e seus filhos durante a gravidez. Com o tempo, a iniciativa foi se consolidando e hoje abrangemos quatro programas: acolhimento, saúde, educação sexual e emocional e sustentabilidade. 

Há quem critique as iniciativas pró-vida com o argumento de que só cuidam das mulheres durante a gravidez, mas deixam as mães e os bebés entregues a si próprios depois do nascimento.... 

-A Maisha acompanha as jovens não só antes, mas também depois do parto. Estamos com elas durante a gravidez e damos-lhes ferramentas para se tornarem economicamente sustentáveis e independentes. Atualmente, Domtila vive numa casa alugada pela fundação, situada num bairro perto de Kibera, onde 11 a 12 jovens na última fase da gravidez ficam com ela até à sexta semana após o parto. 

Durante este período, recebem formação em vários domínios, como a saúde e a educação dos filhos, o microempresariado ou a economia familiar. Quando estão suficientemente bem, regressam às suas casas ou, se o regresso for insustentável, é-lhes encontrado outro alojamento. Não só não são abandonados, como os laços que se criam dão origem a belas histórias de amizade que se prolongam ao longo dos anos.

Espanha

O papel de Ibáñez Martín e Albareda na fundação do CSIC

Hoje, 24 de novembro, comemora-se o 85º aniversário da criação do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), um pilar fundamental da ciência espanhola. Nesta entrevista, Alfonso Carrascosa explica como foi concebido este projeto e quem foram os seus impulsionadores.

Eliana Fucili-24 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 6 acta

No panorama científico espanhol, Alfonso Carrascosa é uma ponte entre dois mundos frequentemente considerados díspares: a ciência e a fé. A sua abordagem, que desafia a suposta dicotomia entre as duas esferas, baseia-se num profundo conhecimento da história da ciência em Espanha. 

Carrascosa, doutorado em Ciências Biológicas pela Universidade Complutense de Madrid, dedicou grande parte da sua carreira à microbiologia. Um ponto de viragem na sua carreira levou-o a investigar a história da ciência. O seu trabalho explora a forma como a ciência e a fé podem não só coexistir, mas também colaborar de forma frutuosa, enriquecendo o conhecimento humano.

No âmbito do 85º aniversário do Consejo Superior de Investigaciones Científicas (CSIC) (Conselho Nacional de Investigação Espanhol)Falámos com ele sobre os primórdios da instituição e os protagonistas que, após a Guerra Civil, tornaram possível a sua criação. Nos últimos anos, publicou vários livros, entre os quais A Igreja Católica e a ciência em Espanha no século XXe ditado conferências sobre as origens católicas do CSIC. Resgata histórias de cientistas que realizaram o seu trabalho profissional sem renunciar às suas crenças. Em 24 de novembro de 1939, através de uma lei fundadora publicada no Boletim Oficial do Estado (28 de novembro de 1939), foi criado o Consejo Superior de Investigaciones Científicas, assumindo as competências e as instalações da Junta para Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas (JAE).

Quais são as origens do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC) e o contexto histórico em que foi fundado?

O CSIC foi fundado em 1939, num contexto complexo marcado pelo fim da Guerra Civil de Espanha e pelo início do regime de Franco. Foi criado como parte de um esforço para reconstruir o panorama científico do país, continuando o legado da chamada "Guerra Civil Espanhola". Idade da Prata da ciência espanhola. Este período, que decorreu entre o final do século XIX e o primeiro terço do século XX, foi fundamental para lançar as bases da investigação e do desenvolvimento em Espanha.

É importante notar que, embora a Idade da Prata esteja associada a instituições laicas como o Instituição Livre de EnsinoMas este período não se limita apenas a eles. A realidade é que a Idade da Prata foi o lar de cientistas de várias ideologias, incluindo figuras católicas como Joaquín Costa y Lucas Malladaque faziam parte do Regeneracionismo espanhol. A sua influência foi fundamental para a criação do Junta para Ampliación de Estudios e Investigaciones Científicas (Conselho para a Expansão dos Estudos e da Investigação Científica) (JAE) em 1907. Este desenvolvimento institucional teve lugar no contexto da monarquia parlamentar confessional católica de Afonso XIII.

O CSIC surge, neste sentido, como um produto tardio deste movimento regenerador, impulsionado por pessoas formadas graças às bolsas JAE. Por outras palavras, os seus fundadores eram membros da Idade de Prata, herdeiros incontestáveis dessa época.

Quem foram os principais responsáveis pela criação do CSIC?

A criação do CSIC no mesmo ano do fim da Guerra Civil Espanhola reflecte o interesse do Ministério da Educação Nacional em recuperar e ultrapassar o nível científico que a Espanha tinha alcançado no primeiro terço do século XX. A lei de criação do CSICpromulgada em 24 de novembro do mesmo ano, foi uma ideia de ambos José Ibáñez Martínentão Ministro da Educação Nacional, bem como de José María Albareda Herreraum cientista de grande prestígio.

O CSIC simbolizou um passo decisivo na renovação científica da Espanha do pós-guerra. A sua liderança inicial esteve nas mãos de um grupo de cientistas de renome, todos católicos praticantes e figuras reconhecidas da Idade da Prata: José Ibáñez Martín, que assumiu a presidência; José María Albareda Herrera, como primeiro secretário-geral; o químico António de Gregório Rocasolanoprimeiro vice-presidente; o arabista e padre Miguel Asín Palaciossegundo vice-presidente; e o engenheiro agrónomo Juan Marcilla Arrazolaterceiro vice-presidente. Esta equipa promoveu a missão do CSIC de revitalizar a ciência em Espanha e de abrir um novo capítulo na história da investigação científica do país.

Como é que as experiências pessoais e profissionais de José Ibáñez Martín e de José María Albareda influenciaram a sua visão da fundação do CSIC?

José Ibáñez Martín estudou Literatura, obtendo dois diplomas. No entanto, quando estava a fazer o doutoramento, o seu pai morreu, deixando a família numa situação económica difícil. Perante esta situação, Ibáñez Martín decidiu fazer concurso para Professor do Ensino Secundário, obtendo o primeiro lugar a nível nacional. Pouco tempo depois, inicia a sua carreira política e é eleito deputado na Segunda República, em representação da Confederação Espanhola de Direitos Autónomos. Foi também membro do Associação Católica de Propagandistas

Quando rebentou a Guerra Civil, Ibáñez Martín encontrava-se em El Escorial com a sua família. Quando soube que estavam a ser assassinados políticos conservadores em Madrid, decidiu não regressar e, com a mulher grávida e os filhos, refugiou-se na embaixada da Turquia. Nestas condições difíceis, a sua mulher deu à luz, mas o bebé morreu devido à falta de higiene e de recursos. Após meses em condições extremas, a família conseguiu viajar para Valência e embarcar para a Turquia, numa ação respeitada pelas autoridades.

