Santa Brígida de Kildare, abadessa e co-padroeira da Irlanda
No dia 1 de fevereiro, a Igreja celebra Santa Brígida, fundadora de um dos primeiros mosteiros da Irlanda, em Kildare. Foi uma fiel continuadora da obra de evangelização de São Patrício e partilha o patrocínio da Irlanda com São Patrício e São Columbano. É considerada a primeira freira irlandesa.
Francisco Otamendi-1 de fevereiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
Existem numerosos escritos que atestam o culto de Santa Brígida na Irlanda, mas não há muitos factos comprovados sobre a sua vida. Segundo a história, ela nasceu no século V em Faughart, perto de Dunkalk, numa altura em que a evangelização da Europa estava a decorrer, e desde muito cedo se consagrou a Deus e foi escolhida por Ele. Foi para conta que a sua mãe a mandava recolher a manteiga que as mulheres faziam com o leite das vacas e que ela dava aos pobres.
Sabe-se muito pouco sobre a grande fundação religiosa de Kill-dara (o templo do carvalho) e sobre o seu governo. Supõe-se que tenha sido um "mosteiro duplo", ou seja, que incluía homens e mulheres, como era prática comum entre os Celtas. É muito possível que Santa Brígida presidiu às duas comunidades. A este santo irlandês são atribuídas a numerosos milagres, tais como devolver a visão a cegos, acabar com pragas, multiplicar alimentos e até transformar água em cerveja para matar a sede em celebrações religiosas. É também conhecida como a padroeira dos leiteiros.
Santa Brígida foi representado no arte com a igreja de Kildare em chamas. Graças a ela, o paganismo do lugar foi substituído pelo fogo da Páscoa de Cristo. A imagem do carvalho está ligada à da sarça ardente, uma vez que se encontra perto do tabernáculo. A Virgem que gera o corpo de Cristo é a sarça ardente, a Igreja é esta sarça ardente.
Com o Iluminismo e a secularização, muitas coisas que eram tidas como certas passaram a ser questionadas, chegando ao ponto de se negar a existência histórica de Jesus de Nazaré, bem como a sua identidade divina.
Gerardo Ferrara-1 de fevereiro de 2025-Tempo de leitura: 4acta
Vivemos numa época de grande incerteza. Muitas vezes, acreditamos cegamente no que os influenciadores das redes sociais nos propõem, sem ir mais fundo. No entanto, temos fome de verdade e de certezas.
O mesmo aconteceu com a fé cristã nos últimos dois séculos: com o Iluminismo e a secularização, muitas coisas que eram tidas como certas foram postas em causa, ao ponto de se negar a existência histórica de Jesus de Nazaré, bem como a sua identidade divina. Ao mesmo tempo, dá-se crédito a historiadores autodenominados que difundem teorias sem fontes ou fundamentos sólidos.
Para aqueles que desejam abordar a figura histórica de Jesus, faremos um levantamento das fontes e dos métodos de investigação sobre o Nazareno, na sequência de uma série de artigos já publicados pela Omnes sobre a vida de Jesus de Nazaré, o seu ambiente cultural e geográfico e a sua morte.
O que é a História?
Comecemos por definir o que é a história. Antes de mais, convém referir que o termo deriva do grego ἱστορία (historia) que significa investigação, e tem a mesma raiz ιδ- que o verbo ὁράω (orao, ver, ver, ver, verbo com três raízes: ὁρά-; ιδ-; ὄπ-). O perfeito ὁίδα, òida, significa assim literalmente 'eu vi', mas, por extensão, 'eu sei'. Refere-se, na prática, a observar e, consequentemente, a conhecer depois de experimentar: o mesmo sentido que encontramos também na raiz do verbo latino video (v-id-eo e no termo de origem grega 'ideia'). Acrescentaria, ainda, que um requisito da investigação histórica é, para além do sentido crítico, a inteligência, no sentido literal da palavra latina: intus lĕgĕre, ou seja, ler por dentro, ir mais fundo, mantendo a capacidade de considerar a totalidade dos factos e acontecimentos.
O método histórico-crítico
O Iluminismo levantou dúvidas sobre a figura do Nazareno, mas também encorajou o desenvolvimento da investigação histórica através do método histórico-crítico, destinado a avaliar a fiabilidade das fontes. Este método, desenvolvido desde o século XVII, é aplicado não só aos Evangelhos, mas a qualquer texto transmitido em diversas variantes, com o objetivo de reconstruir a sua forma original e verificar o seu conteúdo histórico.
Nos últimos 150 anos, a necessidade de fundamentar historicamente a doutrina cristã levou a Igreja Católica a reafirmar firmemente a historicidade dos Evangelhos, enquanto historiadores, académicos e arqueólogos utilizaram o método histórico-crítico para distinguir entre o "Jesus histórico" e o "Cristo da fé". No entanto, uma aplicação demasiado ideológica deste método conduziu muitas vezes a uma separação clara entre o Jesus pré-cristão e o "Cristo da fé". Páscoa e o Cristo pós-pascal. Para responder a estas dúvidas, a Igreja aprofundou o estudo exegético e arqueológico, reafirmando no Concílio Vaticano II ("...").Dei Verbum") "confirma com firmeza e sem qualquer hesitação a historicidade" dos Evangelhos, que "transmitem fielmente o que Jesus, Filho de Deus, durante a sua vida entre os homens, fez e ensinou para a sua salvação eterna, até ao dia em que foi elevado ao céu".
A posição da Igreja combina assim o "Jesus histórico" e o "Cristo da fé" numa única figura. No entanto, a grande maioria dos historiadores - cristãos, judeus, muçulmanos ou não crentes - não duvida da existência histórica de Jesus de Nazaré. Pelo contrário, as provas históricas e arqueológicas a seu favor continuam a aumentar, reforçando a fiabilidade dos Evangelhos e de outros escritos do Novo Testamento.
A abordagem do "Jesus histórico
Atualmente, a maioria dos historiadores concorda com a existência histórica de Jesus, com uma quantidade crescente de provas históricas e arqueológicas que o corroboram. Isto deve-se ao facto de a investigação histórica se ter desenvolvido em torno da sua figura em três fases principais:
Primeira ou Antiga Busca, iniciada por Hermann S. Reimarus (1694-1768) e continuada por estudiosos como Ernest Renan, autor da famosa "Vida de Jesus". Esta fase, influenciada pelo racionalismo iluminista, negava sistematicamente todos os factos prodigiosos ligados à figura de Jesus, sem pôr em causa a sua existência. No entanto, depressa se deparou com os seus próprios limites ideológicos, como salientou Albert Schweitzer. De facto, nenhum dos protagonistas desta fase de investigação prestou atenção ao contexto histórico e às fontes arqueológicas, mesmo se o próprio Renan se referiu romanticamente à Palestina como um "quinto evangelho".
New Quest ou Segunda Busca, iniciada oficialmente em 1953 pelo teólogo luterano Ernst Käsemann, mas na realidade já iniciada por Albert Schweitzer, que apontou as limitações da primeira. Contrastava com uma fase anterior, denominada No Quest, defendida por Rudolf Bultmann, que estava convencido de que a investigação histórica sobre Jesus era irrelevante para a fé cristã. A Segunda Busca rejeitou a rejeição ideológica do "Cristo da fé", adoptando uma abordagem mais crítica e integradora, que incluía os acontecimentos prodigiosos sem os excluir a priori.
Terceira pesquisa, predominante atualmente.
A terceira pesquisa
Enquanto a Primeira Procura foi condicionada pela ideologia racionalista e a Segunda Procura introduziu uma abordagem mais equilibrada, a Terceira Procura caracteriza-se por uma maior atenção ao contexto histórico e pela interdisciplinaridade, combinando filologia, arqueologia e hermenêutica. Hoje em dia, graças a este método, temos um quadro cada vez mais sólido da existência histórica de Jesus e da sua relevância na história do primeiro século.
Os expoentes desta Terceira Procura partem do pressuposto formulado por Albert Schweitzer: não se pode rejeitar ideologicamente tudo o que nos Evangelhos e no Novo Testamento tem um carácter miraculoso, descartando-o por não se conformar com os cânones do racionalismo esclarecido. Além disso, como acrescenta Bento XVI (um expoente da Terceira Busca, juntamente com autores e cientistas como os italianos Giuseppe Ricciotti e Vittorio Messori, o judeu israelita David Flusser e o alemão Joachim Jeremias) no seu livro Jesus de Nazaré, os limites do método histórico-crítico consistem substancialmente em "deixar a palavra no passado", sem poder torná-la "atual, hoje"; em "tratar as palavras que temos diante de nós como palavras humanas"; finalmente, em "subdividir ainda mais os livros da Escritura segundo as suas fontes, mas a unidade de todos estes escritos como Bíblia não resulta como um facto histórico imediato".
A Terceira Procura recorre à análise textual e à hermenêutica para se aproximar o mais possível da forma original das fontes em análise (neste caso as relativas a Jesus) e inclui, como dissemos, estudiosos como o judeu israelita David Flusser (1917-2000), autor de escritos fundamentais sobre o judaísmo antigo e convencido, como muitos outros judeus contemporâneos, de que os Evangelhos e os escritos paulinos representam a fonte mais rica e fiável para o estudo do judaísmo do Segundo Templo, como muitos outros judeus contemporâneos, de que os Evangelhos e os escritos paulinos representam a fonte mais rica e fiável para o estudo do Judaísmo do Segundo Templo, dada a perda de outros materiais contemporâneos devido à destruição causada pelas Guerras Judaicas (entre 70 e 132 d.C.c.).
Nos artigos seguintes, veremos como esta metodologia já foi aplicada pela Igreja, ao longo dos séculos, às fontes históricas e arqueológicas relativas à figura de Cristo.
O Cardeal Fernando Sebastián foi uma figura-chave na Transição Espanhola, com uma profunda influência na separação entre a Igreja e o Estado. Participou em encontros decisivos com líderes políticos de ambos os lados, contribuindo para o estabelecimento de uma democracia pluralista e livre.
1 de fevereiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
Tive a imensa sorte de ser aluno do Cardeal Fernando Sebastián, um verdadeiro homem de Deus que desempenhou um papel fundamental na transição política em Espanha. Contrariamente ao pensamento dominante, explicou-nos que era precisamente a Igreja que estava mais empenhada na separação da Igreja e do Estado.
Reitor da Universidade Pontifícia de Salamanca desde 1971, a sua enorme estatura intelectual levou o Cardeal Tarancón, então presidente da Conferência Episcopal Espanhola, a escolhê-lo como seu conselheiro de confiança. Acompanhava-o nos encontros secretos que este mantinha com os principais líderes da esquerda e da direita, alguns dos quais ainda na clandestinidade. Ordenado bispo em 1979, foi secretário-geral do episcopado espanhol nos anos 80 e vice-presidente em vários momentos das duas décadas seguintes. Testemunha excecional e, em numerosas ocasiões, protagonista desses acontecimentos históricos, recordou-nos que a doutrina social e política que emergiu do Concílio Vaticano II foi fundamental para conduzir a Espanha à democracia de forma pacífica.
No famoso texto: Afirmações para um tempo de busca (1976)assinado por vários bispos e teólogos, D. Fernando apelava a que se "diferenciasse a Igreja da sociedade civil, das suas instituições e objectivos". A posição da Igreja, nessa altura, era a de não aceitar qualquer tipo de privilégio, para além da liberdade religiosa e do reconhecimento da Igreja Católica num Estado não confessional, como acabou por ser consagrado na Constituição de 1978.
Recorro à memória do sábio e querido professor porque estou um pouco farto, como cidadão, de ter de me calar quando alguns tentam apresentar uma imagem anti-democrática da Igreja espanhola. Esse preconceito de uma Igreja ávida de poder político, que só procura privilégios e não valoriza a liberdade, é uma grande mentira, por muito barulho que sempre possam fazer sobre a saída particular desta ou daquela pessoa ou grupo minoritário do seu próprio caminho.
Nas suas "Memórias com esperança" (Encuentro, 2016), o Cardeal expressou a sua tristeza por esta manipulação da memória do papel da Igreja Católica naqueles anos difíceis: "Tenho a impressão de que hoje em dia a contribuição da Igreja para o advento pacífico da democracia em Espanha foi um pouco esquecida. A renovação do Concílio", recordou, "ajudou-nos, a nós católicos espanhóis, a apoiar decididamente o estabelecimento de uma sociedade livre e aberta, respeitadora das liberdades políticas, culturais e religiosas de todos, sem privilégios de qualquer espécie".
O que é paradoxal é que aqueles que hoje continuam com o refrão, abusando dos supostos privilégios da Igreja Católica e apelando a uma separação ainda maior entre a Igreja e o Estado, estão, por outro lado, a virar a mesa e a querer submeter a fé da Igreja aos pressupostos morais e ideológicos do partido. Já não é que queiram confinar a voz da Igreja às sacristias, mas que queiram ser eles a interpretar, a partir das sacristias, o Evangelho e a tradição eclesial e a explicá-los aos fiéis. Numa espécie de cesaropapismo extemporâneo, ameaçam com leis e sanções coercivas, intimidando os funcionários e pondo em perigo a liberdade religiosa, a liberdade pela qual o povo espanhol lutou e votou, invadindo a independência e a autonomia das confissões religiosas no seu próprio âmbito.
Talvez devêssemos sair à rua para exigir não a separação entre a Igreja e o Estado, mas a separação entre o Estado e a Igreja, porque se continuarmos assim, corremos o risco de acabar com uma Igreja nacional como a China.
Em dias como estes, em que a Transição é relida de forma autossuficiente, termino com mais um aviso profético que encontrei nas memórias de D. Fernando, cuja morte, aliás, foi há seis anos: "Ainda não vencemos os ressabios anti-clericais", dizia o judicioso professor. É verdade que o clericalismo tem sido forte entre nós. Mas as coisas mudaram há quase cinquenta anos. Apesar disso, os nossos esquerdistas continuam determinados a impor aquilo a que chamam o "Estado laico", com um laicismo excludente e antirreligioso, claramente inconstitucional. A tentação do laicismo excludente mina a clareza democrática da nossa sociedade. As restrições à plena liberdade religiosa dos cidadãos são um défice de democracia". Cuidado, estamos a fazer uma aposta.
Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.
Padre espanhol na China: "O cristianismo na China é silencioso, mas tem raízes profundas".
Há anos que os analistas de informação religiosa discutem se o acordo provisório entre o governo chinês e o Vaticano para a nomeação de bispos está a ser positivo. Entrevistámos um padre espanhol que trabalha na China sobre a situação da Igreja no país.
O Padre Esteban Aranaz é um sacerdote aragonês, incardinado na diocese de Tarazona (Saragoça) e exerce o seu ministério pastoral na China. Está em Xangai há quase dez anos, embora o seu trabalho sacerdotal na Ásia tenha começado há 22 anos em Taiwan, onde trabalhou durante sete anos. Antes de partir para a China, foi Reitor do Seminário Maior e Diretor do Instituto Teológico da sua Diocese, professor do mesmo e Vigário Geral em Tarazona. Fala mandarim e outras sete línguas. E é um apaixonado pela arte e pela música.
Falámos com ele sobre a situação da Igreja na China e a sua avaliação do funcionamento da acordo entre a Igreja e o Governo chinês para a nomeação de bispos. Calcula-se que existam entre 15 e 20 milhões de católicos na China, o que representa aproximadamente 1% da população. Em comparação, a comunidade evangélica é um pouco maior.
Diga-nos quem é, há quanto tempo está na Ásia e na China e em que consiste o seu trabalho pastoral.
- Sou um padre diocesano de Tarazona, em Espanha. O meu trabalho sacerdotal na Ásia começou há 23 anos em Taiwan. Estive lá durante sete anos antes de me mudar para Xangai, onde estou há dez anos.
O meu trabalho na China centra-se na pastoral da comunidade católica de língua espanhola e portuguesa em Xangai e da comunidade Yiwú na província de Zhejiang. Para além disso, viajo mensalmente para Pequim para outros trabalhos pastorais, onde também dou dois retiros para jovens.
Como é possível que ele trabalhe na China? Não é suposto os padres estrangeiros não trabalharem lá?
- Existem restrições à presença de padres estrangeiros na China, mas o meu trabalho insere-se num quadro autorizado para a comunidade estrangeira, e a minha situação melhorou consideravelmente nos últimos três anos. Oficialmente, presto serviço aos católicos de língua espanhola e portuguesa, mas através de contactos pessoais e de amizade, tenho também uma relação significativa com muitos chineses. De facto, desde o último Natal, sou organista na Catedral de Xangai.
Embora dedique o meu trabalho ministerial exclusivamente aos estrangeiros, trabalhar na China implica, no entanto, adaptar-se a uma realidade complexa. Não se trata apenas de restrições administrativas, mas também de saber mover-se com prudência e discrição, respeitando sempre o quadro jurídico de um país que finalmente vos abre as portas e vos acolhe. É por isso que, embora o número de conversões por ano seja significativo, o crescimento da Igreja na China não é maciço nem ruidoso, mas desenvolve-se em pequenos círculos, na vida quotidiana, na confiança que se gera em cada pessoa. A fé aqui é uma semente que cresce silenciosamente, mas tem raízes profundas.
Como são os católicos chineses e como é vivida a fé na China?
- A piedade dos católicos chineses é impressionante. Na Ásia, em geral, há uma grande reverência pela religião, e na China isso reflecte-se numa participação muito ativa na liturgia. Na Catedral de Xangai, por exemplo, cerca de 700 fiéis reúnem-se aos domingos para cada missa, numa atitude de profunda fé e devoção.
Ao contrário de muitos católicos no Ocidente, aqui é comum ver os fiéis, muitos deles muito jovens, a participar ativamente na missa e a manter uma postura de profunda piedade. Os gestos são muito importantes: ajoelhar-se, manter sempre as mãos juntas, são expressões que falam de uma fé profunda perante o mistério. A liturgia é muito bem cuidada e os coros são excepcionais, pois a música é muito apreciada entre os chineses.
Os estrangeiros ficam muito surpreendidos com este fervor. Muitos ficam impressionados com a profundidade e o respeito com que os chineses vivem a sua fé. Recomendo sempre aos visitantes do país que assistam a uma missa em chinês, mesmo que não compreendam a língua. A atitude e a devoção dos fiéis falam por si.
Que papel desempenha a comunidade católica na sociedade chinesa?
- A presença da Igreja na China é simultaneamente cultural e social. Por isso, não se pode falar da fé católica como uma fé de estrangeiros, como no passado. Na China, há pelo menos uma igreja católica em quase todas as cidades, por mais pequenas que sejam. Além disso, em muitas dioceses há lares para idosos e orfanatos dirigidos por freiras ou fiéis leigos. No entanto, o acesso dos crentes a certos espaços públicos e responsabilidades no seio do Estado continua a ser limitado, pelo menos oficialmente.
Nalgumas províncias, como Hebei e Shanxi, a presença católica é mais visível, com grandes comunidades e igrejas bem conservadas. Mesmo assim, a Igreja continua a ser uma comunidade minoritária e não tem a mesma influência social que noutros países.
Como é que as políticas do governo chinês influenciam a formação de novos padres e a educação religiosa dos fiéis?
- A China tem vários seminários de prestígio, como o seminário diocesano de Pequim ou o seminário nacional, também na capital, que acolhe mais de 100 seminaristas e mais de 30 religiosas como centro de formação. É preciso dizer que a formação é séria e bem estruturada, com bibliotecas, salas de estudo e uma sólida formação teológica.
Para além dos seminários de Pequim, existem outros centros de formação, como o Seminário de Sheshan, em Xangai, que no passado teve grande importância e que, após alguns anos de declínio, está agora a recuperar. Há ainda o Seminário de Xi'an e o Seminário de Shijiazhuang, na província de Hebei, sendo este último o maior do país, com mais de 100 alunos.
Desde há alguns anos, a situação da formação dos sacerdotes chineses tem vindo a melhorar graças à melhoria material dos seminários do país e à ajuda da "Propaganda Fide" e de várias instituições eclesiásticas de lugares como Roma, Alemanha, Salamanca, Pamplona, França, Bélgica, Estados Unidos, etc... Isto elevou notavelmente o nível do clero na China. Dioceses como as de Pequim ou Xangai, entre muitas outras, foram pioneiras na formação de um clero jovem e bem preparado, com muitos sacerdotes que, para além dos seus estudos eclesiásticos, chegaram mesmo a completar carreiras civis.
Em suma, o nível doutrinal é bom.
- Na China, apesar do que alguns pensam, a doutrina, a moral e a liturgia da Igreja nunca foram alteradas na história. A sucessão apostólica foi sempre mantida. É por isso que Roma nunca considerou a Igreja na China como uma Igreja cismática.
Porque é que Bento XVI convidou as comunidades clandestinas a virem a público? Como está a decorrer este processo?
- Na sua carta aos católicos chineses em 2007, Bento XVI explicou que a clandestinidade é uma situação excecional na vida da Igreja e não é a forma normal de viver a fé. Por esta razão, o Papa alemão exortou as comunidades clandestinas a integrarem-se sempre que possível e, pouco a pouco, estão a ser feitos progressos neste sentido. É preciso dizer que nem sempre é fácil, pois há padres que procuram a regularização dentro da lei chinesa, mas as autoridades em alguns lugares ainda estabelecem condições muito restritivas.
Ainda faz sentido, na China de hoje, falar de comunidade patriótica e de comunidade clandestina?
- Desde a assinatura do acordo entre a Santa Sé e o governo chinês, em 2018, todos os bispos da China são reconhecidos pela Santa Sé e estão em comunhão com o Papa. Isto significa que já não se pode falar de uma Igreja oficial e de uma Igreja clandestina. Embora ainda existam muitos bispos e algumas comunidades que ainda não obtiveram o reconhecimento público do Estado, a nível eclesiástico e doutrinal, a Igreja na China é uma só Igreja, com os seus bispos plenamente reconhecidos por Roma.
Este acordo provisório, que foi inicialmente renovado por períodos de dois anos, estará em vigor por quatro anos a partir de setembro de 2024. Este facto é muito positivo e significativo, pois permitiu à Igreja crescer em unidade e reforçar os laços entre a comunidade católica chinesa e a Igreja universal.
Como avalia o acordo provisório entre o Estado chinês e o Vaticano?
- O acordo provisório entre a Santa Sé e a China foi, na minha opinião, um desenvolvimento muito positivo. Embora continue a ser uma questão controversa para alguns, penso que deve ser encarada com serenidade. Não se trata de um acordo completo ou definitivo, uma vez que apenas incide sobre a nomeação de bispos. No entanto, permitiu a regularização de muitos bispos e ajudou a normalizar a vida eclesial e pastoral de muitas dioceses, como foi o caso de Xangai, facilitando o diálogo com as autoridades. Embora o conteúdo do acordo não seja público, o seu objetivo é preservar a unidade da Igreja na China e garantir a comunhão de todos os bispos com o Papa.
Num contexto tão complexo, qualquer progresso, por mais pequeno que seja, é de grande valor, mesmo que ainda haja muitos desafios pela frente. Na minha opinião, a atitude de diálogo promovida pelo Papa Francisco e o trabalho da Secretaria de Estado da Santa Sé foram recebidos positivamente pelas autoridades chinesas e tudo isto está a ajudar a fazer progressos significativos após anos de distanciamento e mal-entendidos.
E o que pensa do pessimismo do Cardeal Zen em relação a este acordo?
- Tenho grande apreço e respeito pelo Cardeal Zen, com quem tive a oportunidade de conversar em várias ocasiões. De facto, foi ele que me disse numa ocasião, há alguns anos, "que apoiar a comunidade oficial ou a comunidade clandestina era igualmente importante porque na China só havia uma igreja.
No entanto, creio que a sua visão crítica deste acordo, embora compreensível e muito respeitável, não favorece uma abordagem construtiva da realidade atual da China. Roma optou claramente por uma estratégia cautelosa, mas mais orientada para o diálogo, que procura evitar o confronto. Isto não significa fugir da cruz ou algo do género, como por vezes é entendido no Ocidente. Mas é necessário avançar.
E esta estratégia está a dar frutos?
- Há que ter em conta que na China há liberdade de culto e a prática religiosa dos católicos, tal como a de outras denominações, é respeitada, a educação é permitida e os fiéis podem frequentar os sacramentos, há livros nos seminários e as pessoas não estudam com fotocópias como no passado. Em suma, se olharmos para as coisas a partir daqui, verificamos que há muitas coisas que melhoraram.
Para mim, esta situação de vitória, por um lado, e de aceitação de aspectos que ainda têm de ser melhorados, faz-me lembrar o que se viveu em Espanha durante a Transição. Nesse contexto, todos tiveram de ceder em certos pontos, facilitando a harmonia e a reconciliação. Há um momento na vida das pessoas e dos povos em que, se não se perdoa, é impossível viver em conjunto e avançar,
Como é que está ligado ao seu bispo da China?
- Embora o meu trabalho pastoral seja desenvolvido na China, continuo incardinado em Tarazona e mantenho uma comunicação regular com o meu bispo em Espanha, informando-o do meu trabalho e recebendo sempre o seu apoio.
Mas também vivo o meu sacerdócio em plena comunhão com o bispo local de Xangai, que considero o meu pastor neste contexto. Embora não possa ainda ter uma relação contratual com a diocese de Xangai, participo ativamente na sua vida eclesial. Desde a chegada do novo bispo Joseph Shen, tive a oportunidade de concelebrar a Eucaristia três vezes na catedral de Xujiahui. Esta dupla ligação reflecte a universalidade da Igreja e a colaboração entre diferentes dioceses para a evangelização, o que também reforça a comunhão eclesial.
Desde 29 de setembro do ano passado, o meu trabalho sacerdotal e a comunidade que sirvo em Xangai foram oficialmente reconhecidos pelas autoridades, o que me ajudou a viver e a trabalhar como padre praticamente integrado na Igreja local.
Portanto, é evidente que ele aprecia a nova situação da Igreja na China.
- Desde 2018, foram nomeados 11 bispos em conformidade com o acordo entre a Santa Sé e o governo chinês, o que constitui um passo em frente. À exceção do que aconteceu em Xangai, onde o bispo Shen foi transferido unilateralmente por Pequim e o Papa acabou por reconhecer o bispo nomeado, prefiro sinceramente ver a garrafa meio cheia e sublinhar os aspectos positivos do processo. Tal como no mundo das touradas, não se trata apenas de ser mais esperto do que o touro, é preciso entrar com coragem e determinação até terminar o trabalho com êxito.
No sítio Web da Igreja Católica na China, a presença constante de funcionários em eventos religiosos é notória. Que autonomia tem realmente a Igreja?
- Na China, a presença e o controlo do Estado estão presentes em todas as áreas da vida pública e económica, na educação, nos meios de comunicação social e, por conseguinte, também na vida religiosa, porque administrativamente a Igreja, e todas as denominações religiosas na China, estão dependentes do Estado. No entanto, a Igreja é capaz de continuar a sua missão apesar dos muitos desafios.
O que recomendo a todos é que não percam de vista as circunstâncias especiais deste imenso país em termos de dimensão e população, que sofreu, como todos sabemos, mudanças e transformações evidentes ao longo das últimas décadas. No entanto, no Ocidente, há ainda muita desconfiança e preconceitos em relação a este país. Convido as pessoas a visitarem-no, a conhecerem a sua realidade e a compreenderem o seu contexto particular.
Por isso, é importante compreender o processo de "sinização" de todas as áreas da vida pública e social na China, que logicamente afecta também a vida da Igreja, que enfrenta sob este novo conceito desafios muito importantes, mas também oportunidades de crescimento. Há alguns meses, participei num importante encontro organizado pela diocese de Pequim, com a presença de bispos, padres, freiras, seminaristas e vários leigos, professores e membros do governo. Tive uma comunicação que me permitiu exprimir francamente alguns pontos de vista sobre este interessante processo de "sinização".
Na minha opinião, a China pode contribuir muito para a Igreja universal e, pelo contrário, a Igreja na China precisa de manter viva a comunhão com a Igreja universal para o seu crescimento e missão.
Qual é a sua perspetiva sobre o futuro da Igreja na China?
- Estou otimista. A fé na China não se extinguiu, mas continua viva, continua a crescer na vida quotidiana de muitos chineses. Como recordou o Papa Francisco durante a sua viagem à Mongólia: "Os católicos na China devem ser bons cidadãos e bons cristãos". Os desafios são muitos, mas a Igreja sempre foi capaz de se adaptar e de encontrar formas de evangelizar. O futuro dependerá da capacidade da Igreja de manter vivo o ardor apostólico e de continuar a promover um diálogo construtivo com as autoridades que encoraje os fiéis a continuarem a viver a sua fé de forma autêntica.
Que papel desempenha a amizade na sua relação com os fiéis chineses?
- A amizade é fundamental, chamo-lhe o "oitavo sacramento". Embora o meu trabalho oficial seja com estrangeiros, tenho de facto muitos amigos chineses. Além disso, a música e a arte têm sido instrumentos preciosos para me aproximar deles, através de iniciativas como "Amigos da Beleza", encontros e reuniões onde partilhamos a riqueza cultural da China e o humanismo cristão com uma boa chávena de chá. Agora, juntamente com alguns amigos, estou a promover um Instituto que me parece ser um projeto muito interessante.
De que se trata exatamente?
- Queremos criar o "Instituto Diego de Pantoja", um projeto para construir pontes entre a China e o Ocidente em todas as áreas das relações humanas: história, arte, filosofia, negócios e economia, relações internacionais e diplomacia. Diego de Pantoja, natural de Valdemoro (Madrid), foi um jesuíta contemporâneo de Mateo Ricci, que promoveu o diálogo entre a China e a Europa no século XVII. Através do Instituto, promovemos intercâmbios académicos e artísticos, como o que realizámos recentemente ao colaborar na instalação de algumas obras pictóricas de grande valor artístico, do pintor malaguenho Raúl Berzosa, na Catedral do Sul de Pequim, ou um projeto musical para a Catedral de Xangai, entre outros.
Uma última pergunta: como é que se mantém tão otimista?
- O meu trabalho na China não seria possível sem as orações e o apoio da minha família e de muitos amigos. A este respeito, gostaria de salientar a ajuda espiritual e humana da Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz. O Opus Dei não é certamente perfeito, como nenhuma outra instituição, mas apesar dos seus erros e dificuldades, presta um serviço inestimável à Igreja e especialmente aos sacerdotes diocesanos.
Quero dizer bem alto que o Opus Dei, desde as suas origens, está empenhado em acompanhar os sacerdotes. E a formação do clero tem sido uma das suas prioridades, promovendo um grande número de bolsas de estudo, fruto da generosidade de muita gente boa, para estudar em Pamplona e em Roma. A maior parte dos sacerdotes aí formados não pertencem à Obra, hoje alguns são mesmo bispos, mas todos beneficiaram de meios que há muito reverteram a favor da Igreja universal.
Este é um legado que temos de agradecer a um sacerdote diocesano de Saragoça e santo universal, Josemaría Escrivá, que amou e viveu para os sacerdotes. O Beato Álvaro del Portillo continuou esta obra. Há instituições como o Seminário Internacional Bidasoa de Pamplona e o Sædes Sapientiæ de Roma, a Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, a Universidade Pontifícia da Santa Cruz de Roma e muitos outros centros que continuam a ajudar a Igreja e os sacerdotes de todo o mundo.
Eu próprio estudei na Universidade de Navarra, que é a minha "alma mater", e formei-me no Colégio Eclesiástico de Bidasoa. Depois de vários anos de vida ministerial, obtive a licenciatura em Teologia Dogmática na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em Roma.
Gostaria de terminar esta entrevista com alguma reflexão?
-Se me permitem, não gostaria de terminar este interessante encontro sem partilhar com os nossos leitores um pensamento que escrevi há alguns anos e que pode ajudar a compreender o meu amor pela China:
"Devemos a nossa existência a Deus, aos nossos pais que nos deram a vida. Fazemos parte de uma tradição com os nossos antepassados! Mas o coração só responde à liberdade do amor! E eu, porque sou livre, por amor a Cristo, decidi dá-lo para sempre ao povo chinês. Por isso, onde quer que a Providência me leve, onde quer que eu esteja, quero ser sempre mais um chinês!
Um grande pedagogo, um grande mestre da vida espiritual e um apóstolo da devoção a Maria. Auxilium Christianorum. A vida e o legado de São João Bosco, que a Igreja celebra a 31 de janeiro, são hoje um guia para milhares de pessoas.
Manuel Belda-31 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
São João Bosco nasceu a 16 de agosto de 1815 em Castelnuovo d'Asti, uma pequena cidade perto de Turim, numa pequena aldeia perto de Turim. família de camponeses, pobres e muito cristãos. O seu pai morreu quando ele tinha menos de dois anos, pelo que foi educado exclusivamente pela sua santa mãe, Margherita Occhiena.
A 30 de outubro de 1835, entrou no Seminário de Chieri. Foi ordenado sacerdote a 5 de junho de 1841, em Turim, onde exerceu o seu ministério sacerdotal nas prisões, nas ruas e nos locais de trabalho. Rapidamente reuniu à sua volta um grupo de os jovensColocou-as sob o patrocínio de São Francisco de Sales. Em 1846, alugou um local em Valdocco, um subúrbio a norte de Turim, que se tornou o primeiro núcleo estável da sua obra com os jovens.
Primeiras escolas profissionais e outras
São João Bosco compreendeu claramente que, na aurora do novo mundo industrial, os jovens tinham de estar preparados para a vida, não só moralmente mas também profissionalmente, e por isso fundou as primeiras escolas profissionais e, subsequentemente, numerosas outras escolas. Em 28 de Dezembro de 1859, com 17 jovens, fundou a Sociedade de S. Francisco de Sales, de modo a que os seus membros sejam chamados "Salesianos". As suas Constituições foram definitivamente aprovadas pela Santa Sé a 3 de Abril de 1874. A 5 de Agosto de 1872, fundou o ramo feminino, a Congregação das "Filhas de Maria Auxiliadora".
Morreu a 31 de Janeiro de 1888, com 72 anos de idade. Foi beatificado por Pio XI a 2 de Junho de 1929, e canonizado pelo mesmo Papa a 1 de Abril de 1934. A 24 de Maio de 1989 foi proclamado Padroeiro dos jovens por São João Paulo II.
As suas obras
São João Bosco escreveu muitas obras, mas não tratados sistemáticos, mas sim de natureza pastoral, sempre movido pelas circunstâncias da sua vida e do seu apostolado. Podem ser classificados nos seguintes géneros: escritos pedagógicos, divertidos, teatrais, hagiográficos, biográficos, autobiográficos, instrução religiosa, oração, documentos governamentais e epistolares.
