Evangelho

Um castigo misericordioso. Exaltação da Santa Cruz (C)

Joseph Evans comenta as leituras da Exaltação da Salta Cruz (C) para o dia 14 de setembro de 2025.

Joseph Evans-11 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Para que não fôssemos condenados, Cristo foi condenado. Deus tomou sobre si a condenação que nós merecíamos. É o que lemos no Evangelho de hoje: "Porque Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele".. Este ano, a grande festa da Exaltação da Santa Cruz cai num domingo e, assim, dá a toda a Igreja uma nova oportunidade para meditar sobre a Cruz e sobre como ela é a combinação perfeita da justiça e da misericórdia divinas. A justiça exige a punição do pecado. Esta justiça deve ser satisfeita, não pode ser ignorada. Mas, na sua misericórdia, Deus tomou sobre si o castigo, deixando apenas uma pequena parte para nós partilharmos.

A primeira leitura mostra os israelitas a serem literalmente mordidos por serpentes como castigo pelo seu pecado. Embora isto tenha acontecido de facto, também exprime simbolicamente a "mordedura" do pecado. Sempre que pecamos, o pecado volta para nos morder. Ferimos os outros com o pecado, mas nós próprios somos feridos ainda mais, embora por vezes a ferida possa ser - e esta pode ser a pior de todas - a insensibilidade da consciência para apreciar o mal que fizemos.

No entanto, para salvar os israelitas, Deus diz a Moisés para levantar uma serpente de bronze, uma representação da própria criatura que lhes causa a morte. Os israelitas são obrigados a enfrentar o seu pecado, a olhar para ele e a reconhecê-lo. Não admira, pois, que, quando Jesus morre na cruz, São João cite a profecia de Zacarias: "Olharão para aquele que trespassaram". (Jo 19,37; Zc 12,10). Para sermos perdoados, temos de estar dispostos a enfrentar e a reconhecer os nossos pecados. Daí o valor da confissão.

O pecado é mostrado neste episódio, como no caso de Adão e Eva, como uma falta de confiança em Deus. Deus castiga então, mas mesmo o seu castigo, em si mesmo, é misericordioso: é menos do que merecemos e destina-se apenas a trazer-nos de volta a ele. Como lemos no Sal: "E quando ele os fazia morrer, procuravam-no e levantavam-se de madrugada para se dirigirem a Deus".. Para compensar a desobediência de Adão e Eva a uma árvore inspirada pelo orgulho, que conduzia à morte (cf. Gn 3, 1-7 e 17-19), Cristo foi humildemente obediente até à morte num madeiro. Como nos diz São Paulo na segunda leitura: "humilhou-se a si mesmo e tornou-se obediente até à morte, e morte de cruz".. Se tivermos a humildade de admitir os nossos pecados, a maior humildade de Deus apressa-se a salvar-nos.

Ecologia integral

A inteligência artificial, Leão XIV e a Doutrina Social da Igreja

A Igreja propõe-se discernir a revolução digital na perspetiva da Doutrina Social, para que a inteligência artificial se torne um instrumento ao serviço da pessoa e do bem comum.

Ignacio Amorós-10 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 10 acta

Num mundo marcado por avanços tecnológicos vertiginosos, a inteligência artificial (IA) está a emergir como uma ferramenta poderosa que transforma a sociedade, a economia e as relações humanas. A IA é um dom da criatividade humana que pode glorificar Deus ao serviço do bem comum, ou um perigo que ameaça a dignidade do indivíduo?

A Doutrina Social da Igreja (DSI), enraizada no Evangelho e desenvolvida ao longo dos séculos, oferece uma luz profética para discernir e orientar esta "revolução digital". Como afirmou o Papa Leão XIV no seu primeiro discurso aos cardeais, a 10 de maio de 2025, "os progressos da inteligência artificial colocam novos desafios à defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho". Inspirado por Leão XIII, que respondeu à Revolução Industrial com Rerum Novarum (1891), Leão XIV deu prioridade à IA como a "nova questão social", apelando a uma resposta ética que integre a fé católica e a inovação tecnológica.

