Os ensinamentos do Papa

Deixar que Jesus o cure

No âmbito do ciclo de catequeses para o Jubileu de 2025, Leão XIV completou o itinerário da vida pública de Jesus (encontros, parábolas e curas), dedicando quatro quartas-feiras às curas: Bartimeu; o paralítico da piscina; a hemorragia e a filha de Jairo; e o surdo-mudo.

Ramiro Pellitero-2 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 7 acta
leão

Porque é que temos de nos deixar curar e contribuir para a cura dos outros? Porque somos vulneráveis. Só aqueles que não têm experiência ou conhecimento de si próprios e dos outros podem não ter consciência desta necessidade. As catequeses do Papa Leão XIV deste verão centraram-se em alguns milagres de diferentes curas de Jesus no Evangelho.

Bartimeu: levanta-se diante de Jesus que passa e bate à porta

A caminho de Jerusalém, Jesus encontra Bartimeu, um cego e mendigo (cfr. Audiência Geral, 11-VI-2025). O seu nome significa filho de Timeu, mas também filho de honra ou de admiração, o que sugere que "...".Bartimeu - devido à sua situação dramática, à sua solidão e à sua atitude imóvel, como observa Santo Agostinho - não consegue viver o que é chamado a ser.".

Sentado à beira da estrada, Bartimeu precisa que alguém o pegue e o ajude a sair da situação em que se encontrava e a continuar a andar. E ele faz o que sabe fazer: pede e grita. É uma lição para nós. "Se queres mesmo alguma coisa -O Papa propõe, Faça tudo o que puder para o conseguir, mesmo quando os outros o repreendem, o humilham e lhe dizem para parar. Se queres mesmo, continua a gritar!!"

De facto, o grito de Bartimeu, "Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!" (Mc 10,47) - tornou-se uma oração bem conhecida na tradição oriental, que também nós podemos utilizar: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador"..

Bartimeu é cego, mas, paradoxalmente, vê melhor do que os outros e reconhece quem é Jesus. Perante o seu grito, Jesus pára e chama-o: "...".porque -observa o sucessor de Peter. não há grito que Deus não ouça, mesmo quando não temos consciência de nos dirigirmos a Ele.".

Atirando fora o manto

É interessante notar que Jesus não se aproxima imediatamente dele, mas, para reanimar a vida de Bartimeu, "... diz-lhe: "Não sou um homem, sou um homem, sou um homem.empurra-o para se levantar, confia na sua possibilidade de andar. Este homem pode levantar-se, pode erguer-se dos mortos.". Ele é capaz de o fazer, mas primeiro tem de se despir do manto..  

Isto significa, sublinha o Papa, que Bartimeu deve deixar a sua segurança, a sua casa, a sua veste defensiva (que até a lei reconhecia, cf. Ex 22,25), e apresentar-se diante de Jesus em toda a sua vulnerabilidade".Muitas vezes, o que nos bloqueia são precisamente as nossas seguranças aparentes, aquilo que colocámos para nos defendermos e que, pelo contrário, nos impede de caminhar".. 

É digno de nota o facto de Jesus lhe perguntar o que poderia parecer óbvio: "O que é que queres que eu faça por ti?". Porque, por vezes, não queremos ser curados das nossas doenças: preferimos ficar calados para não nos responsabilizarmos.

"Bartimeu não quer apenas voltar a ver, quer também recuperar a sua dignidade! Para olhar para cima, é preciso levantar a cabeça. Por vezes, as pessoas ficam bloqueadas porque a vida as humilhou e só querem recuperar a sua dignidade.".

Em todo o caso, "O que salva Bartimeu, e cada um de nós, é a fé.". Ao curar Bartimeu, Jesus devolve-lhe a liberdade de movimentos, sem lhe pedir que o siga. Mas Bartimeu escolhe livremente seguir Jesus, que é o Caminho.

O homem paralisado na piscina: protagonista da vida real 

Noutra ocasião, Jesus encontra, junto à porta do templo, um homem que estava paralisado há muito tempo (trinta e oito anos), à espera de ser curado pelas águas de uma piscina chamada "piscina de água". Betzatá ("casa da misericórdia"), considerada taumatúrgica (cf. Audiência Geral, 18-VI-2025).

O Papa Leão observa que esta piscina "poderia ser uma imagem da Igreja, onde se reúnem os doentes e os pobres e onde o Senhor vem para curar e dar esperança.".