Ensinamentos do Papa
São João Bosco foi, antes de mais, um grande pedagogoO sistema escolar ainda era "repressivo" numa altura em que o sistema educativo ainda era "repressivo", consistindo em reprimir e punir os erros cometidos pelos alunos.
Foi também um grande mestre da vida espiritual, que se baseou numa sólida piedade sacramental. A recepção frequente dos sacramentos foi um elemento indispensável na sua pedagogia para levar os jovens à santidade, e foi a chave do seu projecto educativo: Comunhão e Confissão frequentes, Missa diária.
"Toda a gente precisa de comunhão".
Ele ensinou que a Comunhão frequente é altamente recomendada, porque a Eucaristia é tanto remédio como alimento para a alma: "Alguns dizem que para receber a Comunhão com frequência é preciso ser-se santo. Isto não é verdade. Isto é um engano. A comunhão é para aqueles que desejam tornar-se santos, não para santos; a medicina é dada aos doentes, a alimentação é dada aos fracos". A comunhão, portanto, é necessária para todos os cristãos: "Todos precisam de Comunhão: o bom para permanecer bom, o mau para se tornar bom: e assim, jovens, adquirireis a verdadeira sabedoria que vem do Senhor".
Meditação!
São João Bosco insistiu muito na necessidade de oração mental. Uma recordação pessoal do Beato Philip Rinaldi, que em 1922 se tornou Reitor-Mor da Sociedade Salesiana, e que tratou o seu fundador durante os últimos anos da sua vida, mostra a importância que atribuía à meditação: "Ao confessar-se a ele durante o último mês da sua vida, eu disse-lhe: "Não te deves cansar, não deves falar, eu falarei; só me dirás uma palavra no final". O bom Pai, depois de me ter ouvido, disse apenas uma palavra: Meditação! Ele não acrescentou mais explicações ou comentários. Apenas uma palavra: Meditação! Mas essa palavra valeu mais para mim do que um longo discurso.
A Virgem Maria, inspiradora e protetora, Mãe
A espiritualidade de São João Bosco era eminentemente mariana. Ele disse que, juntamente com a Sagrada Comunhão, Maria é o outro pilar sobre o qual repousa o mundo. Afirmou também: "Maria Santíssima é a fundadora e a que sustenta as nossas obras". Por esta razão, mandou colocar a imagem da Virgem Maria em cada canto das casas salesianas, para que ela pudesse ser invocada e honrada como a inspiração e protectora da Sociedade Salesiana. Não hesitou em dizer e assegurar: "A multiplicação e difusão da Sociedade Salesiana pode dizer-se que se deve a Maria Santíssima".
São João Bosco foi o apóstolo da devoção a Maria. Auxilium Christianorummas acabou por preferir este título ao de Mary Help of Christians. Em dezembro de 1862, anunciou a sua decisão de construir uma igreja em Turim sob o patrocínio de Maria Auxiliadora, cuja primeira pedra foi colocada a 27 de abril de 1865.
No entanto, no seu leito de morte, não foi a invocação "Ajuda dos cristãos" que lhe veio dos lábios, mas "Mãe", pois ele morreu dizendo: "...".In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum...Mãe...Mãe, abre-me os portões do Paraíso".
Sebastian Muggeridge: "Não és tu que dás a tua vocação, é Deus que a dá".
Influenciado por Santa Teresa de Calcutá, o jornalista inglês Malcolm Muggeridge converteu-se ao catolicismo com a sua mulher em 1982. Agora, em 2025, o seu bisneto Sebastian Muggeridge será ordenado sacerdote.
Influenciado por Santa Teresa de Calcutá, o jornalista inglês Malcolm Muggeridge converteu-se ao catolicismo com a sua mulher em 1982, aos 79 anos. Em 1969, tinha produzido o documentário "Something Beautiful for God" para a BBC e, dois anos mais tarde, tinha escrito um livro com o mesmo nome sobre a fundadora das Missionárias da Caridade, dando-a a conhecer ao mundo.
Em 24 de maio de 2025, um bisneto seu, o canadiano Sebastian Muggeridge, de 32 anos, um dos cinco filhos de John Muggeridge Jr. e da sua mulher Christine, será ordenado sacerdote.
A única filha, Cecília, é numerária auxiliar do Opus Dei. Trabalha no Colégio Romano de Santa Maria, em Roma. "Mens sana in corpore sano": é útil para Cecília saber inglês, francês, espanhol e italiano, pois ajuda a cuidar maternalmente de dezenas de estudantes de Teologia, Direito Canónico, Filosofia e Comunicação Social Institucional da Igreja na Pontifícia Universidade da Santa Cruz. Aqui pode encontrá-la testemunho.
O Omnes falou com o diácono Sebastian Muggeridge, a poucos meses de ser ordenado sacerdote. Mas antes da conversa, transcrevemos primeiro uma citação do fundador dos Companheiros da Cruz, o Padre Bob Bedard: "Adoro a Igreja... 'o gigante adormecido'. Assim que começarmos a redescobrir o que significa evangelizar e a empreender um reavivamento em grande escala deste ministério, vejo a Igreja a despertar e a ganhar vida de uma forma tão explosiva que, no poder do Espírito Santo, abanará a terra e as nações com a sua presença dinâmica".
Como é que descobriu a sua vocação?
- Se alguém me tivesse dito no liceuEu ter-me-ia rido. Depois do liceu, estudei enfermagem na Universidade de Otava e vivia como se Deus não existisse. Tudo mudou em 2013 com uma confissão que me trouxe uma profunda alegria. Foi num retiro universitário e o padre era um Companheiro da Cruz. Um jovem missionário universitário encorajou-me a pedir diariamente a Jesus que estivesse no centro da minha vida. Foi o que rezei e isso transformou-me. Comecei a ir à missa todos os dias.
Algumas senhoras que me viram na igreja perguntaram-me porque não me tornei padre. Quando falei disso a um padre, ele assegurou-me que não se dá uma vocação a si próprio, mas que Deus a coloca no seu coração. Mas um dia, sentado na igreja da minha paróquia, rezei uma oração perigosa: "Deus, farei tudo o que quiseres, incluindo a ordenação. Só te peço que ponhas este desejo no meu coração.
Deus respondeu-me fazendo amizade, quase sem me aperceber, com vários padres, alguns dos quais eram Companheiros. Pedi para entrar no seu noviciado em 2016. Fui ordenado diácono a 14 de setembro de 2014, festa da Exaltação da Santa Cruz, e serei ordenado sacerdote na Catedral de Notre Dame pelo Arcebispo de Otava, Marcel Damphousse.
Quem são os Companheiros da Cruz?
- Desde 2003 que somos uma Sociedade de Vida Apostólica, fundada como uma comunidade de irmãos clérigos há 40 anos em Otava pelo então padre diocesano Bob Bedard. Nunca o conheci, pois ele faleceu em Otava, em 2011. Temos mais de 40 padres e dois bispos canadianos são também Companheiros.
Perto do Seminário do Sagrado Coração, em Detroit, a nossa comunidade tem a sua própria casa de formação onde residimos, uma dúzia de seminaristas CC. O nosso carisma é a evangelização, fazemos muito trabalho paroquial e estamos também envolvidos noutros trabalhos, como as capelanias universitárias. Estamos presentes nas províncias canadianas de Ontário, New Brunswick e Nova Escócia e nos estados do Michigan e do Texas. O nosso Superior Geral é o Padre Roger Vandenakker.
O que nos pode dizer sobre os seus antepassados?
- Como a minha irmã Cecilia relata num vídeo, parte da tradição oral da nossa família Muggeridge é a história de Malcolm, que, depois de levar uma vida mundana quando jovem, se converteu ao catolicismo com a sua mulher Kitty Dobbs. Ela era sobrinha da conhecida feminista e socialista inglesa Beatrice Webb. Dos três filhos de Malcolm, um também se converteu, o meu avô John Sr., cuja mulher, Anne Roche Muggeridge, era uma conhecida escritora católica canadiana, autora de dois livros sobre os desafios da Igreja após o Concílio Vaticano II. Anne ajudou o meu avô e os meus bisavós a converterem-se. John e Anne tiveram quatro filhos, uma filha e 28 netos.
Zygmunt Bauman considera que existe hoje um modo de vida habitual que se caracteriza por uma falta de direção: é uma "sociedade líquida". Como podemos encorajar mais jovens de hoje a comprometerem-se vocacionalmente, também no matrimónio cristão?
- Se eu tivesse a resposta, seria uma resposta muito valiosa... Temos de dar aos jovens a oportunidade de se encontrarem pessoalmente com Cristo. Eles têm dificuldade em tomar decisões. Mas eles querem autenticidade. No fundo, querem dar-se de uma forma real, nobre e inspiradora. Temos de encorajar este encontro, para que muitos deles sintam o chamamento à vida religiosa, à sacerdócioao casamento.
Encorajo os jovens a tentarem essa oração perigosa que eu fiz em tempos, que é aterradora mas vale a pena. Agora aprecio mais o que a minha irmã fez. Como ela é mais velha do que eu, quando entrou para o Opus Dei, compreendia-o menos do que agora. A sua dedicação é total. Agora compreendo melhor a sua vocação de serviço. Comecei a aperceber-me disso no Manoir de Beaujeu, uma casa de retiros perto de Montreal, onde ela trabalhou durante algum tempo. Vê-la-ei na primavera, quando ela visitar o Canadá para a minha ordenação e para o casamento do meu irmão mais novo. Espero retribuir a sua visita em Roma, durante o Jubileu, depois da minha ordenação.
O cinzento tem a sua própria beleza e riqueza, com uma capacidade única de complementar e realçar outras cores. A minha nostalgia pelos céus azuis do verão tinha-me cegado para o esplendor subtil do cinzento.
31 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
O verão é uma das estações mais apreciadas na Europa. O seu encanto é celebrado há séculos, e basta olhar para os sonetos de Shakespeare para ver como ele glorifica a sua beleza. Pessoalmente, também adoro o verão, especialmente o azul radiante do céu. É uma tonalidade profunda e vibrante, que prefiro descrever como um "azul bonito".
Ao deixar a Europa para o verão, despedi-me do céu azul profundo para regressar aos trópicos para a estação das chuvas. À chegada, fui recebido por um céu nublado, dominado por nuvens cinzentas. Parecia que a natureza não estava a sorrir para mim, como se tivesse conspirado para me tirar a alegria e a esperança, substituindo o azul vivo por um cinzento sombrio. Eu tinha trocado o "belo azul" pelo "cinzento sombrio". Os dias foram passando e o preconceito em relação ao tempo cinzento começou a afetar o meu humor. Comecei a ver o céu cinzento como desprovido de beleza, acreditando que ele me condenaria a uma série de dias monótonos e sem vida.
Neste estado de espírito, estava a cair gradualmente no que G.K. Chesterton classifica de "heresia" qualificar um dia cinzento como "incolor". Afirma o contrário, afirmando que o cinzento é, de facto, uma cor, uma cor poderosa e agradável. Se o azul é belo, o cinzento também o é. Se o azul é vibrante, o cinzento é igualmente rico. Então, porque é que associamos o cinzento à falta de vida? O cinzento tem a sua própria beleza e riqueza, com uma capacidade única de complementar e realçar outras cores. A minha nostalgia pelo céu azul do verão tinha-me cegado para o esplendor subtil do cinzento.
Façamos uma pausa para considerar a grande capacidade de mudança e adaptação que a cor cinzenta possui. Há força na diversidade, e o cinzento tem muita. Pensemos nos muitos tons de cinzento; alguém disse uma vez que há cinquenta, mas eu não concordo. Podem ser quarenta e nove ou cinquenta e um, não me interessa. O que importa é a incrível variedade das suas expressões. Nalguns dias, as nuvens cinzentas brilham como prata; noutros dias, evocam o brilho do aço, a suavidade da plumagem de uma pomba, ou a beleza pálida das cinzas, uma recordação daquela solene Quarta-feira de Cinzas.
Por vezes, as nuvens tornam-se densas e pesadas, assemelhando-se à maquinaria de uma fábrica de aço. Retêm a chuva no seu interior e libertam-na sob a forma de delicados jactos que caem nos telhados e nas ruas, transformando o céu cinzento num grande fabricante de tubos de aço, longos tubos de água. "Derramai a chuva, céus, lá de cima!", poderíamos exclamar, maravilhados com a sua generosidade. Rorate Caeli!
Os céus cinzentos não são apenas bonitos por si próprios, são também catalisadores de outras cores. São generosos, tornam as outras cores mais vivas. Quando as chuvas chegam, pintam a terra de verdes mais vivos e de vermelhos mais profundos; temos uma folhagem mais verde e uma lama mais vermelha.
Será que ainda precisamos de duvidar das belezas do cinzento? Não só permite que outras cores floresçam, como também sabe como se misturar e combinar com elas. Costumava perguntar-me porque é que os meus alunos combinavam calças ou saias cinzentas com blusas cor-de-rosa ou camisas azuis, até que vi o nascer do sol a filtrar-se por entre nuvens cinzentas.
O jogo subtil do cinzento com os rosas e laranjas do nascer ou do pôr do sol reflecte as escolhas destes uniformes: a influência da natureza no seu melhor. Além disso, as manchas de nuvens cinzentas espalhadas num céu azul encaixam na perfeição. Deixei de me fazer essa pergunta.
Continuaremos a cantar as glórias do cinzento? As nuvens cinzentas actuam como um grande guarda-sol sobre a terra, um guarda-chuva que atenua os raios de sol que nos chegam, tornando o seu calor mais agradável, mais humano.
O cinzento, embora seja uma cor distintiva, tem um carácter intermédio. O dicionário dir-nos-á que é uma cor intermédia entre o preto e o branco. Parece estar sempre à beira de algo, no limiar de uma evolução; vê-lo é estar à beira de testemunhar uma mudança.
Chesterton capta lindamente esta essência, observando que o cinzento existe para que "possamos ser perpetuamente lembrados da esperança indefinida que está na própria dúvida; e quando há tempo cinzento nas nossas colinas ou cabelo cinzento nas nossas cabeças, podemos ainda assim ser lembrados da manhã".
O cinzento é, de facto, uma cor gloriosa. E se alguém ainda tem dúvidas, pense nisto: escrevi este ensaio com um lápis de chumbo, uma ferramenta tão cinzenta como os céus que passei a admirar.
O Banco Sabadell reforça o seu apoio às instituições religiosas em várias cidades espanholas
O Banco Sabadell reforça o seu papel de aliado das instituições religiosas e do Terceiro Setor, alargando o seu quadro de ação a outras cidades espanholas.
Redação Omnes-30 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 2acta
Banco Sabadell deu um passo importante na sua estratégia de especialização, criando unidades especializadas para as instituições religiosas e o terceiro sector em cidades-chave como Barcelona, Valência, Alicante, Múrcia e Ilhas Baleares, para além da unidade já existente em Madrid. Esta expansão reflecte o empenho do banco em oferecer um serviço personalizado e de qualidade a estes sectores, que registaram um crescimento notável desde o lançamento do serviço em 2018.
Desde o seu lançamento, o segmento registou um êxito notável, tendo o número de clientes quadruplicado e o volume de negócios gerido triplicado até ao final de 2024. Para responder às necessidades destas organizações, o Banco Sabadell concebeu produtos inovadores, como o Sistema DONE, o primeiro sistema digital em Espanha para a recolha de donativos através de cartões, e uma oferta especial destinada às confrarias e fraternidades com as quais tem acordos.
Serviço, aconselhamento e formação
Santiago Portas, diretor de Instituições Religiosas e Terceiro Setor do Banco Sabadell, sublinha que a proximidade e a elevada especialização destas novas unidades posicionam a entidade como uma referência neste segmento. "Os nossos profissionais estão capacitados para oferecer o melhor serviço e um aconselhamento próximo, adaptando-se às necessidades de cada cliente", afirma Portas.
Para além dos serviços financeiros tradicionais, o Banco Sabadell fomenta a colaboração entre instituições religiosas e entidades do Terceiro Setor através de eventos e programas de formação regulares. Um destes programas é o Curso de Assessores Financeiros para Entidades Religiosas e do Terceiro Setor, organizado em conjunto com a Universidade Francisco de Vitoria, cuja quarta convocatória já está aberta.
Transparência e cumprimento dos objectivos
Com políticas claras baseadas na transparência e em normas ESG (ambientais, sociais e de governação), o Banco Sabadell garante que tanto as grandes como as pequenas instituições podem aceder a serviços e apoio adaptados às suas necessidades. Esta abordagem especializada facilita o cumprimento dos objectivos fundamentais das entidades, promovendo simultaneamente um modelo de gestão sustentável e responsável.
Com estas novas aberturas e o desenvolvimento contínuo de produtos inovadores, o Banco Sabadell reforça o seu papel de aliado das instituições religiosas e do Terceiro Setor.
O "caso Cipriani": cronologia e dúvidas que suscita
A notícia, publicada nos meios de comunicação social espanhóis, sobre um alegado caso de abuso envolvendo o antigo Cardeal de Lima, Juan Luis Cipriani, foi seguida por uma sucessão de comunicados de vários quadrantes, que levantam a questão do abuso do antigo Cardeal de Lima, Juan Luis Cipriani. diversos questões relacionadas com o desenvolvimento deste caso.
María José Atienza / Javier García Herrería-30 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 4acta
A sucessão de comunicados, afirmações e acusações que foram publicados nos últimos dias após a fuga de uma queixa contra o antigo arcebispo de Lima durante duas décadas, para além da necessidade óbvia de continuar a lutar contra esta realidade, realça a importância de uma gestão transparente por parte da Igreja nestes casos dolorosos.
Segue-se uma cronologia pormenorizada dos diferentes comunicados que tiveram lugar durante a última semana.
Sábado, 25 de janeiro de 2025
Publicação das acusações
O jornal El País refere que, em 2019, o Papa Francisco afastou o Cardeal Juan Luis Cipriani, antigo arcebispo de Lima e membro do Opus Dei, depois de ter sido acusado de abuso sexual a uma menor em 1983. A vítima, atualmente com 58 anos, que deseja manter o anonimato, afirma que os factos ocorreram quando tinha 16 ou 17 anos num centro do Opus Dei em Lima e consistiram em alguns toques.
Carta do Cardeal Cipriani
Poucas horas depois, Cipriani publicou uma carta negando categoricamente os factos e assegurando que nunca tinha cometido qualquer abuso sexual. Lamentou a divulgação de informações tão sensíveis e reiterou a sua unidade com o Papa Francisco.
Na sua carta, assinala que a queixa contra ele não lhe foi entregue e que não foi aberto qualquer processo contra ele, embora a Congregação para a Doutrina da Fé tenha imposto como medidas cautelares que ele vivesse fora do Peru e limitasse a sua atividade ministerial. Acrescenta ainda que, numa audiência com o Papa Francisco em fevereiro de 2020, foi autorizado a retomar parte da sua atividade sacerdotal (pregação de retiros, celebração pública dos sacramentos, etc.).
Comunicado do Opus Dei no Peru
No mesmo dia, o vigário regional do Opus Dei no Peru publicou um comunicado a pedir desculpa por não se ter encontrado com o queixoso de Cipriani quando este pediu uma audiência em 2018.
Explica que, como Cipriani estava a ser investigado pelo Vaticano, não tinha competência jurídica no caso e preferiu não interferir no processo para não causar interferências indesejáveis. No entanto, reconhece que poderia ter-lhe oferecido apoio pessoal e espiritual.
Esclarece também que não há registo de um processo formal contra Cipriani enquanto o cardeal estava incardinado na prelatura. O atual vigário regional sublinha que, nessa altura, não existiam protocolos tão rigorosos como os actuais, o que poderia ter permitido que as queixas não fossem registadas.
Salienta que todas as alegações seguem agora um procedimento claro e não se limitam a conversas privadas. Reafirma o seu empenhamento na prevenção, na melhoria do tratamento das queixas e na solidariedade para com as vítimas de abusos.
Domingo, 26 de janeiro de 2025
Declaração do Vaticano
Questionado por alguns meios de comunicação social, o porta-voz do Vaticano confirma que, em 2019, foram impostas medidas disciplinares ao Cardeal Cipriani devido a alegações de pederastia. Essas medidas incluíam a sua reforma, residência fora do Peru, proibição de declarações públicas e do uso de símbolos cardinalícios.
Assegura igualmente que as medidas cautelares continuam em vigor, o que é particularmente relevante pelo facto de Cipriani ter recebido, em 7 de janeiro de 2025, uma importante condecoração civil, a mais importante medalha de mérito da cidade de Lima.
Terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Comunicado do Arcebispo de Lima
O Arcebispo de Lima, Carlos Castillo, emite uma declaração de apoio às vítimas de pederastia e aos jornalistas que denunciam estes casos. Critica duramente aqueles que negam a verdade e rejeitam as decisões da Santa Sé, exortando-os a converterem-se e a abandonarem as justificações.
Não cita explicitamente Cipriani, mas a sua mensagem foi entendida como uma posição sobre o caso, tendo em conta o contexto da controvérsia.
Comunicado de imprensa da Conferência Episcopal Peruana
A Conferência Episcopal manifesta o seu pesar pelas notícias sobre o Cardeal Cipriani e lamenta o sofrimento da vítima e da comunidade eclesial. Os bispos peruanos valorizam a decisão do Papa Francisco, destacando a combinação de justiça e misericórdia nas medidas impostas e apelam às orações pelo queixoso, por Cipriani e pela Igreja, para que seja um espaço seguro de reconciliação.
Quarta-feira, 29 de janeiro de 2025
Carta de Cipriani ao Presidente da Conferência Episcopal Peruana
Na sequência das várias declarações sobre esta questão, o Cardeal Cipriani escreveu uma carta aos seus irmãos no episcopado peruano. Nela, reiterou a sua inocência e sustentou que tinha assinado as restrições impostas pelo Vaticano em 2019, declarando no mesmo ato que a acusação era falsa e que estava a obedecer por amor à Igreja. Insistiu que aceitou as medidas preventivas enquanto a verdade estava a ser esclarecida, embora afirme não ter podido defender-se.
Nesta carta, o antigo arcebispo de Lima durante duas décadas exprime a sua surpresa pelo facto de o episcopado peruano não ter respeitado a sua presunção de inocência perante as acusações e reitera a sua comunhão com o Papa e a sua fidelidade à Igreja.
Questões jurídicas e processuais
A chamada Caso Cipriani tem levantado várias questões desde que veio a lume, há menos de uma semana, e de uma forma completamente surpreendente. As dúvidas, expressas por vários meios de comunicação e instituições, começam pelo facto de o cardeal ter sido sancionado em 2019 sem ter tido um processo legal claro.
Até à data, o Vaticano não desmentiu o facto de o cardeal peruano não ter tido acesso à queixa, nem as condições em que Cipriani afirma ter assinado as restrições impostas. Há também quem aponte a "coincidência" de a fuga de informação sobre este caso ter ocorrido numa altura em que milhares de jornalistas estavam reunidos em Roma para a Jubileu dos Comunicadorescom acesso à Sala Stampa do Vaticano, que normalmente não está aberta nos dias feriados.
Embora o facto da queixa e as medidas disciplinares do Vaticano sejam confirmadas por ambas as partes, dá a impressão de que não houve uma investigação formal dos factos, nem um processo legal normalizado do caso, apesar de ter sido em 2019 que o processo canónico desta natureza foi clarificado pelo Vaticano. Vos estis lux mundi. Uma série de questões que dificultam a compreensão deste processo, que continua a suscitar dúvidas.
O autorMaría José Atienza / Javier García Herrería
A moralidade da IA depende das decisões humanas, afirma o Vaticano num novo documento
O Vaticano alerta para a utilização ética da inteligência artificial, recordando que esta deve servir o bem comum e não causar danos. Embora reconhecendo o seu potencial positivo, o documento insta a que a regulamentação assegure a dignidade humana e evite abusos.
Cindy Wooden-30 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 4acta
(OSV News). "O progresso tecnológico faz parte do plano de Deus para a criação", disse o Vaticano, mas as pessoas devem assumir a responsabilidade de usar tecnologias como a inteligência artificial (IA) para ajudar a humanidade e não prejudicar indivíduos ou grupos.
"Como em qualquer ferramenta, a AI é uma extensão do poder humano e, embora as suas capacidades futuras sejam imprevisíveis, as acções passadas da humanidade fornecem avisos claros", afirma o documento assinado pelos Cardeais Víctor Manuel Fernández, Prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, e José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação.
O documento, aprovado pelo Papa Francisco a 14 de janeiro e tornado público pelo Vaticano a 28 de janeiro, um dia depois do Dia Internacional da Memória do Holocausto, afirma que "as atrocidades cometidas ao longo da história são suficientes para suscitar uma profunda preocupação relativamente a possíveis abusos da IA".
Antiqua e Nova
Intitulado "Antiqua et Nova (Antiga e Nova): Uma Nota sobre a Relação entre a Inteligência Artificial e a Inteligência Humana", o documento centra-se especialmente na utilização moral da tecnologia e no impacto que a inteligência artificial já está a ter ou poderá ter nas relações interpessoais, na educação, no trabalho, na arte, nos cuidados de saúde, no direito, na guerra e nas relações internacionais.
A tecnologia de IA não é apenas utilizada em aplicações como o ChatGPT e os motores de busca, mas também na publicidade, nos automóveis autónomos, nos sistemas de armas autónomos, nos sistemas de segurança e vigilância, na robótica nas fábricas e na análise de dados, e mesmo nos cuidados de saúde.
Há mais de 40 anos que os Papas e as instituições do Vaticano, em particular a Academia Pontifícia das Ciências, acompanham e manifestam a sua preocupação com o desenvolvimento e a utilização da inteligência artificial.
"Como qualquer produto da criatividade humana, a inteligência artificial pode ser direcionada para fins positivos ou negativos", afirma o documento do Vaticano. "Quando utilizada de forma a respeitar a dignidade humana e a promover o bem-estar dos indivíduos e das comunidades, pode dar um contributo positivo para a vocação humana.
Decisões humanas
"No entanto, como em todos os domínios em que os seres humanos são chamados a fazer escolhas, também aqui paira a sombra do mal", afirmaram os dicastérios. "Onde a liberdade humana permite a possibilidade de escolher o que é errado, a avaliação moral desta tecnologia deve ter em conta a forma como é dirigida e utilizada."
São os seres humanos, e não as máquinas, que tomam as decisões morais, afirma o documento. Por isso, "é importante que a responsabilidade final pelas decisões tomadas com recurso à IA recaia sobre os decisores humanos e que haja responsabilização pela utilização da IA em todas as fases do processo de decisão".
O documento do Vaticano insiste que, embora a inteligência artificial possa realizar rapidamente algumas tarefas muito complexas ou aceder a grandes quantidades de informação, não é verdadeiramente inteligente, pelo menos não da mesma forma que o ser humano.
"Uma compreensão correta da inteligência humana não pode ser reduzida à mera aquisição de factos ou à capacidade de realizar tarefas específicas. Pelo contrário, implica a abertura de uma pessoa às questões últimas da vida e reflecte uma orientação para o verdadeiro e o bem.
O especificamente humano
A inteligência humana também envolve ouvir os outros, ter empatia com eles, construir relações e fazer julgamentos morais - acções que nem mesmo os programas de IA mais sofisticados conseguem realizar, diz ele.
"Entre uma máquina e um ser humano, só o ser humano pode ser suficientemente autoconsciente ao ponto de ouvir e seguir a voz da consciência, discernir com prudência e procurar o bem possível em cada situação", diz o documento.
Os dicastérios do Vaticano emitiram vários avisos ou advertências no documento, apelando aos utilizadores individuais, aos criadores e até aos governos para que exerçam controlo sobre a forma como a IA é utilizada e para que se comprometam "a garantir que a IA apoia e promove sempre o valor supremo da dignidade de cada ser humano e a plenitude da vocação humana".
Em primeiro lugar, observaram, "a personificação da IA deve ser sempre evitada; fazê-lo para fins fraudulentos é uma violação ética grave que pode corroer a confiança social. Do mesmo modo, a utilização da IA para enganar noutros contextos - como na educação ou nas relações humanas, incluindo na área da sexualidade - também deve ser considerada imoral e requer uma supervisão cuidadosa para evitar danos, manter a transparência e garantir a dignidade de todas as pessoas.
Novas discriminações
Os dicastérios alertaram para o facto de "a IA poder ser utilizada para perpetuar a marginalização e a discriminação, criar novas formas de pobreza, alargar o 'fosso digital' e agravar as desigualdades sociais existentes".
Embora a IA prometa aumentar a produtividade no local de trabalho "assumindo tarefas mundanas", de acordo com o documento, "muitas vezes obriga os trabalhadores a adaptarem-se à velocidade e às exigências das máquinas, em vez de as máquinas serem concebidas para ajudar quem trabalha".
Os pais, os professores e os alunos também devem ter cuidado com a sua dependência da IA, diz ele, e devem conhecer os seus limites.
"A utilização generalizada da IA na educação poderá aumentar a dependência dos estudantes em relação à tecnologia, prejudicando a sua capacidade de realizar algumas tarefas de forma autónoma e exacerbando a sua dependência dos ecrãs", afirma o documento.
E embora a IA possa fornecer informações, de acordo com o documento, não educa efetivamente, o que requer pensamento, raciocínio e discernimento.
IA e desinformação
Os utilizadores devem também estar conscientes do "sério risco de a IA gerar conteúdos manipulados e informações falsas, que podem facilmente induzir as pessoas em erro devido à sua semelhança com a verdade". Esta desinformação pode ocorrer de forma não intencional, como no caso da "alucinação" da IA, em que um sistema de IA generativo produz resultados que parecem reais mas não o são, uma vez que está programado para responder a todos os pedidos de informação, independentemente de ter ou não acesso a ela.
De acordo com o documento, a deturpação da IA também pode "ser intencional: indivíduos ou organizações geram e divulgam intencionalmente conteúdos falsos com o objetivo de induzir em erro ou causar danos, tais como imagens, vídeos e áudio. falso -referindo-se a uma representação falsa de uma pessoa, editada ou gerada por um algoritmo de IA.
As aplicações militares da tecnologia de IA são particularmente preocupantes, de acordo com o documento, devido à "facilidade com que as armas autónomas tornam a guerra mais viável", ao potencial da IA para eliminar a "supervisão humana" da utilização de armas e à possibilidade de as armas autónomas se tornarem objeto de uma nova "corrida ao armamento desestabilizadora, com consequências catastróficas para os direitos humanos".
Este artigo é uma tradução de um artigo publicado pela primeira vez no OSV News. Pode encontrar o artigo original aqui aqui.
Uma Missa para Tempos Difíceis: a Missa Nelson de Haydn
Ouvir a música composta para o ordinário da Missa por um grande compositor é sempre uma experiência que alimenta a fé e o prazer estético. Se o compositor é também um católico sincero, e a música se adapta de forma única a uma determinada situação espiritual e histórica, a audição da Missa torna-se uma interessante experiência espiritual e humana. Um bom exemplo disto é a "Missa de Nelson" de Franz Joseph Haydn.
Antonio de la Torre-30 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 5acta
Quando pensamos em grandes compositores católicos, encontramos alguns que são católicos apenas de nome, e outros que viveram uma autêntica vida de fé, devoção e prática dentro da Igreja. Destes últimos, um dos mais importantes é o austríaco Franz Joseph Haydn (1732-1809), o grande patriarca do classicismo musical vienense, que desenvolveu a parte mais importante da sua carreira musical no auge do Iluminismo secularista, na segunda metade do século XVIII. Numa época em que a fé católica era frequentemente associada, nos meios mais cultos, à superstição, ao obscurantismo e ao imobilismo cultural, surpreende-nos encontrar um verdadeiro católico entre os músicos mais equilibrados, luminosos e imaginativos do Século das Luzes.
Sem entrar nos pormenores pessoais da sua vida religiosa, deter-nos-emos num dos exemplos mais evidentes da sua fé: uma das missas pertencentes ao seu extenso catálogo de composições para a liturgia católica. Muitos dos seus contemporâneos dedicaram-se a este tipo de música, entre eles o seu grande amigo Mozart ou o seu irmão Michael Haydn, mas em nenhum deles encontramos a sinceridade de expressão, a ilustração da fé com a música e a serena dignidade do estilo litúrgico como em Franz Joseph Haydn.
Uma primeira série de oito missas foi composta entre 1749 (aos 17 anos, a primeira, dedicada a São João de Deus) e 1782 (aos 50 anos, composta para o santuário de Mariazeller). As suas obrigações para com o príncipe Esterhazy, seu patrono, e as suas deslocações a Londres para estrear a sua música, implicaram um longo interregno na sua dedicação à música litúrgica. Entre 1782 e 1795, dedicou-se intensamente a estes dois compromissos, e neste período desenvolveu maravilhosamente o seu estilo de composição para música de câmara e orquestra, ao ponto de ser considerado o pai do quarteto de cordas e da sinfonia, os dois géneros mais importantes em ambos os tipos de música.
Por isso, quando voltou a compor Missas em 1796, o seu estilo já estava maduro e o seu domínio da técnica orquestral era admirável, fazendo da sua última série de seis Missas, compostas entre 1796 e 1802, seguramente a mais importante coleção de música litúrgica católica do período clássico. O ritmo anual das Missas deve-se ao facto de cada uma ter sido composta para o dia do santo da sua padroeira e amiga Maria, esposa do Príncipe Nicolau de Esterhazy. Assim, para cada 12 de setembro, Haydn já tinha composto uma magnífica missa para ser executada na celebração litúrgica do nome de Maria. A terceira delas, composta em 1798, é possivelmente a melhor: a "Missa in angustiis", conhecida como a "Missa de Nelson".
Um salvador para as angústias difíceis
É surpreendente que uma missa composta para uma ocasião festiva tenha um nome tão dramático. As circunstâncias em que foi composta explicam, no entanto, o tom sombrio e perturbador sugerido pelo título, e também o aparecimento do almirante Horatio Nelson no título pelo qual é habitualmente conhecida. Em 1798, Haydn, com 66 anos, está a passar por momentos difíceis. A sua saúde deteriora-se cada vez mais (morrerá 11 anos mais tarde), e as suas forças esgotam-se com o tremendo trabalho envolvido na conclusão da sua obra-prima, a oratória "A Criação", estreada em abril de 1798. Por outro lado, o verão de 1798 foi muito duro para a Áustria e Viena, a sua cidade preferida, sucessivamente ameaçada e derrotada pelos exércitos revolucionários de Napoleão.