Este artigo tem como objetivo sintetizar alguns dos ensinamentos da Igreja sobre a IA, seguindo os princípios da DSI. Enriquecido com documentos recentes como Antiqua e nova (2025), a Mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Paz de 2024 e as reflexões de Leão XIV, explora a definição de IA, o seu contexto, os princípios morais aplicáveis e algumas recomendações práticas. A DSI não impõe regras rígidas, mas oferece princípios universais - dignidade humana, bem comum, solidariedade e subsidiariedade - e valores - verdade, liberdade, justiça e amor - para orientar a sua utilização responsável. Numa altura em que a IA permeia a vida quotidiana, desde as recomendações personalizadas aos diagnósticos médicos, a Igreja convida-nos a uma reflexão profunda para que esta tecnologia sirva o homem e não o escravize.

O que é a Inteligência Artificial?

A IA é uma tecnologia criada pelo homem que imita as funções da inteligência humana, como o raciocínio, a aprendizagem e a tomada de decisões. Com base em algoritmos matemáticos e modelos de aprendizagem automática, processa grandes volumes de dados para identificar padrões, fazer previsões e executar tarefas autónomas. Como explicado por Antiqua e novaA IA não possui inteligência no sentido humano - que inclui alma, emoções e capacidade moral - mas funciona funcionalmente, imitando processos cognitivos sem consciência genuína.

Exemplos quotidianos incluem assistentes como o ChatGPT ou o Grok, que sintetizam informações em segundos; recomendações personalizadas na Netflix ou na Amazon; chatbots em empresas como o BBVA; e análise de redes sociais por marcas como a Coca-Cola. Por exemplo, um assistente como o ChatGPT pode resumir a Bíblia ou escrever um poema ao estilo de Lope de Vega em segundos. 

A utilização da IA está a crescer exponencialmente. Um estudo do GAD-3 (2025) indica que 85% dos adolescentes utilizam a IA pelo menos uma vez por semana. Além disso, um relatório da Microsoft (2024) indica que a utilização da IA cresceu de 55% em 2023 para 75% em 2024, com as organizações a empregarem frequentemente a IA generativa para otimizar processos, produtos e vendas. Na medicina, a IA acelera os diagnósticos; na educação, gera conteúdos multilingues; na ciência, analisa dados para combater a fome ou as alterações climáticas.

No entanto, a IA comete erros - como confusões ou geração de informações falsas - e não substitui o julgamento humano. Como adverte Antiqua e novaA sua moralidade depende das escolhas humanas: "Como qualquer produto da criatividade humana, a IA pode ser orientada para fins positivos ou negativos". Esta distinção é crucial, pois a IA não é neutra: a sua conceção e aplicação reflectem valores humanos, e a Igreja convida-nos a orientá-la para o bem.

Contexto histórico: da revolução industrial à revolução digital

A Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX) transformou a produção com inovações como a máquina a vapor, multiplicando a produtividade, mas conduziu à desigualdade e ao desemprego. Leão XIII reagiu com Rerum NovarumA organização está empenhada na dignidade do trabalhador e na promoção da justiça social com base nos princípios bíblicos e nos ensinamentos de Jesus.

A inteligência artificial (IA) está a desencadear uma revolução de alcance global, comparável, ou mesmo superior, à Revolução Industrial, transformando tanto o mundo como a missão da Igreja. Por exemplo, um estudo do Fórum Económico Mundial de 2023 prevê que a IA irá automatizar 25% dos empregos globais, reduzindo os custos em alguns sectores em 30-40%, mas poderá gerar maiores desigualdades. O Papa Leão XIV associa-a às "coisas novas" digitais, comparando-a à Revolução Industrial.

Esta transformação levanta uma questão crucial: a IA é apenas um avanço incremental ou uma mudança qualitativa? O consenso atual aponta para a segunda hipótese: a IA introduz uma diferença fundamental ao imitar o raciocínio humano, marcando uma nova categoria na sociedade. Como descreveu o Papa Francisco, estamos perante uma "mudança de época", uma verdadeira revolução, que exige uma profunda reflexão ética para orientar o seu imenso potencial para o bem comum e a glória de Deus. Na sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2024, o Papa Francisco sublinhou que a IA pode promover a paz se for orientada para o bem comum, mas adverte contra a sua má utilização em conflitos ou discriminações.