O homem já está resignado, porque não consegue mergulhar na piscina quando a água está agitada (cf. v. 7) e outros vão à sua frente e ficam curados. "De facto, o que muitas vezes nos paralisa é a desilusão. Sentimo-nos desanimados e corremos o risco de nos desleixarmos.".

A nossa vida está nas nossas mãos

Jesus dirige-se também a este paralítico com uma pergunta que pode parecer superficial: "Queres ser curado?". Uma pergunta necessária porque pode faltar a vontade de ser curado. Isto também se aplica a nós: "Por vezes, preferimos manter-nos doentes, obrigando os outros a cuidar de nós. Por vezes, é também um pretexto para não decidirmos o que fazer com as nossas vidas.". 

Jesus ajuda-o a descobrir que a sua vida também está nas suas mãos. Convida-o a levantar-se, a sair da sua situação crónica e a pegar na sua maca. Essa maca representa a sua doença passada, a sua história, que o levou a jazer como um morto. "Agora -O Papa Leão observa Podes carregar essa maca e levá-la para onde quiseres: podes decidir o que fazer com a tua história! É tudo uma questão de caminhar, de assumir a responsabilidade de escolher o caminho a seguir.". E isto graças a Jesus!

A mulher hemorrágica e a filha de Jairo: substituir o medo pela fé

Ao introduzir a sua catequese sobre a hemorragia e a filha de Jairo, Leão XIV salientou que em Cristo ".há uma força que também nós podemos experimentar quando entramos em relação com a Sua Pessoa"(Público em geral, 25-VI-2025). 

Começou por referir o cansaço de viver que nos pode ameaçar na nossa realidade complexa, e que nos pode levar a ficar fechados, entorpecidos e até bloqueados pelo julgamento daqueles que procuram rotular os outros.

Algo semelhante aparece na passagem evangélica em que se entrelaçam as histórias da filha de Jairo (uma rapariga de doze anos prestes a morrer) e de uma mulher com perdas de sangue que procura Jesus para ser curada (cf. Mc 5,21-43).

O Papa olha para "o pai da rapariga: não fica em casa a chorar a doença da filha, mas sai e pede ajuda.". Apesar de ser o chefe da sinagoga, não se impõe, não perde a paciência e espera; e quando lhe vêm dizer que a sua filha morreu e que é inútil incomodar o Mestre, continua a ter fé e continua a esperar.

A sua conversa com Jesus é interrompida pela mulher que sofria de um fluxo de sangue e que consegue aproximar-se de Jesus e tocar no seu manto (v. 27). "Com grande coragemconsidera Leão XIV- Esta mulher tomou uma decisão que mudou a sua vida: toda a gente lhe dizia para se afastar, para não dar nas vistas. Tinha sido condenada a ficar escondida e isolada.". Isto pode acontecer-nos: "Por vezes, também nós podemos ser vítimas do julgamento dos outros., que tentam colocar-nos num vestido que não é nosso. E depois enganamo-nos e não conseguimos sair dele.".

Decidir procurar Jesus

Mas aquela mulher teve a força de procurar Jesus, pelo menos para tocar nas suas vestes. Embora houvesse uma multidão de pessoas à volta do Mestre, só ela ficou curada, por causa da sua fé, como observa Santo Agostinho: "A multidão aperta, a fé toca"..

O mesmo acontece com a nossa fé, afirma o Papa: "Cada vez que fazemos um ato de fé dirigido a Jesus, estabelece-se um contacto com Ele e imediatamente a Sua graça flui d'Ele. Por vezes não nos apercebemos, mas de uma forma secreta e real a graça chega até nós e transforma lentamente a nossa vida a partir do interior.".

Quando o pai da rapariga recebe a notícia de que ela morreu, Jesus diz-lhe "Não tenhas medo, acredita!". Ao chegar a casa, no meio de pessoas que choram e gritam, Jesus afirma: "A criança não está morta, mas a dormir". (v. 39). Entra onde está a rapariga, pega-lhe na mão e diz-lhe Talitá kum, "Rapariga, levanta-te!". A rapariga levanta-se e começa a andar.