Durante o seu exílio, enfrenta dificuldades económicas e é expurgado pelo governo da Frente Popular, que despede os funcionários públicos que não se apresentam nos seus postos de trabalho. Em 1937, muda-se para Burgos, onde entra em contacto com José María Albareda.

Pela sua parte, Albareda foi um destacado cientista que recebeu bolsas de estudo da Junta para Ampliación de Estudios, doutorando-se em Farmácia e Química e especializando-se em ciências do solo, uma ciência de grande importância para o sector agrícola em Espanha. Durante a guerra, Albareda foi também expurgado pelo governo republicano. Nessa altura, conheceu Josemaría Escrivá, o fundador da Opus DeiEm 1937 pede para ser admitido como membro numerário. Tal como Escrivá, Albareda sofreu perseguições e foi obrigado a mudar de residência em várias ocasiões.

Juntamente com alguns dos primeiros membros do Opus Dei, Albareda ajudou Escrivá a fugir de Madrid, levando-o através dos Pirinéus até Burgos. Foi em Burgos que Albareda e Ibáñez Martín começaram a trabalhar na estrutura do futuro CSIC. 

Em 1959, Albareda foi ordenado sacerdote, embora tenha continuado toda a sua atividade profissional. No ano seguinte, foi nomeado primeiro reitor do Universidade de NavarraExerceu este cargo até à sua morte. Ao mesmo tempo, continuou a trabalhar como secretário-geral do CSIC, de forma altruísta e sem remuneração.

Depois da guerra, Ibáñez Martín foi nomeado Ministro da Educação Nacional e a sua experiência e ideias levaram-no a promover o CSIC. Albareda, com a sua experiência de cientista, traçou as linhas gerais do projeto, como a organização de certos institutos e os investigadores que os dirigiam, bem como os temas de estudos científicos, novos ensaios e experiências de investigação, bolsas, prémios, etc.

Quais foram as principais contribuições de José María Albareda para o CSIC e que aspectos do seu trabalho científico o consolidaram como uma figura de destaque no seu tempo?

José María Albareda desempenhou um papel fundamental no reforço das ciências experimentais no CSIC, destacando-se pelo seu profundo conhecimento da investigação científica. Com o seu trabalho, conseguiu ligar o CSIC aos centros de investigação mais avançados da Europa, colocando a ciência experimental no centro da instituição. 

Para além disso, Albareda conseguiu reunir no CSIC um grupo notável de químicos, físicos e biólogos, que trabalharam em estreita colaboração no desenvolvimento destas disciplinas. Um exemplo desta cooperação foi a fundação do Centro de Investigaciones Biológicas, que se tornou um centro fundamental para a investigação científica em Espanha. Neste ambiente, Albareda promoveu um ambiente de trabalho colaborativo, no qual cientistas de diferentes áreas partilharam conhecimentos e desenvolveram projectos conjuntos.

A sua abertura e neutralidade política foram também aspectos notáveis da sua liderança. Num contexto de tensões políticas, Albareda formou uma equipa diversificada e evitou qualquer tipo de discriminação ideológica. Graças a esta atitude inclusiva, muitos cientistas, mesmo aqueles com ideologias opostas ao regime, encontraram oportunidades de desenvolvimento de carreira com base no seu mérito científico. Esta atitude favoreceu o crescimento de áreas como a microbiologia e bioquímica a nível nacional.

O seu compromisso com a ciência não se limitou à investigação, mas também promoveu a incorporação das mulheres na investigação científica, um aspeto crucial na história do CSIC, onde as mulheres eram uma minoria do pessoal e desempenhavam principalmente tarefas administrativas. A sua visão e dedicação posicionaram-no como uma figura-chave no desenvolvimento científico e educativo do seu tempo.

Qual é o papel atual do CSIC na ciência espanhola e como mantém a sua posição de referência mundial em matéria de investigação?

Desde o início, o CSIC foi uma instituição-chave para a descentralização da investigação, um objetivo prioritário dos seus promotores, como José Ibáñez Martín e José María Albareda. Esta componente descentralizadora foi um fator fundamental no modelo organizacional do CSIC, que possui uma extensa rede de centros em todas as comunidades autónomas de Espanha. De facto, o CSIC consolidou a sua posição como a instituição científica mais importante de Espanha e é reconhecido pelos espanhóis como a principal referência científica do país.

A nível mundial, o CSIC ocupa um lugar de destaque entre as instituições científicas mais importantes, sendo uma das três mais importantes da Europa e uma das dez mais importantes do mundo. O seu prestígio é indiscutível e a sua influência continua a crescer, consolidando a sua posição como uma das pedras angulares da ciência em Espanha e um modelo de excelência científica. Com uma equipa de quase 15.000 pessoas, o CSIC foi e continua a ser um verdadeiro motor do conhecimento na investigação científica, herdeiro de uma tradição que, embora marcada pela diversidade ideológica do seu tempo, continua a impulsionar o desenvolvimento e a inovação no presente.

O autorEliana Fucili

Centro de Estudos Josemaría Escrivá (CEJE) 
Universidade de Navarra

Iniciativas

O lugar na Andaluzia onde se pode ver uma centena de presépios de todo o mundo.

Quando a época natalícia se aproxima, é comum visitar presépios particularmente famosos, mas o mais espetacular e maior museu do mundo encontra-se num local inesperado, em plena Andaluzia.

Javier García Herrería-24 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

No meio do campo andaluz, encontra-se o museu do presépio maior do mundo. A sua localização no município de Mollina (Antequera, Málaga), com uma população de apenas 5.000 habitantes, deve-se à terra natal dos seus promotores, Antonio Díaz e Ana Caballero. Desde muito jovens, o casal aproveitava as suas viagens por Espanha para ver os presépios mais caraterísticos das regiões que visitavam. 