Como se isso não bastasse, a economia de guerra reduziu substancialmente o orçamento musical do Príncipe Esterhazy, que teve de prescindir de todos os instrumentistas de sopro (trompas, oboés, flautas, clarinetes e fagotes). Como são estes que dão cor à orquestra de Haydn, a Missa teve de ser composta para uma equipa algo obscura: apenas cordas, trompetes e tímpanos. O clima, sem dúvida, sugere em todas as suas dimensões uma angústia e uma preocupação muito fortes.
No entanto, pouco antes da estreia da Missa, a 1 de agosto de 1798, a frota inglesa, comandada por Lord Nelson, fez em pedaços a esquadra francesa na Batalha do Egito, desferindo assim o primeiro golpe mortal no expansionismo imparável de Napoleão. O nome do almirante tornou-se sinónimo de esperança contra os franceses e a sua figura ganhou imediatamente uma proeminência salvadora, como uma resposta divina à súplica de Haydn na sua Missa. Como se isso não bastasse, o próprio Nelson foi a Viena e ao palácio Esterhazy em 1800, e Haydn, bem conhecido do público inglês depois das suas viagens a Londres, terá executado em sua honra a Missa que compôs para esse momento de aflição e perigo. Desde então, é universalmente conhecida como a "Missa de Nelson".
Um apelo trémulo
O primeiro número da Missa, o "Kyrie", com os seus toques de trompete e tímpanos, escrito no sombrio modo de Ré menor, contém algumas invocações emocionantes do coro em uníssono, invocando a misericórdia divina em tempos sombrios. Isto está muito longe dos começos normalmente luminosos e luminosos das missas do período clássico, no modo maior e cheios de melodia e equilíbrio. Após um breve período imitativo no coro, uma arrepiante coloratura do soprano, o solo mais virtuoso da Missa, irrompe sobre as trombetas, gritando "eleison": tende piedade.
O "Gloria", por sua vez, é iniciado pelo soprano em Ré maior, num estilo mais convencional e luminoso, lembrando os melhores coros do oratório "A Criação". Intervenções solistas e corais conduzem a uma secção mais calma, em Si bemol maior, que é recriada com as palavras "qui tollis peccata mundi", "tu que tiras o pecado do mundo". O tom da oração cheia de fé é serenamente transparente nesta passagem luminosa, quente e harmoniosa no contexto de angústia e de contínuas alterações musicais. O baixo, outro solista virtuoso, acompanha o soprano neste maravilhoso dueto, completado por pequenas intervenções do coro e passagens solistas do órgão. O final do "Gloria" repete o seu início, traçando assim uma estrutura musical equilibrada, típica do classicismo vienense.
Da contemplação ao combate
A passagem central do "Credo" é uma das partes mais elaboradas e originais da "Missa de Nelson", na qual se percebe com que pormenor Haydn contempla musicalmente o dogma central da fé que professava de todo o coração: a encarnação, paixão, morte e ressurreição do Filho de Deus. De facto, após um início ligeiro, novamente em Ré maior, a música detém-se nas palavras "Ele desceu do Céu". Uma grande secção lenta, em sol maior, escrita apenas para cordas e soprano, ilustra docemente a encarnação do Filho de Deus.
Depois do eco do coro, a música passa à Paixão e morte de Jesus Cristo, acompanhada por toques de trompete e tímpanos, como num terrível cortejo fúnebre. O tom profundamente contemplativo, mas ao mesmo tempo de fé, desta passagem atinge um momento pungente quando a soprano, na recapitulação da Crucificação pelos solistas, repete três vezes "pro nobis": "por nós". Depois dela, apenas os violoncelos da orquestra acompanham em silêncio a memória do enterro de Cristo: "et sepultus est".
No final da Missa, antes de chegar ao solene "Agnus Dei", que culmina a Missa com um final triunfante em Ré maior, Haydn deixa na segunda parte do "Sanctus" (o "Benedictus") outro momento de inspirada originalidade. Aludindo àquele "que vem em nome do Senhor", compõe uma marcha militar em compasso 2/4, novamente na tonalidade sombria de Ré menor. Uma fórmula estranha para uma secção que, nas missas deste período, é geralmente composta no modo maior e num tom sereno e melodioso. Mas as circunstâncias assim o ditam: o salvador "que vem em nome do Senhor" terá de vir no meio da guerra e com um poder militar soberano para vencer as ameaças e ansiedades que dominam o ambiente. Se não podemos dizer literalmente que Lord Nelson foi a resposta a esta tremenda súplica, há que reconhecer que a sua figura se enquadra de forma marcante nas ansiedades e esperanças expressas por Haydn nesta magnífica Missa.
Em seguida, Eraldo Salmieri dirige a Filarmónica Eslovaca na sua interpretação da "Missa de Nelson".
Joseph Evans comenta as leituras da Apresentação do Senhor (C) para o domingo 2 de fevereiro de 2025.
Joseph Evans-30 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 2acta
A festa da Apresentação do Senhor é uma festa mais importante do que muitas vezes pensamos. De facto, em vários ritos e calendários, marca o fim da época natalícia. Por isso, não é de estranhar que continue a ser celebrada este ano, mesmo que caia num domingo.
A festa fala-nos de esperança, de coração, de desejo. Pensamos na esperança dos idosos Simeão e Ana, que esperavam "...".O consolo de Israel" y "a libertação de Jerusalém". Poderíamos contentar-nos com consolações mais insignificantes: algum prazer ou satisfação. Vemos mais claramente os desejos de Simeão quando ele fala de Cristo como "...".Salvador" y "uma luz para iluminar as nações e a glória do teu povo Israel". Isto é extraordinário. Perante a missão pública e o ensinamento de Cristo, este homem preocupa-se tanto com que a luz da fé chegue aos pagãos como com que Israel descubra a verdadeira glória de Deus, revelada em Jesus.
Trata-se de um homem guiado pelo Espírito Santo - diz-nos explicitamente o Evangelho -, um homem cujos desejos foram inspirados e modelados pelo Espírito, cujo coração foi formado pelo Espírito. E é por isso que ele é tão generoso e universal, até Católico. Numa época em que os judeus eram, em geral, fanaticamente contra os estrangeiros, eis um homem profundamente preocupado com a salvação de todos os homens, judeus e gentios.
O exemplo de Simeão chama-nos a ter um coração com grandes desejos: era um homem velho, mas o seu coração ardia com um desejo universal, a salvação de todos. De facto, os desejos mesquinhos impedem-nos de ver Cristo. Muitas outras pessoas estavam no Templo naquele dia, mas tinham ido provavelmente por razões menores: para a rotina, ou para marcar uma caixa, ou para serem vistas, ou para rezar pelo sucesso num negócio, ou para que os filhos casem e se saiam bem, e assim por diante. Estavam a procurar as coisas de Deus, não Deus. Procuravam as coisas de Deus, não o próprio Deus. É por isso que não reconhecem Jesus. O Senhor é reconhecido por aqueles que têm um grande coração e grandes desejos. Simeão está em relação com o Espírito Santo, é conduzido pelo Espírito. Encontrou Deus nos braços de um pobre aldeão, porque Deus se encontra na pobreza e nos pobres.
Anne encontrou Deus através da sua profunda vida de fé. Durante cerca de 60 anos, dedicou-se a "com jejum e oração noite e dia"no Templo. Foi uma busca profunda e sincera de Deus, que foi recompensada com o encontro com Cristo.
Papa destaca a confiança de São José em Deus e reza pela República Democrática do Congo
No ciclo dedicado a "Jesus Cristo, nossa esperança" deste Ano Jubilar, o Papa Francisco sublinhou hoje "o anúncio a José", a sua confiança em Deus e a sua atitude: José acredita, espera e ama. O Romano Pontífice rezou pelo fim da violência na República Democrática do Congo e felicitou milhões de famílias chinesas pelo Ano Novo Lunar.
Francisco Otamendi-29 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
Com uma visão mais uma vez universal, o Papa abordou um vasto leque de temas na Público desta quarta-feira: o Jubileu de esperança, o exemplo de São JoséAno Novo Lunar para os Famílias chinesasa sua recordação do vítimas de extermínio nos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial, o apelo ao fim da violência na República Democrática do Congo, a paz no mundo e a memória de São João Bosco no dia 31.
O tema central da sua catequese, centrada em Jesus Cristo, nossa esperança, e centrada na infância de Jesus, foi o anúncio do Anjo a São José e a sua resposta de fé.
"O seu amor foi posto à prova"
"José entra em cena no Evangelho de Mateus como o noivo de Maria. Para os judeus, o noivado era um verdadeiro vínculo jurídico, que preparava o que aconteceria cerca de um ano depois, a celebração do matrimónio", começou por dizer o Papa.
Foi nessa altura que José descobriu a gravidez de Maria "e o seu amor foi duramente posto à prova". Perante uma tal situação, que levaria à rutura do noivado, a Lei sugeria duas soluções possíveis: ou um ato jurídico público, como a citação da mulher em tribunal, ou um ato privado, como a entrega à mulher de uma carta de repúdio".
José confia
Mateus define José como um homem "justo" (zaddiq), um homem que vive segundo a Lei do Senhor, que se inspira nela em todas as ocasiões da sua vida". Num sonho, José ouve estas palavras: "José, filho de David, não tenhas medo de tomar contigo Maria, tua mulher. Ela dará à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mt 1,20-21).
Perante esta revelação, sublinhou o Papa, "José não pede mais provas, confia: José confia em Deus, aceita o sonho de Deus para a sua vida e a da sua prometida. Deste modo, entra na graça daqueles que sabem viver a promessa divina com fé, esperança e amor".
"Acreditar, esperar e amar", "obediência".
O Sucessor de Pedro continuou: "JoséEm tudo isso, ele não pronuncia uma palavra, mas acredita, espera e ama. Não fala com "palavras ao vento", mas com actos concretos. Pertence à raça daqueles a quem o apóstolo Tiago chama os que "põem em prática a Palavra" (cf. Tg 1, 22), traduzindo-a em actos, em carne, em vida. José confia em Deus e obedece: 'O seu estar interiormente atento a Deus... torna-se espontaneamente obediência' (Bento XVI, A infância de Jesus, Milão-Cidade do Vaticano 2012, 57)" (Bento XVI, A infância de Jesus, Milão-Cidade do Vaticano 2012, 57)".
Irmãs, irmãos, insistiu Francisco, "Peçamos também ao Senhor a graça de escutar mais do que falamos, a graça de sonhar os sonhos de Deus e de acolher responsavelmente Cristo que, desde o momento do nosso batismo, vive e cresce nas nossas vidas".
República Democrática do Congo: apelo à comunidade internacional
"Manifesto a minha preocupação com o agravamento da situação de segurança na República Democrática do Congo. Congo", revelou o Papa. "Exorto todas as partes em conflito a empenharem-se na cessação das hostilidades e a protegerem a população civil em Goma e noutras áreas afectadas pelas operações militares.
"Acompanho também com apreensão o que está a acontecer na capital, Kinshasa, esperando que todas as formas de violência contra as pessoas e os seus bens cessem o mais rapidamente possível. Ao mesmo tempo que rezo pelo rápido restabelecimento da paz e da segurança, apelo à população de Kinshasa para que apelo as autoridades locais e a comunidade internacional a fazerem tudo o que for possível para resolver a situação de conflitos por meios pacíficos".
Ano Novo Lunar: paz, serenidade e saúde
Dirigindo-se aos peregrinos de língua chinesa, o Papa recordou que - na Ásia Oriental e em diversas partes do mundo, milhões de famílias celebram hoje o Ano Novo Lunar, uma ocasião para viver mais intensamente as relações familiares e de amizade. Com os meus melhores votos para o Ano Novo, que a minha bênção chegue a todos vós, enquanto invoco do Senhor a paz, a serenidade e a saúde para cada um de vós.
Guardiães da verdade e da memória do extermínio na Segunda Guerra Mundial
Na sua saudação aos polacos, Francisco recordou "os vossos compatriotas que, juntamente com membros de outras nações, foram vítimas de extermínio nos campos de concentração alemães durante a Segunda Guerra Mundial".
"Sejam guardiães da verdade e da memória O Papa recordou a tragédia e as suas vítimas, entre as quais muitos mártires cristãos", disse. "Recordai o vosso constante empenho pela paz e pela defesa da dignidade da vida humana em todas as nações e religiões. Abençoo-vos de coração.
Aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II (1965-2025)
Seis décadas após o encerramento do Concílio Vaticano II, o seu legado continua a marcar a vida da Igreja e os seus desafios no século XXI. Perante as vozes que apelam a uma revisão ou mesmo a um novo concílio, é tempo de refletir sobre a aplicação dos seus ensinamentos e a sua relevância para a evangelização e a vida cristã de hoje.
Nos últimos anos, têm-se ouvido algumas vozes que pedem o arquivamento do Concílio Vaticano II e a convocação de um Concílio Vaticano III para repensar a situação da Igreja neste primeiro quartel do século XXI e repensar as estratégias e a comunicação para o milénio que agora começa.
Sem dúvida, todas as formulações de fé e todos os apelos à evangelização, dentro de alguns anos, precisam de ser reformulados, porque as expressões humanas decaem, esvaziam-se de conteúdo, tornam-se rotineiras e já não exprimem com vivacidade o conteúdo sempre perene da Revelação. Em todo o caso, como nos recorda a Carta aos Hebreus: "A palavra de Deus é viva e ativa, como uma espada de dois gumes, que penetra até ao fundo da alma" (Heb 4,12).
Na realidade, o que é preciso é invocar sempre de novo o Espírito Santo para que, a partir das formulações de fé aprovadas pelo magistério da Igreja, Ele ilumine o coração dos homens. Como São Paulo afirmava com vigor: "a letra mata, mas o espírito dá a vida" (2 Cor 3, 6).
Reler o Concílio Vaticano II
Ao reler a rica teologia contida nos documentos do Concílio Vaticano II, a primeira coisa que nos impressiona é a extraordinária frescura dos documentos, que foram escritos para transmitir com força a verdade sobre Jesus Cristo, a Igreja e o mundo.
Além disso, a teologia do laicado, as fontes da revelação, a liberdade de consciência, o princípio da liberdade religiosa, a dignidade da pessoa humana, o ecumenismo, o sacerdócio comum dos fiéis e tantas outras questões encheram de vitalidade a mensagem cristã para o final do século XX e o início do século XXI e anunciam que o Concílio Vaticano II ainda tem muita vida. São João Paulo II afirmou na Exortação "....Novo Milenio ineunte"O primeiro diálogo da Igreja com o mundo contemporâneo foi, sem dúvida, convidá-lo ao conhecimento e à amizade com Jesus Cristo, que é a santidade.
Os discursos de S. Paulo VI, há sessenta anos, eram de grande otimismo, pois ele esperava verdadeiramente uma nova primavera para a Igreja de Jesus Cristo nos anos vindouros.
Interpretações do Conselho
Como bem sabemos, o que aconteceu foi que, antes da chegada dos textos conciliares às igrejas particulares, houve uma deturpação das doutrinas conciliares promovida pelo chamado "fenómeno da contestação", como lhe chamou o Cardeal Ratzinger no seu famoso relatório sobre a fé, uma longa entrevista concedida ao famoso jornalista italiano Messori.
Anos mais tarde, como pontífice, Bento XVI referiu-se a esses anos duros e tristes da Igreja pós-conciliar e interpretou-os como "a hermenêutica da rutura", em oposição à hermenêutica da Tradição.
Sem dúvida, a hermenêutica da Tradição era a aplicação do autêntico concílio à vida da Igreja e a todas as suas instituições no mundo inteiro.
Apelo universal à santidade
A primeira e mais importante questão foi a da vocação universal à santidade (cf. Lumen Gentium" n. 40), que o Magistério soube, nos últimos anos, pôr em relação com o sacerdócio comum dos fiéis (cf. Catecismo n. 1456), pelo qual todos os cristãos descobriram a sua vocação à plenitude da santidade e às bem-aventuranças. Ao mesmo tempo, este sacerdócio comum exprimiu-se na importância da ação apostólica dos fiéis leigos para serem fermento nas massas e exercerem uma evangelização capilar no mundo, levando os valores do Evangelho e a notícia de Jesus Cristo a todos os homens.
Além disso, como afirma a "Gaudium et spes", os fiéis leigos são "a alma do mundo" (n.4) e, por isso, devem governar as suas famílias, a terra onde trabalham e todos os ambientes sociais e profissionais.
As viagens do Santo Padre São João Paulo II, Bento XVI e Papa Francisco percorreram o mundo inteiro e em muitas ocasiões. A presença do Romano Pontífice nos confins da terra, levando a chama do amor de Deus e do amor da Igreja, favoreceu a união das igrejas e, ao mesmo tempo, valorizou as tradições locais, para sermos um só povo com um só pastor.
Dignidade humana
Sem dúvida, as doutrinas conciliares sobre a dignidade da pessoa humana aumentaram ao revalorizar os direitos humanos, mas também os fundamentaram solidamente ao mostrar que se baseiam no homem como imagem e semelhança de Deus. Deus sendo na sua vida íntima relações subsistentes: relação subsistente de Paternidade, relação subsistente de Filiação e relação subsistente de Amor entre o Pai e o Filho.
Por conseguinte, o homem foi definido pelo Conselho como uma relação. Relação com Deus, em primeiro lugar, e relação com os outros. Partindo do amor de Deus, o homem é finalizado por Deus para amar na liberdade dos filhos de Deus. Assim, o homem, ao conhecer e amar Deus e os outros, está a amadurecer e a crescer.
A implementação do Conselho
Se lermos todas as Encíclicas e Exortações Apostólicas publicadas por S. João Paulo II, podemos constatar que o Concílio foi aplicado a todos os sectores da Igreja e a todas as facetas da vida da Igreja. Nenhuma questão ficou sem resposta: a Igreja, os mistérios da vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo, os anos dedicados à Trindade, à vida eucarística e penitencial. O Concílio fez realmente muita luz. Temos também o catecismo e o Código de Direito Canónico.
No domínio do ecumenismo, S. João Paulo II publicou uma encíclica fundamental, "Ut unum sint", que encorajava o povo cristão a conhecer e a apreciar a parte da revelação comum com os seus irmãos separados, a conhecer-se e a compreender-se mutuamente e, como afirmava a "Unitatis redintegratio": devemos trabalhar juntos pela caridade.
Na verdade, o sinodalidade que o Papa Francisco aplicou à vida da Igreja no terceiro milénio já tinha sido defendida pelos sínodos dos bispos que se realizaram de dois em dois anos em Roma, com representação da Igreja Universal, com os quais os vários pontífices romanos continuaram a aplicar o Concílio Vaticano II à vida da Igreja universal.
Joost Joustra: "As obras de arte têm tanto a dizer como os teólogos".
Nesta entrevista ao Omnes, Joost Joustra, professor no King's College de Londres, explora a relação entre arte e religião, argumentando que as obras produzidas por alguns artistas podem contribuir muito para a compreensão de questões teológicas.
Joost Joustra é um dos oradores que participam no 14º Seminário Profissional sobre Gabinetes de Comunicação da Igreja, que se realiza no final de janeiro de 2025, na Pontifícia Universidade da Santa Cruz. Atualmente, lecciona no King's College de Londres, onde ajuda os alunos a compreender a complexa relação entre o arte e religião.
Como definiria a interação entre religião e arte?
- Não é uma resposta fácil porque são dois temas muito abrangentes. Diria que, essencialmente, a relação entre religião e arte, ou especificamente entre cristianismo e arte, é que mesmo para pessoas que não se consideram crentes, há certas coisas com que se podem identificar nestas histórias que se encontram na Bíblia, por exemplo. A arte visual é uma forma muito acessível de entrar nesses temas.
Para dar um exemplo, trabalhei numa exposição sobre o tema do pecado e, como é óbvio, um dos temas importantes dessa exposição era a Queda da Humanidade e a história do livro do Génesis. E se for cristão ou judeu, conhecerá muito bem essa história, mas se não for, uma imagem de Adão e Eva mostrando alguma hesitação de Adão quando aceita o fruto pode tornar a história muito acessível. Em última análise, é esse o poder da arte quando se trata destes temas.
Qual é a relevância desta relação no contexto atual?
- Tradicionalmente, as igrejas são muito decoradas e as pessoas gostam de visitar estes locais, independentemente da sua fé, pelo que parece haver algum tipo de atração. Mesmo que as pessoas não tenham uma ligação pessoal com o aspeto religioso da arte, sentem-se atraídas por ela.
Como vê a evolução da arte religiosa e que tendências actuais lhe parecem particularmente significativas do ponto de vista teológico?
- Um bom exemplo, a que não gostaria de chamar "tendência", mas sim "preocupação", é o facto de as pessoas pensarem muito ativamente no ambiente, hoje em dia. Por exemplo, a exposição na Galeria Nacional sobre São Francisco de Assis. A relação de São Francisco com o ambiente e o facto de o Papa Francisco ter utilizado os seus escritos nos últimos anos é um bom exemplo de alguém que viveu há centenas de anos mas que ainda tem algo a dizer sobre o nosso momento atual.
Existem certos elementos ou símbolos recorrentes na arte que considera universais na representação do divino?
- Claro que estão em todo o lado. Podem ser muito explícitas, a imagem mais essencial do cristianismo pode ser Cristo na Cruz ou a Virgem com o Menino, mas as pessoas também encontram uma certa presença divina em pinturas abstractas. Mas as pessoas também encontram uma certa presença divina em pinturas abstractas. É necessário que a arte seja figurativa para transmitir um certo sentido de divindade? Penso que não. Os artistas podem fazer muitas coisas.
Que oportunidades existem atualmente para uma maior colaboração entre estes dois domínios nas próximas décadas?
- No meu trabalho quotidiano no King's College de Londres, apercebi-me de que o ensino é importante nesta relação. No King's College oferecemos um programa de mestrado em Cristianismo e Arte, o que significa que as pessoas se juntam e algumas delas podem ter formação em teologia e outras em história da arte. Mas todas elas se juntam devido a esse interesse comum.
Durante este percurso, os historiadores de arte familiarizam-se com a Bíblia e com certos conceitos religiosos, e os teólogos familiarizam-se com a visão.
Um desafio, que é também uma oportunidade, é o facto de termos de reintroduzir a imagem na religião. Desde a Reforma, estas imagens desapareceram um pouco, pelo menos nalgumas partes do mundo. Mas creio que as imagens e as obras de arte têm tanto a dizer como os textos e os teólogos.
Do ponto de vista da história da arte, como é que a representação de temas religiosos evoluiu ao longo dos anos?
- A arte cristã primitiva baseava-se em certos símbolos, como a cruz ou o peixe. Gradualmente, surgiu uma tradição, contaram-se histórias e a figuração e o naturalismo tornaram-se importantes. Em última análise, tratava-se de identificação, de pessoas que se identificavam com essas histórias. É por isso que o culto dos santos se tornou tão importante na Europa medieval.
O apogeu do Renascimento e o período da Contra-Reforma constituem o verdadeiro florescimento deste tipo de arte. Durante o Iluminismo, o interesse foi um pouco menor, mas mesmo quando se pensa nos grandes pintores e artistas do século XIX, há um grande interesse por estes temas que, mesmo que a representação mude, continuam a ser os mesmos.
São Tomás de Aquino, "lâmpada da Igreja e do mundo".
No dia 28 de janeiro a Igreja celebra São Tomás de Aquino, o Doutor Angélico. São Paulo VI chamou-lhe "a lâmpada da Igreja e do mundo inteiro". São João Paulo II, "mestre do pensamento". Bento XVI sublinhou a sua obra de "harmonia entre fé e razão", e o Papa Francisco encorajou-nos a colocarmo-nos "na sua escola" ao lançar três anos de celebrações.
Francisco Otamendi-28 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
A influência que a figura e a obra de São Tomás de Aquino (Roccasecca, 1225-Abadia de Fossanova(7 de março de 1274), com apenas 50 anos de idade, teve uma influência inquestionável no desenvolvimento do pensamento filosófico e teológico ocidental, não só para os "iniciados", a começar pela sua doutrina do ser, mas também na teologia trinitária. Este facto foi assinalado pelos Papas e por numerosos especialistas, como o Prefeito da Biblioteca do Vaticano, Mauro Mantovani, num dossier de Omnes na edição do verão de 2024.
Depois do aniversário da sua canonização em 2023 (700 anos) e da sua morte em 2024 (750), o aniversário do nascimento (800 anos) do sacerdote dominicano (Ordem dos Pregadores), patrono das universidades e escolas católicas (Leão XIII), chegou em 2025. O convite do Papa Francisco foi redescobrir através do trabalho de São ToméO tesouro que dele se pode retirar "para responder aos desafios culturais de hoje". São Tomás escreveu a "Summa Theologica" e é autor, por exemplo, das cinco vias filosóficas para demonstrar a existência de Deus.
O Dr. Mauro Mantovani, Lorella Congiunti e outros especialistas sintetizaram uma grande contribuição do sábio Aquino. Pode ser consultado em explicado Bento XVI em 2010: "Seguindo a escola de Alberto Magno, efectuou uma operação de importância fundamental para a história da filosofia e da teologia; diria mesmo para a história da cultura: estudou em profundidade a Aristóteles e seus intérpretes, obtendo novas traduções latinas dos textos originais gregos. (...) Tomás de Aquino mostrou que entre a fé cristã e a razão há uma harmonia natural (andam juntas). Esta foi a grande obra de São Tomás".
Estaremos já a viver uma etapa escatológica da história da salvação, com prenúncios da parusia? Enrique Cases reflecte sobre esta questão no seu último livro "O Evangelho Eterno".
Francisco Otamendi-28 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 5acta
O poder esmagador (da mensagem de Jesus) consistiu no facto de Jesus ter anunciado com autoridade o fim do mundo, a vinda do Reino de Deus", disse Joseph Ratzinger na sua obra "Escatologia. Morte e Vida Eterna" (1977), que Casos Enrique que cita na introdução do seu livro.
"No vigor desta esperança teria consistido a explosão, a novidade, a grandeza de Jesus, e todas as suas palavras devem ser interpretadas a partir deste centro. Para Jesus, o ser cristão resumir-se-ia nesta petição central do Pai-Nosso: "Venha a nós o Vosso Reino", petição que se situaria no desmoronamento do mundo e na irrupção do que só Deus pode fazer", acrescentou. Ratzinger.
A proclamação da vinda de Cristo no fim dos tempos
No entanto, "o escatologiacomo 'doutrina dos últimos dias', ocupou o último lugar nos tratados teológicos", e "durante séculos dormiu o sono dos justos". Só "recentemente, como consequência da crise histórica do nosso tempo, é que passou a estar no centro do pensamento teológico", analisou. aquele que mais tarde seria Bento XVI.
Casos Enrique, autor prolífico, que já abordou o tema da vida após a morte, reflecte sobre as etapas da história da salvação, e avançou o seu livro sobre "O Evangelho Eterno", considerando duas coisas:
1) Em primeiro lugar, "o anúncio da vinda de Cristo no fim dos tempos está contido em todas as manifestações da fé da Igreja, no testemunho dos Padres, na liturgia e no ensinamento do Magistério". E a ausência de uma reflexão teológica à altura da sua transcendência constituía um lamentável vazio. Hoje a situação mudou (,,.). O interesse pela parusia foi reavivado".
Como é o céu e como é o inferno?
Além disso, como reflexão adicional, o autor de "O Evangelho Eterno" (editado por ExLibric), ele dirá também: "Como é o Céu? É de grande interesse saber algo ou tudo sobre esta questão, pois ela é para sempre" (p. 140).
O mesmo se aplica ao infernoque o autor retira de S. João Bosco e de Santa Teresa de Jesus, mencionando também a visão em Fátima os três pastorinhos, e algumas outras pessoas, vários santos, que "o viram e o contam" (p. 149).
No entanto, o espaço dedicado ao Céu é muito superior, toda a segunda parte do livro, que relata um belo diálogo entre uma bem-aventurada mulher do Céu, de San Luis Potosí, com um leigo no México, intitulado "A Glória Acidental do Céu", que faz parte de "As Delícias do Além". A recomendação é que a leitura seja feita em apoio à fé e à esperança cristãs, sem se deixar distrair por pormenores pitorescos ou científicos.
O Evangelho Eterno
AutorCasos Enrique
Editorial: ExLibric
Número de páginas: 338
Língua: Inglês
Efeitos posteriores de dormência
Dissemos que o autor considera duas coisas. A segunda é a seguinte: 2) "As sequelas deste progressivo adormecimento da consciência escatológica deram um cunho negativo à conduta eclesial". Uma Igreja que já não se sente - mesmo que se saiba teoricamente - a comunidade dos que esperam a vinda do Senhor Jesus, "quase sem se aperceber disso, tenderá a instalar-se no mundo o mais comodamente possível", sublinha Enrique Cases (pp. 132-133).
"Só a memória inquietante da iminência da Parusia pode libertar a Igreja para uma função libertadora", acrescenta. Na chave de "uma Igreja convencida da proximidade real do Senhor, devemos colocar o papel dos sinais da Parusia".
Joaquim de Fiore e a história da salvação
Veremos quais são esses sinais de seguida. Mas antes, vale a pena recordar algumas das contribuições do abade cisterciense Joaquim de Fiore (1130-1202), analisadas pelo teólogo catalão.
Partindo da fé no Deus trino, Joaquim de Fiore deduz um desenvolvimento histórico em três etapas: a idade ou época do Pai, o tempo entre Adão e Cristo (Antigo Testamento); a idade do Filho, que começa com Jesus, o Messias, e continua com a Igreja, e que termina com a sua segunda vinda ou Parusia; e a idade do Espírito Santo, que termina com a vinda final de Cristo, o fim dos tempos.
A idade do Espírito Santo
O autor dedica ao Espírito Santo vários capítulos que foram saltados, nomeadamente à medida que o livro avança. Na Última Ceia, Jesus anuncia aos Apóstolos que lhes enviará o Espírito Santo, "que os conduzirá à verdade". No Pentecostes, vemos "parte dessa ação".
Na idade do Filho, esta ação é "muito intensa na santidade individual, nos contemplativos, nos dons, nas fundações, nas iniciativas apostólicas, nas conversões, na eficácia dos sacramentos... "Mas na próxima idade será mais intensa".
Igreja de Pedro-Igreja de João, os leigos
Na era do Espírito Santooutros dons são-lhe atribuídos: inspirações, carismas (há um outro capítulo dedicado a eles), impulsos divinos, luzes, conversões fervorosas, perdão, regeneração ("o grande dom deste tempo, seguindo S. Paulo: 'Nem todos morreremos, mas todos seremos transformados'"), renovação e santificação, "conduzindo a Igreja, que pode ser chamada de Igreja de João, sem deixar de ser a Igreja de Pedro", sublinha o livro.
Nos primeiros dois mil anos da Igreja, "o papado foi o fundamento da fé", reflecte o autor, e "o prestígio da Igreja estava sobretudo nos monges e religiosos", com uma atividade contemplativa, civilizadora, formativa e apostólica. Mas no milénio após a Segunda Vinda, "na era do Espírito Santo, estender-se-á aos leigos, como se pode ver já no século XX numa multiplicidade de movimentos, fundações e novos caminhos, unindo trabalho e oração, família e oração, ciência e oração, cultura e oração", escreve o professor de Barcelona.
Parâmetros da segunda vinda de Cristo
Antes desta era do Espírito Santo, o milénio, haverá o fim da era do Filho, a segunda vinda de Jesus, anunciada por ele próprio., "entre o nascimento e o Juízo Final".
Nestas páginas, o autor reflecte sobre Mateus 24, "no qual Cristo anunciou muitos dos sinais que precedem a segunda vinda, juntamente com os seus paralelos Marcos 13 e Lucas 21", e um apelo à vigilância, "porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor".
Muitas das promessas anunciadas pelos profetas "não se cumpriram na era do Filho, como a imortalidade, a paz, a conversão dos judeus...", mas "a Palavra de Deus é infalível, o que significa que se cumprirão no futuro, após a segunda vinda de Cristo". Enrique Cases entra aqui nos tempos da segunda vinda e nos sinais, embora deixemos para o leitor a sua reflexão sobre os mil anos, o milenarismo. "Seis vezes (o Apocalipse) diz que o Reino de Cristo durará mil anos" (Apocalipse 20).
Tempo da Segunda Vinda
Quando será esta segunda vinda de Jesus e o início do milénio? Esta pergunta já foi feita a Jesus pelos discípulos. Não sabemos nem o dia nem a hora, mas estão profetizados sinais que a precedem, como a estrela o foi para os magos com a sua ciência astronómica" (p. 87). E quando Jesus subiu ao Céu na Ascensão, dois homens vestidos de branco disseram: "Galileus (...), o mesmo Jesus que foi tirado do meio de vós e levado para o Céu, voltará como o vistes ir para o Céu" (p. 87).
Sinais pormenorizados
Necessariamente sintetizado, o autor menciona estes "sinais pormenorizados" que precederão a segunda vinda (os sinais citados e os comentários são textual do livro):
– "Afastamento de Satanás e dos seus (…). –Pregar o Evangelho a todo o mundo. – Regresso das doze tribos a Jerusalém (concluído em 1948). Grande apostasia. Nós estamos nele. - Grande Tribulação. Nós estamos nele. -Guerras. Estamos neles mas, segundo os profetas, virão mais e mais mortais. -Perseguição dos cristãos (…). –Confusão. Aparecerão muitos falsos profetas e enganarão muita gente. -Aumento dos pecados (Os pecados desta era são avassaladores, leis anti-Deus, abortos aos milhões, blasfémias, satanismos. Quando se vê a abominação da desolaçãoanunciado pelo profeta Daniel (...). O sinal que precede a vinda de Cristo pode ser a supressão da Eucaristiao sacrifício perpétuo. Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas.; (...)".
O apóstolo Paulo acrescentou a estes sinais, na sua primeira carta aos Tessalonicenses, "...".apostasia y o Anticristo".
O Reino Eucarístico
Outra contribuição do livro sobre "a vinda intermédia de Cristo entre o nascimento de Jesus e o Juízo Final" é o conceito de que "o tempo intermédio será eucarístico", diz Santo Ireneu de Lião. De facto, entre as caraterísticas do milénio seguinte, o autor sublinha, em primeiro lugar, o "reino eucarístico". "Jesus Cristo instituiu a Eucaristia para perpetuar a sua visibilidade para o homem. Deus quer prolongá-la no tempo. Para o efeito, faz do homem a Eucaristia viva".