A Igreja valoriza a IA pelo seu potencial na ciência, na medicina e na equidade, mas insiste que quaisquer avanços devem servir a dignidade humana. Ferramentas como o Magisterium AI sintetizam os ensinamentos da Igreja, ilustrando como a IA pode evangelizar e difundir o Evangelho a novos públicos.

De Leão XIV à revolução da IA

O Papa Leão XIV, eleito Romano Pontífice a 8 de maio de 2025, sublinhou desde o início o papel da IA no seu magistério. A escolha do seu nome em referência a Leão XIII não é por acaso: ele procura responder às "coisas novas" do nosso tempo, como a revolução digital, com a mesma audácia e "espírito profético" com que o seu antecessor enfrentou a revolução industrial. No seu primeiro discurso aos cardeais, Leão XIV declarou: "Os avanços da inteligência artificial colocam novos desafios à defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho", sublinhando a necessidade de uma orientação moral que coloque o ser humano no centro.

Na sua mensagem aos participantes na Segunda Conferência Anual sobre a IA, em 17 de junho de 2025, o Papa desenvolveu esta visão: "A vossa presença testemunha a necessidade urgente de uma reflexão séria e de um diálogo permanente sobre a dimensão ética inerente à IA, bem como sobre as suas implicações para o futuro da humanidade". Neste contexto, Leão XIV sublinhou que a IA deve ser gerida de forma ética, promovendo um desenvolvimento inclusivo que respeite a dignidade de cada pessoa. Além disso, numa mensagem dirigida aos líderes empresariais da IA, em 20 de junho de 2025, afirmou: "A inteligência não consiste em acumular dados, mas em procurar o verdadeiro sentido da vida, não em ter pilhas de informação". Isto evidencia a sua preocupação com uma abordagem tecnocrática que esquece o espiritual.

Leão XIV tem apelado repetidamente a um tratado internacional para regular a IA, assegurando que os seus objectivos sejam orientados para o bem comum, a justiça e a paz, com a supervisão humana sempre presente. Há rumores de uma encíclica intitulada Rerum Digitalium sugerem que irá explorar estas questões de forma mais aprofundada, no espírito do Rerum Novarum. O seu legado inicial posiciona a Igreja como uma voz moral global nesta revolução, insistindo que "a dignidade humana nunca deve ser violada em nome da eficiência". Assim, Leão XIV não só alerta para os riscos, como propõe uma ética que integra os valores cristãos na conceção da IA.

Princípios da Doutrina Social da Igreja aplicados à AI

A DSI propõe quatro princípios universais e quatro valores para orientar a IA, assegurando que se trata de um "progresso autêntico". Para que qualquer desenvolvimento tecnológico, avanço ou inovação represente um autêntico progresso, deve cooperar com a dignidade da pessoa e o bem comum. Os princípios do pensamento social católico, derivados do Evangelho e do Magistério, são aplicados à IA para equilibrar a inovação com a ética humana. Uma apresentação completa pode ser encontrada no Compêndio 2004 da DSI. Estes princípios são apresentados em pormenor a seguir, incluindo exemplos específicos e citações relevantes.