O contacto frequente com os fabricantes de presépios acentuou a sua paixão pela história e pelos detalhes desta arte particular, que combina técnicas de escultura, pintura, arquitetura e iluminação. Este hobby levou-os a adquirir numerosos conjuntos, até que finalmente os reuniram num museu que abriu as suas portas em 2017. 

O presépios foram doados pelos próprios artistas e pelas mais variadas instituições, com o desejo de que o património dos presépios não se perdesse e pudesse ser apreciado por um vasto público. Os presépios não são um passatempo que mova massas de pessoas ou grandes quantias de dinheiro, mas há dois anos que fazem oficialmente parte do Património Cultural Imaterial de Espanha.

História do Museu

O Museo de Belenes de Mollina é um centro de exposições único. Em poucos anos, tornou-se um destino obrigatório para os amantes dos presépios. Mais de 200.000 visitantes já passaram pelas suas salas, mas ainda é uma joia por descobrir para muitas pessoas.

Este ambicioso projeto foi galardoado com a Medalha de Ouro do Federação Internacional de Presépios em 2023 e, no ano passado, realizou-se um congresso de fabricantes de presépios com mais de 800 participantes. 

O museu está aberto de quarta-feira a domingo, com horários alargados na época alta. A entrada é muito barata e o museu organiza workshops e actividades educativas para crianças. 

Dados do museu

O museu tem mais de 5.000 metros quadrados, distribuídos por sete salas de exposição. A coleção está em constante crescimento e conta atualmente com mais de 100 presépios em exposição.

O conjunto das representações contém mais de 7000 figuras inesperadas de cenas bíblicas, inseridas em paisagens e contextos de diferentes culturas, recriadas com um pormenor e um realismo surpreendentes. 

Um dos aspectos mais marcantes do museu é a qualidade da montagem da exposição, que inclui uma iluminação muito cuidada, a proteção de amplos vidros blindados para todos os modelos e uma disposição muito confortável e espaçosa. 

Presépios surpreendentes

O museu tem uma sala com 20 dioramas, estes pequenos presépios que mostram uma cena com um grande número de pormenores, jogando com espelhos e fundos que se abrem para outros espaços em miniatura, oferecendo ao espetador uma sensação de grande profundidade e realismo.

Uma das obras mais impressionantes não é propriamente um presépio, mas uma grande maqueta circular de 10 metros de diâmetro, que apresenta as principais cenas do Antigo e do Novo Testamento, com recriações das principais passagens bíblicas da história da salvação, desde Adão e Eva até à Ressurreição de Jesus. 

As caves do centro de exposições dispõem igualmente de uma oficina onde são organizadas as figuras e as decorações para os modelos. Como se tudo isto não bastasse, existem dezenas de presépios em armazém, que renovam progressivamente a exposição.

Variedades e conjuntos

O museu alberga várias colecções de presépios particularmente notáveis. Em primeiro lugar, um grupo de presépios napolitanos, muito coloridos e exuberantes, ambientados na Itália do século XVIII. Seguindo uma tradição mais popular, austera e local, a coleção inclui um grupo de presépios valencianos.

Os amantes de presépios em contextos variados e originais apreciarão as cenas representadas noutros momentos históricos, acontecimentos actuais ou lugares exóticos. Por exemplo, há presépios ambientados numa favela do Rio de Janeiro, no teatro romano de Cartagena, numa rua destruída pela guerra, no Pátio dos Leões de Alhambra ou na catedral de Burgos.

E, claro, a exposição também inclui presépios de artistas contemporâneos que reinterpretam a tradição da natividade, utilizando materiais e técnicas inovadoras.

Páscoa

Um dos modelos mais impressionantes da exposição representa a encenação da Paixão de Cristo. A Andaluzia não pode ser entendida sem a Semana Santa, pelo que não é de estranhar que um museu de presépios situado nesta região tenha também uma representação da Paixão de Cristo. 

É, pois, perfeitamente natural que uma das salas de exposição apresente doze dioramas que mostram a entrada de Cristo em Jerusalém, a Última Ceia, o lava-pés, o beijo de Judas, a oração de Jesus no jardim, as negações de Pedro, a flagelação, o julgamento perante Pilatos, as quedas com a cruz, a crucificação, a descida da cruz e a ressurreição. Trata-se de um conjunto de cenas com figuras de Ángela Tripi. 

Natal de 2024

Para o Natal de 2024, o museu actualizou o seu catálogo para incluir peças que se centram nas consequências da guerra, tão actuais hoje em dia, como o Guerra na Ucrânia ou a que é experimentada no Gaza ou zonas fronteiriças entre Israel e o Líbano. Assim, Na guerra também há esperançade Josep Font, situado no átrio central, é possível ver os efeitos devastadores de um bombardeamento.

Também o diorama Caminho para a liberdade (Road to Freedom), mostra uma Sagrada Família inspirada na fuga para o Egito, embora neste caso fugindo da guerra e da miséria. Um apelo à reflexão sobre a paz e a situação de muitos migrantes.

O presépio é muito mais do que uma simples representação do nascimento de Jesus. É uma arte que evoluiu ao longo dos séculos, adaptando-se a diferentes culturas e estilos artísticos. Devemos o primeiro presépio conhecido a São Francisco de Assis, que em 1223 celebrou a missa de Natal numa gruta em Itália. 

Vaticano

Brian Farrell: "Atualmente, nenhuma Igreja pode evangelizar sozinha".

O secretário emérito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Brian Farrell, analisa nesta entrevista o caminho percorrido pelo ecumenismo desde o Concílio Vaticano II e a situação atual das relações entre os cristãos.

Giovanni Tridente-23 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 2 acta

Por ocasião do 60º aniversário da promulgação do decreto ".Unitatis Redintegratio"A Declaração do Concílio Vaticano II sobre o ecumenismo, a Pontifícia Universidade da Santa Cruz O Instituto de Teologia acolheu um seminário internacional patrocinado pela Faculdade de Teologia. O evento reuniu oradores de diferentes comunhões cristãs para refletir, numa atmosfera de sinceridade e confiança, sobre os esforços feitos nos últimos sessenta anos para promover a unidade dos cristãos.

Um dos momentos mais significativos da jornada, que teve lugar na quinta-feira, 21 de novembro, foi o discurso de encerramento do bispo irlandês Brian Farrell, secretário emérito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, que reflectiu sobre a atualidade, os problemas e as perspectivas do ecumenismo hoje. Na entrevista que se segue, o teólogo explica a importância de viver concretamente o caminho ecuménico, redescobrindo uma autêntica fraternidade entre os cristãos.