Perante uma série de ordens executivas emitidas pelo Presidente Donald Trump no primeiro dia do seu mandato, os bispos norte-americanos expressaram a sua rejeição de políticas contrárias à lei moral. Em duas declarações, o Bispo Timothy P. Broglio, presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) e o Bispo Mark J. Seitz de El Paso, presidente do Comité de Migração da USCCB., O Papa Francisco, em nome da Igreja Católica, declarou: "Os ensinamentos da Igreja reconhecem o direito e a responsabilidade de um país de promover a lei e a ordem, a segurança e a proteção através de fronteiras bem reguladas e de limites justos à imigração. No entanto, como pastores, não podemos tolerar a injustiça e sublinhamos que o interesse nacional não justifica políticas com consequências contrárias à lei moral".
Os bispos também rejeitam a utilização de epítetos para desqualificar os indocumentados: "A utilização de generalizações para denegrir qualquer grupo, por exemplo, descrevendo os imigrantes indocumentados como 'criminosos' ou 'invasores', para os privar da proteção da lei, é uma afronta a Deus", afirmam os bispos.
Entre as ordens executivas assinadas pelo Presidente dos EUA encontram-se as que dizem respeito ao fim do direito de asilo, à declaração de uma "emergência fronteiriça" com o México e à "selagem" da fronteira para "repelir a invasão que inclui migração ilegal em massa, contrabando de droga, tráfico de seres humanos e outras actividades criminosas". Dois outros decretos ordenam deportações em massa, a suspensão do programa de admissão de refugiados e a reimplementação do programa "Fique no México". MéxicoOs "requerentes de asilo esperam nesse país enquanto o seu caso está a ser tratado, o que pode levar meses ou anos até estar concluído.
A rejeição da USCCB
Em resposta a estas disposições, os bispos dos EUA afirmam: "Embora a ênfase no combate ao tráfico de seres humanos seja bem-vinda, várias das ordens executivas assinadas pelo Presidente Trump esta semana visam especificamente desmantelar as protecções humanitárias consagradas na lei federal e minar o devido processo, sujeitando famílias e crianças vulneráveis a graves perigos. O destacamento indefinido de meios militares para apoiar a aplicação civil da lei da imigração ao longo da fronteira entre os EUA e o México é especialmente preocupante".
Os prelados apelam ao Presidente dos EUA para que reconsidere as novas disposições, especialmente as que dizem respeito aos migrantes e refugiados, ao ambiente, à pena de morte e à assistência financeira externa: "Esperamos que reconsidere as disposições que ignoram não só a dignidade humana de alguns, mas de todos nós. Exortamos o Presidente Trump a abandonar estas políticas de aplicação da lei e a adotar soluções justas e misericordiosas, trabalhando de boa fé com os membros do Congresso para alcançar uma reforma significativa e bipartidária da imigração que promova o bem comum com um sistema de imigração eficaz e ordenado", disse o Bispo Broglio. Os bispos comprometeram-se a apoiar os imigrantes "de acordo com o Evangelho da Vida".
Cuidados genuínos
No entanto, os purpurados sublinham que nem todas as novas ordens emitidas por Trump são negativas, algumas podem ser vistas de forma mais positiva, como a disposição que reconhece, a nível federal, que só existe homem ou mulher e nenhum outro "género".
As nossas acções, diz o Bispo Broglio, devem mostrar uma "preocupação genuína pelos nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis, incluindo os não nascidos, os pobres, os idosos, os doentes, os migrantes e os refugiados. O justo Juiz não espera outra coisa.
O Papa manifesta também a sua preocupação
Não só os bispos da Igreja manifestaram a sua grande preocupação ao líder norte-americano, mas também o Papa Francisco, que disse no domingo, 19 de janeiro, numa entrevista televisiva, que uma deportação em massa nos EUA seria uma "desgraça" porque "faz com que os pobres paguem os custos do desequilíbrio". Membros de outras denominações cristãs também expressaram ao Presidente Trump a sua consternação com as novas disposições em matéria de imigração.
As deportações em massa causarão também grandes problemas às cidades fronteiriças mexicanas, muitas das quais já não têm capacidade logística para acolher mais pessoas que procuram chegar aos Estados Unidos. Para atenuar o problema, o México implementou um programa denominado "O México abraça-te", apenas para cidadãos mexicanos, ao abrigo do qual será prestada assistência aos deportados. Além disso, a rede de 50 consulados mexicanos está em alerta para prestar assistência aos seus concidadãos.
Fé intransigente nos campeonatos de futebol universitário
Atualmente, a maior novidade no campeonato nacional de futebol não é o facto de a Universidade de Notre Dame ter perdido com o Estado de Ohio por 34-23. Foi o facto de a rivalidade existente ter dado lugar a uma demonstração descarada de fé cristã por ambas as equipas, no campo e nas conferências de imprensa.
OSV / Omnes-27 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
Numa cultura cujos líderes procuram frequentemente relegar a crença religiosa para o domínio privado e marginalizar as expressões de fé, o confronto do campeonato nacional de futebol americano universitário entre Notre Dame e Ohio State mostrou uma história diferente.
A demonstração sem pudor da fé cristã de ambas as equipas - no campo, em conferências de imprensa e através de testemunhos pessoais - constituiu um lembrete refrescante de que a fé não deve ser escondida, mas vivida corajosamente no espaço público.
Aproximarmo-nos de Jesus
"Por muito bom que seja estar neste pódio, há muitas coisas na vida que aprecio um pouco mais", disse o quarterback de Notre Dame (líder ofensivo da equipa), Riley Leonard, durante uma conferência de imprensa antes do jogo. "Como, antes de mais, a minha relação com Cristo.
TreVeyon Henderson, do Estado de Ohio, publicou no X dias antes do campeonato: "Não temos de ter medo de nos aproximarmos de Jesus, Ele sabe o que fizemos e mesmo assim escolheu morrer por nós porque nos ama. Põe a tua fé em Jesus e Ele salvar-te-á do pecado e dar-te-á uma vida nova e eterna. Não tenhas medo, segue Jesus".
Uma verdade que transcende o futebol
Estes atletas estão a usar as suas plataformas para proclamar uma verdade que transcende o futebol: que Deus é real, ativo e central nas suas vidas. O seu testemunho é mais do que um sentimento pessoal; é um apelo a uma sociedade que precisa de esperança.
Esta manifestação pública de fé é particularmente notável, tendo em conta o clima cultural em que, nos últimos anos, as expressões do cristianismo têm sido recebidas com ceticismo ou hostilidade total.
Durante décadas, assistimos a uma tendência crescente para confinar a fé à vida pessoal, como se ela não tivesse lugar para além das nossas igrejas ou das nossas casas. No entanto, em alturas como esta, somos recordados de que a fé não é apenas uma questão de convicção pessoal, mas molda tanto os indivíduos como as instituições, comentaram.
Cultura Notre Dame
Notre Dame, uma universidade católica, tem uma longa tradição de promover o crescimento espiritual juntamente com a excelência desportiva. O treinador Marcus Freeman, que restabeleceu a tradição da missa antes do jogo e fala abertamente da sua própria conversão ao catolicismo, compreende que a verdadeira liderança exige que se guiem os jovens para que cresçam na sua fé.
"Tenho uma fé muito forte", disse Freeman numa conferência de imprensa antes do campeonato. "E muitas vezes falamos em confiar para além de ter provas, confiar para além de saber, que é outro lema para ter fé. E não temos vergonha de fazer isso".
No público Ohio State, também
A Universidade do Estado de Ohio, embora pública, também abraçou a fé de uma forma notável. No ano passado, liderado em parte por jogadores de futebol americano dos Buckeyes, o campus foi palco de dezenas de baptizados e de muitos outros inspirados a procurar Cristo. As histórias de colegas de equipa que se reuniram para estudar a Bíblia e rezar antes dos jogos demonstram que a fé está a florescer hoje em dia em lugares onde não se esperaria que estivesse.
"Somos fortalecidos na fé ao virmos ao jogo".
Nos seus comentários após o jogo, Riley Leonard elogiou a cultura de fé presente em ambas as equipas. "Ohio State e nós, em Notre Dame, somos as duas equipas que mais louvam Jesus Cristo", disse Leonard. "Penso que nos fortalecemos mutuamente na nossa fé ao virmos a este jogo e competirmos uns contra os outros. Por isso, fico feliz em ver homens de Deus serem bem-sucedidos, independentemente das circunstâncias."
Este ano, o campeonato nacional será mais do que uma celebração da excelência atlética, dizem vários jogadores. A fé, quando vivida de forma autêntica e pública, pode mudar vidas e transformar a cultura. No final, a conversão de corações e mentes é a maior vitória.
Ohio State venceu, mas Notre Dame orgulhou-se
A busca de Notre Dame pelo 12º título nacional terminou em desilusão com uma derrota para Ohio State no Estádio Mercedes-Benz em Atlanta. No entanto, o treinador Marcus Freeman e os capitães Riley Leonard e Jack Kiser elogiaram a perseverança e a convicção da sua equipa. "É um momento difícil", disse Freeman, que acrescentou sobre a equipa: "Estou orgulhoso deles e do que fizeram".
Leonard agradeceu a Jesus Cristo e destacou as Escrituras que o inspiraram, incluindo Mateus 23:12 e Provérbios 27:17. Reconheceu a sua desilusão, mas agradeceu aos treinadores e jogadores da Notre Dame por terem ajudado na sua jornada. Kiser disse: "São as pessoas que tornam este lugar diferente.
O dia 27 de janeiro marca o 80º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, um dos símbolos mais dolorosos do Holocausto.
Ao longo dos anos, o local foi visitado por três Papas que, com a sua presença, prestaram homenagem às vítimas e reafirmaram o empenhamento da Igreja na memória e na reconciliação. João Paulo II, Bento XVI e Francisco percorreram o terreno de Auschwitz, cada um com a sua mensagem de reflexão, de condenação do horror e de apelo à paz, sublinhando a importância de não esquecer os trágicos acontecimentos que marcaram a história da humanidade.
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Santa Ângela Merici, e os Santos Timóteo e Tito, ontem
No dia 27 de janeiro, a Igreja celebra a italiana Santa Ângela Merici (séculos XV-XVI), fundadora da Ordem das Ursulinas, cuja padroeira é Santa Úrsula, virgem mártir do século IV. Ontem, domingo, dia 26, comemoraram-se os Santos Timóteo e Tito, bispos e discípulos de São Paulo. A conversão do apóstolo foi celebrada no sábado.
Francisco Otamendi-27 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
Santa Ângela Merici nasceu por volta de 1474 em Desenzano, no norte de Itália. A família reunia-se à noite para ouvir o seu pai, João, ler a vida dos santos. Graças a essas leituras, Angela começou a cultivar uma devoção especial a Santa Úrsula, uma jovem martirizada no século IV, juntamente com as suas companheiras. Aos 15 anos, perdeu prematuramente a irmã e o pai, e tornou-se terciária franciscana.
Em 1535, juntamente com vários colaboradores, Santa Ângela fundou a "Companhia das Menores de Santa Úrsula" (não usavam o hábito monástico tradicional), que deixaram a clausura para se dedicarem à educação e a formação das jovens, em obediência ao bispo e à Igreja. Ela nome é agora União Romana da Ordem de Santa Úrsula.
Os Santos Timóteo e Tito, cuja memória foi celebrada ontem, 26 de janeiro, na sequência da conversão de São Paulo, foram discípulos e colaboradores do apóstolo. Nomeados por ele, assistiram-no no seu ministério como bispos de Éfeso (o primeiro) e de Creta, respetivamente, e ele chama-lhes "filhos na fé". St. Paul's a eles, duas cartas a Timóteo e uma a Tito, que estão incluídas no Novo Testamento, que contêm dicas para a sua tarefa de pastores na Igreja, como a defesa da sã doutrina, e com alusões pessoais de afeto.
A esperança cristã desde a Bula "Spes non confundit".
A Bula "Spes non confundit" desenvolve uma profunda reflexão sobre a esperança cristã, apoiada sobretudo nos Paulinos. Este documento destaca o amor de Deus, a centralidade de Cristo e a força da esperança perante as tribulações, convidando os fiéis a viverem esta virtude como fonte de transformação espiritual e comunitária.
Rafael Sanz Carrera-27 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 5acta
Neste Ano Santo da Esperança, inaugurado pelo Papa Francisco, a Igreja convida-nos a refletir sobre esta virtude teologal fundamental. Um dos principais instrumentos para esta reflexão é a bula papal "O Ano Santo da Esperança".Spes non confundit"Este documento apresenta uma profunda meditação teológica sobre a esperança cristã, apoiada por uma cuidadosa seleção de textos bíblicos, especialmente das cartas paulinas.
Se eu fosse avaliar a percentagem de influência que as citações bíblicas têm na composição do documento, estimaria que é de cerca de 70-80%. Pode parecer exagerado, mas baseei esta avaliação na forma como o documento interpreta e aplica os ensinamentos bíblicos ao contexto do Jubileu; na utilização frequente e direta de citações para fundamentar os pontos principais; na estrutura do documento, que segue de perto os ensinamentos bíblicos sobre a esperança; e, finalmente, na linguagem e nos conceitos utilizados, que estão fortemente enraizados na tradição bíblica. Tentarei demonstrá-lo neste artigo.
A Escritura em "Spes non confundit"
O documento apresenta uma seleção de passagens bíblicas que formam um esquema temático claro sobre a esperança. As principais citações e o seu contexto teológico são apresentados de seguida:
Romanos 5,5E a esperança não será desiludida, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". Esta passagem sublinha a certeza da esperança cristã, baseada no amor divino comunicado pelo Espírito Santo.
João 10,7.9Por isso, Jesus voltou a dizer: "Em verdade vos digo que eu sou a porta das ovelhas". [...] "Eu sou a porta. Quem entrar por mim salvar-se-á; poderá entrar e sair e encontrar o seu alimento". Estas palavras de Jesus põem em evidência o seu papel de único meio de salvação, fundamento essencial da esperança cristã.
1 Timóteo 1,1Paulo, apóstolo de Cristo Jesus, por ordem de Deus, nosso Salvador, e de Cristo Jesus, nossa esperança". Este texto sublinha o carácter cristocêntrico da esperança, apresentando Cristo não só como o seu fundamento, mas também como a sua personificação.
Romanos 5,1-2.5Sendo, pois, justificados pela fé, estamos em paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo. Por ele alcançámos, pela fé, a graça em que estamos firmados, e por ele nos alegramos na esperança da glória de Deus. [...] E a esperança não será frustrada, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado". Esta passagem integra a esperança como fruto da justificação e a paz com Deus que ela gera.
Romanos 5,10Porque, se nós, enquanto inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho, muito mais agora, que estamos reconciliados, seremos salvos pela sua vida". Aqui, a esperança na salvação é reforçada como um dom resultante da reconciliação com Deus.
Romanos 8,35.37-39Quem, pois, nos poderá separar do amor de Cristo? a tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? mas em todas estas coisas alcançámos uma grande vitória, por causa daquele que nos amou. Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o porvir, nem as potestades espirituais, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, manifestado em Cristo Jesus nosso Senhor". Esta passagem sublinha a indestrutibilidade do amor divino que fundamenta a esperança.
Romanos 5,3-4Além disso, gloriamo-nos até nas próprias tribulações, pois sabemos que a tribulação produz a firmeza; a firmeza, a virtude provada; a virtude provada, a esperança". Este versículo sublinha como as provações e tribulações reforçam e aperfeiçoam a virtude da esperança.
2 Coríntios 6,3-10Embora não seja citada literalmente, esta passagem descreve as dificuldades que os cristãos enfrentam ao seguir Cristo, juntamente com a profunda alegria e riqueza espiritual que geram.
Romanos 15,5Que o Deus da constância e da consolação vos conceda ter os mesmos sentimentos uns para com os outros, a exemplo de Jesus Cristo". Aqui se sublinha a importância da unidade e da consolação mútua na comunidade cristã como fruto da esperança.
1 Tessalonicenses 1,3Recordamos sem cessar a obra da sua fé, o trabalho do seu amor e a constância da sua esperança em Nosso Senhor Jesus Cristo diante de Deus nosso Pai". Este texto associa a esperança ao esforço perseverante e ao amor na vida cristã.
Esboço teológico da esperança
A partir das citações bíblicas contidas no documento, podemos formar um esquema teológico que ilumina as principais dimensões da esperança cristã:
1. fundamento da esperança
O amor de Deus (Romanos 5,5).
A fé em Cristo (Romanos 5,1-2).
A ação do Espírito Santo (Romanos 5,5).
2. Cristo no centro
Cristo é a "Porta" da salvação (João 10,7.9).
Cristo é a nossa esperança (1 Timóteo 1,1).
3. Efeitos da esperança
Paz com Deus (Romanos 5,1).
Gloriar-se nas tribulações (Romanos 5,3-4).
Perseverança (Romanos 5,3-4).
4. Segurança da esperança
A esperança não desilude (Romanos 5,5).
Baseia-se na reconciliação com Deus (Romanos 5,10).
Nada nos pode separar do amor de Deus (Romanos 8,35.37-39).
5. Viver na esperança
Firmeza e conforto (Romanos 15,5).
Fé, esperança e amor em ação (1 Tessalonicenses 1,3).
Consequências espirituais
A partir do esboço de citações bíblicas apresentado, podemos tirar importantes conclusões espirituais e aplicações que evidenciam o alcance teológico e prático da esperança cristã:
Uma esperança fundada no amor de Deus A citação central de Romanos 5,5, "A esperança não será desiludida", constitui o eixo temático do documento, sublinhando que a esperança cristã não se baseia em expectativas humanas, mas no amor de Deus derramado nos corações pelo Espírito Santo. Este amor divino é a garantia da solidez da nossa esperança e da sua capacidade de nos sustentar em todos os momentos.
O carácter cristocêntrico da esperança A reflexão bíblica sublinha que Cristo não é apenas o objeto da nossa esperança, mas também o seu fundamento e personificação. A metáfora de Jesus como "porta das ovelhas" (João 10,7.9) e a afirmação de que Cristo é "a nossa esperança" (1 Timóteo 1,1) reforçam a ideia de que a salvação e a plenitude só podem ser alcançadas nele.
A justificação e a reconciliação como base da esperança A ligação entre a justificação pela fé, a reconciliação com Deus e a esperança (Romanos 5,1-2.5) sublinha que esta virtude não é uma ideia abstrata, mas uma realidade profundamente enraizada na obra salvífica de Cristo. A paz com Deus e a promessa da glória divina são os pilares sobre os quais assenta a esperança do crente.
Esperança no meio das tribulações Um ensinamento fundamental do documento é a capacidade da esperança de florescer nas dificuldades. De acordo com Romanos 5:3-4, as tribulações fortalecem a firmeza, que por sua vez fortalece a virtude da esperança. Esta abordagem paulina, complementada por 2 Coríntios 6,3-10, oferece uma visão da esperança como uma força robusta que não só persiste no sofrimento, como é aperfeiçoada através dele.
A indestrutibilidade do amor divino Romanos 8:35,37-39 sublinha que nada nos pode separar do amor de Deus em Cristo Jesus. Esta certeza fornece uma base inabalável para a esperança, mesmo perante as provações mais severas, mostrando que a esperança cristã é imutável porque está enraizada na fidelidade divina.
Conclusão
A análise das citações bíblicas no ".Spes non confunditA "Teologia da Esperança" revela uma teologia da esperança ao mesmo tempo profunda e prática. Esta virtude, ancorada no amor de Deus, encontra em Cristo o seu centro e o seu garante, e destina-se a sustentar o crente no meio das tribulações e a fortalecer a sua vida espiritual.
Neste Ano Santo da Esperança, o Papa Francisco convida-nos a redescobrir esta virtude teologal como uma força transformadora, capaz de renovar os corações e as comunidades. Num mundo que enfrenta incertezas e desafios, a mensagem é clara: em Cristo, a esperança não desilude, mas inspira, sustenta e dá vida.
Edith Stein é conhecida pelas suas caraterísticas biográficas, mas dificilmente pela sua relevante contribuição intelectual em metafísica, antropologia e espiritualidade.
Edith Stein (1891-1942) era a filha mais nova de uma família judaica de onze irmãos (embora dois tenham morrido muito jovens). O seu pai morreu quando ela tinha apenas dois anos de idade (1893). A sua mãe, uma verdadeira personagem, sustentava a família gerindo a serração em Breslau (atualmente Wroclav, Polónia).
Ele conta a história na sua autobiografia, intitulada Sobre a vida de uma família judiatraduzido para inglês por Estrelas amarelas. O livro, para além do aspeto pessoal, pretendia mostrar como era uma família judia alemã, quando esta estava a ser desafiada pela ascendência nazi (1933-1935).
Da sua educação, basta destacar a sua precocidade e as boas notas que obteve na infância e na juventude. Uma crise existencial aos 15 anos afasta-o dos estudos durante quase um ano. Surge então o desejo de estudar filologia e filosofia germânicas, começando em Breslau (1911-1912).
Edith Stein no movimento fenomenológico
Tendo ouvido falar da nova filosofia de Husserl em Göttingen, muda-se para lá (por generosidade da mãe). Participou no chamado Círculo de Göttingen (1912-1917) dos primeiros discípulos de Husserl, em torno do seu assistente, Von Reinach, e foi amigo íntimo de Edith, bem como de outros membros, como Romann Ingarden (que foi seu pretendente), o casal Conrad-Martius e Max Scheler, que a visitava com frequência e exerceu grande influência sobre ela.
Quando Husserl se mudou para Freiburg, ela acompanhou-o, apresentou a sua tese sobre a empatia (1917) e foi nomeada assistente de Husserl (1917-1918). Isto permitiu a Husserl editar o segundo volume da sua obra Investigações lógicas e outros textos importantes. Aí conheceu Heidegger (1889-1976), que também tinha entrado como assistente de Husserl (mas como bolseiro). Ficou impressionada com a sua capacidade, mas também notou que ele se estava a afastar da fé cristã, tal como ela se estava a aproximar dela. Edith foi baptizada em 1922. Heidegger, que tinha sido seminarista (1903-1911) e beneficiado de bolsas de formação em filosofia cristã (1910-1916), casou com Elfride, protestante, em 1917; não baptizou o seu primeiro filho em 1919; e começou a ganhar fama e a associar-se a algumas alunas (Elisabeth Blochmann, Hannah Arendt).
Edith, depois de ter colaborado durante cinco anos na investigação fenomenológica e de ter escrito alguns artigos (1917-1922), viu que não ia ter lugar no ensino universitário. Husserl não se atreveu a propô-lo e Heidegger deu-lhe a entender que não tinha futuro. Passou a ensinar num colégio católico em Speyer (1922-1932). E teve a oportunidade de ensinar antropologia durante um curso numa escola católica de formação de professores (1932-1933). É daí que nasce o seu livro sobre A estrutura da pessoa humana.
A subida dos nazis ao poder (1933) impediu-o de continuar a ensinar, pelo que realizou a sua antiga aspiração de entrar para o mosteiro carmelita de Colónia. Aí, por obediência, terminou o seu grande livro sobre metafísica, Ser finito e eterno (1936). Transferida para o Carmelo de Echt, nos Países Baixos, acabou por ser presa e morreu no campo de extermínio de Auschwitzjuntamente com a sua irmã Rosa (1942). Foi canonizada como mártir por João Paulo II em 1998.
Formação tomista
Edith Stein era uma pessoa com bases intelectuais muito sérias, já desde a sua formação inicial, e desenvolvidas no contexto do rigor intelectual com que os assuntos eram tratados entre os primeiros discípulos de Husserl, com uma grande capacidade de observação.
No dia seguinte à sua conversão, ao ler a vida de Santa Teresa, comprou um Missal e um Catecismo. A partir daí, estuda rigorosamente a doutrina e a teologia cristãs. Sob a orientação de Erick Przywara, foi introduzido em S. Tomás, estudando, por um lado, os manuais tomistas (Gredt) e, por outro lado, diretamente S. Tomás, especialmente a De Veritate e a De ente et essentia.
A partir de De veritate publicou uma tradução e um comentário. E sobre o De ente essentia preparou um estudo dedicado a Ato e poderque não chegou a publicar, mas que mais tarde seria reformulado no primeiro capítulo de Ser finito e eterno.
É preciso ter em conta que fora do folheto De ente et essentiaSão Tomás não publicou obras sistemáticas de filosofia, mas comentou, uma a uma, as obras de Aristóteles. As Summa Theologica e a Summa v. GentiosA "filosofia tomista", no entanto, continha desenvolvimentos filosóficos sistemáticos sobre a relação entre Deus e as criaturas e sobre a ação e as virtudes humanas. Mas o resto da "filosofia tomista" era composto, a partir do século XVI, pelos manuais ad mentem sancti Thomaesegundo o pensamento de S. Tomás. Constituía uma doutrina baseada em Aristóteles com toques de S. Tomás e da própria tradição tomista, com limites difíceis de estabelecer, e que se apresentava como um corpo autónomo em relação ao resto da filosofia.
O interesse da obra de Edith Stein reside no facto de, vinda de fora, com uma formação fenomenológica, ser obrigada a rever profundamente os conceitos fundamentais, recorrendo às obras de Aristóteles e de S. Tomás. Por outro lado, não se sente obrigada a seguir as tradições da escola tomista, até porque estas nem sempre correspondem ao pensamento do próprio São Tomás. Explica-o com admirável modéstia, no início de Ser finito e eterno.
Nessa altura, mostra também a dívida que tem para com o próprio Przywara, que estava então a escrever aquela que viria a ser a sua obra mais famosa, Analogia entis. A analogia do ser é um dos grandes princípios formadores da filosofia e da teologia católicas. Uma consequência da criação que dá origem a uma escala de ser com uma dependência do Criador. Um mundo que vem do alto. E leva S. Tomás a estabelecer a feliz distinção entre ser e essência, que proporciona, ao mesmo tempo, o estatuto das criaturas, com um ser participativo, e uma nova definição de Deus como aquele cuja essência é o ser (Ipsum esse subsistens). Przywara também o apresentou a Newman e com ele preparou uma seleção de textos.
Ser finito e eterno
Pode dizer-se que Ser finito e eterno é um ensaio metafísico com uma revisão conscienciosa dos grandes temas clássicos da tradição aristotélico-tomista: o sentido do ser (I), a distinção entre ato e potência (II), a distinção entre essência e ser (III), a noção e os sentidos da substância e os conceitos de matéria e forma (IV), os transcendentais do ser (V), e os tipos de ser e os graus de analogia do ser (VI). A que se juntam dois capítulos: o primeiro dedicado à pessoa (humana e angélica) como reflexo da Trindade (VII), com um extenso tratamento da alma; e o princípio de individuação aplicado às pessoas (VIII).
Comparando este esboço com o de um manual clássico de metafísica, verifica-se que todos os tópicos importantes estão presentes, exceto a causalidade (as famosas quatro causas de Aristóteles) e que os acidentes são mencionados de passagem, quando se trata muito amplamente da substância. Os dois tópicos (causalidade e acidentes), aliás, precisam de ser revistos a partir de uma filosofia moderna da natureza. Por outro lado, o tratamento da pessoa como substância individual é reforçado, com novas perspectivas retiradas da Trindade. E a questão da individualidade (o princípio da individuação) é também revista, com uma aplicação mais matizada à pessoa. Isto aproxima-nos do que Duns Scotus e os Vitorianos propuseram. Edith Stein faz eco a esta discussão. Foi dito que, para os primeiros gregos, o referente primário do ser são as coisas (pedras), e que para Aristóteles são antes os animais. Para os cristãos, os seres são sobretudo pessoas, o ponto central da metafísica.
Ao fazer referência à criação e à Trindade, a relação entre fé e filosofia é levantada. A filosofia baseia-se na razão. No entanto, a razão não funciona da mesma forma quando conhece as ideias cristãs e quando não as conhece. Nos primeiros séculos cristãos, a noção filosófica de Deus como ser criador, pessoal, único e bom impunha-se como uma noção quase evidente (da razão): se Deus existe, não pode ser de outra maneira. Mas esta noção não existia antes do cristianismo. Saber que Deus é trino acrescenta também uma perspetiva sobre o espírito humano e sobre a constituição de toda a realidade. É uma inspiração que vem da revelação, mas que está em sintonia com a experiência humana do mundo pessoal. Os domínios do conhecimento e os seus métodos não devem ser misturados, mas a luz da fé ilumina aspectos essenciais do conhecimento humano.
A estrutura da pessoa humana
Precisamente na medida em que a ontologia está centrada nas pessoas (homens e anjos, e o próprio Deus), a metafísica de Edith Stein (e a de S. Tomás) é profundamente personalista. E, por essa razão, é muito bem completada por A estrutura da pessoa humanao curso que Edith Stein compôs em 1933, quando os nazis tomaram o poder na Alemanha.
Nesse livro, há um eco claro das contribuições de Max Scheler, em O lugar do homem no cosmos (1928), que também seria retomado por Guardini em Mundo e pessoa. Para situar o conhecimento filosófico do homem no conjunto do conhecimento da realidade e para o ligar às ciências modernas, Scheler estudou os estratos do ser. Os corpos, os seres vivos (orgânicos); os animais com a sua psicologia instintiva; o ser humano com a sua consciência de si e a necessidade de se libertar do comportamento instintivo. Surge a escala das propriedades essenciais observadas na natureza, que é também a escala do ser, que vai dos corpos às pessoas. E, vista a partir de Deus (e da Trindade) com a analogia do ser, o inverso: de Deus às coisas.
Vidas paralelas
Ao desenvolver estas ideias sobre metafísica, os paralelos entre Edith Stein e Martin Heidegger tornam-se mais claros. Para muitos, a metafísica moderna é eminentemente representada por Heidegger. O próprio Heidegger não se coibiu de dizer que houve um "esquecimento do ser" desde os pré-socráticos até ele próprio. Assim, do seu ponto de vista, ele seria, de facto, o único metafísico. Aí pôs em jogo os significados do ser, tomando também como principal ponto de referência a pessoa humana, lançada na existência.
Já mencionámos as coincidências temporais: enquanto Edith Stein se convertia e adquiria um pensamento cristão, aproximando-se de S. Tomás (e de Scotus), Martin Heidegger afastava-se da fé, rompia com os seus estudos escolásticos e compunha um pensamento existencialista ateu. Heidegger tinha feito a sua tese sobre Duns Scotus, e, ao entrar na universidade (e ao separar-se do cristianismo), instalou-se num terreno virgem: a metafísica dos pré-socráticos, recentemente recolhida (Diels) e pouco estudada, entre outras coisas porque muito poucos textos sobreviveram. Isto deu-lhe originalidade e liberdade, que explorou com o talento poético e didático (e abstruso) que o caracterizava. Em 1927, publicou Ser e tempoa sua obra mais conhecida.
A influência de Nietzsche conduziu-o ao existencialismo ateu. Mas a influência de Hegel, que estudou nesses anos, conduziu-o ao nazismo filosófico. É sabido que, nos anos 30, nos seus cursos de Freiburg, Heidegger interpretou Ser e tempo referindo-se ao ser hegeliano que se faz na história, ao espírito da cultura dos povos, no seu caso o povo alemão, unido pela vontade do Führer. Este facto já tinha sido assinalado pelo seu discípulo judeu Karl Löwitz e é demonstrado pelos estudos de Farias e Faye sobre as notas dos alunos. Está também refletido no seu famoso discurso de reitor (1933) e, de forma velada, no seu Introdução à metafísica (1935).
Em parte, a preocupação de Edith Stein em desenvolver e publicar a sua metafísica foi a de contrastar o efeito ateu de Heidegger. De facto, Ser finito e eterno tinha uma última parte que era uma crítica ao livro de Heidegger, mas depois separou-a para a publicar separadamente. Em espanhol foi publicado com outras críticas de Stein a dois escritos de Heidegger de 1929: Kant e o problema da metafísica e a aula inaugural O que é a metafísica. Edith Stein assinala repetidamente como Heidegger não tira as consequências do que diz e fecha os caminhos que conduzem do ser à sua causa, que é Deus, o primeiro ser.
Para os curiosos tiques e caprichos da vida cultural, Ser e tempoO livro, também protegido pela sua incompreensibilidade e abstraído das suas circunstâncias históricas, tornou-se um livro de culto da esquerda cultural (e de muitos cristãos) desde os anos 40 até aos nossos dias. Enquanto Ser finito e eternoque tinha sido resgatado quase milagrosamente dos escombros do Carmelo de Colónia, destruído pelas bombas dos Aliados, foi publicado da melhor forma possível em 1950, e é pouco conhecido. O assunto merece uma reflexão.
María Álvarez de las Asturias: "Todo o acompanhamento é terapêutico".
Com uma vasta experiência no acompanhamento de casais de todas as idades, a advogada María Álvarez de las Asturias defende, nesta entrevista à Omnes, a necessidade de uma comunicação fluida no casamento e a necessidade de não recorrer a ajuda à última hora.
María Álvarez de las Asturias é mulher, mãe, jurista e professora. A sua experiência no acompanhamento de casais ao longo da vida e o seu trabalho, primeiro como Defensora do Vínculo e atualmente como juíza do Tribunal Eclesiástico de Madrid, tornaram-na uma voz autorizada em todas as questões relacionadas com a dinâmica saudável do casal.
O acompanhamento é um apoio para os casais em qualquer fase das suas vidas. Está a tornar-se um recurso essencial à medida que cada vez mais mensagens bombardeiam os casais com o mantra "é fácil acabar e começar de novo noutro lugar". Perante esta situação, o acompanhamento pretende transmitir uma mensagem de esperança e de luta pelo matrimónio.
Para saber mais sobre este trabalho, María Álvarez de las Asturias explica em que consiste este recurso, esclarece alguns mitos e mostra que a comunicação é uma das melhores ferramentas que os casais têm para resolver os seus problemas.
Em que consiste o acompanhamento e qual é a chave para este trabalho?
-Nos últimos anos, chegámos ao termo "acompanhamento", que é amplo e engloba a assistência a qualquer pessoa que necessite de ajuda nas suas relações pessoais e familiares.
Trata-se de uma ajuda não clínica, porque há muitas dificuldades pessoais, de casal e familiares que não têm uma raiz clínica e, por conseguinte, não necessitam de tratamento médico. O acompanhamento é uma boa combinação com outros tipos de ajuda, que pode ser clínica, jurídica ou espiritual. No acompanhamento, é muito importante que nós, profissionais, trabalhemos em parceria: estamos a lidar com pessoas, não com clientes ou fontes de rendimento. Não podemos ser "donos do caso", porque nós não "vemos casos", vemos pessoas.