  1. Dignidade da pessoa humanaEste princípio fundamental afirma que o ser humano, criado à imagem de Deus (Gn 1,27), é um fim em si mesmo e não um meio para fins tecnológicos ou económicos. No contexto da IA, implica que as máquinas devem servir o homem e não degradá-lo. Por exemplo, no local de trabalho, a IA pode automatizar tarefas repetitivas, libertando tempo para actividades criativas, mas não deve reduzir os trabalhadores a "engrenagens" descartáveis. Antiqua e nova sublinha que a inteligência humana pertence a toda a pessoa, por oposição à IA funcional, que carece de alma ou empatia. No domínio da saúde, a IA pode diagnosticar com precisão, mas deve ser complementada pela compaixão humana, respeitando o consentimento informado e a inviolabilidade do paciente. A IA não deve "criar um substituto para Deus", mas sim respeitar a dignidade inerente.
  2. Bem comumRefere-se ao conjunto de condições sociais que permitem o desenvolvimento integral de todos, incluindo o destino universal dos bens. A IA deve promover o acesso equitativo aos recursos, evitando que beneficie apenas as elites. Por exemplo, na educação, ela pode gerar conteúdos personalizados para regiões subdesenvolvidas, mas se for concentrada nas mãos de corporações, agravará as desigualdades digitais. A Mensagem de Francisco para a Paz em 2024 sublinha que "as tecnologias que não melhoram a qualidade de vida de toda a humanidade, mas agravam as desigualdades, não são um verdadeiro progresso". Isto alinha-se com a opção preferencial pelos pobres, onde a IA poderia inovar na agricultura para combater a fome, mas apenas se for orientada para o bem de todos e do homem inteiro.
  3. SolidariedadeReconhecendo a interdependência humana como uma família criada por Deus, este princípio incita-nos a cuidar dos vulneráveis. Aplicado à IA, significa promover ferramentas inclusivas que liguem as pessoas e não as isolem através de relações fictícias (chatbots como "companheiros" emocionais). Num mundo individualista, a IA pode simular a empatia, mas não substitui as ligações autênticas. Jesus disse-nos que seremos julgados pelo amor: "Como o fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes" (Mt 25,40). O Papa Francisco sublinhou que a forma como utilizamos a IA para incluir os mais necessitados será a verdadeira medida da nossa humanidade. Em contextos globais, a solidariedade exige que a IA ajude as nações pobres, promovendo a fraternidade e a justiça social.
  4. SubsidiariedadeEste princípio defende a resolução dos problemas ao nível mais local possível, aumentando a escala apenas quando necessário, para respeitar a autonomia dos indivíduos e das comunidades. No domínio da IA, implica uma regulamentação equilibrada: local para as inovações comunitárias (aplicações educativas nas paróquias) e global para os riscos transnacionais, como a cibersegurança. Leão XIV apelou a uma governação global coordenada para a IA, mas baseada na subsidiariedade, garantindo que o poder não seja centralizado em Estados ou empresas. Por exemplo, os pais devem ser livres de escolher ferramentas educativas de IA, sem imposições estatais.

O QUATRO VALORES Os princípios fundamentais da DSI - verdade, liberdade, justiça e amor - reforçam os princípios da dignidade humana, do bem comum, da solidariedade e da subsidiariedade, oferecendo uma orientação moral para a utilização ética da IA. 

I. O verdade é essencial para combater a desinformação, como os deepfakes, que geram conteúdos falsos capazes de polarizar sociedades, prejudicar reputações ou manipular eleições. A DSI apela a que a IA seja programada para verificar factos e promover a veracidade, evitando mentiras que corroem a confiança social, como sublinha o Compêndio da DSI: "A verdade é a base de uma sociedade coerente". 

II. A liberdadeA liberdade de escolha, sinal da dignidade humana, protege contra a coação algorítmica que manipula as decisões, como quando a IA prevê comportamentos para orientar o consumo ou limitar as escolhas pessoais. Defender a liberdade significa garantir que os algoritmos respeitem a autonomia humana, sem cair em formas de controlo tecnológico que fazem lembrar o totalitarismo. 

III. A justiça exige condições de trabalho dignas face à automatização em massa, que ameaça eliminar milhões de postos de trabalho. A IA deve apoiar salários justos e ambientes de trabalho que respeitem a dignidade do trabalhador. Rerum Novarumo trabalho deve ser remunerado de modo a permitir ao homem viver com dignidade. 

IV. Por último, o amorque transcende a eficiência técnica, incorporando a misericórdia e o perdão, valores que nenhuma máquina pode reproduzir. São João Paulo II ensinou que o amor é o valor supremo da moral social católica e a IA deve estar ao serviço desta caridade, promovendo a misericórdia, a fraternidade e a compaixão, especialmente para com os mais necessitados. Estes valores garantem que a IA não só optimiza os processos, mas constrói uma "civilização do amor" alinhada com o Evangelho.