Quais são os principais desafios que se colocam atualmente ao ecumenismo?

- O ecumenismo, a procura da unidade, é uma realidade diversa e complicada. Não basta resolver, como estamos a fazer, questões teológicas ou diferenças na forma como entendemos e formulamos a fé. Temos também de aprender a viver juntos.

O Papa Francisco insiste frequentemente num ecumenismo que vai para além das questões teológicas. Como deve ser lida esta perspetiva?

- Estamos num momento importante, porque, de facto, a ideia do Papa Francisco é que o ecumenismo não é apenas uma questão a resolver, mas caminhar juntos, rezar juntos e trabalhar juntos.

Temos de nos redescobrir como irmãos e irmãs neste caminho. Em muitos dos nossos parceiros ecuménicos há uma nova esperança de que, ao fazê-lo, avançaremos para o objetivo da plena comunhão entre nós, cristãos.

Olhando para trás, como é que o contexto do ecumenismo mudou desde os anos do Concílio Vaticano II?

- Penso que há 60 anos foi quase o início de uma viagem em conjunto. Havia também um certo otimismo nessa altura, mas o mundo tornou-se mais complicado. Basta olhar para a situação atual: estamos mais fragmentados, mais em confronto. Até as igrejas estão a sofrer. Vivemos num oceano muito líquido e fluido, e as verdades da fé não são tão claras e certas para as pessoas.

Num contexto tão complexo, o que é que dá esperança?

- Temos uma grande esperança, porque quanto mais difícil é a missão, mais nos sentimos obrigados a estar juntos. Hoje em dia, nenhuma igreja pode evangelizar sozinha. Temos de trabalhar em conjunto. Todos sabemos que temos de o fazer, mas agora temos de encontrar os passos concretos para o fazer.


Segue-se a entrevista completa (em italiano) com o Secretário Emérito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos:

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Recursos

17 crianças e adolescentes santos para a Igreja de hoje

O anúncio feito pelo Papa Francisco da canonização do Beato Carlo Acutis (falecido aos 15 anos), no Jubileu de 2025, é uma boa razão para oferecer alguns vislumbres de crianças e adolescentes santos. Até agora não foram muitos, mas a sua vida e morte podem ser um exemplo para todos na Igreja.

Francisco Otamendi-23 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 5 acta

O anúncio feito pelo Papa Francisco da canonização do Beato Carlo Acutis (falecido aos 15 anos), no Jubileu de 2025, é uma boa razão para oferecer alguns vislumbres de crianças e adolescentes santos. Até agora não foram muitos, mas a sua vida e morte podem ser um exemplo para todos na Igreja. Começamos com algumas crianças dos primeiros tempos da Igreja, maioritariamente romanas. Dos séculos mais próximos, quatro são mexicanas, uma chileno-argentina, três italianas e duas portuguesas.

Na solenidade de Todos os Santos no ano passado, o Papa sublinhou que "os santos não são heróis inalcançáveis ou distantes, mas pessoas como nós", e que "se pensarmos bem, já encontrámos certamente alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles, alguns deles". santos "pessoas generosas que, com a ajuda de Deus, responderam ao dom recebido e se deixaram transformar dia após dia pela ação do Espírito Santo".

Além disso, a grande maioria dos santos não foi formalmente declarada santa ou abençoada pela Igreja. Eis alguns deles que estão nos altares, apesar da sua juventude, ou que o serão muito em breve, tais como Carlo Acutis.

Não estão incluídos jovens como o Beato Pier Giorgio Frassati, que também será canonizado durante o Jubileu de 2025, porque tinha 24 anos na altura da sua morte, ou a francesa Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira das Missões, que morreu com a mesma idade.

Santa Inês (13 anos)

"Pura", "casta", sto significa em grego Agnes. Ela é uma das mártires mais venerado na Igreja. Estamos em 304, no tempo do imperador Diocleciano. Ela pertencia a uma nobre família romana. Preferiu o martírio a perder a virgindade. A sua festa é no dia 21 de janeiro.

Santo: Tarcísio (14 anos)

Por defender o Sagrado EucaristiaFoi apedrejado por uma multidão. Padroeiro dos acólitos. Cemitério de São Calisto. O jovem Tarsício Foi-lhe confiada a tarefa de levar a comunhão a alguns cristãos presos durante a perseguição de Valeriano. Festa, 15 de agosto.

Santas Eulalias

Época de Diocleciano. Virgem e mártir, ainda jovem, Eulália (de Mérida) não hesitou em oferecer a sua vida para confessar Cristo (304). No Museu do Prado existe um óleo sobre ela por Gabriel Palencia y Ubanell. A rapariga é também uma santa Eulália de Barcelonapadroeiro de Barcelona.

Santos Justo e Pastor (7 e 9 anos)

Conhecido como o Crianças sagradasnascidos em Tielmes (Madrid), hispano-romanos, foram martirizados em 304, em Alcalá de Henares, durante a perseguição do imperador Diocleciano. Tinham 7 e 9 anos, respetivamente, e recusaram-se a renunciar ao cristianismo.

São Pancrácio

Mártir que, segundo a tradição, morreu em Roma, no meio dos a adolescência pela sua fé em Cristo, sendo sepultado na Via Aurelia. O Papa São Simaco construiu uma famosa basílica sobre o seu túmulo e o Papa São Gregório Magno reunia frequentemente o povo à volta do seu túmulo.

S. Domingos Sávio (14 anos)

Domingo, que significa "aquele que é consagrado ao Senhor"., nasceu em Itália em 1842. De criança manifestou o seu desejo de ser padre. Quando S. João Bosco começou a preparar alguns jovens para o sacerdócio, para o ajudarem na sua obra a favor dos meninos abandonados de Turim, o pároco de Domingos recomendou-o ao rapaz.

Beata Laura Vicuña (13 anos)

A chilena Laura Carmen Vicuña nasceu em Santiago em 1891. Pressentindo que a sua mãe não vivia na graça de Deus, oferece-se ao Senhor para a sua conversão. Enfraquecida pela doença, morreu na Argentina em 1904. São João Paulo II beatificou-a. A sua festa celebra-se a 22 de janeiro.