Esta forma de acompanhamento não clínico surge porque muitas pessoas o solicitam em função da evolução das circunstâncias.
Há cinquenta anos, as dificuldades eram resolvidas com os conselhos da família e dos amigos. Vivíamos a um ritmo diferente, geralmente mais próximos uns dos outros, mas hoje já não temos essa proteção familiar e social. As pessoas sentem-se muito sós e não sabem para onde se virar.
No acompanhamento, a pessoa a quem se dirige oferece-lhe uma garantia, pela pessoa que é e pela formação que tem, de que tem a capacidade de compreender a dificuldade que está a sentir e a capacidade, se não de resolver essa dificuldade, de o ajudar a encontrar o profissional que o pode ajudar.
Quais são os mitos e as realidades sobre o acompanhamento no casamento?
-A primeira coisa é deixar claro que é difícil para nós pedir ajuda. Ninguém gosta de admitir que tem uma dificuldade. E também não gostamos de falar dos problemas que temos.
Um dos grandes mitos que deve ser esclarecido é que a ajuda oferecida pelo acompanhamento não é para o momento em que já se decidiu separar. Ou seja, as dificuldades de um casal surgem num determinado momento e, desde esse momento até à decisão de se separar, há um enorme espaço de tempo em que é necessário atuar, precisamente para evitar uma rutura.
Sugiro sempre que, se um casal se encontrar numa situação em que se apercebe de uma rutura ou de que a relação está a começar a ficar pesada e não consegue resolver o problema sozinho, deve pedir ajuda. Um mal-entendido deste tipo pode ser resolvido de forma a fortalecer a relação. Mas se esse mal-entendido não for resolvido, o casal tomará facilmente caminhos paralelos que mais tarde divergirão.
Qual é a necessidade de profissionalizar o acompanhamento?
-Como já disse, por um lado, a solidão das pessoas foi muito influenciada pela dispersão geográfica e também pelo ritmo de vida que levamos. Por outro lado, as famílias deixaram muitas vezes de partilhar os mesmos valores e princípios de antigamente. Este facto é também fortemente influenciado pelo ambiente social que, desde há mais de vinte anos, passou da valorização da família e do casamento para a sua desvalorização e ataque.
Por tudo isto, os casais encontram dificuldades na sua vida e é-lhes mais difícil encontrar alguém que tenha a mesma visão que eles. Daí a necessidade de um acompanhamento profissional que possa responder aos pedidos dos casais que não encontram a ajuda de que necessitam no seu ambiente imediato.
Qual é a primeira coisa a considerar quando se lida com uma crise no casamento?
-A primeira coisa a saber é que as crises são uma parte natural de uma relação. Se começar uma relação, seja ela qual for, com a firme intenção e desejo de a fazer durar no tempo, essa relação vai passar por crises, porque as crises são mudanças. A relação amorosa que não cresce, morre.
Crescimento significa mudança, e a mudança é uma crise. As mudanças nas circunstâncias obrigam-nos a reposicionarmo-nos, mas temos de perder o medo da palavra "crise", porque tendemos a pensar que é equivalente a pensamentos de separação e não são a mesma coisa.
Há crises que têm uma origem negativa, mas outras têm origem em algo positivo, como o nascimento de um filho ou uma promoção no trabalho. Sabendo isto, podemos dizer que, em princípio, as crises podem ser resolvidas com uma boa comunicação.
Uma crise não resolvida é o que pode levar a uma separação. Se não conseguirmos resolver uma crise, é bom estabelecer um limite de tempo, não demasiado longo. Se, após um certo período de tempo, ainda estivermos a arrastar a dificuldade, devemos pedir ajuda para a resolver.
O que é que acontece quando um dos cônjuges quer ter um acompanhamento mas o outro tem reservas?
O ideal é que ambos procurem aconselhamento mas, como "o ótimo é inimigo do bom", caso um deles não queira, pelo menos através do que vai, pode-se tentar melhorar a relação. No entanto, é sempre melhor ouvir os dois lados. Também é verdade que muitas vezes acontece que o parceiro relutante se abre à possibilidade de acompanhamento quando vê que a outra pessoa faz mudanças que afectam positivamente a relação.
Penso também que o facto de o acompanhamento não ser clínico é uma vantagem que elimina barreiras. Para além disso, penso que este acompanhamento não clínico é muitas vezes uma boa maneira de a pessoa que precisa de tratamento clínico se aperceber de que seria bom pedi-lo.
Que sentido faz o acompanhamento e a existência de um sistema deste tipo numa altura em que há tanto medo do compromisso e em que nos habituámos ao divórcio e à separação?
-Faz todo o sentido do mundo, porque o que a sociedade nos propõe está a causar um enorme sofrimento a muitas pessoas.
Ninguém se casa para falhar. Ninguém quer sair-se mal na sua família e o que descobrimos é que quando se anuncia a possibilidade de trabalhar para melhorar uma relação, a maioria das pessoas quer correr esse risco.
O nosso trabalho faz sentido e surge a pedido de pessoas que não encontram apoio no seu ambiente familiar e social para levar a cabo o seu compromisso e a sua união de amor.
Qual é a diferença entre o acompanhamento clínico e o acompanhamento não clínico?
-Devemos começar por esclarecer que todo o acompanhamento, mesmo que se trate de tomar um café com uma pessoa e de a ouvir, é terapêutico, porque ajuda a aliviar a preocupação ou o sofrimento. Mas nem todo o acompanhamento é clínico. A diferença entre o acompanhamento e os cuidados clínicos é que existem dificuldades nas relações (dificuldades de comunicação, ou nas relações com os sogros) que não têm origem numa patologia; e nestes casos, os médicos têm poucas hipóteses de as resolver.
Por outro lado, se um dos membros do casal ou da família precisar de cuidados clínicos, é bom que o resto da família possa contar com acompanhamento para viver essa situação, uma vez que a patologia de um tem repercussões nas relações de todos.
Qualquer forma de escuta amorosa, não julgadora e não crítica de outra pessoa é acompanhamento. Todos nós o podemos fazer até certo ponto. Mas quando a dificuldade começa a ser grande, é aconselhável recorrer a um profissional com formação no domínio da sua preocupação.
No meu caso, a minha formação jurídico-canónica e a minha formação em aconselhamento de luto e feridas emocionais, juntamente com a minha experiência com casais de noivos, dão-me uma qualificação mais elevada do que a de um amigo bem intencionado.
No acompanhamento, quando dizemos a uma pessoa treinada o que nos está a acontecer, é mais fácil determinar a verdadeira importância do problema. Quando temos uma dificuldade e ela dá voltas na nossa cabeça, é normal que ela se "enrole". Nessa altura, é difícil ver o problema de forma objetiva. Ao exprimir e trazer à tona o que nos incomoda, a dificuldade começa a ser vista com a importância que tem e é um primeiro passo para a cura.
Como acompanhar um casamento de 50 anos, com os seus defeitos, rotinas e virtudes já tão marcados que se torna difícil mudar?
-Estes casamentos também têm crises, como a do ninho vaziopor exemplo. Nesta fase em particular, há quem diga que se tivermos síndrome do ninho vazio é porque o vosso casamento não está a correr bem, mas isso é bárbaro. Esta é a idade em que os vossos filhos se tornam normalmente independentes. Mesmo que não tenham filhos, ambos os cônjuges estão a envelhecer e provavelmente já vêem o fim da sua vida profissional no horizonte. A idade em que se encontra não irá duplicar, o que significa que está a começar a viver a segunda parte da sua vida. Por conseguinte, coisas em que não pensavam antes estão agora a vir ao de cima.
A geração anterior, que cuidou de si e a quem podia recorrer, já não está presente ou começa a precisar dos seus cuidados. De repente, encontramo-nos na primeira fila. Os outros vêm ter consigo, mas é difícil para si encontrar alguém a quem recorrer.
É perfeitamente normal que, nesta situação, haja uma crise existencial. Se se viveu como se queria viver, é mais fácil resolver esta crise e enfrentar os vícios ou os problemas que entravam a relação. Se o casal ainda está disposto a manter o compromisso que os une, é mais fácil encontrar uma forma de enfrentar a crise e de se adaptar às novas circunstâncias da sua vida.
A dificuldade perigosa surge quando um ou ambos os parceiros, num determinado momento da relação após o casamento, têm a impressão de que não estão a viver a vida que queriam viver. É nessa altura que surge a crise existencial, que muitos situam por volta dos cinquenta anos, mas que pode ocorrer em qualquer altura. Se não estão satisfeitos com a vida que estão a viver, muitos decidem bater a porta e ir-se embora. Se chegar a este ponto, é difícil resolvê-lo. É um problema que só pode ser prevenido: a prevenção baseia-se em cuidar dessa união de amor todos os dias, renovando o compromisso conjugal. Ou seja, a morte súbita do matrimónio, que bater com a porta e ir-se emboraA razão para isso é que não foi dito em tempo real o que estava a tornar-se incómodo no casamento.
É por isso que temos de ser muito cuidadosos com a comunicação e dizer um ao outro as coisas que pesam na relação. Temos de dizer um ao outro o que gostamos, o que achamos difícil, as nossas esperanças e as mudanças que gostaríamos de ver ou fazer.
A comunicação é necessária para cuidar da nossa relação e para garantir que a vida que levamos juntos nos convém. Isto não significa que possamos fazer tudo o que gostaríamos de fazer; mas ao falarmos sobre tudo (o que gostamos, o que nos custa, as ilusões e as mudanças que gostaríamos) fazemos o que é possível e evitamos atirar à cara um do outro as coisas que avaliámos em conjunto como não sendo possíveis ou que devemos adiar.
Há algum momento do acompanhamento em que se percebe que, para aquele casamento, o único recurso que resta é a separação? O que se faz então?
-É importante notar que no acompanhamento não tomamos decisões por outras pessoas. Ajudamos a pessoa que vem ao acompanhamento a levantar e a pôr em cima da mesa as coisas que precisa de esclarecer para tomar as decisões que lhe parecem adequadas.
No acompanhamento, apoiamos as pessoas que não se sentem capazes de tomar decisões sozinhas na altura, mas não tomamos decisões por elas.
Há casais que, do ponto de vista do companheiro, podem ser capazes de seguir em frente. Mas não se pode tomar essa decisão por eles se, no final, decidirem separar-se. Temos de respeitar a liberdade das pessoas, essa é a primeira coisa.
Como profissionais de acompanhamento, devemos também acompanhar as separações e as rupturas. Sem julgar, porque é uma situação que pode ser traumática e a crítica acrescenta sofrimento a um momento já doloroso.
Papa aos Comunicadores: "Comunicar não é apenas sair, mas também ir ao encontro do outro".
No primeiro grande evento do Jubileu 2025, em Roma, o Papa Francisco voltou a exortar a sua conhecida "cultura do encontro" a milhares de profissionais da comunicação de todo o mundo, na Aula Paolo VI. "Comunicar é sair um pouco de si mesmo para dar o que é meu ao outro. E comunicar não é apenas sair, mas também ir ao encontro do outro. Saber comunicar é uma grande sabedoria, uma grande sabedoria!"
Luísa Laval-26 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
Francisco disse estar "encantado" com o Jubileu dos Comunicadores, o primeiro dos mais de 35 grandes eventos que marcam o Ano Santo, que começou no dia 24 com uma missa em São João de Latrão e terminou com a missa dominical da Palavra de Deus, celebrada pelo Papa na Basílica de São Pedro.
A presença do Papa na tribuna foi muito breve, cerca de cinco minutos: "Tenho nas minhas mãos um discurso de nove páginas. A esta hora, com o estômago a começar a agitar-se, ler nove páginas seria uma tortura. Vou entregá-lo ao Prefeito. Ele que o transmita.
As palavras do Papa
Disse algumas palavras "a braccio" e agradeceu aos comunicadores pelo seu trabalho, sem deixar uma pergunta provocadora: "O vosso trabalho é um trabalho que constrói: constrói a sociedade, constrói a Igreja, faz avançar todos, desde que seja verdadeiro. "Padre, eu digo sempre coisas verdadeiras? - Mas tu, és verdadeiro? Não só as coisas que dizes, mas tu, dentro de ti, na tua vida, és verdadeiro? É um teste tão grande.
Concluiu o seu breve discurso dizendo que todos devem comunicar "o que Deus faz com o Filho, e a comunicação de Deus com o Filho e o Espírito Santo", afirmando que comunicar é "uma coisa divina".
Se o seu discurso foi breve, as suas saudações ao povo não o foram. Francisco passou 50 minutos a cumprimentar os comunicadores de todo o mundo, sendo por vezes solicitado por gritos da assembleia: "Esta é a juventude do Papa!
O texto completo do seu discurso foi publicado no sítio Web do Vaticanoem que o pontífice sublinhou a importância da coragem para iniciar a mudança que a história exige e para vencer a mentira e o ódio. "A palavra coragem vem do latim cor, cor habeoque significa "ter coração". É esse impulso interior, essa força que vem do coração e que nos permite enfrentar as dificuldades e os desafios sem nos deixarmos dominar pelo medo".
Neste domingo, o Papa convidou toda a Igreja a deter-se nas cinco acções que caracterizam a missão do Messiascom base no Evangelho do dia: "levar a boa nova aos pobres", "proclamar a libertação aos cativos", "dar "vista aos cegos", "pôr em liberdade os oprimidos" e "proclamar um ano de graça do Senhor".
"É um Jubileu, como o que iniciámos, que nos prepara com esperança para o encontro definitivo com o Redentor. O Evangelho é uma palavra de alegria, que nos chama ao acolhimento, à comunhão e a caminhar, como peregrinos, em direção ao Reino de Deus", reforçou o Papa.
O Jubileu dos Comunicadores
No sábado, os comunicadores atravessaram a Porta Santa numa procissão comovente ao longo da Via della Conciliazione até ao altar da Cátedra de São Pedro, onde os fiéis receberam a bênção.
Antes do encontro com o Papa, os peregrinos reuniram-se para um encontro cultural na Aula Paolo VI, com um diálogo entre a jornalista filipina Maria Ressa, vencedora do Prémio Nobel da Paz em 2021, e o escritor irlandês Colum McCann. A conferência foi seguida por uma atuação musical do violinista Uto Ughi, que tocou com a sua orquestra peças de Bach e Oblivion de Astor Piazzolla, um compositor argentino muito querido pelo Papa.
À tarde, realizaram-se os "Diálogos com a Cidade", em que diferentes pontos da cidade acolheram conferências sobre comunicação e fé. Foi o primeiro grande teste à disponibilidade de Roma para acolher os peregrinos de todo o mundo durante o Ano Santo e o primeiro encontro de Francisco com os principais públicos convidados. O próximo será o Jubileu das Forças Armadas, da Polícia e da Segurança, a 8 e 9 de fevereiro.
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Na terça-feira, 7 de janeiro de 2025, os jovens Maxim Permin e Sergey Sudak foram ordenados diáconos numa celebração comovente em Almaty, tornando-se os dois primeiros diáconos, e futuros sacerdotes, a serem ordenados para o serviço pastoral nesta cidade do sul do Cazaquistão, que foi a capital do país até 1997. A diocese de Almaty cobre uma superfície de 711 000 km² e tem 11 freguesias.
Maxim Pernim, jornalista de profissão, é estudante no seminário interdiocesano de Karaganda, que foi criado em Karaganda em 1998. O seminário de Karaganda, situado a 1.000 quilómetros de Almaty, reúne jovens de vários países da Ásia Central e do Cáucaso. Sergey Sudak, um professor de escola primária de Kostanay, no norte do país, está a completar os seus estudos sacerdotais no seminário de São Petersburgo, na Rússia.
Uma ordenação com esperança
Esta ordenação pastoral é provavelmente a primeira na história desta jovem diocese, formada após a queda da União Soviética, embora as suas raízes remontem ao século XIV com a diocese de Almalyk, estabelecida na Rota da Seda. Missionários como Ricardo de Borgonha e Pascoal de Vitória, atualmente em processo de beatificação, levaram o cristianismo para a região sob a proteção de Chagatai, filho de Gengis Khan. No entanto, após a sua morte, os missionários foram martirizados quando a região caiu sob o domínio muçulmano. Após séculos de ausência católica, a atual diocese de Almaty retoma o seu legado com esperança, ordenando jovens do país.
Embora as ordenações no país, que é considerado um país de missão, tenham vindo a aumentar nos últimos anos, a sua frequência está longe de ser a dos países de tradição católica. Em 12 de setembro de 2021, o padre Evgeniy Zinkovskiy, atual bispo auxiliar de Karaganda, foi ordenado bispo. Anos antes, em 29 de junho de 2008, foi ordenado o primeiro sacerdote de etnia cazaque, Ruslan Rakhimberlinov, atual reitor do seminário de Karaganda. Os dois jovens ordenados em janeiro deste ano, embora de ascendência eslava, falam fluentemente a língua cazaque (para além do seu russo nativo), o que os torna particularmente bem preparados para a tarefa indispensável de servir uma comunidade que está a trabalhar para se inculturar e para se tornar natural para os de origem cazaque.
Esta é, portanto, uma boa notícia para a Igreja no campo e na cidade, que três anos depois de ter sofrido algumas altercações que ameaçou destruir anos de coexistência pacífica e harmoniosa, demonstrou a sua resiliência, mostrando mais uma vez a sua melhor face de multietnicidade e variedade religiosa.
Marcha pela Vida em Washington: visão pró-bebé e pró-família
A Marcha pela Vida, realizada na sexta-feira em Washington, nos Estados Unidos, destacou uma visão pró-vida que acolhe os bebés e apoia as famílias, apesar de a maioria dos oradores ter falado em tornar o aborto "ilegal e impensável" na América pós-Dobbs.
María Wiering e Marietha Góngora V. (OSV News)-25 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 6acta
"Deixem-me dizer de forma muito simples: Quero mais bebés nos Estados Unidos da América", disse o Vice-Presidente JD Vance a uma multidão que aplaudia na 52 Marcha Nacional pela Vida esta sexta-feira, 24 de janeiro.
"Quero mais crianças felizes no nosso país e quero homens e mulheres jovens e bonitos que estejam desejosos de as receber no mundo e de as criar", afirmou. "E é função do nosso governo facilitar às jovens mães e pais a possibilidade de terem filhos, de os trazerem ao mundo e de os receberem como as bênçãos que sabemos que são, aqui na Marcha pela Vida.
Alguns oradores
Na sua primeira aparição pública após o dia da tomada de posse, Vance foi o último orador no comício anual de duas horas que precedeu a caminhada dos participantes desde o Monumento a Washington até ao edifício do Supremo Tribunal dos EUA.
Outros oradores incluíram o governador da Flórida, Ron DeSantis, o líder da maioria no Senado, John Thune, R-Dakota do Sul, e o presidente da Câmara, Mike Johnson, R-Hague. É a primeira vez que ambos os líderes das câmaras do Congresso participam numa Marcha pela Vida.
Enquanto a maioria dos oradores - políticos e defensores da vida - falaram especificamente em tornar o aborto "ilegal e impensável" na América pós-Dobbs, Vance defendeu uma visão pró-família que não só rejeitava o aborto, mas também apoiava a parentalidade.
Defesa do nascituro e a favor da família
Referindo-se aos seus três filhos pequenos, Vance, que é católico, disse: "A tarefa do nosso movimento é proteger a vida inocente. É defender os não nascidos; e é também ser pró-família e pró-vida no sentido mais lato possível dessa palavra".
Tal como em anos anteriores, a marcha atraiu dezenas de milhares de pessoas, muitas das quais jovens. Alguns viajaram mais de um dia de autocarro, faltando às aulas em colégios e universidades para se juntarem a outros ao longo do National Mall, no frio do Atlântico. Traziam cartazes onde se lia "Ame os dois", "A vida é a nossa revolução" e "Defund Planned Parenthood", o maior fornecedor de abortos da América.
Participantes na Marcha pela Vida em Washington, a 24 de janeiro de 2025 (OSV News photo/Bob Roller).
A marcha de 2025 também comemorou uma mudança na liderança da organização do evento, desde o seu presidente de longa data, Jeanne ManciniA presidente da Marcha pela Vida, que é a nova presidente, cedeu o seu lugar à nova presidente da Marcha pela Vida, Jennie Bradley Lichter. Mancini foi o apresentador da marcha 2025, e ambos usaram da palavra, enquanto Bradley Lichter apresentou Vance.
Mudança no panorama do aborto
A marcha foi fundada para protestar contra Roe v. Wade, a decisão do Supremo Tribunal de 1973 que legalizou aborto em todos os 50 estados. Esta decisão foi anulada em 2022 com a falha A Marcha para a Vida foi um dos principais responsáveis pela decisão do tribunal no caso Dobbs v. Jackson Women's Health Organization, devolvendo assim a política de aborto aos legisladores. No comício, os líderes da Marcha pela Vida abordaram o papel da marcha na mudança do cenário do aborto, com leis que atualmente variam muito de estado para estado. A marcha, insistiram, deve continuar.
"Hoje afirmamos que a geração pró-vida não descansará até que todas as instalações de aborto do nosso país fechem as suas portas para sempre. Marcharemos até que todas as crianças sejam protegidas pela lei federal, até que o aborto seja impensável e até que todas as mulheres grávidas recebam excelentes cuidados pré-natais", disse Hannah Lape, presidente da Wheaton College Voice for Life. O seu grupo carregou a icónica faixa da marcha de 2025.
Crise dos direitos humanos fundamentais
"Com a nova administração e o queda de Roe v. Wade, os próximos quatro anos da história americana serão definidos pela coragem ou pela cobardia", afirmou. "O aborto não é uma questão de direitos do Estado que deva ser ignorada. É uma crise fundamental de direitos humanos que pesa sobre os ombros da América. O nosso país não pode ser grande enquanto os bebés em gestação não forem protegidos, e eles são protegidos (com) o direito à vida."
Declarações de campanha de Trump
A marcha teve lugar quatro dias depois de o Presidente Donald Trump ter tomado posse para o seu segundo mandato, na sequência de uma campanha que desiludiu muitos defensores da vida em alguns aspectos. Trump foi aclamado pelas suas acções pró-vida durante o seu primeiro mandato. Desde então, voltou atrás no seu apoio a uma proibição federal do aborto, declarando que acredita que os estados dos EUA devem determinar as suas próprias leis sobre o aborto.
Também publicou comentários positivos nas redes sociais sobre os "direitos reprodutivos" e indicou que não restringiria o acesso a mifepristona. O medicamento, embora prescrito em alguns protocolos de aborto, é amplamente utilizado em quase dois terços dos abortos nos Estados Unidos.
Resta saber como as declarações de campanha de Trump sobre o aborto irão afetar a formulação de políticas. Mas muitos líderes pró-vida parecem optimistas em relação à nova administração.
Indulto para 23 activistas pró-vida
Na véspera da Marcha pela Vida, Trump perdoa 23 activistas pró-vida condenado por violar a lei federal sobre a liberdade de acesso aos cuidados clínicos (FACE). A activistasmuitos dos quais, segundo Trump, eram idosos, tinham sido condenados por bloquear o acesso a clínicas de aborto. Uma ordem executiva sobre o género que Trump emitiu no início da semana também definiu a vida como começando na conceção, um ponto que o Presidente da Câmara dos Representantes, Johnson, fez no comício da marcha.
Johnson foi um dos membros da Câmara que aprovou a Lei de Proteção dos Sobreviventes do Aborto Nascidos Vivos a 23 de janeiro, um dia depois de os democratas terem bloqueado um projeto de lei semelhante no Senado.
Vídeo do Presidente a favor da família e da vida
Num vídeo apresentado durante a marcha, Trump elogiou o seu historial pró-vida e afirmou que, no seu segundo mandato, "voltaremos a defender orgulhosamente as famílias e a vida".
"Protegeremos as conquistas históricas que obtivemos e impediremos a pressão radical dos democratas no sentido de um direito federal ilimitado ao aborto a pedido, até ao momento do nascimento e mesmo depois do nascimento", afirmou.
Um estudo sobre os Cavaleiros de Colombo
A maioria dos americanos apoia alguns limites legais ao aborto, mantendo a prática em grande parte intacta, de acordo com uma sondagem dos Cavaleiros de Colombo-Marist divulgada a 23 de janeiro. A sondagem anual revelou que 83 % dos americanos apoiam os centros de recursos para grávidas e 67 % dos americanos apoiam alguns limites legais ao aborto.
Mas 60 % apoia a limitação dos abortos aos primeiros três meses de gravidez, um limite que tornaria legal a maioria dos abortos, uma vez que nove em cada 10 abortos ocorrem no primeiro trimestre.
"A ciência está do nosso lado".
"Todos vós aqui, todos vós, tendes o poder de mudar as mentes", disse à multidão Lila Rose, católica e defensora de longa data da causa pró-vida. "Vocês são a voz dos que não têm voz. Lembrem-se que a ciência está do nosso lado. A verdade está do nosso lado. Temos apenas de ter a coragem de dizer a verdade com amor".
Dois actos anteriores
A Marcha pela Vida foi precedida por dois eventos de grande escala: Life Fest 2025 na EagleBank Arena em Fairfax, Virgínia, que se realizou no dia anterior e na manhã da marcha; e a Vigília Nacional de Oração pela Vida na Basílica do Santuário Nacional da Imaculada Conceição em Washington.
As Irmãs da Vida, os Cavaleiros de Colombo e a Diocese de Arlington, Virgínia, uniram-se para apresentar o evento Life Fest de dois dias, que atraiu cerca de 8.000 pessoas. No santuário nacional, o Arcebispo Joseph F. Naumann, de Kansas City, Kansas, foi o celebrante principal com a homilia na missa de abertura da vigília de oração, a 23 de janeiro. E D. Robert J. Brennan, bispo de Brooklyn, Nova Iorque, foi o celebrante principal na liturgia de encerramento, a 24 de janeiro. O Arcebispo Naumann proferiu também a oração de abertura da Marcha pela Vida.
"Não somos nós que decidimos se ele vive ou não".
Marcela Rojas, que vive na Arquidiocese de Nova Iorque, disse que participou na marcha com um grupo de 75 pessoas, muitas delas mães com filhos pequenos ao colo. "Dentro do nosso ser, no nosso ventre, há uma vida", disse ela, referindo-se às mães grávidas. "É uma vida que não podemos escolher. Já é uma outra vida que não nos pertence e não nos cabe a nós decidir se ela vive ou não.
O autorMaría Wiering e Marietha Góngora V. (OSV News)
Ontem comecei o dia a ler uma mensagem de WhatsApp enviada por um amigo com uma citação do santo do dia, São Francisco de Sales. Dizia: "Se eu não fosse bispo, talvez não quisesse sê-lo, sabendo o que sei agora; mas, uma vez que o sou, não só sou obrigado a fazer tudo o que essa dolorosa vocação exige, mas devo fazê-lo com alegria, e ter prazer e prazer nisso.".
A frase impressionou-me e não pude deixar de pensar nela durante todo o dia. Ao meio-dia, estava convencido de que este pensamento se aplica não só aos bispos, mas também aos leigos, que são chamados a viver de forma coerente as exigências da nossa vocação cristã. Afinal de contas, a frase de Jesus Cristo "sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito" não parece deixar espaço para interpretações açucaradas.
No final do dia, assisti a uma conferência da Associação Católica de Propagandistas (ACdP) em Alcalá de Henares, no âmbito da II Conferência sobre Católicos e Vida Pública, que teve lugar nessa cidade.
Os oradores foram os três padres de Rede de redesJesús Silva, Patxi Bronchalo e Antonio María Domenech, que ofereceram uma análise lúcida e equilibrada dos riscos da Agenda 2030. Sem cair no discurso apocalítico, apontaram as suas armadilhas e limitações, propondo uma alternativa profundamente cristã: um conhecimento vivo de Jesus Cristo, a prática frequente da confissão e da comunhão, a devoção à Virgem Maria e, como fruto de tudo isto, uma sincera caridade para com todos, a começar pelos "vizinhos do lado".
Pensei que o que mais me agradaria seria o conteúdo das suas ideias, mas algumas horas depois da conferência apercebi-me de que o que mais me impressionou foi sete pegadas intangíveis que me deixou ouvi-los:
Clareza doutrinalNuma época em que os bispos e os padres são por vezes pouco claros, é muito positivo ouvir as verdades da fé sem hesitações nem ambiguidades.
Coragem para expor: Alguns valores cristãos são claramente impopulares, mas estes padres demonstram uma ousadia contagiante para proclamar o Evangelho sem meias palavras ou medo de críticas.
Sentido de humorApesar da seriedade dos temas abordados, foi-nos recordado, com gargalhadas, que a alegria cristã não só é compatível com a evangelização, como também é um ótimo instrumento.
Boa formaçãoA sua sólida formação teológica mostra claramente que não têm medo de discutir qualquer ideia no debate público, demonstrando que a fé não está em contradição com a razão.
Espírito positivoRejeitaram o pessimismo tão comum em alguns sectores do cristianismo, recordando que "não é verdade que qualquer época do passado tenha sido melhor". Os cristãos sempre enfrentaram desafios, e hoje não é diferente.
O zelo evangelístico: Não se trata apenas de manter o que já existe, mas de ir corajosamente ao encontro dos outros, convidando-os a uma experiência pessoal com Cristo.
Bom senso: É essencial nos nossos tempos, em que declarações tão básicas como a afirmação de que só existem dois sexos podem ser consideradas revolucionárias num discurso de um presidente.
Passaram 400 anos desde o tempo de São Francisco de SalesMas parece que nós, cristãos, continuamos a precisar da mesma coisa: coragem para evangelizar Jesus Cristo e para sair do cristianismo burguês em que tendemos a instalar-nos com demasiada facilidade. Espero que, daqui até 2033, nós, crentes, aprendamos a deixar o pegada de Jesus Cristo onde quer que vamos.
Cantarei ao Senhor: sentido e razão da música na liturgia
"Cantarei ao Senhor, gloriosa é a sua vitória" (Ex 15). Estas palavras, cantadas por Moisés e pelos filhos de Israel depois de terem atravessado o Mar Vermelho, ressoam em cada Vigília Pascal como um eco de libertação e de esperança. O sentido da música na liturgia é exprimir a memória viva das maravilhas de Deus, tornando presente a obra redentora de Cristo.
Héctor Devesa-25 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 9acta
Na Vigília Pascal, celebramos a ressurreição de Cristo e, com ela, a nossa libertação do pecado e da morte. Todos os anos, o povo judeu revive o "memorial" da noite da passagem do Senhor (páscoa) que os liberta da escravidão do Faraó. A liturgia católica na chamada "mãe de todas as vigílias" leva-nos através da leitura do Antigo Testamento às maravilhas que Deus fez pelo seu povo desde o início dos tempos: primeiro a criação, depois o sacrifício que Deus pede a Abraão para fazer do seu filho, e depois a passagem do povo de Israel pelo Mar Vermelho a pé descalço.
O texto do livro do Êxodo narra como "naquele dia o Senhor salvou Israel do poder do Egito, ... Israel viu a mão poderosa que o Senhor tinha estendido contra os egípcios, e o povo temeu o Senhor e acreditou no Senhor e em Moisés, seu servo". Quem ouve esta proclamação na noite santa pode reviver a emoção destes acontecimentos tal como foram vividos pelo povo hebreu: não menos do que vemos o Mar Vermelho abrir-se para formar duas paredes de água de cada lado, e ouvimos o rugido dos carros egípcios a aproximarem-se cada vez mais. A tradição rabínica explica que, na celebração de Pessach, "uma pessoa é obrigada a ver-se como se estivesse a sair do Egito" (Mishnah Pesachim, 116b).
Incentivar um sentido de "memorial".
Para dar continuidade e sentido ao que é proclamado, a liturgia católica sugere que nesta celebração não terminemos a leitura do livro do Êxodo dizendo "Palavra de Deus", mas que unamos diretamente as nossas vozes às do povo hebreu com o Salmo. "Então Moisés e os filhos de Israel entoaram este cântico ao Senhor: Cantarei ao Senhor, gloriosa é a sua vitória, cavalos e carros que ele lançou ao mar. O Senhor é a minha força, ele é a minha salvação. Ele é o meu Deus, eu o louvarei; o Deus de meus pais, eu o exaltarei" (Êxodo 15, 1-2).
Todos os anos os judeus continuam a reviver esta passagem do Senhor, a Páscoa. E com este cântico pedem ajuda a Deus, porque compreendem que não é um Deus do passado, mas do presente. Para a tradição católica, o significado de "memorial" não se limita a reviver os acontecimentos do passado através das leituras, mas na celebração litúrgica estes acontecimentos são de certo modo tornados presentes e actuais (cf. Catecismo, 1363).
A música e o canto contribuem eficazmente para este sentimento de recordação porque têm a qualidade de exprimir este desejo interior. Esta qualidade comunicativa da música ultrapassa a mera apresentação de uma ideia com maior ou menor beleza; convoca os sentimentos que acompanham o que é dito. Santo Agostinho considera que a música foi concedida por Deus aos homens para modular corretamente a memória das grandes coisas. Esta é, pois, uma das principais razões pelas quais a Liturgia canta.
A música e o seu papel na tradição
A música e o canto estão presentes na Sagrada Escritura em circunstâncias tão diversas como as vindimas e as vindimas (Ezra 9, 2; 16, 10, Jeremias 31, 4-5), nas marchas (Números 10, 35-36, 2 Crónicas 20, 21), em reuniões (Juízes 11, 34-35, Lucas 15, 25), nos momentos de alegria (Êxodo 15). Sabemos como o rei David dançou diante da Arca de Deus com instrumentos de madeira, cítaras, liras, tambores, sistros e címbalos (2 Samuel 6, 5); e ele próprio compôs e determinou as regras para enfatizar o cântico de amor do Cântico dos Cânticos ou os 150 louvores do Saltério, por meio de hinos, súplicas, acções de graças, imprecações, etc.
O carácter próprio do cântico é reforçar o que as palavras exprimem, abrir um canal maior de afeto para mostrar o que se pretende. O Senhor, no Evangelho, esclarece o seu sentido quando explica que aquela geração "São como crianças sentadas na praça, gritando aos outros: 'Tocámos flauta e não dançaram, chorámos e não choraram'". (Lucas 7, 31). Muitas vezes não estamos abertos à comunicação, mesmo que escutemos, porque mantemos os nossos afectos fechados.