Princípio DSIDescrição pormenorizadaAplicação à IACitação relevante
Dignidade humanaO ser humano como um fim e não como um meio; integridade corpo-alma.Controlo das decisões vitais; não desvalorização do trabalho."A IA deve servir a humanidade, respeitando a dignidade única de cada indivíduo".
Bem comumCondições para o desenvolvimento de todos; destino universal dos bens.Acesso equitativo; inovações inclusivas."Os desenvolvimentos tecnológicos que agravam as desigualdades nunca podem ser considerados como um verdadeiro progresso.
SolidariedadeInterdependência e cuidado com os vulneráveis.Inclusão global; evitar o isolamento digital."Somos chamados a agir de forma responsável e a respeitar os valores humanos fundamentais".
SubsidiariedadeEm primeiro lugar, soluções locais; se necessário, aumentar a escala.Regulamentação equilibrada; autonomia comunitária."É injusto (...) transferir para uma comunidade maior o que as mais pequenas podem fazer".

Aplicação dos princípios a questões específicas

A DSI esclarece questões fundamentais, aplicando os seus princípios a desafios concretos em matéria de IA. A dignidade da pessoa humana é ameaçada quando a IA promove relações irrealistas, como os bots ou chatbots que simulam empatia mas não substituem ligações autênticas, levando ao isolamento numa cultura digital individualista. 

O trabalho, expressão da dignidade (Gn 2,15), pode ser desumanizado pela automatização em massa, perdendo postos de trabalho e reduzindo o homem a um meio de eficiência; a Igreja defende um emprego digno que permita o desenvolvimento pessoal. 

O direito à privacidade é violado pela análise preditiva de dados, em que a IA antecipa comportamentos para fins comerciais, invadindo a privacidade e tratando os seres humanos como objectos. 

O bem comum é posto em risco quando a IA exacerba as desigualdades sociais, concentrando-se nas mãos de poucos poderosos e deixando os vulneráveis para trás, em vez de promover a solidariedade e a justiça. 

Por último, a verdade é corroída por mentiras e deepfakes, gerando desinformação que polariza as sociedades e prejudica as reputações, exigindo uma programação ética que dê prioridade à veracidade. Estas questões sublinham que a IA deve ser ordenada ao homem, e não o contrário, guiada pela DSI para um progresso autêntico.

Riscos e desafios éticos

A IA oferece avanços como a libertação de tarefas repetitivas, inovações na agricultura e na educação e a promoção da fraternidade, se utilizada de forma ética. Tudo isto pode aliviar o sofrimento, promover o desenvolvimento integral e acabar com as guerras. No entanto, os riscos da IA são multifacetados, afectando a dignidade, a sociedade e a paz. 

Antiqua e nova e as intervenções de Leão XIV destacam alguns desafios nos domínios da educação, da economia e da saúde. Os principais perigos incluem os preconceitos algorítmicos que perpetuam a discriminação, a desinformação através de deepfakes que fomentam a polarização, a perda de privacidade com a vigilância em massa, o desemprego em massa que desestabiliza as famílias, as armas autónomas letais que permitem que as máquinas decidam as mortes em violação da dignidade e as relações fictícias que agravam a solidão. A Igreja adverte que a IA pode "agravar os conflitos" se não for eticamente concebida e apela à responsabilidade moral a todos os níveis para mitigar estes riscos através do controlo humano.

Conclusão

Em suma, a IA representa uma mudança epocal que a DSI ilumina com princípios permanentes e universais, recordando-nos que a tecnologia é um dom humano subordinado a Deus, fonte de toda a sabedoria (cf. 1 Cor 1, 24). Desenvolvendo estes princípios, vemos que a dignidade humana exige que a IA seja uma aliada e não uma substituta; o bem comum apela à equidade global; a solidariedade promove a inclusão; e a subsidiariedade equilibra a regulamentação. Os riscos - desinformação, desemprego, armas autónomas - exigem uma vigilância ética, enquanto alguns benefícios, como os avanços médicos, convidam a uma esperança cautelosa.