Santa Maria Goretti (11 anos)

Maria perdoou o seu assassino, Alexandre, que a queria violar, invocou a Virgem Maria e morreu vinte e quatro horas depois, em julho de 1902, quando ainda não tinha 12 anos. Alejandro converter-se-á mais tarde e começará a viver uma vida cristã. Maria Goretti foi beatificado em 1947 e canonizada três anos mais tarde pelo Papa Pio XII. A sua festa é celebrada a 6 de julho.

San José Sánchez del Río (14 anos)

Adolescente Cristero, julgado, torturado e executado por funcionários do governo mexicano. Declarado beato pelo Cardeal José Saraiva Martins em Guadalajara em 2005, e canonizado pelo Papa Francisco em 2016, em Roma. Para o obrigar a renegar a sua fé para poder ser salvo, foi torturado e obrigado a assistir ao enforcamento de outro rapaz preso com ele. José, quando foi ferido, gritou: "Viva Cristo Rei, viva a Virgem de Guadalupe!

Santos Francisco e Jacinta Marto - Fátima (10 e 9 anos)

Em 13 de maio de 2017, no centenário das aparições de Nossa Senhora, o Papa Francisco canonizado em Fátima (Portugal), aos Beatos Francisco e Jacinta Marto, dois dos três pastorinhos de Fátima. O julgamento da Irmã Lúcia está a decorrer. 

O Papa disse a 13 de maio: "Como exemplo para nós, temos diante dos nossos olhos São Francisco Marto e Santa Jacinta, que a Virgem Maria introduziu no imenso mar da Luz de Deus, para que O pudessem adorar. Dali receberam a força para vencer as adversidades e os sofrimentos. A presença divina foi-se tornando cada vez mais constante nas suas vidas, como se vê claramente na sua oração insistente pelos pecadores e no desejo constante de estar perto de "Jesus escondido" no Tabernáculo.

Santos Cristóvão, António e João

O crianças mártires de Tlaxcala são considerados os primeiros mártires da América, pois foram mortos no México entre 1527 e 1529. Cristobal conheceu a fé católica graças à ação evangelizadora dos franciscanos entre 1524 e 1527. Depois de ter sido batizado, trabalhou na conversão da sua família, tendo morrido aos 12 anos devido aos golpes e queimaduras infligidos pelo seu pai. António e Juan receberam formação dos franciscanos e dominicanos e foram mortos.

Carlo Acutis (15 anos)

Na Audiência de quarta-feira, o Papa Francisco anunciou a canonização do Beato Francisco durante o Jubileu de 2025. Carlo Acutis, jovem italiano que morreu aos 15 anos de leucemia fulminante.

No dia 11 de outubro de 2020, o Papa disse: "Ontem, em Assis, foi beatificado Carlo Acutis, um rapaz de quinze anos apaixonado pela Eucaristia. Ele não se acomodou numa imobilidade cómoda, mas compreendeu as necessidades do seu tempo, porque nos mais fracos viu o rosto de Cristo. O seu testemunho indica aos jovens de hoje que a verdadeira felicidade se encontra em pôr Deus em primeiro lugar e em servi-lo nos irmãos, sobretudo nos mais pequenos. Aplaudamos o jovem beatificado.

O Santo Padre referiu-se ao futuro Beato na sua Exortação Christus vivitno qual menciona o risco do mundo digital que pode colocar os jovens "em risco de auto-absorção, isolamento ou prazer vazio". 

Y citação um jovem "criativo e brilhante", Carlo Acutis, que "sabia muito bem que estes mecanismos de comunicação, publicidade e redes sociais podem ser utilizados para nos entorpecer, tornar-nos dependentes do consumo ou obcecados pelo tempo livre". Em vez disso, soube utilizar as "novas técnicas de comunicação para transmitir o Evangelho e comunicar valores e beleza".

O autorFrancisco Otamendi

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Vaticano

Sessenta anos de Lumen Gentium: redescobrir o mistério da Igreja

Um congresso internacional em Roma reflectiu sobre a atualidade da "Lumen Gentium" 60 anos após a sua promulgação, entre a história, a eclesiologia e a sinodalidade, tendo em vista os desafios da modernidade.

Giovanni Tridente-22 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

No 60º aniversário da promulgação da Constituição dogmática "Lumen Gentium", o Pontifícia Universidade da Santa Cruz O Congresso Internacional de Roma realizou-se nos dias 19 e 20 de novembro de 2024 para refletir em geral sobre o legado do Concílio Vaticano II e como a eclesiologia evoluiu nas últimas décadas. O evento foi organizado em colaboração com a Universidade de Navarra, a Universidade Católica João Paulo II de Lublin e a Faculdade de Teologia da Santa Cruz e a Universidade da Suíça Italiana em Lugano.

O caminho da eclesiologia

O primeiro dia do Congresso ofereceu uma análise histórica da trajetória eclesiológica por Carlo Pioppi, professor de História da Igreja na Santa Cruz, que ilustrou as duas principais correntes de pensamento que se desenvolveram entre a Revolução Francesa e o Concílio Vaticano II: por um lado, a tradição manualista com uma abordagem jurídica e apologética; por outro, novas perspectivas que redescobriram a Igreja como um "organismo vivo guiado pelo Espírito Santo e inserido na história".

Da Universidade de Navarra, Pedro A. Benítez analisou o debate conciliar sobre a "estrutura orgânica" da Igreja, sublinhando como esta ideia se tornou central na redação da Lumen Gentium, ao ponto de descrever a Igreja como "uma realidade estruturada, um corpo unificado" no qual cada membro desempenha um papel vital. Peter De May, da Katholieke Universiteit Leuven, também aprofundou este conceito, sublinhando como os capítulos da Constituição sobre o povo de Deus, os leigos e a hierarquia se complementam.

Povo de Deus e comunhão

Referindo-se ao contexto pós-conciliar, Hans Christian Schmidbaur, da Faculdade de Teologia de Lugano, por seu lado, sublinhou que a "communio", princípio fundamental do documento conciliar, não deve ser entendida em sentido laico, mas como "communio sanctorum", união profunda entre Deus e a humanidade redimida, na qual a dimensão vertical da relação com Deus assume e continua a manter uma importância primordial.

Foi a mesma experiência durante o regime comunista na Polónia, quando havia uma tendência para reduzir a realidade eclesial a uma dimensão puramente institucional, que Antoni Nadbrzezny, da Universidade Católica de Lublin, referiu. Para o académico, a Lumen Gentium restaurou a imagem da Igreja como uma "entidade pessoal", uma "comunidade de pessoas unidas pelo amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo".