Os discípulos do Senhor mantiveram a tradição de cantar os salmos e poemas do povo de Israel, mesmo antes da Paixão, depois da Última Ceia (Marca 14, 26), sabemos que cantavam juntos. Paulo e Silas estavam tão habituados a este costume que, na prisão de Filipos, os cânticos brotavam espontaneamente dos seus corações (Factos 16, 25); além disso, sabemos que o apóstolo exorta os Colossenses a cantarem juntos (Colossenses 3, 16), bem como os de Corinto (1 Coríntios 14, 26), e aos de Éfeso (Efésios 5, 19). Vários testemunhos insistem nesta particularidade da vida dos fiéis cristãos no século II, como testemunha Plínio, o Jovem, numa carta a César em que diz "que costumavam reunir-se em certos dias antes do amanhecer para cantar um hino a Cristo como a Deus". (Epístola 10, 96, 7).
Ligar a vida quotidiana à eternidade
Através do cântico, a expressão do que as palavras dizem é realçada e as memórias e os acontecimentos significativos são trazidos à vida. Quando os judeus cantam o cântico de Moisés ou o cântico do cativeiro babilónico, exprimem o seu desejo de libertação através do Deus que os salvará. Deste modo, exprimem a necessidade de um cântico definitivo. Este anseio exprime-se para os cristãos no cântico eterno que São João narra no ApocalipseAquele que dia e noite canta sem pausa diante do trono do Cordeiro: "Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso; Aquele que era, que é e que há-de vir". (Apocalipse 4, 9).
A Constituição do Concílio Vaticano II Sacrosanctum Concilium(doravante SC) explica que a Liturgia é o meio pelo qual ".exercíciosA liturgia tem o sentido de "obra da nossa redenção, sobretudo no sacrifício divino da Eucaristia" (SC 2). Assim, a Liturgia tem o sentido de uma passagem, uma ponte, uma porta através da qual a ação divina se torna presente no mundo. Ela manifesta de algum modo aquele canto eterno diante do trono do Cordeiro; o louvor que toda a criação faz ao seu Criador através do único sacrifício que é oferecido "sem mácula do nascer ao pôr do sol". (Oração Eucarística III).
Quem celebra a Liturgia une de algum modo o Céu com a terra, a eternidade com a vida quotidiana, pois o cristão deseja que cada ação se realize em união com a obra da Redenção. Este cântico de louvor da Apocalipse é a expressão da celebração eterna, que, como explica a liturgia, nos ajuda a manifestar o mistério de Cristo na nossa vida (SC 2). Isto significa entender a Eucaristia num sentido pleno em que há continuidade entre o que celebramos e o que vivemos; a alegria de ter cantado o louvor de Deus está presente em todo o nosso dia.
Sentido da música e do canto
As artes em geral, e a música em particular, têm sido um canal natural para a expressão dos sentimentos mais íntimos do homem; mesmo numa simples canção, o nosso estado interior de alegria, tristeza, solidão, entusiasmo, serenidade, tranquilidade, etc. é expresso de forma mais direta. Por vezes, na cultura ocidental utilizamos Utilizamos as artes para exprimir de forma sublime uma ideia, um conceito ou uma história; ou fazemos uso da sua qualidade para enobrecer ou valorizar um objeto ou uma ação. É certo que elas cumprem essa missão, mas o que é próprio das artes é a capacidade de nos mostrar afectos íntimos: dor, ternura, paixão, ...; tudo o que supõe uma amplificação do valor próprio da palavra.
O canto serve melhor a liturgia quando oferece o que ela pretende: exprimir mais delicadamente a oração, favorecer a unanimidade da oração ou enriquecer a expressão solene da celebração (cf. SC 112).
Expressão de amor
Tratar de liturgia é necessariamente entrar na linguagem de Deus que é amor. O canto nasce do amor e manifesta a alegria do amado; daí o seu carácter inefável, porque muitas vezes o que se pode dizer exige esse outro modo de dizer, mais elevado. Ratzinger diz na sua obra O espírito da liturgia que o canto e a música na Igreja são como uma "igreja".carisma"Uma nova linguagem que vem do Espírito. Na canção o "embriaguez sóbriaA "arte" da fé porque ultrapassa todas as possibilidades da mera racionalidade. Esta é a qualidade própria da arte que procura exprimir a grandeza de Deus.
Tal como uma imagem de Cristo feita por mãos humanas apresenta a Palavra de Deus, também o canto pretende ser como a voz inefável da glória divina. Por isso, tanto o pintor como o cantor litúrgico - diz Crispino Valenciano - prestam um serviço à maneira de "...".hagiógrafos"que procuram revelar o sentido maravilhoso da presença divina. Por isso, o canto é significativo quando contribui para a finalidade das palavras e dos actos litúrgicos, que são a glória de Deus e a santificação dos fiéis (cf. Catecismo 1157). Destas considerações podemos deduzir a importância de ter o cuidado de exercer este ministério - como qualquer outro - ao serviço da liturgia.
Incentiva a participação ativa
A participação na vida do Senhor, na sua gloriosa redenção - o que fazemos na liturgia - é em parte condicionada pelo nosso estado de espírito. Por isso, deve ser encorajada uma participação consciente e ativa, para pôr a alma em harmonia com a voz e cooperar com a graça divina (SC 11). A música e o canto acompanham as festas e as celebrações em muitas culturas (vitórias, jogos, aniversários, banquetes, etc.); fazem parte da tradição da celebração cristã.
O carácter natural da sua expressão é uma manifestação externa que acompanha esses momentos especiais, tanto íntimos como solenes, formais e informais. Assim, a liturgia com o canto exprime o que se crê e se vive; e significa o que se manifesta.
A elevação ao sagrado e o sentido de solenidade
A liturgia procura oferecer essa qualidade excecional de transcender o quotidiano, aproximando-nos do eterno, daquilo que é inefável e inaudível, mas no qual Deus nos permitiu participar. Esta dimensão exige, portanto, um esforço de todas as expressões: arquitetura, pintura, escultura, vitrais, paramentos, vasos sagrados, todos os arranjos e, claro, a música. Exige que "o humano está ordenado e subordinado ao divino, o visível ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura que procuramos". (SC 2).
O carácter do solene para a Igreja teve no passado um sentido de magnificência, mas hoje não segue tanto esse caminho que por vezes pode ser confundido com ostentação. A liturgia precisa de uma estética divinizadora, de um salto transformador da dinâmica poética para o sagrado. A eficácia desta atuação contribui para o que a função exige (canto Kyrie eleison por exemplo), essa qualidade inata que de alguma forma faz dele ou dela um sacramentum / mysterion. A música, como qualquer arte sacra, pela sua missão específica, pode contribuir para nos introduzir no mistério de Deus; para nos aproximar daquela presença sagrada pela qual Deus ordena a Moisés: "descalça os sapatos, porque o lugar onde estás é terra santa" (1 Coríntios 5,1).Êxodo, 3, 5).
A tensão escatológica da liturgia
A celebração litúrgica manifesta necessariamente o carácter provisório daquilo que ainda espera a plena realização no fim dos tempos com a vinda de Cristo. É o que dizemos na aclamação do Memorial: Proclamamos a tua morte, proclamamos a tua ressurreição, vem Senhor Jesus"; "todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos a tua morte, Senhor, até que venhas"; "todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, proclamamos a tua morte, Senhor, até que venhas"; "proclamamos a tua morte, Senhor, até que venhas".. O canto e a música procuram exprimir precisamente aquilo que a Eucaristia é: a antecipação da glória celeste (cf. Catecismo 1402). Este carácter permite-nos viver no mundo, mas perceber os vislumbres da morada eterna. Torna-se claro o que S. Tomás de Aquino diz da Eucaristia: ela é um "penhor da vida eterna"..
Romano Guardini distinguiu entre imagens devocionais e imagens sobrenaturais ou litúrgicas. Em suma, explicou que, enquanto as primeiras representam os nossos sentimentos, com os quais Deus se identifica, as segundas, as litúrgicas, mostram antes o modo de ser de Deus, ao qual devemos aspirar. A música e o canto favorecem ambas as tensões que moldam a vida cristã.
Adequação do cantochão e da música litúrgica
É altamente desejável adequar as faculdades dos homens ao que está a ser celebrado, mas sem necessariamente diminuir a expressão do que está a ser celebrado. A Catecismo recorda que a harmonia dos sinais (canto, música, palavras e acções) é tanto mais expressiva e fecunda quanto mais se exprime na riqueza cultural do povo de Deus que celebra. O canto e a música devem participar nesta riqueza cultural e contribuir muito favoravelmente para a elevação do espírito. Evidentemente, a música sacra fá-lo porque faz parte da celebração em que toda a capacidade expressiva do homem está ao serviço da grande obra de Deus no memorial dos seus mistérios.
A longa tradição musical da Igreja soube destacar os elementos que correspondem a esta qualidade que o música litúrgica (São Pio X em Tra Sollecitudine ). Talvez o problema do nosso tempo seja a distância entre a cultura e a expressão sagrada comum, a falta de formação cristã ou de educação para as artes mais elevadas. Esta distância obriga muitas vezes a expressão litúrgica a descer ao popular ou, por vezes, ao vulgar. Este aspeto, que é essencial para a Liturgia, sofreu uma forte deterioração nos últimos tempos.
O Papa Francisco, perante a dinâmica de divergência entre diferentes sensibilidades sobre uma forma ritual, aponta para o cuidado da liturgia, para redescobrir a sua beleza e viver a verdade e a força da celebração cristã (Desiderius desideravit, 16). Para isso, insiste na importância da formação litúrgica, que é "a fonte primeira e necessária da qual os fiéis devem beber um espírito verdadeiramente cristão" (SC 14).
A virgindade consagrada é uma antiga vocação feminina promovida pela Igreja nos tempos modernos, em que mulheres solteiras e castas são misticamente desposadas com Cristo pelo bispo diocesano, dedicando-se à oração, ao serviço e a uma vida ascética de acordo com os seus dons.
Jenna Marie Cooper-25 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
Pergunta: O que significa ser uma "virgem consagrada", quais são os direitos e deveres desta designação e qual é o processo para se tornar uma "virgem consagrada"?
Resposta: O Código de Direito Canónico define as virgens consagradas como mulheres castas, solteiras, que "pela sua promessa de seguir Cristo mais de perto, ... são consagradas a Deus, misticamente desposadas com Cristo e dedicadas ao serviço da Igreja, quando o bispo diocesano as consagra segundo o rito litúrgico aprovado" (Cânone 604).
A virgindade consagrada é a forma mais antiga de vida consagrada na Igreja, sendo anterior ao desenvolvimento da vida religiosa em vários séculos. Desde os tempos apostólicos, sempre houve mulheres que escolheram renunciar ao matrimónio para dedicar mais plenamente a sua vida e o seu coração a Jesus. Por esta razão, eram tradicionalmente chamadas e formalmente reconhecidas pela Igreja como "noivas de Cristo".
Desde pelo menos o século IV, se não antes, a Igreja tem tido um ritual litúrgico especial - distinto da ordenação sacerdotal, mas em alguns aspectos paralelo a ela - para os bispos consagrarem solenemente as mulheres a uma vida de virgindade. Muitas das nossas primeiras santas mártires, como Santa Ágata, Santa Inês, Santa Luzia e Santa Cecília, que são citadas numa das orações eucarísticas da Missa, são consideradas virgens consagradas.
Com o desenvolvimento das ordens religiosas na Antiguidade tardia, o costume de consagrar as mulheres fora dos mosteiros caiu em desuso e, na Idade Média, a Igreja deixou de ter virgens consagradas "vivendo no mundo". Mas, em meados do século XX, o documento "Sacrosanctum Concilium" do Concílio Vaticano II apelou a uma revisão do antigo rito de consagração a uma vida de virgindade e, em 1970, foi promulgado o novo rito. Assim, numa situação semelhante à do renascimento do diaconato permanente, a vocação da virgindade consagrada foi restaurada na vida da Igreja moderna.
Em 2018, o Vaticano publicou um documento chamado "Ecclesiae Sponsae Imago", ou ESI, que forneceu aos bispos orientações mais detalhadas sobre este estado de vida, abrangendo tópicos como o discernimento das vocações, a formação e a vida e missão das virgens consagradas.
A virgindade consagrada é uma vocação única para as mulheres, uma vez que está centrada na Igreja diocesana local e não num grupo ou comunidade religiosa em particular. É o bispo diocesano que aceita as mulheres neste estado de vida e que, em última análise, actua como "superior" das virgens consagradas na sua diocese. Em geral, as virgens consagradas são chamadas a rezar pelas necessidades da sua diocese e a servir as necessidades da sua Igreja local, de acordo com os seus dons e talentos específicos.
Nos parágrafos 80-103, "Ecclesiae Sponsae Imago" descreve o processo de formação das aspirantes a virgens consagradas, que dura entre três e cinco anos. A formação para a virgindade consagrada envolve, entre outros elementos: acompanhamento pessoal e direção espiritual, um certo nível de estudo teológico académico e uma adoção gradual do estilo de vida de uma virgem consagrada.
No que diz respeito aos deveres e obrigações de uma virgem consagrada, a introdução ao rito de consagração à vida de virgindade diz: "Empreguem o seu tempo em obras de penitência e de misericórdia, na atividade apostólica e na oração, segundo o seu estado de vida e os seus dons espirituais".
A "Ecclesiae Sponsae Imago" descreve mais especificamente que as virgens consagradas são obrigadas a rezar a Liturgia das Horas (ESI 34) e a assistir à Missa diária nas regiões onde isso é possível (ESI 32). Espera-se também que as virgens consagradas levem uma vida relativamente ascética, discernindo práticas penitenciais concretas com o seu confessor ou diretor espiritual (ESI 36).
As virgens consagradas não fazem votos de pobreza e obediência exatamente da mesma forma que os religiosos. No entanto, as virgens consagradas são chamadas a viver num espírito de pobreza evangélica (ESI 27) e a co-discernir os principais aspectos da sua vida e missão com o seu bispo (ESI 28).
O autorJenna Marie Cooper
Licenciada em Direito Canónico, virgem consagrada e canonista.
Semana da Unidade dos Cristãos: um congresso internacional reavalia os acontecimentos de 1054
Um simpósio em Viena reavaliou o alegado "cisma" de 1054 entre as Igrejas Católica e Ortodoxa, salientando que a fratura começou antes e que 1054 assumiu um simbolismo posterior. Os líderes das Igrejas defendem o reconhecimento mútuo e a unidade dos cristãos.
Die Tagespost-24 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 2acta
Um simpósio internacional realizado esta semana em Viena reavaliou os acontecimentos de Constantinopla em 1054, considerada a data da separação entre as Igrejas Oriental e Ocidental. Em todo o caso, fala-se da "cismaO "1054" é ultrapassado ou refutado, segundo o teor da Universidade de Viena. O Cardeal Kurt Koch, da Cúria, fez o discurso de abertura. O Patriarca Ecuménico Bartolomeu enviou saudações. O Cardeal Koch e o teólogo ortodoxo de Graz, Grigorios Larentzakis, já expressaram esta opinião em dois artigos no "Tagespost" no verão de 2021.
Em 1054, o Cardeal Humbert de Silva Cândida deslocou-se a Constantinopla, em nome do Papa Leão IX, para concluir uma aliança militar contra os normandos. A tentativa falhou. No entanto, circunstâncias infelizes levaram-no a excomungar o patriarca Miguel Cerularius. Pouco tempo depois, seguiu-se uma contra-excomunhão. Na história da Igreja, esta foi frequentemente considerada a data oficial do cisma entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa. Em 7 de dezembro de 1965, na véspera da sessão final do Concílio Vaticano II, o Papa Paulo VI e o Patriarca Ecuménico Atenágoras fizeram ler uma declaração na Basílica de S. Pedro, em Roma, e na Catedral de S. Jorge, no Fanar, em Constantinopla, lamentando as excomunhões e "remetendo-as ao esquecimento".
A fratura entre o Oriente e o Ocidente começou muito antes
No seu discurso de boas-vindas ao simpósio de Viena, o Patriarca Bartolomeu sublinhou o dever de "prosseguir com todas as nossas forças os esforços agradáveis a Cristo para superar a divisão e alcançar a tão desejada unidade". Na sua intervenção, o Cardeal Kurt Koch sublinhou que o "escândalo de 1054" não conduziu a um cisma nem à excomunhão mútua das Igrejas latina e grega. Só muito mais tarde é que a data adquiriu um grande significado simbólico. A fratura entre o Oriente e o Ocidente tinha, evidentemente, começado muito antes de 1054 e continuado depois dessa data.
Para superar a separação, o primeiro passo deve ser o reconhecimento mútuo das Igrejas Católica e Ortodoxa como Igrejas. A isto deve seguir-se o segundo passo, nomeadamente o restabelecimento da comunhão, afirmou Koch. No seu discurso de boas-vindas, o Metropolita Ortodoxo Grego Arsenios Kardamakis elogiou todos os esforços para promover a correta compreensão e categorização dos acontecimentos de 1054. Este é um serviço importante para as Igrejas.
Esta é uma tradução de um artigo que apareceu pela primeira vez no sítio Web Die-Tagespost. Para consultar o artigo original em alemão, ver aqui . Republicado em Omnes com autorização.
Erik Varden: "A história humana, apesar dos seus absurdos, tem um sentido".
Erik Varden é um monge cisterciense e presidente da Conferência Episcopal Escandinava. Nesta entrevista, explica os conceitos de equidade, inclusão e diversidade para a sociedade atual, com base na espiritualidade beneditina.
Monsenhor Erik Varden é um monge cisterciense, presidente da Conferência Episcopal Escandinava. Conhecido pela sua análise perspicaz da atualidade, Monsenhor Varden olha para o mundo com esperança e é capaz de ver nos acontecimentos que nos rodeiam sinais de que Deus continua a cuidar de cada pessoa e de que o Espírito Santo guia a Igreja.
Não é, portanto, surpreendente que Erik Varden consiga relacionar com a doutrina cristã três grandes conceitos que são mal compreendidos atualmente: diversidade, inclusão e equidade.
Depois de um conferência Nesta entrevista, o presidente da Conferência Episcopal Escandinava desenvolve estes três conceitos, aplicando-os à espiritualidade e ao modo de vida beneditinos.
Fala de diversidade, equidade e inclusão em relação à Igreja. Poderia explicar estes conceitos e por que razão precisamos deles atualmente na Igreja?
- Penso que há muitas razões para isso. Obviamente, esta tríade de diversidade, equidade e inclusão funciona de forma diferente em diferentes países. Nos Estados Unidos, é uma referência muito mais universal do que na Europa. É um conceito mais unitário do que na Europa, e é utilizado como base para decisões estratégicas, para monitorizar o bom ou mau funcionamento das instituições... E, como tal, os termos tornaram-se controversos, porque alguns defendem que estes termos representam o caminho para uma sociedade justa e uma governação mais justa, particularmente no seio das instituições. Mas outros vêem-nos como parciais, tendenciosos, sem sentido e manipuladores.
Na Europa, os termos funcionam de forma diferente. Penso que, tanto no Norte como no Sul, são utilizados no discurso político e, em certa medida, no discurso eclesiástico. É muito importante tomá-los em consideração e estudá-los, e penso que também é importante tentar descobrir para onde apontam. Na minha opinião, todas elas apontam para uma questão fundamental, que é dolorosa na maior parte dos nossos países do mundo ocidental. Essa questão fundamental é: o que é que significa pertencer?
Estes conceitos são muito frequentes nos discursos actuais, mas como ligá-los à doutrina católica e ao plano de Deus para nós?
- Temos de nos colocar algumas questões muito necessárias. Equidade, diversidade e inclusão são três termos potencialmente excelentes. Mas não são auto-explicativos, requerem contexto.
Quando falamos de inclusão, isso não tem qualquer significado enquanto eu não definir aquilo em que quero e espero ser incluído. É muito bonito falar de equidade, mas equidade segundo que padrão de justiça? E quando falamos de diversidade, apercebemo-nos de que o mundo é diverso por natureza, mas segundo que padrão fundamental?
Estes termos tornam-se introspectivos e inúteis quando se transformam em meros instrumentos de auto-afirmação. Quando a inclusão significa que tens de me aceitar nos meus termos, ou então levo-te a tribunal, ou quando a justiça significa que tens de me dar tudo o que eu acho que mereço, os termos tornam-se inúteis.
Quando nos abrirmos a estas meta-questões, às normas sobre as quais nos propomos formar uma sociedade e aos valores pelos quais queremos viver e crescer, então sentiremos a necessidade de algum tipo de parâmetros absolutos ou, pelo menos, estáveis. Nessa altura, os conceitos biblicamente revelados de Deus, de humanidade e de sociedade justa não são assim tão remotos. De facto, revelam-se extremamente pertinentes e relevantes para as questões que colocamos.
Se nos limitarmos a seguir as perguntas e a "abri-las", podemos reparar esta aparente desconexão entre o discurso político e o teológico, entre um discurso de direitos e um discurso de graça.
Fala também do renascimento do homem, o que é que isso significa?
- Digo-o no sentido mais lato possível. É uma aspiração de ver para o nosso tempo a articulação de uma antropologia profundamente cristã. Estamos numa situação difícil, vivemos com muitas questões urgentes sobre a identidade humana específica. Mas também vivemos com a ameaça global da inteligência artificial, confiamo-nos às máquinas, e gostamos disso porque ter os nossos telefones como o nosso próprio membro feito à mão faz-nos sentir em contacto com tudo e com todos. Mas, ao mesmo tempo, sentimo-nos ameaçados por isso.
Assim, a tarefa importante é restabelecer o que é ser um ser humano, e restabelecê-lo de forma realista em termos das fragilidades humanas, mas também em termos do potencial humano. E tentar encorajar as pessoas a quererem viver.
Algo que considero muito perturbador e triste é o imenso cansaço que atualmente se encontra com frequência nos jovens, e mesmo nas crianças. É importante tentar ajudar estas pessoas a abrirem os olhos e a levantarem a cabeça, a olharem à sua volta e a procurarem. Quero que pensem no que podem vir a ser, e é isso que quero dizer com a minha aspiração ao renascimento do homem.
Porque é que escolheu um exemplo que pode ser considerado ultrapassado?
- Talvez porque não se trata de algo que esteja muito longe do nosso tempo. Se pensarmos bem, em termos puramente históricos, ou mesmo sociológicos, podemos olhar para um longo período da história europeia e ver uma época após outra em ascensão e queda, uma corrente intelectual após outra. Ao longo de tudo isto, uma das principais constantes é esta estranha persistência da vida monástica beneditina.
Uma vez que a vida monástica corresponde a algo tão profundo no coração humano, tem uma forma de se fortalecer, de se restabelecer e de florescer nas circunstâncias mais surpreendentes. Por isso, penso que vale a pena perguntar o que é que esta micro-sociedade em particular tem feito com que seja tão duradoura quando vemos tantas estruturas políticas e institucionais a desmoronarem-se. E, ao mesmo tempo, o que é que a torna tão flexível, capaz de se inserir nas mais variadas circunstâncias, mantendo a sua identidade distintiva.
Porque é que é tão mau e como é que resolvemos este problema quando parece tão fácil adoptá-lo como um hábito nas nossas vidas?
- Muito disso tem a ver com o facto de ter resolvido a minha própria bagagem. Esta tendência para exteriorizar qualquer queixa faz com que as pessoas sintam que resolveram o que as aflige só pelo facto de o dizerem. Se nos cingirmos à referência monástica, os monges tendem a ser grandes realistas, porque têm de viver consigo próprios e com os outros durante muito tempo. A tradição monástica encoraja-nos a olhar para os nossos sentimentos e experiências e a perguntar de onde vêm e o que significam.
A maior parte das vezes, todos nós já passámos por isto, alguém me diz algo que me magoa profundamente e apetece-me ripostar, mas o que a outra pessoa disse pode ser inócuo, por isso a minha reação não tem a ver com o que foi dito, mas com algum tipo de gatilho que surgiu através do que foi dito.
Assim, se quisermos libertar-nos das nossas próprias paixões irracionais, o que importa é ter a paciência, a perseverança e a coragem de seguir essas reacções e de as enfrentar na sua origem.
Apesar da situação frágil e difícil do nosso mundo, a senhora exala esperança. De onde vem esta atitude?
- Fico espantado com a quantidade de bondade que encontro nas pessoas. Como toda a gente, olho para o mundo e sinto-me angustiado, porque há tanta coisa a acontecer. Mas, ao mesmo tempo, vejo uma grande capacidade de resistência nas pessoas. Além disso, acredito em Deus. Acredito que a história humana, apesar de todos os seus aparentes absurdos, está a caminhar para um objetivo e que faz sentido. Mesmo os pontos negros e as experiências dolorosas podem contribuir para um bom fim.
Também considero muito aborrecido o tipo de negativismo e pessimismo de princípio que domina o nosso discurso cultural e intelectual. Quando já se ouviu uma vez, já se ouviu tudo. Em vez de nos limitarmos a juntarmo-nos a um coro que faz parte de uma canção que não tem melodia, vejamos o que podemos fazer. música pode emergir. Se o fizermos, descobriremos que, quando escutamos, podemos ouvir todo o tipo de tonalidades.
São Francisco de Sales, mergulhado no amor de Deus
No dia 24 de janeiro, a Igreja celebra o santo bispo francês de Genebra, padroeiro dos jornalistas e escritores, São Francisco de Sales. O Papa Francisco reflectiu sobre os seus ensinamentos numa Carta Apostólica publicada por ocasião do 400º aniversário da morte do santo, intitulada "Totum amoris est" ("Tudo pertence ao amor").
Francisco Otamendi-24 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
O Jubileu do mundo das comunicações 2025 é o primeiro dos 35 Jubileus neste ano da esperança na Igreja. E começa hoje em Roma, precisamente no dia da memória de S. Francisco de Sales, a quem o Papa Francisco dedicou um Carta em dezembro de 2022, no 4º centenário da morte do bispo e doutor da Igreja, que viveu em França no final do século XVII.
São Francisco de Sales nasceu em 1567 no castelo de Sales (Thorens, Saboia), no seio de uma das mais antigas e nobres famílias da Saboia, onde foi advogado no Senado, mas decidiu seguir o seu caminho de vocação sacerdotalFoi ordenado em 1593. Em 1599, foi nomeado bispo de Genebra, com sede em Annecy, porque Genebra era quase inteiramente Calvinista. Em 1604 conheceu santa Joana-Francisco Frémyot de Chantal, cofundador com ele da Ordre de la Visitação de Santa Maria. Foi beatificado em 1662 e canonizado em 1665.
"Viveu entre dois séculos, o XVI e o XVII, e reuniu o melhor dos ensinamentos e das realizações culturais do século que terminava, conciliando a herança do humanismo com a tendência para o absoluto, caraterística das correntes místicas", citado Papa Francisco do catequese de Bento XVI, na sua Carta de 2022, baseada em grande parte no "Tratado do Amor de Deus" do santo.
Casos de eutanásia aumentam mais de 10 % nos Países Baixos, Canadá e Espanha
O número de mortes por eutanásia está a aumentar de ano para ano, a uma taxa entre 10 e 15%, nos primeiros países a dar-lhe apoio legal, aos quais a Espanha se juntou desde 2021. Nos Países Baixos, as mortes por eutanásia representam atualmente 5,4 por cento do total e na Bélgica, cerca de 4 por cento.
Francisco Otamendi-24 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 4acta
O declive "escorregadio" está a aumentar. Nos primeiros países cujos governos e/ou parlamentos deram luz verde à eutanásia e ao suicídio assistido, estas práticas estão a crescer a uma forte taxa de 10 a 15% por ano.
Os candidatos à eutanásia surgem, embora não todos, entre os idosos e os doentes com cancro, mas os defensores da eutanásia estão constantemente à procura de novos nichos. Vejamos.
Países Baixos, relativamente a pessoas com doenças mentais
Os casos de eutanásia nos Países Baixos aumentaram 13,7 por cento em 2022, para um total de 8.720, o que representou 5,1 por cento do número total de mortes registadas no país nesse ano. No entanto, em 2023, segundo o Netherlands Times, foram registadas 9.068 mortes, um aumento de "apenas" 3,9%, embora tenha aumentado a percentagem de mortes por eutanásia para 5,4% do total.
Com taxas de crescimento inferiores a 5%, algo não parecia estar a correr bem para os seus promotores. Assim, a propaganda da eutanásia acentuou-se entre as pessoas com doenças mentais e psicológicas, muitas delas menores de idade, e na chamada "demência" senil.
No mesmo ano, o aumento da eutanásia por perturbações mentais provocou um debate no país, porque o número de mortes assistidas por condições psiquiátricas foi de 138, mais 20 % do que no ano anterior. Além disso, pela primeira vez, foi eutanasiado um menor com uma doença mental, segundo El País.
Três notícias com impacto
Ao mesmo tempo, registaram-se alguns desenvolvimentos notáveis na opinião pública. Em primeiro lugar, o antigo primeiro-ministro Andreas (Dries) van Agt e a sua mulher, Eugenie Krekelberg, decidiram morrer juntos, dando visibilidade à eutanásias em casais.
Em segundo lugar, o história de Zoraya ter Beek, uma mulher de 28 anos, casada e apaixonada, alegadamente com "depressão incapacitante", autismo e transtorno de personalidade limítrofe, que pediu e obteve a eutanásia.
E, em terceiro lugar, foi anunciado o lançamento do eutanásia para crianças entre 1 e 12 anos com doença terminal e "dor insuportável", a partir de 2024.
Além disso, o Instituto Europeu de Bioética O Parlamento Europeu referiu que "os estudos científicos estimam que devem ser acrescentados entre 25 e 35 % de casos de eutanásia não declarados". Quarenta e dois % tinham mais de 80 anos e o número de casos de eutanásia em doentes com menos de 40 anos era de cerca de 1%.
Canadá, forte crescimento
Tal como nestes países europeus, a eutanásia tem vindo sempre a crescer no Canadá desde que foi autorizada (2016). De acordo com os dados de 2023, as mortes são 15,8 por cento mais elevadas do que em 2022, após três aumentos anuais consecutivos de mais de 30 %, de acordo com Aceprensa.
Infobaeque também acompanhou o caso canadiano, informou que, ao longo de 2022, um total de 13.241 mortes no Canadá foram assistidas por médicos através da eutanásia, o que representa 4,1 % de todas as mortes no país, segundo revelou o governo canadiano. Esta é já uma percentagem semelhante à da Bélgica. A mesma agência afirma que desde 2016 já se registaram quase 45 mil mortes por eutanásia no país, segundo dados da Fox News.
Em maio de 2024, a Conferência Canadiana dos Bispos Católicos organizou um simpósio sobre cuidados paliativos em conjunto com a Academia Pontifícia para a Vida. Conforme noticiado pelo Omnes, o Papa enviou um mensagem O Papa recordou aos participantes que condenou a eutanásia, afirmando que "nunca é uma fonte de esperança ou de preocupação genuína para com os doentes e os moribundos. Pelo contrário, é um fracasso do amor, um reflexo de uma 'cultura do descartável' em que 'as pessoas já não são vistas como um valor supremo a ser cuidado e respeitado'". Além disso, sublinhou que "a verdadeira compaixão são os cuidados paliativos".
Espanha: mais 25 % de aplicações em 2023
Desde a entrada em vigor da lei (2021), até 31 de dezembro de 2023, foram tratados em Espanha 1.515 pedidos de assistência em caso de morte: 173 em 2021, 576 em 2022 e 766 em 2023. Os pedidos em 2023 foram cerca de 25 % mais do que os 576 do ano anterior.
Do total de pedidos, "foram efectuados 334 benefícios", ou seja, mortes, segundo o relatório fornecidos em dezembro de 2024 pelo governo espanhol em comparação com o ano anterior. Conforme relatado pelo El País, isso é 12 % a mais do que em 2022, quando ocorreram 288 mortes, em comparação com 75 em 2021.
Por região autónoma
Segundo Moncloa, "a distribuição dos 766 pedidos de eutanásia registados em Espanha é a seguinte Catalunha 219, Madrid 89, Ilhas Canárias 62, País Basco 58, Comunidade Valenciana 56, Andaluzia 43, Galiza 41, Ilhas Baleares 37, Astúrias 33, Castela-La Mancha 28, Castela e Leão 27, Navarra 24, Aragão 22, Cantábria 19, La Rioja 4, Extremadura 2, Múrcia 2, Melilha 0 e Ceuta 0". Acrescentou-se ainda que "25 % dos requerentes faleceram antes de o seu pedido ser resolvido" e que "o tempo médio decorrido entre o pedido e a morte foi de 30 dias".
Em 2024, Torreciudad teve um desempenho notável em vários domínios, consolidando-se como um dos destinos mais destacados de Aragão. O seu gabinete de imprensa publicou os dados relativos ao ano anterior, tanto em termos de afluência, como de impacto nas redes sociais e de pegada educativa e cultural.
Número e origem dos visitantes
Em 2024, Torreciudad recebeu cerca de 185.000 visitantes, com picos significativos em agosto (32.300 pessoas), julho (20.500) e março (20.400), coincidindo com as férias de verão e a Páscoa. 84.29% dos visitantes eram provenientes de Espanha, com a Catalunha (26.49%) e Madrid (25.40%) como principais origens, enquanto 15.21% eram provenientes do estrangeiro, sendo França, Portugal, Estados Unidos e Reino Unido os países mais representados.
As controvérsias em torno do santuário não parecem estar a contribuir para que seja visitado por mais fiéis, uma vez que o número de visitantes diminuiu em 15.000 em relação ao ano anterior.
Promoção, cultura e espaços museológicos
A promoção turística continua a atrair famílias e grupos organizados, que combinam uma visita a Torreciudad com rotas culturais, gastronomia e desportos de aventura na área circundante. Em 2024, os espaços museológicos do santuário foram fundamentais: o espaço "Vive a experiência da fé" recebeu 15 414 visitantes, e o videomapping "O retábulo fala-te dele" atraiu quase 21 000 espectadores. Para além disso, a galeria das invocações marianas cresceu com 14 novas imagens, elevando o total para 557 padroeiras de 81 países.
Presença digital e projeção futura
As redes sociais de Torreciudad registaram um crescimento de 9.44%, atingindo 94.857 seguidores, enquanto as transmissões em direto de missas e terços no YouTube alcançaram mais de 350.000 visualizações de 38 países. Para o ano de 2025, o Conselho de Administração centrar-se-á na promoção das peregrinações tradicionais, na pastoral familiar e na celebração do 50.º aniversário da abertura do novo santuário ao culto. Além disso, serão promovidas novas edições de cursos matrimoniais e experiências jubilares no âmbito do Jubileu convocado pelo Papa Francisco.