Como católicos, somos chamados a agir: formando a nossa consciência com a DSI, utilizando recursos como o DoCat, defendendo tratados internacionais e utilizando a IA para evangelizar e servir os pobres. A inteligência não tem a ver com a acumulação de dados, mas com a procura do verdadeiro sentido da vida. 

As paróquias, as escolas e as famílias católicas podem adotar ferramentas como o Magisterium AI para enriquecer a catequese, participando simultaneamente em fóruns locais para defender uma IA ética. A formação da nossa consciência na DSI permite-nos transformar esta revolução digital numa oportunidade de evangelização e de serviço aos mais necessitados.

Num mundo tentado pela idolatria de pensar que a IA pode trazer a salvação eterna, recordemos que só em Deus encontramos a verdadeira salvação e só Cristo sacia a nossa sede infinita de amor e de felicidade (cf. Sal 63,2). Que a IA nos impulsione a construir a "civilização do amor", onde a técnica e a fé convergem na fraternidade. Deus, o Logos eterno, a Inteligência eterna, convida-nos a amar através de toda a criação. Que esta revolução da IA e da cultura digital nos ajude a construir um mundo melhor, mais humano e solidário, e nos leve a amar e a dar glória a Deus.

O autorIgnacio Amorós

Sacerdote e editor de "Rebels Wanted".

Vaticano

O Papa convida os árabes da Terra Santa a transformar a provação em oração

Num dia chuvoso em Roma, o Papa convidou os fiéis de língua árabe, especialmente os da Terra Santa, durante a Audiência de hoje, a converterem o "nos momentos de provação e tribulação, numa oração confiante, porque Deus ouve sempre os seus filhos". Ontem, Leão XIV qualificou de "grave" o bombardeamento israelita contra os dirigentes do Hamas em Doha, no Qatar.

Francisco Otamendi-10 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

O Papa Leão teve no Público Na audiência geral desta manhã, numa chuvosa manhã romana, o Papa teve dois momentos em que fez uma referência especial às guerras. Dirigindo-se aos fiéis de língua árabe, especialmente aos que se encontram na Terra Santa, convidou-os a "transformar o seu grito, em tempos de provação e tribulação, numa oração confiante". "Porque Deus escuta sempre os seus filhos e responde quando é melhor para ele", afirmou.

O Presidente do Parlamento Europeu, dirigindo-se aos oradores polacos, recordou que "hoje celebram o Dia Nacional das Crianças Polacas Vítimas da Guerra, que simboliza o seu sofrimento e o seu contributo para a reconstrução da Polónia após a Segunda Guerra Mundial".

"Lembrai-vos também, nas vossas orações e nos vossos projectos humanitários, das crianças da Ucrânia, de Gaza e de outras regiões do mundo devastadas pela guerra", disse. "Confio-vos, a vós e às crianças que hoje sofrem, à proteção de Maria, Rainha da Paz. PazAbençoo-vos do fundo do meu coração.

"A situação é realmente grave".

Ontem, ao sair da sua residência em Castel Gandolfo, Leão XIV respondeu brevemente às perguntas dos jornalistas sobre o bombardeamento de Doha, no Qatar: "Não sabemos como estão a correr as coisas. Temos de rezar muito, continuar a trabalhar e insistir na paz". Quanto à ordem de evacuação da cidade de Gaza, o Pontífice disse que tentou contactar o pároco: "Não tenho notícias".

Leão XIV expressou a sua preocupação com o que estava a acontecer no Médio Oriente, relatou o Agência do VaticanoA situação é realmente grave", afirmou. "Não sabemos onde é que as coisas vão parar; é sempre grave. Temos de rezar fervorosamente e continuar a trabalhar, a procurar e a insistir na paz".

O grito de Jesus na cruz

Na sua catequese de abertura, o Papa prosseguiu com o tema jubilar "Jesus Cristo, nossa esperança" e centrou a sua meditação no grito de Jesus na cruz: "Jesus gritou em alta voz e deu o último suspiro" (Mc 15,37).

"Nesta catequese contemplamos a morte de Jesus na cruz. O Evangelho oferece-nos um pormenor muito precioso, que é o facto de Jesus não morrer em silêncio, mas dar a vida com um grito. Este grito exprime a dor, o abandono, a fé, a oferta total de si mesmo", sublinhou o Papa. 