O segundo dia de trabalhos passou a uma análise sistemática do documento conciliar, aprofundando os conceitos-chave de Povo de Deus, comunhão e sinodalidade. Christian Schaller, do Instituto Papa Bento XVI de Regensburg, ilustrou as diferentes facetas do "Povo de Deus" na Lumen Gentium, analisando as suas dimensões profética, messiânica e histórico-escatológica. Relativamente à natureza missionária deste "povo", Sandra Mazzolini, da Pontifícia Universidade Urbaniana, falou em particular do papel dos leigos e do contributo que a Igreja pode dar no campo do diálogo intercultural, "pedra angular da missão evangelizadora da Igreja, tanto universal como local".

Também Philip Goyret, antigo Decano da Faculdade de Teologia da Universidade da Santa Cruz, voltou ao tema da "comunhão", definindo-a como um conceito capaz de sintetizar outros elementos fundamentais da Igreja, como o mistério, o sacramento e a eucaristia. Não se trata, portanto, de uma dimensão abstrata, mas de algo que já se realiza nas Igrejas locais e que encontra a sua expressão máxima na celebração da Eucaristia. Goyret sublinhou depois a importância de evitar uma espécie de "rivalidade" entre a eclesiologia de comunhão e a do Povo de Deus, explicando que a primeira não exclui de modo algum a dimensão social e jurídica da Igreja.

O desafio sinodal

Outro aspeto abordado no Congresso, também ligado à atualidade do pontificado do Papa Francisco, foi o da eclesiologia sinodal, sobre o qual falou Miguel de Salis, Diretor do Centro de Formação Sacerdotal Santa Cruz. O orador - que foi também perito no último Sínodo no Vaticano - propôs uma análise aprofundada da sinodalidade, partindo da sua definição de "caminhar juntos" e analisando a sua ligação com a missão da Igreja.

Segundo De Salis, a sinodalidade deve basear-se numa "estrutura relacional fundamental", evitando tanto a rigidez de uma dependência excessiva das formas institucionais como o risco de reduzir a Igreja a um mero reflexo da sociedade contemporânea. Este "caminho" deve enraizar-se na "pluralidade real da vida comunitária". Nesta perspetiva, Vito Mignozzi, da Faculdade de Teologia da Apúlia, apresentou a própria sinodalidade como "fruto da progressiva receção do Concílio", explicando que ela se realiza num "nexo essencial" que parte da concretude das comunidades locais para abraçar a dimensão universal da Igreja.

Em suma, sessenta anos depois, a Lumen Gentium continua a oferecer à Igreja uma visão que abraça tanto o mistério da fé como a concretude da história, convidando as diversas gerações a reconhecer na comunhão e na sinodalidade não apenas estruturas operativas, mas formas de viver e testemunhar o Evangelho e de renovar o impulso missionário.

Espanha

Os bispos espanhóis concluem a sua 126ª assembleia plenária

Os bispos espanhóis realizaram a sua 126.ª Assembleia Plenária de 18 a 22 de novembro de 2024, durante a qual debateram questões como o progresso do Serviço de Proteção de Menores e os preparativos para o Jubileu de 2025 e o Congresso das Vocações.

Paloma López Campos-22 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

O Secretário-Geral da Conferência Episcopal Espanhola, Francisco César García Magán, compareceu numa reunião da Conferência Episcopal Espanhola, realizada em conferência de imprensa para dar conta da Assembleia Plenária dos Bispos que teve lugar de 18 a 22 de novembro.

Como assinalou Monsenhor García Magán, nesta reunião participaram todos os bispos membros efectivos, os administradores diocesanos de Albacete e vários bispos eméritos. Por seu lado, o bispo eleito de San Felíu de Llobregat e os dois bispos auxiliares eleitos de Valência participaram na sessão inaugural.

No início da conferência de imprensa, o Secretário-Geral transmitiu a sua "proximidade e solidariedade" às vítimas e às pessoas afectadas pelo furacão em Valência e noutras comunidades autónomas. Recordou também que a coleta das missas durante a solenidade de Cristo Rei, no domingo 24 de novembro, será destinada a ajudar as vítimas. As Conferências Episcopais do México e da Eslováquia juntam-se a esta iniciativa com doações financeiras, para além das orações dos bispos de outros países que enviaram a sua solidariedade ao episcopado espanhol.

Proteção dos menores e dos migrantes

Entre os temas debatidos durante a assembleia plenária esteve o trabalho do serviço de coordenação e assessoria dos gabinetes de proteção de menores. A este respeito, o secretário-geral informou que "foram realizados sete encontros de formação e prevenção, nos quais participaram cerca de 1.400 pessoas de todas as áreas de ação da Igreja".

Por outro lado, os bispos espanhóis ouviram a proposta do projeto ".Hospitalidade Atlântica" desenvolvida pela Subcomissão para as Migrações e a Mobilidade Humana. Esta iniciativa, que já dura há dois anos, "nasce de um encontro convocado pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral com os bispos das dioceses envolvidas na Rota Atlântica, nome dado à rota migratória que parte do continente africano para chegar à Europa através das Ilhas Canárias".

A "Atlantic Hospitality" consiste numa "rede eclesial composta por 10 países e 26 dioceses de Espanha e África. Os seus três objectivos principais são: oferecer informação verídica, salvar vidas e trabalhar em rede".

Como informou Monsenhor García Magán, esta Subcomissão não foi a única a apresentar projectos durante a Assembleia. A Subcomissão Episcopal da Juventude e da Infância também mostrou o seu progresso no "projeto-quadro para a Pastoral Juvenil", que "define o caminho que a Igreja em Espanha quer seguir com os seus membros mais jovens".

Sínodo dos Bispos e Jubileu 2025

O já concluído Sínodo dos Bispos também teve o seu lugar na agenda da assembleia. O presidente da Conferência Episcopal, D. Argüello, que também participou na Assembleia Geral do Sínodo, propôs aos seus colegas "aprofundar o documento final com a mesma metodologia que foi seguida no Sínodo: uma 'conversa no Espírito'". Para isso, os bispos dividiram-se em grupos de trabalho para analisar os "apelos" que "recebemos para crescer na comunhão missionária".