Perante este grande milagre, Leão XIV sublinha: "Este gesto de Jesus mostra-nos que ele não só cura todas as doenças, mas também desperta da morte. Para Deus, que é a vida eterna, a morte do corpo é como um sonho. A verdadeira morte é a da alma: é dela que devemos ter medo!!".

Por fim, o Papa observa que Jesus diz aos pais da rapariga que lhe dêem de comer: "... Jesus disse aos pais da rapariga: "... Jesus é o único que a pode alimentar.um sinal concreto da proximidade de Jesus à nossa humanidade". É por isso que também nós devemos alimentar espiritualmente tantos jovens que estão em crise. Mas, para isso, é necessário que nos alimentemos do Evangelho..

A cura do surdo-mudo: deixar-se "abrir" por Jesus e comunicar com os outros

O Papa introduz um quarto sermão (cf. Audiência Geral 30-VII-2025) sobre as curas de Jesus, olhando para o nosso mundo, permeado por um clima de violência e de ódio que se opõe à dignidade humana. A "bulimia" da hiperconexão e o bombardeamento de imagens, por vezes falsas ou distorcidas, sobrecarregam-nos e podem submeter-nos a uma tempestade de emoções contraditórias.

Neste cenário, podemos ter o desejo de desligar todos os contactos e de nos fecharmos em silêncio: "...".a tentação de nos fecharmos no silêncio, numa falta de comunicação em que, por muito próximos que estejamos, já não somos capazes de dizer as coisas mais simples e mais profundas uns aos outros."

O Evangelho de Marcos apresenta um homem que não fala nioye (cf. Mc 7, 31-37). E Leão XIV volta a dirigir-se a nós: "Exatamente como nos pode acontecer hoje, este homem pode ter decidido parar de falar porque não se sentia compreendido e desligar a voz porque se sentia desiludido e magoado com o que tinha ouvido.".

Continua o Papa: "De facto, não é ele que vem a Jesus para ser curado, mas é levado a ele por outras pessoas.Poder-se-ia pensar que aqueles que o conduzem ao Mestre são os que se preocupam com o seu isolamento.". E acrescenta que a comunidade cristã também se revê nestas pessoas".a imagem da Igreja, que acompanha cada ser humano até Jesus para que possa escutar a sua palavra". Observa ainda que o episódio se passa em território pagão, o que sugere um contexto em que outras vozes tendem a encobrir a voz de Deus.

Como noutras ocasiões, o comportamento de Jesus pode parecer estranho à primeira vista, uma vez que leva esta pessoa consigo e a afasta, parecendo assim acentuar o seu isolamento. "Mas, -O Papa observa Se o observarmos mais de perto, este gesto ajuda-nos a compreender o que está por detrás do silêncio e do fechamento deste homem, como se ele (Jesus) tivesse compreendido a sua necessidade de intimidade e de proximidade.".

Chegar às pessoas isoladas

O professor oferece-lhe, antes de mais, uma proximidade silenciosa, através de gestos que falam de um encontro profundo: toca-lhe nos ouvidos e na língua; não usa muitas palavras, diz-lhe apenas: "...".Abre!" (em aramaico, efatà).

Leão XIV observa: "É como se Jesus te dissesse: "Abre-te a este mundo que te assusta! Abre-te às relações que te desiludiram! Abre-te à vida que desististe de enfrentar!Porque fecharmo-nos em nós próprios nunca é a solução.

Um último pormenor: depois do encontro com Jesus, essa pessoa não só volta a falar, como o faz "normalmente". Isto pode sugerir, diz o Papa, algo sobre as razões do seu silêncio: talvez se tenha sentido inadequado, incompreendido ou não compreendido. 

Nós também:"Todos nós passamos pela experiência de sermos mal compreendidos e incompreendidos. Todos nós precisamos de pedir ao Senhor que cure a forma como comunicamos, não só para sermos mais eficazes, mas também para evitar magoar os outros com as nossas palavras.".

Além disso, Jesus proíbe-o de contar o que lhe aconteceu, como se quisesse indicar que, para dar testemunho dele, deve ainda seguir um certo caminho."Para conhecer verdadeiramente Jesus é preciso percorrer um caminho, é preciso estar com ele e passar também pela sua paixão. Quando o tivermos visto humilhado e sofrido, quando experimentarmos o poder salvador da sua Cruz, então poderemos dizer que o conhecemos verdadeiramente. Não há atalhos para se tornar um discípulo de Jesus.".

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