Projectos para 2025
O Encontro Anual de Delegados do Patronato de Torreciudad celebrará a sua 49ª edição nos dias 8 e 9 de março. As tarefas de programação para 2025, que decorrerão durante estes dias, centrar-se-ão na dinamização das peregrinações e jornadas já tradicionais, com destaque para a Jornada Mariana da Família, e na preparação do 50º aniversário da abertura ao culto da nova Torreciudad, inaugurada a 7 de julho de 1975. A pastoral familiar receberá também um impulso significativo, nomeadamente com a organização de várias edições dos cursos para casais "A Família".TWOgether Torreciudad"A experiência espiritual do Jubileu 2025 convocada pelo Papa Francisco.
Arcebispo Luis Argüello: a Igreja não apoia as "terapias de conversão".
O presidente da Conferência Episcopal, Monsenhor Luis Argüello, disse ontem em conversa com a ministra espanhola da Igualdade, Ana Redondo, que a Igreja Católica "não apoia" as chamadas "terapias de conversão" para homossexuais - uma expressão "não científica" - e que "não se enquadram no âmbito da sua ação pastoral".
Francisco Otamendi-23 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 2acta
O encontro teve lugar na sede da Conferência Episcopal de Madrid, a pedido do ministro, e durou cerca de uma hora, num clima de cordialidade e confiança, segundo uma nota divulgada pela Conferência Episcopal Espanhola (CEE).
O motivo inicial da reunião foram as chamadas "terapias de conversão" de homossexuaisO ministro abordou duas questões durante o fim de semana.
Duas perguntas do ministro
Em primeiro lugar, a decisão do bispado de Segóvia de apoiar a recusa de um padre de distribuir a comunhão a dois homossexuais, que o ministério considera "um ato discriminatório".
Em segundo lugar, a abertura de um ficheirona sequência de uma notícia segundo a qual "em várias dioceses espanholas estão a ser ministrados cursos e workshops sobre conversão sexual para pessoas LGTBI+".
Monsenhor Argüello: expressão não científica
Relativamente a esta segunda questão, de acordo com o nota da CEEArgüello salientou que "terapias de conversão" é "uma expressão imprecisa, ampla e não científica, que a Igreja Católica não apoia e que não se insere no âmbito da sua ação pastoral".
O presidente da Conferência Episcopal sublinhou também que nem todas as terapias que não sejam 'terapias afirmativas' podem ser tratadas como 'terapias de conversão'".
Por outro lado, Luis Argüello acrescenta que "o projeto 'Transformados', como explicam as pessoas que o levam a cabo, convida à conversão a Cristo e à proposta de vida que surge do Evangelho e que é oferecida a todas as pessoas". Por conseguinte, não se trata de uma terapia psicológica ou algo do género, mas sim de levar ou aproximar-se de uma vida de fé, e é também público.
O nota O Ministério da Igualdade informa que a ministra rejeitou "as terapias de conversão que estão a ser aplicadas em várias dioceses espanholas" e revela que está a ser elaborado "um relatório para avaliar a possibilidade de modificar o Código Penal e de as criminalizar".
Receber a comunhão na graça de Deus: afetar todos
A Ministra Ana Redondo e o Arcebispo Luis Argüello também partilharam os seus pontos de vista sobre a questão da distribuição da comunhão aos homossexuais.
O Arcebispo Argüello negou, segundo a nota, que haja discriminação neste sentido na Igreja Católica, em relação ao que foi afirmado pelo Ministério da Igualdade, "uma vez que a norma básica para receber a comunhão, que é estar na graça de Deus, afecta todos os católicos de forma igual, independentemente de qualquer outra condição, incluindo a orientação sexual".
Por último, ambos concordaram com "a importância dos princípios da liberdade, da igualdade e da não-discriminação para a nossa sociedade constitucional". Por seu lado, o bispado de Segóvia emitiu uma comunicado explicar os factos sobre a Comunhão.
Para além do bom ritmo que caracteriza esta biografia espiritual de Tolkien, a abordagem profundamente instrutiva é notável.
Carmelo Guillén-23 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
Para além do excelente ritmo que caracteriza esta biografia espiritual de Tolkien, destaca-se a abordagem profundamente instrutiva que apresenta. Através de uma análise rigorosa da trajetória de vida do criador de O Senhor dos Anéis, o autor detalha os princípios que sustentam a fé católica do escritor, uma perspetiva que ilumina não só a sua esfera pessoal, mas também a forma como essa espiritualidade se reflecte nas personagens e nas histórias que compõem a sua obra literária, sobretudo a mais conhecida, O Senhor dos Anéis.
Um aspeto relevante é a análise das relações que Tolkien A sua amizade com C.S. Lewis, caracterizada por um profundo intercâmbio intelectual e espiritual, é particularmente notável pelo seu significado histórico.
Para além de uma bibliografia exaustiva sobre a pessoa e o universo de Tolkien, o volume inclui dois apêndices, um dedicado à cronologia da sua vida e outro às orações e textos litúrgicos presentes na vida de Tolkien, bem como um glossário básico de termos religiosos que enriquece a compreensão da espiritualidade deste escritor, que se definia como um "católico romano devoto".
José A. Benito: "Santo Toribio Mogrovejo promoveu a dignidade dos índios na América".
O segundo arcebispo de Lima, no Peru, foi, entre o final do século XVI e o século XVII, São Toríbio Mogrovejo. Grande evangelizador itinerante e patrono dos bispos latino-americanos, elogiado pelos Papas, lutou pela dignidade dos índios e pela sua promoção humana e social em concílios e sínodos, conta o historiador José António Benito à Omnes.
Francisco Otamendi-23 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 7acta
Poucos se lembram que o chamado "Borromeu das Índias", São Toríbio Mogrovejo, falecido no Peru em 1606, depois de 25 anos como arcebispo de Lima, foi nomeado padroeiro dos bispos latino-americanos por São João Paulo II e elogiado por Bento XVI pela "sua dedicação abnegada à edificação e consolidação das comunidades eclesiais do seu tempo, procurando sempre a unidade".
E talvez também não se lembre que o santo foi descrito em janeiro de 2018 pelo Papa Francisco, no seu viagem ao Perucomo "um evangelizador exemplar (...). Um dos grandes evangelizadores da América Latina", juntamente com São José de Anchieta. "Sois uma terra 'ensantada'. Sois o povo latino-americano com mais santos, e santos do mais alto nível, não é? Toribio, Rosa, Martín, Juan", disse o Papa.
Santo Toribio Mogrovejo foi sepultado em Lima em 1607, beatificado em 1679 e canonizado em 1726, afirma o historiador José Antonio Benito Rodriguez, residente no Peru durante 30 anos (1994-2024), ex-diretor do Instituto de Estudos Toribianos desse país e secretário da Academia Peruana de História da Igreja. O Dr. Benito fornece dados que quebram o molde de uma "lenda negra O espanhol na evangelização da América.
A luta capital de São Toríbio Mogrovejo foi por dignidade Acrescenta que São João Paulo II, na sua viagem ao Peru em 1985, não encontrou melhor discurso para se dirigir aos bispos do que um retrato de São Toríbio, "para quem a primeira reforma foi a sua". José Antonio Benito, nascido em Salamanca, escreveu numerosos livros (45) e artigos, e no seu blogue JABENITO" recebeu três milhões de visitas.
Que interesse tem uma personagem do passado para o nosso tempo?
Ela aviva as nossas raízes, dá-nos identidade, solidez, firmeza... A Igreja é um rochedo mas navega. A tradição legou-nos o melhor que vive no passado para iluminar o presente. Deixam entrar a luz e dão calor. Concretamente, foi São Toríbio que lançou as bases da riqueza espiritual do Peru como "Solo ensantado". com um grande número de santos, beatos, veneráveis e servos de Deus.
O Papa Francisco acaba de publicar, em 21 de novembro de 2024, uma Carta sobre a renovação do estudo do História da Igreja ajudar os padres a "interpretar melhor a realidade social" e a fazer "escolhas corajosas e fortes" que, alimentadas pela "investigação, conhecimento e partilha", respondam aos "refrões paralisantes do consumismo cultural", construindo um futuro fraterno.
Os últimos Papas falaram bem de São Toríbio de Mogrovejo, mas ele continua a ser muito desconhecido. Como o vê?
É uma longa história que tem a ver com o facto de não pertencer a uma ordem religiosa e de fazer parte do clero secular, com o facto de ter mudado as fronteiras das dioceses (León-Valladolid) no final do século XIX, com a queda dos colégios como Ancien Régime no final do século XVII, com a inexistência de uma Irmandade vigorosa, com o eurocentrismo da Igreja, com a falta de devoção popular, apesar de Rosa de Lima ou Martín de Porres - tão populares - terem sido confirmados por ele.
Em todo o caso, posso afirmar que, desde a celebração do 4º centenário da sua morte, em 2006, graças a congressos, publicações, exposições e devoções, a sua figura passou a ser mais conhecida e seguida.
Foi chamado o "Borromeu das Índias". São João Paulo II nomeou-o patrono dos bispos latino-americanos.
A comparação entre S. Toribio Mogrovejo e S. Carlos Borromeu foi expressa pela primeira vez pelo seu primeiro biógrafo, A. de Leon Pinelo, que se surpreende com as coincidências, e refere sempre o carácter reformador do bispo, fiel às normas do Concílio de Trento, Borromeu em Milão e Mogrovejo nos Andes.
Sobre o patrocínio dos bispos da América, nada melhor do que o texto de S. João Paulo II, a 10 de maio de 1983: "Os bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) professam uma peculiar veneração por São Toríbio Mogrovejo, arcebispo de Lima, que durante a segunda metade do século XVI e princípios do século XVII, exerceu com o mais ardente zelo pastoral sobre os fiéis que lhe foram confiados, promovendo a vida religiosa de toda a região e atendendo com especial solicitude aos indígenas.
Por esta razão, o Venerável Irmão António Quarracino, Presidente do referido Conselho, acolhendo o desejo unânime de todos os bispos, ratificou a eleição de São Toríbio de Mogrovejo como patrono de todo o Episcopado da América Latina e pediu insistentemente que esta eleição e aprovação fossem confirmadas [...]".
José A. Benito em frente a uma imagem de São Toríbio na sede da Conferência Episcopal Espanhola (Blogue Instituto de Estudos Toribianos).
O Papa Francisco chamou-lhe "grande evangelizador". Na realidade, ele era um arcebispo itinerante, um "pastor com cheiro de ovelha", escreveu.
O seu primeiro biógrafo, A. León Pinelo, definiu-o graficamente: "A sua vida foi uma roda, um movimento perpétuo que nunca parou. E se a vida do homem é uma milícia na terra, ele bem merecia o título de soldado de Cristo Nosso Senhor, pois nunca falhou na militância da sua Igreja, para obter a recompensa em triunfo, que piedosamente entendemos que ele goza"..
Carlos Rosell de Almeida, Reitor da Faculdade de Teologia Pontifícia e Civil de Lima, por ocasião da sua aula inaugural do ano 2019 com o título "Santo Toribio Alfonso de Mogrovejo à luz das linhas pastorais do Papa Francisco". Referiu-se ao Evangelii gaudiumO documento programático do Papa Francisco, destacando cinco pontos: 1. 2. ir para as periferias. 3. sentir o prazer espiritual de ser Povo. 4. Deixar-se surpreender pelo Espírito. 5. o valor da pobreza como fator de força na credibilidade da Igreja.
Bento XVI dedicou-lhe também algumas palavras.
Por ocasião do quarto centenário da morte de S. Toríbio de Mogrovejo, enviou a seguinte mensagem aos participantes nas celebrações do quarto centenário da morte de S. Toríbio de Mogrovejo: Ele, de facto, distinguiu-se pela sua abnegada dedicação à edificação e consolidação das comunidades eclesiais do seu tempo. Fê-lo com grande espírito de comunhão e colaboração, procurando sempre a unidade, como demonstrou ao convocar o III Concílio Provincial de Lima (1582-1583), que deixou um precioso acervo de doutrina e normas pastorais.
Um dos seus frutos mais preciosos foi o chamado "Catecismo de S. Toríbio"... O profundo espírito missionário de S. Toríbio está patente nalguns pormenores significativos, como o seu esforço em aprender várias línguas para poder pregar pessoalmente a todos os que lhe eram confiados. Mas era também sinal do seu respeito pela dignidade de cada pessoa humana, qualquer que fosse a sua condição, na qual procurava sempre despertar a alegria de se sentir um verdadeiro filho de Deus.
Como viveu São Toríbio? Parece que antes de reformar os seus sacerdotes ou os fiéis da sua diocese de Lima, reformou-se a si próprio através da oração e da penitência?
León Pinelo assinala que levou uma vida muito regular e sistemática ao longo de um quarto de século. Consciente de que a primeira reforma era a sua própria, submeteu-se a um regime de vida rigoroso, de fiel obediência ao seu horário.
Levantava-se às 6 horas da manhã sem a ajuda de um porteiro para o vestir ou calçar. Depois, passava o tempo a rezar as suas devoções e as horas canónicas que preparavam o seu espírito para a celebração da Missa. Como ação de graças, percorria a igreja e a sacristia, rezando de joelhos em cada um dos altares. Depois ia para o palácio e, no seu oratório, de joelhos, dedicava duas horas à oração mental. Depois, concedia uma audiência a quem a pedisse; se não houvesse visitas, ia para a biblioteca estudar Direito Canónico ou absorver leituras espirituais.
O almoço era muito moderado, sempre acompanhado da leitura de alguns cânones do Concílio de Trento ou da História Sagrada. Quando se tiravam as toalhas da mesa, rezava dois responsórios, um pelas almas do purgatório e outro pelo seu Colégio Mayor de San Salvador de Oviedo.
Do meio-dia à noite, tratava dos assuntos do arcebispado com os conselheiros, notários e ministros da corte. Não permitia visitas ociosas. Era muito devoto do Santíssimo Sacramento e procurou que fosse colocado um sacrário nas doutrinas dos índios para que estes pudessem dar o viático aos indígenas e comungar na Páscoa.
Destacou-se também pela sua grande preocupação com os nativos, os índios, os mais pobres dos pobres. É habitual traçarem-se perfis diferentes sobre o evangelização da América...
Dediquei minha dissertação à promoção humana e social dos índios nos conselhos e sínodos de São Toríbio, elaborando um catálogo de direitos e deveres nessas reuniões, que apresentei em 1991 no IV Congresso Nacional de Americanistas realizado em Valladolid. Por exemplo, o Sínodo de 1582 exigia clara e enfaticamente que os seus padres indianos instruíssem os nativos sobre as isenções económicas, os seus privilégios e os seus direitos: "...". os padres e os visitantes indianos terão o cuidado especial de lhes dar a conhecer este facto e de lho declarar... para que compreendam o que lhes é proporcionado a seu favor... e para que os referidos indianos não sejam incomodados ou incomodados de forma alguma. (c.l9).
A sua principal luta foi pela dignidade "infinita" da pessoa. Durante a sua viagem ao Peru em 1985, S. João Paulo II não encontrou melhor discurso para se dirigir aos seus bispos do que uma amostra da vida e da personalidade de S. Toríbio, descobrindo nele "um corajoso defensor ou promotor da dignidade da pessoa, um autêntico precursor da libertação cristã no vosso país (Peru), um respeitoso promotor dos valores culturais aborígenes".
Alguns pormenores da sua beatificação e canonização.
O processo de beatificação e canonização implicou toda uma mobilização de testemunhas com o objetivo de recordar a "vida e os milagres" de Mogrovejo. Todos os lugares ligados ao nosso personagem participarão com os tribunais eclesiásticos para testemunhar sobre a vida santa de Toríbio.
Dois milagres foram sancionados pela Congregação dos Sagrados Ritos da Santa Sé: a cura total e instantânea de Juan de Godoy, cujo peito foi trespassado por uma espada, e a fonte de água que jorrou na aldeia de San Luis de Macate.
Em 1679, o Papa Inocêncio XI beatificou-o a 28 de junho, embora a solenidade tenha sido celebrada a 2 de julho. O ofício e a missa próprios do Beato foram concedidos à cidade e diocese de Lima, à cidade de Mayorga e ao Colégio Mayor de San Salvador de Oviedo, em Salamanca.
Após a sua beatificação, foi canonizado a 10 de dezembro de 1726 pelo Papa Bento XIII, juntamente com, entre outros, São Francisco Solano, São Luís Gonzaga e São João da Cruz.
A América Latina celebrou o seu Bicentenário. Qual seria a sua mensagem inspirada em Santo Toribio?
Deu o melhor de si - profissão, sacerdote... - pelos outros, atravessando margens, construindo pontes... Realismo mas no máximo... Temos de sentir a alegria de fazer parte do Povo de Deus. Nós, que recebemos o dom do Batismo, não podemos ficar, para usar a expressão coloquial do Papa Francisco, numa situação de "fachada", temos de saber o que se passa com as pessoas, só assim poderemos iluminar a partir do Evangelho as preocupações mais profundas do povo de hoje.
Olhos e ouvidos atentos. Terceiro Domingo do Tempo Comum (C)
Joseph Evans comenta as leituras do Terceiro Domingo do Tempo Comum de 26 de janeiro de 2025.
Joseph Evans-23 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 2acta
Todos os terceiros domingos do tempo comum são agora chamados Domingo da Palavra de Deusque é uma iniciativa do Papa Francisco para nos ajudar a valorizar mais a Bíblia. As leituras de hoje ajudam-nos a refletir sobre isso.
A primeira leitura insere-se neste contexto de escuta da Palavra de Deus. Os israelitas tinham regressado à Terra Prometida, depois de terem passado anos de exílio numa terra pagã, sem acesso à lei de Deus. Esdras, o escriba, pegou nos rolos sagrados e reuniu o povo para os ouvir. O povo fica do lado de fora a ouvir os escribas lerem e explicarem a lei, desde manhã cedo até ao meio-dia.
Imaginem: uma homilia desde a primeira hora da manhã até ao meio-dia, ou seja, durante cerca de cinco ou seis horas. E dizem-nos que as pessoas estavam tão felizes que choravam de emoção. Um longo sermão hoje poderia fazer-nos chorar de angústia!
Mas talvez nos ajude a pensar como somos abençoados por termos a Palavra de Deus na Bíblia e nos ensinamentos da Igreja. A Bíblia é como uma carta de amor de Deus para nós, ou uma série de cartas escritas ao longo de 1000 anos. Que maravilha que Deus esteja disposto a falar connosco! Cada livro da Bíblia é tão diferente. Cada um responde ao seu tempo e ao seu contexto. Deus fala-nos em alturas diferentes, de acordo com as nossas necessidades. Por vezes, o livro repreende o povo quando este é infiel e chama-o ao arrependimento. Por vezes, Deus parece zangado e desiludido. Mas, muito rapidamente, Deus perdoa e tenta confortar. Por vezes, a Bíblia mostra Deus como duro, porque o povo precisava dele: aquilo a que poderíamos chamar amor duro.
O Evangelho de hoje mostra-nos Jesus a interpretar o Antigo Testamento e a fazer o que devemos sempre fazer: apreciar a sua mensagem para nós, nos nossos dias. "E começou a dizer-lhes: "Hoje cumpriu-se a Escritura que acabais de ouvir.". Toma emprestado um texto do profeta Isaías: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu....". Isto aplica-se em primeiro lugar a Jesus, mas nele todos nós somos ungidos pelo Espírito Santo no Batismo e na Confirmação. Sempre que lemos a palavra de Deus na Escritura, particularmente a sua plenitude no Novo Testamento, temos de pensar: isto está a cumprir-se na minha vida hoje.
"Toda a sinagoga tinha os olhos fixos nele.". E os nossos também. Os nossos olhos devem estar fixos nos actos de Cristo na Missa e os nossos ouvidos nas suas palavras.
Milhares de fiéis reúnem-se em Yumbel para homenagear São Sebastião
Numa das festas religiosas mais tradicionais do sul do Chile, milhares de fiéis chegaram ao Santuário de San Sebastián, em Yumbel. A peregrinação maciça é um testemunho vivo da devoção e da piedade populares.
Pablo Aguilera-22 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 2acta
Na segunda-feira, 20 de janeiro, Yumbel viveu uma das suas festas mais emblemáticas, com a chegada de centenas de milhares de peregrinos ao Santuário de São Sebastião. A celebração maciça, que presta homenagem ao santo mártir, tornou-se uma das tradições religiosas mais importantes do sul do Chile.
Origem da peregrinação
No ano de 1859 foi concluída a construção do Santuário de San Sebastián, localizado junto à praça principal de Yumbel, uma cidade da Arquidiocese de Concepción, no sul do Chile. A principal atração do templo é uma antiga imagem do Mártir São Sebastião, feita de madeira de cedro, com 73 cm de altura. Foi homenageada na cidade de Chillán no século XVII.
Mas o ataque dos araucanos liderados pelo toqui Butapichún a essa cidade, em 1655, motivou os espanhóis a deslocar a imagem de San Sebastián para as proximidades de Yumbel, para evitar que fosse profanada. A imagem foi encontrada em alguns palheiros e transferida para a praça principal da cidade. Em 1663, um juiz eclesiástico atribuiu a imagem de San Sebastián a Yumbel, cujos habitantes reclamavam o direito de a encontrar.
O aumento da devoção e o início das primeiras peregrinações remontam a 1878, quando a fama do Santo ultrapassou as fronteiras de Yumbel e da região e se estendeu ao resto do Chile e ao estrangeiro.
Foco das peregrinações
O Santuário de San Sebastián está situado na aldeia de Yumbel, com quase 9.000 habitantes. Há duas datas importantes durante o ano: a festa do próprio santo, a 20 de janeiro, e a 20 de março. Cerca de 500.000 mil peregrinos deslocam-se a Yumbel a 20 de janeiro e 350.000 em março. Em ambas as datas, os peregrinos veneram o santo representado na imagem antiga, pagam as "mandas" (promessas que fizeram para pedir a sua intercessão para várias necessidades pessoais ou familiares) e recebem os sacramentos.
Na véspera da festa, no dia 19, as actividades litúrgicas começam com a recitação do Santo Rosário e o sacramento da Penitência, que conta com a presença de vários sacerdotes da Arquidiocese. Depois, a partir da meia-noite, a Santa Missa é celebrada de duas em duas horas e, à noite, tem início a grande procissão pelas ruas da cidade. A missa principal foi celebrada pelo novo arcebispo, D. Sergio Pérez de Arce. Trata-se de uma tradição que alimenta a fé católica e a piedade popular que se repete desde o século XIX.
O Reitor do Santuário - pe. José Luis Roldán - comenta: "Estive muito atento nestes dias a um discurso do Papa Francisco na ilha de Córsega, num encontro de religiosidade popular na Europa, o Santo Padre disse que: "Esta prática de ir em peregrinação a um lugar atrai e envolve pessoas que estão no limiar da fé, pessoas que não são praticantes regulares e, no entanto, descobrem nesta ida, a experiência das suas próprias raízes e afectos, juntamente com os valores e ideais que consideram úteis para a sua própria vida e sociedade".
Dom Álvarez dá a primeira entrevista desde o exílio e a Nicarágua cancela outro grupo católico
A Igreja nicaraguense está a enfrentar uma das suas fases mais críticas sob o regime de Ortega-Murillo, que continua a encerrar organizações religiosas e a perseguir os seus líderes. Neste contexto, D. Rolando Álvarez, exilado no Vaticano, ergueu a sua voz para transmitir esperança e coragem.
David Agren-22 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 4acta
(David Agren, OSV News). O bispo Rolando Álvarez, de Matagalpa, um firme líder da Igreja nicaraguense, deu a sua primeira entrevista desde que foi exilado no Vaticano, em janeiro de 2024, e fê-lo no meio de mais uma anulação da personalidade jurídica de uma organização católica, à medida que o regime sandinista extingue grupos da sociedade civil e ordens religiosas.
Questionado sobre a forma como os fiéis podem resistir perante tanta perseguição, o bispo citou a exortação do Papa Francisco aos fiéis para que "olhem para a Virgem Imaculada", padroeira da Igreja. Nicarágua. Monsenhor Álvarez também aconselhou os jovens a "serem corajosos" como São José e a imitarem a sua "coragem e confiança na Providência".
Na Nicarágua, a edição de 8 de janeiro de La Gaceta-Diario Oficial, o jornal oficial do governo, noticiou que o Ministério do Interior revogou o estatuto jurídico da Fundação das Freiras Dominicanas Contemplativas, invocando uma "dissolução voluntária" devido a uma "diminuição do número de membros e à falta de recursos para levar a cabo os seus projectos". O estatuto jurídico foi igualmente revogado para 14 outras organizações, incluindo igrejas evangélicas, grupos de caridade e a organização Save the Children International.
Nos últimos seis anos, a Nicarágua cancelou o estatuto legal de mais de 5400 grupos religiosos e não governamentais, enquanto o governo do Presidente Daniel Ortega e da sua mulher, a Vice-Presidente Rosario Murillo, fechava espaços à sociedade civil, perseguia a imprensa e a oposição e violava direitos básicos como a liberdade de associação.
O casal, que apresentou uma reforma constitucional para se tornar copresidente, também atacou a liberdade de culto, com padres, bispos e religiosos exilados e forçados a fugir do país. O regime cancelou o estatuto legal de dezenas de organizações católicas, incluindo ordens religiosas como os Jesuítas e as Missionárias da Caridade.
O Senador norte-americano Marco Rubio, da Florida, cuja nomeação para Secretário de Estado da nova administração do Presidente eleito Donald Trump foi confirmada a 20 de janeiro, falou da perseguição da Igreja na Nicarágua durante a sua audiência de confirmação, a 15 de janeiro. "Uma das primeiras coisas que fizeram no novo ano foi expulsar todas as freiras do país. Entraram em guerra com a Igreja Católica, que era a última instituição no país capaz de lhes fazer frente", afirmou.
Os seus comentários sobre as freiras reflectem a perceção na Nicarágua de que muitas freiras seriam forçadas a deixar o país depois de as suas congregações perderem o seu estatuto legal. Uma fonte familiarizada com a situação da Igreja na Nicarágua não pôde confirmar as afirmações do senador de que já não existem freiras na Nicarágua.
Martha Patricia Molina, uma advogada nicaraguense no exílio que documenta a repressão contra a Igreja Católica no seu país natal, disse que pelo menos 14 ordens religiosas deixaram a Nicarágua desde 2018. Pelo menos 74 organizações patrocinadas pela Igreja Católica foram encerradas no mesmo período, incluindo universidades, Cáritas e projectos de caridade, disse ela.
No seu último relatório sobre a repressão da Igreja, publicado em dezembro, Molina afirmou que, no total, 266 membros do clero foram expulsos da Nicarágua ou proibidos de regressar depois de terem viajado para o estrangeiro, incluindo 146 padres, 99 freiras e quatro bispos.
O Bispo Álvarez, cujas homilias denunciavam os excessos do governo de Ortega-Murillo, é talvez a voz mais proeminente enviada para o exílio. Foi enviado para Roma com 18 religiosos detidos em janeiro de 2024, depois de ter sido condenado a 26 anos de prisão sob acusações forjadas de conspiração e divulgação de informações falsas.
O bispo deu a sua primeira entrevista desde o seu exílio a uma publicação espanhola, La Tribuna de Albacete. A 12 de janeiro, disse à publicação que se deslocou a Espanha em visita pastoral, para visitar sacerdotes e seminaristas nicaraguenses que trabalham e estudam na região.
"Tento sempre estar próximo dos meus padres", disse D. Alvarez. "Para mim, essa é a principal tarefa pastoral, antes mesmo de qualquer outra opção preferencial. Eles são meus filhos, meus irmãos, meus amigos e meus colaboradores mais próximos na missão apostólica e evangelizadora que o Senhor me confiou".
Questionado sobre a situação da Igreja nicaraguense, citou uma carta do Papa Francisco dirigida aos nicaraguenses em dezembro, na véspera da festa da Imaculada Conceição.
O Papa disse aos nicaraguenses: "Não esqueçais a providência amorosa do Senhor, que nos acompanha e é o único guia seguro. Precisamente nos momentos mais difíceis, quando parece humanamente impossível compreender o que Deus quer de nós, somos chamados a não duvidar da sua solicitude e da sua misericórdia".
Questionado sobre como lidar com uma realidade difícil de perseguição no seu país, D. Alvarez citou a carta papal, que aconselha: "Tenham a certeza de que a fé e a esperança fazem milagres. Olhemos para a Virgem Imaculada; ela é a testemunha luminosa desta confiança. Sempre experimentastes a sua proteção maternal em todas as vossas necessidades e demonstrastes a vossa gratidão com uma religiosidade muito bela e espiritualmente rica". E prosseguiu: "Por isso, refugiamo-nos sempre na Virgem Imaculada, que é a padroeira da Nicarágua".
Noutra pergunta, o bispo foi convidado a dar conselhos aos jovens. Convidou-os a "olhar para a Sagrada Família: Jesus, Maria e José. São José, como homem justo, dá-nos um exemplo de coragem e de confiança na Providência.
Peço-lhes (aos jovens) que sejam corajosos, criativos e inovadores. Sejam destemidos e tenham a energia necessária para tornar o mundo um lugar melhor para todos.
O Papa Francisco encoraja uma resposta generosa ao Senhor, como Maria
Ao retomar a sua catequese do Ano Jubilar sobre "Jesus Cristo, nossa esperança", o Papa Francisco encorajou-nos a acolher e a guardar a Palavra de Deus e a responder-lhe com generosidade, como fez a Virgem Maria. O Santo Padre rezou a Nossa Senhora de Guadalupe por Los Angeles, e rezou pela unidade dos cristãos e pela paz. "Em Gaza comeram lentilhas com frango, estão felizes.
Francisco Otamendi-22 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 3acta
O Santo Padre retomou a sua visita ao Público O Papa, que esteve na Sala Paulo VI, no Vaticano, esta quarta-feira de janeiro, repleta de peregrinos, foi o primeiro do ciclo de catequeses do Ano Jubilar, 'Jesus Cristo, nossa esperança', e centrou a sua reflexão no tema 'O anúncio de Maria. Escuta e disponibilidade".
A meditação baseou-se na passagem do Evangelho de S. Lucas sobre o Anunciação a Maria (Lc 1,26-38), que é recordado todos os dias no Angelus, e começa assim: "No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem chamado José, da casa de David; o nome da virgem era Maria. O anjo veio à sua presença e disse: "Alegra-te, cheia de graça, o Senhor é contigo.
Convite à alegria e à ausência de medo
O Papa sublinhou o convite do anjo à alegria e o facto de chamar "Maria 'cheia de graça', indicando a presença de Deus que habita nela. E diz-lhe para não ter medo, porque nada é impossível ao Senhor", sublinhou. Por fim, anuncia-lhe a sua missão: ser a mãe do Messias, cujo nome será Jesus, que significa "Deus salva".
Na sua catequese sobre a Virgem Maria, o Pontífice sublinhou que "a sua colaboração com os desígnios do Pai em cada momento da sua vida faz dela para nós um exemplo inestimável de escuta e de disponibilidade à Palavra divina". E pediu ao Senhor "que nos ensine a escutar a sua Palavra e a responder-lhe generosamente, como Maria, transformando os nossos corações em tabernáculos vivos da sua presença e em lugares de acolhimento para as pessoas que vivem sem esperança".
Um "Pentecostes" especial para Maria
A maternidade absolutamente única que lhe é anunciada "abala profundamente Maria". E como mulher inteligente que é, isto é, capaz de ler o interior dos acontecimentos (cf. Lc 2,19.51), procura compreender, discernir o que lhe está a acontecer. Maria não procura fora, mas dentro, porque, como ensina Santo Agostinho, "in interiore homine habitat veritas" (De vera religione 39,72)". E ali, no fundo do seu coração aberto e sensível, ela ouve o convite a confiar totalmente em Deus, que lhe preparou um "Pentecostes" especial".
"Maria acolhe o Verbo na sua própria carne e empreende assim a maior missão jamais confiada a uma criatura humana. Coloca-se ao serviço, não como escrava, mas como colaboradora de Deus Pai, cheia de dignidade e autoridade para administrar, como fará em Caná, os dons do tesouro divino, para que muitos possam dele tirar abundantemente", disse o Papa.
Los Angeles, Ucrânia, Palestina, Israel, Gaza, Myanmar...
No seu discurso aos peregrinos em várias línguas, o Papa disse aos peregrinos francófonos que o Jubileu seria uma ocasião de "renovação espiritual"; aos peregrinos de língua inglesa e alemã, pediu orações pelo Jubileu. Unidade dos cristãosO apelo a não ter medo dos peregrinos de língua portuguesa; o apelo aos polacos para que cuidem das suas avós e avôs, e também dos ucranianos, e em italiano, o apelo a Paz.
No final, em italiano, sublinhou a sua proximidade "ao povo de Los Angelesque tanto tem sofrido com os incêndios, que devastaram bairros e comunidades inteiras, que ainda não terminaram. Que Nossa Senhora de Guadalupe interceda por todos os habitantes, para que sejam testemunhas de esperança através da força da diversidade e da criatividade pelas quais são conhecidos em todo o mundo.
"Ontem, em Gaza, comeram lentilhas com frango".
E o apelo à paz, com uma confidência: "Ontem telefonei, como faço todos os dias, para a paróquia de Gaza, onde vivem 600 pessoas, paróquia e escola. Hoje comemos lentilhas com frango, diziam eles, coisa a que não estavam habituados. Rezemos por GazaPara a paz, e para tantas outras partes do mundo, a guerra é sempre uma derrota. A guerra é sempre uma derrota, e quem é que ganha com as guerras? Os fabricantes de armas. Por favor, rezemos pela paz". O Papa concluiu com a oração do Pai Nosso de pé e a Bênção.
Juan Luis Lorda destaca na sua homenagem o património intelectual dos cristãos
A Universidade de Navarra prestou homenagem ao professor de Teologia, Juan Luis Lorda, por ocasião do seu 70º aniversário, com uma jornada que contou com a presença de Mons. Mariano Fazio, Santiago Herráiz e José Mª Torralba, bem como de numerosos professores e estudantes. O professor Lorda encorajou a utilização do "maravilhoso património intelectual" dos cristãos.
Francisco Otamendi-22 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 4acta
Durante a jornada académica de 20 de janeiro, que contou com a presença de mais de 300 participantes, o Universidade de Navarra prestou homenagem ao Professor Juan Luis Lorda (Pamplona, 1955), na Faculdade de Teologia, onde começou a lecionar em 1983.