Além disso, durante a assembleia plenária, a Conferência Episcopal falou de dois acontecimentos importantes que terão lugar em 2025: o Jubileu e o Congresso Nacional das Vocações. Os bispos estão a trabalhar na preparação destes acontecimentos eclesiais, nos quais querem envolver todos os católicos.

Outros temas da Assembleia Plenária

O secretário-geral informou ainda que "os bispos debateram o documento final do plano de aplicação dos critérios para a reforma dos seminários em Espanha". Discutiram também a reestruturação dos institutos teológicos e dos institutos superiores de ciências religiosas.

Entre outros assuntos abordados durante a reunião da Conferência Episcopal, D. García Magán destacou as intervenções do presidente de Manos Unidas e do diretor da Ajuda à Igreja que Sofre. Como é habitual, os bispos receberam também informações sobre o estado do grupo Apse (TRECE e COPE), "do Secretariado de Apoio à Igreja e do Organismo de Cumprimento Normativo". Para além disso, "os bispos deram a sua aprovação ao orçamento do Fundo Comum Interdiocesano e da Conferência Episcopal para 2025".

Após a intervenção de García Magán, teve início a sessão de perguntas e respostas, durante a qual os jornalistas perguntaram sobre as declarações do Provedor de Justiça, que propôs, um dia antes do encerramento da Assembleia Plenária, a criação de um fundo comum para pagar indemnizações às vítimas de abusos. O Secretário-Geral não aprofundou muito esta questão, mas referiu que existe atualmente alguma tensão sobre este assunto, bem como sobre o ensino da religião e o pacto entre o Reino de Espanha e a Santa Sé.

Vaticano

Jubileu 2025: Roma transforma-se... e o Papa espera que o mesmo aconteça com a Igreja

Roma está a sofrer uma transformação com o trabalho de restauração dos seus monumentos mais emblemáticos em preparação para o Jubileu de 2025, um evento especial na Igreja Católica que promove a esperança como tema central. O Papa apela a toda a humanidade para que renove a sua fé e procure um sentido num mundo marcado por divisões, violência e desafios.

Luísa Laval-22 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 4 acta

Muitos turistas ansiosos por visitar a Cidade Eterna encontraram, nos últimos meses, uma surpresa que talvez não seja tão agradável à primeira vista: Roma está coberta de "cantieri" (obras) para restaurar os pontos mais emblemáticos da cidade: o baldaquino da Basílica de São Pedro já está no lugar após as obras de renovação, o restauro da Catedral desenhada por Bernini, a área em redor do Coliseu, as grandes fontes da Piazza Navona e muitos outros locais da capital italiana ainda estão em curso.

O que estas renovações têm em comum está escrito em letras grandes nas suas vedações: Roma está a ser transformada. É este o lema do projeto "Caput Mundi", que atribuiu 500 milhões de euros para preparar a cidade para um acontecimento único na história da Igreja: a Jubileu 2025Isto é algo que só acontece de 25 em 25 anos, exceto em casos extraordinários, como o Jubileu da Misericórdia em 2015. A cidade está a preparar-se para um grande afluxo de peregrinos e já há relatos de hotéis e alojamentos cheios durante todo o Ano Santo.

Porquê tudo isto?

O Papa Francisco tem uma proposta não só para os cristãos, mas para todo o mundo: a esperança, o grande tema do Jubileu de 2025. Num mundo marcado por uma crescente polarização, conflitos e marginalização das minorias, o líder da Igreja levanta a voz para reacender um desejo que talvez esteja adormecido em cada pessoa, ou que não sabemos como lhe chamar.

"Todos esperam. No coração de cada pessoa há esperança como desejo e expetativa do bem, mesmo sem saber o que o amanhã trará", diz o Papa na Bula "Spes non confundit"(a esperança não engana, na tradução do latim), que apela ao Jubileu. Francisco utiliza as palavras do Apóstolo Paulo na sua Carta aos Romanos para convidar toda a humanidade para o que ele espera que "seja, para todos, uma ocasião para reavivar a esperança".

Percorrer um caminho

O chamado Ano Jubilar começará na noite de 24 de dezembro deste ano, quando o Papa abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro (ainda rodeada de andaimes), e terminará a 6 de janeiro de 2026, solenidade da Epifania, quando a fechará. Durante este período, a Igreja está a convocar 33 Jubileus relacionados com várias profissões e grupos sociais: comunicadores, artistas, jovens, idosos, governantes...

Esta Porta será a primeira de muitas que se abrirão nas dioceses de todo o mundo no dia 29 de dezembro: os fiéis que passarem por estas Portas poderão obter a indulgência plenária (perdão da culpa de todos os pecados). Para tal, devem cumprir outras condições: devem comungar e confessar-se uma semana antes ou, depois de entrarem pela Porta, rezar pelas intenções do Santo Padre e ter total desapego de qualquer sinal de pecado. Nas dioceses, as Portas Santas fecharão a 28 de dezembro de 2025.

O último Jubileu Ordinário teve lugar no início do novo milénio, no ano 2000, durante o pontificado de São João Paulo II. Vinte e cinco anos depois, Francisco convida todos a refazer o "caminho" da vida cristã, pois "pôr-se a caminho é um gesto típico de quem procura o sentido da vida" (n. 5). O seu desejo é que as igrejas jubilares sejam "oásis de espiritualidade" para "retomar o caminho da fé e saciar-se nas fontes da esperança".

Igreja em movimento

Desde o início do seu papado, Francisco tem dito que a Igreja deve estar em movimento. Agora, sublinha que as suas portas devem estar abertas para acolher "todos, todos, todos", como defendeu na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em 2023. Para isso, toda a Igreja deve ser transformada para "oferecer a experiência viva do amor de Deus, que desperta no coração a esperança segura da salvação em Cristo" (n. 6).

Francisco também seguiu o seu próprio caminho: como afirma na sua última encíclica "Dilexit Nos" (n. 217), mantém a continuidade com as suas encíclicas sociais "Laudato si" e "Fratelli tutti", e continua a defender o papel de cada pessoa na missão de restaurar o mundo. "O que está expresso neste documento (...) não é alheio ao encontro com o amor de Jesus Cristo, pois bebendo desse amor tornamo-nos capazes de tecer laços fraternos, de reconhecer a dignidade de cada ser humano e de cuidar juntos da nossa casa comum", conclui no texto publicado em outubro.