"Devemos aproveitar o maravilhoso património intelectual de muitos cristãos que souberam dialogar com o seu tempo e, ao mesmo tempo, com a Escritura", e também "reconhecer o formidável valor da teologia do século XX", afirmou o Professor Juan Luis Lorda na sua intervenção.
Engenheiro industrial (1977), padre e doutor em Teologia desde 1982, Juan Luis Lorda publicado numerosos tratados e manuais, ensaios teológicos e humanísticos, livros de divulgação cristã, artigos, etc., numa extensa produção científica. Escreve regularmente sobre a teologia do século XX, e para o século XXI, em Omnes.
Olhar para a história
O dia Mariano Fazio, vigário auxiliar do Opus Dei; Santiago Herráiz, diretor-geral e editor das Edições Rialp; e José María Torralba, professor de Filosofia Moral e Política no centro académico.
No seu discurso, o Professor Lorda sublinhou a imensa gratidão que sente por ter sido professor de Teologia num ambiente tão bom "e milagroso" como a Universidade de Navarra. Também encorajou aqueles que descrevem o mundo em que vivemos como complicado a olharem para a história.
Significado de humanismo cristão
Juan Luis Lorda enumerou alguns desafios a que os cristãos devem responder hoje, como recordar que o Deus da teologia cristã é o Deus revelado em Cristo. "Se Cristo não é a Palavra, Deus não se revelou plenamente e o seu amor não chegou até nós, e ficamos sem salvação. Por isso, precisamos de uma leitura crente da Bíblia que conte a história da revelação, a história da aliança e a história da salvação".
"Para isso, temos de nos servir do maravilhoso, imenso e belo património intelectual que trazemos atrás de nós, fruto da fé e do trabalho de muitos cristãos em diferentes épocas. Crentes que souberam dialogar com o seu tempo e, ao mesmo tempo, com a Escritura", disse. Não há nada igual no mundo, com tanta riqueza e coerência. Este é o sentido do humanismo cristão, que se enraíza na fé e no diálogo com cada época.
Alguns desafios
Além disso, destacou outros desafios a que "devemos responder" com esta herança, como o esclarecimento das causas da crise pós-conciliar, a revisão do confronto do tomismo com a Nova TeologiaA União Europeia não deve prescindir das ciências ou do pensamento político, nem fazer uma revisão da Teologia da Libertação, "que permite um discernimento do passado sem necessidade de julgar ninguém e com uma projeção no futuro".
Elogios do Reitor
O reitor da Faculdade de TeologiaGregorio Guitián, por seu lado, destacou o esforço que o Professor Lorda sempre fez para melhorar a Faculdade e elogiou o seu trabalho para a levar a muitos sítios "deixando sempre a bandeira bem alta".
O Presidente do Parlamento Europeu agradeceu ainda de duas formas: em primeiro lugar, pelo número de horas que dedicou aos estudantes, tanto no seu trabalho académico como na Residência Albáizar; e, em segundo lugar, "pelo ensino meticuloso que deu nesta casa e nas outras faculdades civis da Universidade".
Da esquerda para a direita, Santiago Herráiz, José María Torralba, Juan Luis Lorda, Monsenhor Mariano Fazio, Gregorio Guitián e Lucas Buch.
A Universidade e o seu carácter humanista
José María Torralba, Professor de Filosofia Moral e Política e Diretor do Centro Humanismo Cívico, falou sobre a ligação entre a Universidade e o seu carácter humanista. O título desta conferência, "A Universidade, casa do saber e lugar de amizade", vem do obituário que escrevi por ocasião da morte do antigo reitor, Alejandro Llano, em outubro passado. Ele dizia que a salvação da universidade está nos livros, e é por isso que a universidade deve ser a casa do conhecimento".
O Professor Torralba salientou que a Universidade é "construída sobre a rocha que é a sabedoria". Neste sentido, definiu a sabedoria como "o brilho que se dá numa relação de amor e de amizade, que nasce por contágio e pela paixão que descobrimos nos outros. No humanismo cristão, esse brilho vem de Cristo". "Na descoberta da paixão por Cristo está o serviço. Ninguém se surpreenderá se eu falar da generosidade do Professor Lorda ao serviço do ensino e da Universidade: como bom universitário, ele não se acomoda e precisa sempre de bons desafios", concluiu. José María Torralba.
O humanismo cristão, presente nos livros
A segunda mesa-redonda do dia foi orientada por Mons. Giuseppe Krieger. Mariano Fazio e Santiago Herraiz, em que falaram da leitura e de como ela nos conduz à sabedoria.
Monsenhor Fazio fez referência ao carta O Papa Francisco escreveu em agosto passado sobre o papel da literatura na formação dos sacerdotes: "A leitura é um acesso privilegiado ao coração do homem e, para que dê frutos, deve ser assumida como um exercício de discernimento".
As virtudes dos clássicos
A este respeito, sublinhou as virtudes de os clássicosAs leituras que perduram no tempo, que têm um alcance universal e que "nos dão ferramentas para distinguir o bom do mau, o belo do feio. Os clássicos mostram que a nossa natureza humana vibra com a beleza e a bondade. Se pusermos a verdade e a beleza em maiúsculas, estamos a falar de Deus.
Na mesma linha, o diretor-geral da RialpSantiago Herraiz falou do que é permanente nos livros, "conteúdos que foram aceites pelas chaves antropológicas do coração humano", que nos permitem aproximar da Verdade.
São Vicente mártir foi um dos diáconos que deram a vida por Cristo durante a perseguição de Diocleciano. Oriundo de uma família de Huesca, estudou em Saragoça e foi martirizado no ano 304 em Valência, onde é o padroeiro. Vicente significa vencedor da batalha da fé e é festejado a 22 de janeiro.
Francisco Otamendi-22 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
São Vicente era diácono de São Valério de Saragoça e tinha a seu cargo a pregação da féO bispo Valério foi preso devido a um problema de fala que o afectava. Quando o prefeito Dacianus passou por Saragoça, ordenou que o bispo e o seu diácono fossem presos e levados para Valência para ser submetido a torturas na prateleira, despedaçando o seu corpo.
Daciano ofereceu-lhe perdão se lhe entregasse os livros sagrados que possuía; depois de ter recusado, continuou a sofrer "nas chamas" e foi posteriormente preso. A tradição diz que, devido à sua bondade, o carcereiro acabou por se converter a Cristo. O relato dos tormentos infligidos a ele pelo romano, lido nas igrejas, causava admiração. Santo Agostinho interroga-se: "Que região, que província do Império não celebra a glória do diácono Vicente? Quem saberia o nome de Daciano se não tivesse lido a paixão do mártir?
São Vicente é frequentemente representado em pinturas com símbolos que remetem para o seu doloroso martírio, e tornou-se um grande mártir da Igreja Ocidental, tal como São Lourenço de Roma e Santo Estêvão do Oriente. Os três diáconos. As homilias de Santo Agostinho no dia da sua festa difundem a sua memória. Os principais acontecimentos em Valência para S. Vicente Mártir, padroeiro da arquidiocese e da capital, realizam-se hoje, dia 22, com missas solenes, procissões e baptizados de crianças.
Em muitos países africanos, os cristãos enfrentam desafios que vão desde a pobreza extrema e a falta de recursos até à perseguição religiosa e aos conflitos armados. No entanto, no meio destas provações, a sua fé e sacrifício produzem frutos espirituais e vocações que, embora invisíveis para a opinião pública mundial, são sinais de esperança e de renovação para a Igreja e para a sociedade.
Os prelados do Gana e a família
Os bispos do Gana exortaram o novo presidente do país, Nana Addo Dankwa Akufo-Addo, a aprovar uma lei que promova os valores da família, de acordo com a visão da Igreja Católica. Esta lei visa proteger o casamento, a família e a vida desde a conceção como valores fundamentais para a sociedade.
Os bispos manifestaram a sua preocupação com a crescente influência de ideologias que, segundo eles, põem em causa a estrutura familiar tradicional e os princípios morais do Gana. Sublinharam ainda que a lei deve ser um instrumento para defender os direitos humanos e proteger os mais vulneráveis, especialmente as crianças e as mulheres. O pedido dos bispos reflecte o seu empenho no bem-estar e no reforço da unidade familiar no país.
O Rosário, semeando a paz na Nigéria
O Bispo Matthew Hassan Kukah, de Sokoto, Nigéria, afirmou que o Rosário tem sido um instrumento mais poderoso do que as armas dos militantes na luta contra a insegurança no país. O bispo sublinhou que, no meio da violência e do terrorismo, especialmente no norte da Nigéria, a oração constante e a recitação do Rosário trouxeram força e esperança aos fiéis.
Para além disso, Monsenhor Kukah sublinhou que, apesar da situação difícil, a fé dos cristãos nigerianos permanece forte e continua a ser um testemunho de resiliência e unidade. Sublinhou que a oração é essencial para enfrentar a crescente insegurança e as ameaças que afectam as comunidades.
Vocações no Sudão
Apesar da guerra civil em Sudãoas vocações religiosas estão a crescer no país. O bispo católico de El Obeid, D. Michael Didi Adgum, mostrou-se otimista e sublinhou que "Deus está a trabalhar" no meio do conflito. Apesar das dificuldades que o povo sudanês enfrenta, como as deslocações e a violência, muitas pessoas, especialmente jovens, estão a responder ao chamamento de Deus para a vida religiosa.
O bispo sublinhou que esta vocação crescente é um sinal de esperança e de ação divina em tempos de crise. Referiu ainda que a Igreja continua a sua missão de acompanhar as pessoas no meio das provações, dando apoio espiritual e material às pessoas afectadas pela guerra.
Papa Francisco dissolve o Sodalício de Vida Cristã
O Sodalício de Vida Cristã confirma, num comunicado, que o Vaticano ordenou a sua dissolução na sequência de investigações efectuadas nos últimos anos.
Na segunda-feira, 20 de janeiro de 2025, o Vaticano tornou público o decreto, assinado pelo Papa Francisco, pelo qual o Pontífice dissolve o Sodalício de Vida Cristã. Depois de alguns meses na ribalta devido à expulsão de vários membros, a Santa Sé pôs fim à atividade desta sociedade de vida apostólica.
O Sodalitium Christianae Vitae foi fundado em 1971 no Peru por Luis Fernando Figari. Em 1997, São João Paulo II aprovou que o Sodalício se tornasse uma Sociedade de Vida Apostólica Leiga de Direito Pontifício, e a organização passou a depender diretamente da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada.
Primeiras críticas
Poucos anos depois, começaram as críticas ao Sodalício. Várias vozes se levantaram para denunciar Figari, acusado de abusos sexuais e psicológicos contra seminaristas e membros da sociedade de vida apostólica.
Os abusos cometidos pelo fundador foram acompanhados de críticas ao ethos do sodalício, no qual a obediência se tornou manipulação. A crise atingiu o clímax em 2015, com a publicação de "Meio monges, meio soldados", um livro em que eram expostas as más práticas do fundador e de outros membros. Nessa altura, a Santa Sé decidiu lançar uma investigação para esclarecer o que se estava a passar.
A investigação do Vaticano
Dois anos depois, em 2017, um relatório solicitado pelo próprio Sodalício mostrou que havia mais de 60 vítimas de abuso na organização. Perante estes factos, o Vaticano sancionou Figari e proibiu-o de ter qualquer contacto com os membros do Sodalício. Por outro lado, a Santa Sé apelou a um processo de reforma da Sociedade de Vida Apostólica.
Nos anos seguintes, o Papa aumentou gradualmente o número de pessoas envolvidas na análise do caso. Em 2019, o Cardeal Ghirlanda foi encarregado de supervisionar a reforma interna do Sodalício, ao mesmo tempo que Frei Guillermo Rodriguez começou a atuar como delegado papal.
Em 2023, o Vaticano reforçou ainda mais o controlo e encarregou o Arcebispo Scicluna de abrir uma nova investigação sobre o Sodalício, desta vez por corrupção financeira. Apenas um ano depois, em agosto de 2024, o Papa expulsou formalmente Figari, seguindo-se várias expulsões autorizadas pelo Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.
Controvérsias sobre o processo
Em setembro de 2024, o Santo Padre expulsou dez dirigentes do Sodalício, mas o decreto em que as acusações foram tornadas públicas causou surpresa e preocupação, pois não especificava os crimes pelos quais cada um era condenado.
Ao mesmo tempo, um dos responsáveis pela investigação do Vaticano foi acusado de ter divulgado à imprensa pormenores confidenciais das declarações de duas testemunhas envolvidas na investigação eclesiástica do caso. Em consequência, o investigador foi denunciado perante um tribunal civil no Chile, um facto pouco habitual que envolve um clérigo num processo judicial fora do âmbito religioso.
Os testemunhos alegadamente divulgados pertencem a Giuliana Caccia e Sebastian Blanco, dois leigos peruanos estreitamente ligados ao Sodalício. Foram recebidos pelo Papa em dezembro passado e, segundo os seus testemunhos, não lhes foi aplicada a ameaça de excomunhão que pairava sobre eles se não retirassem a queixa contra o enviado papal.
Dissolução definitiva
Meses mais tarde, no início de uma assembleia geral do Sodalício que teve início a 10 de janeiro de 2025, os membros da organização foram notificados de que, tendo em conta "a ausência de um carisma fundador legítimo" e "os graves casos de abuso cometidos pelo seu fundador, Luis Fernando Figari, e outros membros", a Santa Sé tinha ordenado a dissolução do Sodalício de Vida Cristã.
A jovem Inês é uma das santas mais populares da Igreja, que a celebra no dia 21 de janeiro. É um ícone, um sinal de pureza e uma santa padroeira. de raparigas adolescentes e jovens mulheres. Aos 13 anos, rejeitou pretendentes por causa do seu amor a Cristo. O filho do prefeito de Roma, desprezado, denunciou-a pela sua religião cristã. Na pira, as chamas nem sequer lhe tocaram, e ela morreu à espada.
Francisco Otamendi-21 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: < 1minuto
Nasceu e morreu em Roma (291-304). Entre os primeiros mártires No cristianismo, Santa Inês, uma virgem, é uma das mais veneradas. Em grego, o seu nome significa "pura", "casta". O seu nome latino, Agnes, está associado a Agnus, que significa cordeiro. No ano 324, a Basílica de Santa Inês Fora dos Murosconstruída por ordem de Constança, filha do imperador Constantino, sobre as ruínas de catacumbas no qual foram encontrados os restos mortais de Santa Inês.
Segundo a tradição, a jovem, que tinha apenas treze anos, queria tornar-se uma casta Por amor a Cristo, rejeitou o filho do prefeito de Roma que, em represália, quis que ela se juntasse ao círculo das vestais que adoravam a deusa protetora de Roma. Perante a nova rejeição, teve de se mudar do templo para um bordel, mas Agnes conseguiu preservar a sua pureza.
A iconografia costuma representar Inês com um cordeiro, porque o seu destino é o reservado aos cordeirinhos. Todos os anos, a 21 de janeiro, festa litúrgica da santa, é benzido um par de cordeiros criados pelas Irmãs da Sagrada Família de Nazaré. Com a sua lã, as freiras fazem o santo paus que o Papa impõe aos novos arcebispos metropolitanos a cada 29 de junho.
Cerimónias papais: tradição e mudança ao longo da história
No seu último ensaio, o Padre Simone Raponi explora a forma como as cerimónias papais, entre continuidade e mudança, definiram a representação simbólica do Pontífice durante os anos turbulentos do final do século XVIII e início do século XIX.
As cerimónias papais e o seu papel na construção da imagem do pontífice são o tema central do ensaio "Papal Ceremonies on Trial. Tra Ancien Régime e Restaurazione", a última obra do padre Simone Raponi. O autor, arquivista e historiador do Oratório da Chiesa Nuova, oferece uma análise aprofundada dos pontificados de Pio VI, Pio VII e Leão XII, abrangendo um período que vai do final do século XVIII às primeiras décadas do século XIX.
Publicado por Edições Studium - uma editora fundada em 1927 pelo futuro Paulo VI, o livro será apresentado na quarta-feira, 22 de janeiro, na Sala Oval da Chiesa Nuova, em Roma. Moderado pelo crítico literário Arnaldo Colasanti, o evento contará com a presença de Monsenhor Paolo De Nicolò, Alessandra Rodolfo, dos Museus do Vaticano, e Ilaria Fiumi Sermattei, da Pontifícia Universidade Gregoriana. De acordo com as intenções dos organizadores, a apresentação pretende ser uma oportunidade para refletir sobre a dimensão histórica e simbólica do cerimonial papal.
Cerimonial entre continuidade e adaptação
O volume de Raponi centra-se, como já foi referido, no período histórico entre o fim do Antigo Regime e a Restauração (1775-1829), um período marcado por profundas convulsões políticas e sociais que exigiram uma reformulação das tradições cerimoniais da Igreja. Examina, assim, as dinâmicas que caracterizaram a transição do papado de uma conceção mais política para uma dimensão mais universal e espiritual.
Entre os temas abordados, o livro destaca a forma como a ausência forçada de Pio VI e Pio VII de Roma durante os períodos revolucionário e napoleónico influenciou as cerimónias papais, transformando-as em instrumentos de resistência e de continuidade simbólica. A análise baseia-se numa grande quantidade de documentação, incluindo diários e instruções dos mestres-de-cerimónias, que fornecem uma perspetiva privilegiada deste complexo sistema ritual.
As cerimónias como instrumento de representação
O texto investiga o papel das cerimónias papais não só como expressão de fé, mas também como representação política e cultural. Raponi destaca a forma como estes ritos se adaptaram às necessidades dos contextos em mudança, revelando um equilíbrio entre a necessidade de preservar as tradições e a necessidade de responder às transformações históricas.
Embora mantendo uma abordagem rigorosa, a obra não ignora as tensões políticas e religiosas que acompanharam o período em análise. A análise do cerimonial do Estado, das relações entre o Papa e as monarquias europeias e das reacções à crise revolucionária fornece uma imagem articulada e detalhada do papel do cerimonial papal.
Uma contribuição para a investigação histórica
Outra utilidade do livro é a contribuição que pretende dar à historiografia sobre o papado, abordando temas que vão da teologia à política, da liturgia à cultura. Não é por acaso que o volume foi incluído na série "Pontifical", coordenada pelo professor gregoriano Roberto Regoli, criada precisamente para dar atenção a estudos multidisciplinares e internacionais que possam responder à crescente procura de análises sobre o papel do papado na história moderna.
A apresentação romana será, portanto, uma oportunidade não só para discutir o conteúdo da obra, mas também para refletir sobre o significado histórico e simbólico mais amplo das "liturgias" papais, com um olhar sobre a relação entre tradição e mudança na Igreja ao longo dos séculos.
O autor analisa a essência do direito canónico como uma realidade profundamente ligada ao mistério e à missão da Igreja. Sublinha a necessidade de ultrapassar as dicotomias entre direito, teologia e pastoral, entendendo o direito eclesial como um instrumento que promove a justiça, a comunhão e a salvação.
Carlos José Errázuriz-21 de janeiro de 2025-Tempo de leitura: 10acta
Em qualquer campo do conhecimento humano, é decisiva a compreensão da essência do respetivo objeto. No domínio do direito, a necessidade de ter constantemente presente o que é o direito é muito evidente; o mesmo se aplica ao direito da Igreja.
Não se trata de uma questão meramente teórica, elegante ou requintada, mas de uma questão que, de facto, informa e determina todo o trabalho prático do jurista, e especificamente do canonista, e que é também muito importante para a compreensão do direito canónico por parte dos não especialistas.
Quando este problema é evitado, pode significar que certos esquemas empobrecidos são aceites mecanicamente, chegando mesmo a distorcer a realidade, com a triste consequência de apoiar injustiças.
Atualmente, parece-me que existe um paradoxo a este respeito. Por um lado, existe um acordo bastante generalizado a nível teórico sobre a importância de conceber o direito na Igreja à luz do mistério da própria Igreja, como indica o Concílio Vaticano II (cf. Optatam totius, n. 16). Sabe-se que uma abordagem positivista, entendida sobretudo como um simples legalismo que considera o Direito Canónico como um mero conjunto de leis humanas a aplicar sem mais delongas aos casos concretos, não está atualmente disponível.
O recente magistério pontifício é muito claro e reiterado neste sentido: o Direito Canónico deve ser visto como uma realidade intrinsecamente eclesial, como uma realidade que pertence ao plano sobrenatural da fé e da teologia. No entanto, isto é curiosamente compatível com um persistente legalismo de facto: tanto os que defendem o direito eclesial como os que o criticam ou, mais frequentemente, simplesmente o ignoram, continuam na prática a pensá-lo como um conjunto de normas jurídicas, que encontra a sua principal expressão nos actuais Códigos, latinos e orientais. A convicção de fundo acima descrita não parece ter influenciado a atual abordagem e aplicação do jurídico no Povo de Deus.
Na raiz deste fenómeno, podemos ver que estão profundamente enraizadas algumas oposições fundamentais: direito-teologia; direito-pastoral; poder hierárquico-liberdade e direitos dos fiéis. São peças que não se encaixam. No fundo, apesar de todos os progressos teológicos registados, o conceito anterior de Direito Canónico como um conjunto de leis eclesiásticas. E este conceito parece ser pouco teológico e pouco pastoral, em si mesmo contrário à liberdade dos filhos de Deus. Quanto mais teológica, pastoral e promotora da liberdade for uma lei eclesiástica, menos "jurídica" ela deve ser.
O novelo acima descrito não é fácil de desembaraçar. Será preciso algum tempo para que se recupere uma consciência pacífica do que é o direito na Igreja e para que esta consciência seja efetivamente renovada, isto é, para que se integre tudo o que há de valioso na tradição canónica com os contributos do último Concílio e de todo este período da história da Igreja.
Penso que se podem tomar três posições fundamentais sobre a questão que apresentei. Tentarei descrevê-las brevemente, sem entrar nos pormenores das suas formulações, a fim de ir mais diretamente ao cerne das suas ideias, e não ficar preso em disputas escolares, que, aliás, neste domínio, tendem atualmente a esbater-se.
Direito e realidade pastoral
Em primeiro lugar, esta nova etapa pode ser vista sobretudo como uma tentativa de transformar o direito numa realidade mais pastoral, mais próxima da vida dos fiéis e das comunidades cristãs. É uma tendência positiva, na medida em que reage contra os excessos de uma rigidez legalista e formalista, que faz da observância das regras e das formas um fim autónomo, que esquece a função tradicional da equidade, quer como correção das deficiências das regras gerais humanas, quer como moderação da justiça apenas através da caridade e da misericórdia. É também positivo evitar uma conceção exclusivamente hierárquica do direito, como se ele consistisse apenas nos imperativos dos sagrados Pastores, esquecendo a dimensão jurídica do nível de igualdade e liberdade que se baseia na comum dignidade cristã de todos os baptizados, participantes da única missão da Igreja e beneficiários da ação do Espírito Santo através dos seus dons e carismas.
No entanto, a pastoral não pode degenerar em pastoralismo, ou seja, numa atitude que, em nome da pastoral, procura ignorar ou atenuar outras dimensões essenciais do mistério cristão, incluindo a dimensão jurídica.
Se a pastoral dilui qualquer obrigação jurídica, relativiza qualquer obediência eclesial, esvazia, na prática, as normas canónicas do seu significado e exerce qualquer tipo de pretenso direito sem se preocupar com a sua legitimidade cristã, então também ela se deformou como pastoral. A verdadeira pastoral nunca pode ser contrária ao verdadeiro direito na Igreja. Para o compreender, porém, é essencial entender o que é essa lei. Só assim se pode compreender a harmonia constitutiva entre pastoral e direito.
A dimensão teológica do direito canónico
Uma outra corrente tem dado especial ênfase à dimensão teológica do direito. Embora não lhe seja exclusiva, a importância da escola de Munique, que teve origem em Klaus Mörsdorf.
Já antes do Concílio, Mörsdorf tinha insistido que o Direito Canónico é algo intrínseco à Igreja, a ser entendido em relação à sacramentalidade da própria Igreja, e a situar-se mais especificamente na palavra e nos sacramentos, como factores intrinsecamente jurídicos que edificam o Povo de Deus. Entre os seus discípulos, é particularmente conhecido Eugenio Corecco, que radicalizou as teses do seu mestre, inclinando-se para uma conceção que acentua fortemente a diferença entre Direito Canónico e direito secular, e que concebe a ciência canónica como uma ciência essencialmente teológica. Utiliza o conceito de communio como a chave para compreender o direito na Igreja, argumentando que a virtude da caridade, e não a justiça dos juristas, governaria na Igreja.
Mais uma vez, é necessário discernir entre aspectos indubitavelmente valiosos desta abordagem - sobretudo a sua visão do Direito Canónico como algo intrinsecamente ligado ao mistério da Igreja, e o seu recurso a realidades teológicas fundantes - e os seus limites, decorrentes, a meu ver, sobretudo do esquecimento da justiça como virtude específica do mundo jurídico, que não consegue compreender que no Direito Canónico, com o seu conteúdo sobrenatural, está presente e actua uma dimensão natural da convivência humana.
O Direito Canónico no realismo jurídico
A terceira corrente insiste no quase truísmo de que o Direito Canónico é o verdadeiro Direito.
Dentro dela, há diversas variantes. Desde já, descarto as que tentam adotar uma visão meramente técnico-instrumental do direito, e que assumem as mesmas oposições direito-teologia, direito-pastoral, só que em favor do direito. Muito mais interessantes, pelo contrário, são as doutrinas que procuram aplicar ao Direito Canónico o melhor da tradição jurídica clássica e cristã. Estou a pensar especialmente nos esforços dos meus inesquecíveis professores, Pedro Lombardía e Javier Hervada, e sobretudo na tentativa deste último de abordar o direito na Igreja do ponto de vista do realismo jurídico clássico, ou seja, da noção de direito como aquilo que é justo, objeto da virtude da justiça.
Nesta perspetiva, o direito na Igreja não é primariamente um conjunto de normas, mas aquilo que é justo na própria Igreja, uma rede de relações de justiça no seio do Povo de Deus (que se projectam também para fora, seguindo a missão universal da Igreja). Neste ponto, gostaria de sublinhar algumas caraterísticas fundamentais desta abordagem, que nos permitem apreciar a sua potencial fecundidade.
Acima de tudo, a perspetiva da justiça assume plenamente o protagonismo da pessoa humana na Igreja: o homem como caminho da Igreja, segundo a conhecida expressão de João Paulo II. O justo, síntese de elementos essenciais e permanentes (lei divina) e de elementos contingentes e históricos (lei humana), diz sempre respeito às pessoas, como titulares de direitos e deveres recíprocos. O centro do Direito Canónico é cada pessoa humana, e em primeiro lugar os fiéis.
Mas isto não implica o perigo do individualismo. O que é devido em justiça a cada um na Igreja existe precisamente porque o desígnio salvífico de Deus em Cristo e na Igreja assume a socialidade humana, nos seus aspectos de caridade e também de justiça específica. Estamos a tratar do grande tema da comunhão, que capta cada vez mais a atenção da eclesiologia do nosso tempo, como o próprio núcleo do ensinamento do Vaticano II sobre a Igreja. O Direito Canónico é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, personalista e comunional, precisamente porque a pertença à Igreja implica uma relacionalidade comunional da pessoa, de natureza intrínseca.
O coração do direito canónico
Estas ideias tornam-se mais concretas e claras quando se considera qual é o objeto das relações de justiça intra-eclesiais. Estão em causa muitos bens jurídicos, incluindo os de natureza patrimonial e organizativa. No entanto, o coração do Direito Canónico encontra-se no próprio coração da Igreja na sua dimensão visível-sacramental, ou seja, nos bens salvíficos: a palavra de Deus e os sacramentos, a começar pelo centro destes, o Sacrifício sacramental da Eucaristia.
Os direitos e deveres dos fiéis entre si, e entre os Pastores e os outros fiéis em virtude do sacerdócio ministerial, têm como objeto estes bens salvíficos, que ultrapassam evidentemente a dimensão jurídica, mas a incluem também na medida do necessário.
Assim, por exemplo, a transmissão da palavra de Deus na sua autenticidade constitui para um pai cristão um verdadeiro dever de justiça intra-eclesial para com os seus filhos; a organização dos pastores de modo a que os sacramentos sejam efetivamente acessíveis a todos é também uma exigência permanente de justiça.
Esta visão permite superar harmoniosamente a dialética estéril que tantas vezes obscurece a compreensão do direito canónico. Entendido como o que é correto na Igreja, a sua transcendência teológica é imediatamente visível: é uma dimensão do próprio mistério salvífico, pois Jesus Cristo quis que a Igreja peregrina assumisse, como Ele próprio na sua existência terrena, a realidade do direito; e não por razões acidentais ou circunstanciais, mas sobretudo para nos unir uns aos outros na conservação e difusão dos bens da salvação no seu aspeto visível. Assim, é fácil compreender porque é que sempre vimos a salus animarum como a finalidade própria do direito na Igreja. Trata-se de uma finalidade intrínseca, conatural ao seu próprio ser, e não de uma espécie de superadição.
O direito canónico é salvífico precisamente enquanto direito, enquanto direito, e não apesar de ser direito, como se fosse um mal menor, exigido por razões meramente organizativas, puramente externas. Deste ponto de vista, as noções eclesiológicas de comunhão e sacramentalidade podem ser aplicadas às questões jurídicas eclesiais de um modo que ultrapassa qualquer oposição entre elas e o direito. É muito melhor descobrir que o direito na Igreja, precisamente enquanto direito, é uma realidade intrinsecamente salvífica, eclesial e teológica.
O carácter pastoral do direito é também iluminado por esta noção. É evidente que a justiça é, por sua natureza, pastoral, embora na vida eclesial e na ação dos pastores deva naturalmente ir muito mais longe, através da caridade. No entanto, a misericórdia nunca pode tornar-se uma validação da injustiça.
O carácter pretensamente pastoral de soluções que não respeitam a verdade do direito, porque relativizam tudo em função de necessidades subjectivas, revela-se na prática profundamente estéril. Não exigir o que é devido em justiça, em questões tão essenciais como as que se referem à validade do matrimónio e ao acesso à Sagrada Comunhão, apesar das aparências momentâneas, só afasta as pessoas do encontro salvífico com Cristo e, de facto, conduz sempre a um maior arrefecimento da vida cristã. Outra coisa é ir ao encontro das pessoas em dificuldade, com a caridade e a paciência requintadas, em que o Papa Francisco tanto insistiu, procurando precisamente colocá-las em condições de descobrir nas suas vidas a beleza das exigências do verdadeiro amor. Mesmo o que é justo em virtude de uma legítima norma humana, sempre ao serviço da mesma dimensão essencial e divinamente constituída da justiça intra-eclesial, deve ser observado como devida manifestação de comunhão em cada momento concreto da história da salvação. Deve-se considerar também a recente redescoberta da necessidade de impor sanções canónicas a comportamentos que constituem uma grave violação dos bens jurídicos, como no caso dos abusos sexuais cometidos por clérigos contra menores: o bem da Igreja, a verdadeira pastoral, exige, portanto, o recurso a sanções eclesiais, que devem ser sempre aplicadas através de um processo justo.
Finalmente, a oposição entre o poder hierárquico e os direitos dos fiéis também não faz sentido. Os pastores, mesmo quando exercem no sentido próprio os actos do poder de jurisdição, estão verdadeiramente ao serviço da autêntica liberdade dos filhos de Deus. O seu ministério é verdadeiramente libertador, também no sentido de que deve promover a vitalidade apostólica de todos, o que na realidade é favorecer uma atitude de docilidade aos dons carismáticos do Espírito Santo. Esta liberdade, porém, é inseparável da união com os Pastores, antes de mais com aqueles que sucedem aos Doze Apóstolos e com aquele que sucede a Pedro, e depois com os seus colaboradores no ministério sagrado.
A fé católica não vê a missão hierárquica como função de uma simples eficácia da autoridade social (embora esta dimensão seja assumida também na Igreja), mas como um aspeto do mistério eclesial em que transparece o sentido vertical da comunhão, através da representação de Cristo assumida por aqueles que receberam o sacramento da Ordem. Há aqui um mistério de autêntica paternidade, uma participação na paternidade divina, que nos leva a pensar na Igreja como uma família, isto é, como um tipo de realidade social em que se transmite a vida, neste caso a vida sobrenatural. Isto, evidentemente, não pode de modo algum obscurecer a igualdade radical de todos os homens na salvação conquistada por Cristo e a consequente igualdade radical de todos os baptizados na Igreja.
Podemos dizer que entre os direitos mais importantes dos fiéis está precisamente o direito de gozar de Pastores que cumpram o seu dever como tais, de tornar Cristo presente como Cabeça nos sacramentos e na Palavra. Tudo isto não se opõe de modo algum à participação dos fiéis leigos na esfera institucional da Igreja, com a sua voz importante nos órgãos sinodais e podendo assumir tarefas eclesiais para as quais não é exigido o sacramento da Ordem, sem esquecer que o lugar em que os leigos devem construir a Igreja é sobretudo o das realidades temporais: a família, o trabalho, a cultura, a vida pública, etc.
Entendido deste modo, o direito insere-se perfeitamente no âmbito da missão salvífica da Igreja. A consciência da atualidade do mistério da Encarnação do Verbo implica também que se envidem todos os esforços para que se realize o direito de todos e de cada um ao encontro pessoal com Cristo através dos bens salvíficos que Ele deixou à sua Igreja.
Para concluir, gostaria de citar algumas palavras recentes do Papa Francisco num curso de atualização de Direito Canónico promovido pela Rota Romana, que sublinham a relação do direito eclesial com a vida e a missão da Igreja: "Podemos perguntar-nos: em que sentido um curso de direito está relacionado com a evangelização? Estamos habituados a pensar que o Direito Canónico e a missão de difundir a Boa Nova de Cristo são duas realidades distintas. Pelo contrário, é decisivo descobrir o elo que os une na única missão da Igreja. Poder-se-ia dizer esquematicamente: nem direito sem evangelização, nem evangelização sem direito. De facto, o núcleo do Direito Canónico diz respeito aos bens da comunhão, antes de mais a Palavra de Deus e os Sacramentos. Cada pessoa e cada comunidade tem o direito - tem o direito - ao encontro com Cristo, e todas as normas e actos jurídicos tendem a promover a autenticidade e a fecundidade desse direito, isto é, desse encontro. Por isso, a lei suprema é a salvação das almas, como afirma o último cânone do Código de Direito Canónico (cf. cânone 1752)" (Discurso de 18 de fevereiro de 2023).
O autorCarlos José Errázuriz
Professor de Direito Canónico. Universidade Pontifícia da Santa Cruz.
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