Sinais de esperança

No documento de proclamação do Jubileu, Francisco propõe que a Igreja e a sociedade se esforcem por oferecer "sinais de esperança" para os grandes problemas que vê no mundo contemporâneo, a começar pela paz. "A humanidade, esquecida dos dramas do passado, é submetida a uma nova e difícil prova quando vê muitas populações oprimidas pela brutalidade da violência", escreve.

Além disso, não hesita em apresentar questões espinhosas como a diminuição da taxa de natalidade em muitos países, causada pela "perda do desejo de transmitir a vida". Dirige-se também a um dos seus públicos preferidos, os prisioneiros, para os quais quer abrir uma porta santa numa prisão (e convida os governos a tomarem iniciativas para ajudar as pessoas neste contexto). O Papa também não esquece os doentes, os jovens, os migrantes, os idosos e os pobres, e convida as nações ricas a "resolverem cancelar as dívidas dos países que nunca poderão pagá-las" (n. 16). Ninguém é excluído do convite a transmitir esperança.

O mundo precisa de esperança, e o Papa sabe-o. É por isso que ele espera não só uma transformação externa, como a renovação de edifícios e a abertura de portas. Ele espera que toda a Igreja, em cada um dos seus fiéis, abra as portas do seu interior para que "a luz da esperança cristã chegue a todos os homens, como mensagem do amor de Deus que se dirige a todos" (n. 6).

Zoom

Em todo o mundo, os edifícios iluminam-se para celebrar a "Quarta-feira Vermelha".

A Catedral de São José de Nazaré, em Toluca, no México, iluminou-se de vermelho na "Quarta-feira Vermelha", no âmbito da comemoração da Ajuda à Igreja que Sofre pelos cristãos perseguidos.

Paloma López Campos-21 de novembro de 2024-Tempo de leitura: < 1 minuto
Espanha

Argüello: "A vocação mais em crise em Espanha é o casamento".

O Congresso Nacional das Vocações, que se realizará em fevereiro de 2025, reunirá milhares de participantes, promoverá uma visão da vida como um "chamamento" face ao individualismo moderno, promoverá a pastoral vocacional e destacará o papel crucial do matrimónio na sociedade e na Igreja.

Javier García Herrería-21 de novembro de 2024-Tempo de leitura: 3 acta

De 7 a 9 de fevereiro, a Conferência Episcopal Espanhola organizará um grande congresso vocacional. A iniciativa intitula-se "Para quem sou? A Igreja, assembleia de chamados à missão". Monsenhor Luis Argüello, presidente da Conferência Episcopal e responsável pelo Serviço de Pastoral Vocacional, explicou em conferência de imprensa o quadro do congresso, que pretende passar da proposta de autonomia individualista típica da modernidade (expressa no famoso "penso, logo existo" de Descartes), para um convite a considerar a vida como um "chamamento" que dá sentido e plenitude à vida. 

O congresso terá lugar no Pavilhão "Madrid Arena" e espera reunir 3.200 participantes e 300 oradores, entre sessões gerais e os diferentes workshops que serão oferecidos. Também será possível acompanhá-lo em direto nas redes sociais.  

Participarão todas as realidades presentes na Igreja em Espanha: dioceses, vida consagrada e movimentos; sacerdotes e leigos; e, naturalmente, as famílias. O evento é organizado pelo "Serviço de Pastoral Vocacional" da Conferência Episcopal Espanhola, que inclui as Comissões Episcopais para os Leigos, a Família e a Vida, as Missões, a Vida Consagrada, o Clero e os Seminários, com a colaboração da CONFER e do CEDIS.

Vocação para o matrimónio

Argüello sublinhou que é precisamente a vocação para o matrimónio que está mais em crise no nosso país, embora tenha salientado que também está preocupado com as vocações para o sacerdócio e para a vida religiosa. 

O vídeo promocional do congresso dá especial destaque ao vida matrimonialAs imagens incluem também imagens de sacerdotes e mulheres consagradas. Argüello comentou que, quando apresentaram esta iniciativa ao Papa Francisco, foi o próprio pontífice que sublinhou a importância da família e da vida conjugal e encorajou a promoção desta ação pastoral.

Objectivos do congresso

A génese deste congresso remonta ao ano de 2020, quando se realizou um outro, denominado "Povo de Deus em movimento". Nessa ocasião, viu-se a necessidade de realizar, num futuro próximo, um grande encontro eclesial para promover a pastoral vocacional em Espanha. Esta é a origem da nova convocação que terá lugar em 2025, Quem sou eu para. O grande objetivo deste Congresso é celebrar uma grande festa da Igreja como "assembleia dos chamados", pois é isso que significa a palavra Igreja ("Ecclesia"): uma assembleia de chamados.

O segundo grande objetivo do Congresso é o de promover e consolidar em cada diocese um serviço de animação da vida vocacional e de promoção dos diferentes percursos vocacionais. Para garantir este objetivo, uma das três comissões criadas para o evento ajudará as dioceses a pôr em prática as novidades que surgirão durante estes dias.

Dimensão do congresso

O congresso será articulado em três dimensões: uma antropológica, uma eclesial e uma terceira que mostrará a dimensão social da vocação pessoal. 

Argüello salientou o facto de a tragédia de Dana ter posto em evidência a generosidade dos jovens para ajudar. Um sinal, acrescentou, de como o paradigma do individualismo autónomo é muito pobre em comparação com a vida como um dom para os outros. Entender a vida como um dom responde à verdade do homem e permite-nos descobrir o sentido da vida. 

Eclesialmente falando, Argüello recordou que na Igreja estamos numa era de sinodalidade, o que ajuda a compreender como todas as vocações são importantes e necessárias, porque a Igreja é uma comunhão cuja união nasce da Eucaristia. 

A terceira dimensão do congresso consiste em mostrar as consequências da abordagem antropológica da Igreja para toda a sociedade. Os seus efeitos não se verificam apenas em iniciativas como a Caritas, mas também no facto de uma vida conjugal frutuosa ser decisiva para atenuar o problema demográfico e de uma boa educação das crianças ser muito positiva para toda a sociedade. Argüello apelou a uma sociedade que procure verdadeiramente o bem comum, que não só encoraje a criação de associações que exijam direitos, mas também outras que incentivem as pessoas a cumprir as suas próprias obrigações: "Precisamos de associações de deveres humanos, não só de direitos humanos". 

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