Grito de dor ao Pai, da humanidade: oração 

"O Filho, que sempre viveu em íntima comunhão com o Pai, experimenta agora o silêncio, a ausência, o abismo. Mas o grito de Jesus não é de desespero, mas de sinceridade e de verdade, e revela uma confiança profunda, que perdura mesmo quando tudo cala".

O Pontífice sublinhou que "no Crucificado podemos reconhecer um Deus que não permanece distante, mas que entra nas profundezas da nossa dor. O seu grito é um profundo ato de humanidade, e é também uma forma extrema de oração. 

Nesse grito, Jesus grita ao Pai porque acredita nele, porque o ama e não perdeu a esperança. Assim "ele ensina-nos, nas nossas noites escuras, a oferecer ao Pai os nossos gritos de dor. São gritos de esperança na hora da provação, que nos ajudam a confiar e a abrir o nosso coração ao Deus que salva".

O centurião compreende

O centurião, um pagão, compreende o amor de Jesus. Não porque ouviu um discurso, mas porque viu Jesus morrer assim: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus" (Mc 15,39). É a primeira profissão de fé após a morte de Jesus". 

Peçamos ao Espírito Santo, concluiu o Papa Leão, que nos ajude "a dar voz aos sofrimentos da humanidade através da nossa oração e das obras concretas de caridade, para que esta voz, unida à de Cristo, se torne uma fonte de esperança para todos".

Aos peregrinos francófonos, com um grupo de Montreal (Canadá), o Papa disse: "Quando chegar a hora da provação, como os novos santos Pier Giorgio Frassati e Carlo AcutisAprendemos de Cristo o grito de esperança e o desejo de abrir o nosso coração à vontade do Pai, que deseja a nossa salvação.

O autorFrancisco Otamendi

Evangelização

São Nicolau de Tolentino, primeiro santo agostiniano, e mártires de Nagasaki

No dia 10 de setembro, a liturgia comemora São Nicolau de Tolentino (século XIII), considerado o primeiro santo da Ordem de Santo Agostinho. Notabilizou-se pela sua dedicação pastoral como confessor e pela sua solicitude para com os mais necessitados, e é o protetor das almas do purgatório. Celebram-se também hoje os Beatos Mártires de Nagasaki (Japão).  

Francisco Otamendi-10 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

As breves biografias sobre São Nicolau de Tolentino Sublinham o seu ascetismo, o seu sorriso afável, as suas longas orações e jejuns, sempre acompanhados de simpatia e caridade. É isto que os dias dos santos no vaticano e a Martirologia romana.

"Em Tolentino, na região de Piceno, São Nicolau, sacerdote, religioso da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, que, frade de rigorosa penitência e assídua oração, severo consigo mesmo e compreensivo com os outros, impunha muitas vezes a si mesmo a penitência dos outros ( 1305)", escreve o Martirológio.

Como já dissemos, São Nicolau é reconhecido como o padroeiro das almas do Purgatório, o protetor das almas penadas. Sobretudo depois de uma visão em que um frade lhe pediu que rezasse por ele e por outras almas do Purgatório.

Um colega frade falou-lhe do Purgatório

A história contaUma noite, o Padre Nicolau estava a dormir na sua cela quando ouviu a voz de um dos seus colegas frades, que tinha acabado de morrer. O frade disse a São Nicolau que estava no purgatório e pediu-lhe que celebrasse a Eucaristia por ele e por outras almas que lá se encontravam. Para que pudessem ser libertadas pela misericórdia de Cristo. 

Depois de Nicolau ter celebrado missa por esta intenção durante sete dias, o frade voltou a falar com ele. Desta vez, foi para lhe agradecer e para lhe dizer que muitas almas, incluindo a sua, estavam agora com Deus.

Muitos milagres são atribuídos a São Nicolau, tanto durante a sua vida como após a sua morte. Pedia sempre às pessoas que não comentassem nada, mas que agradecessem a Deus. Quando os seus dias estavam a acabar, alguém lhe perguntouPadre, porque estais tão alegre e feliz? O Padre Nicolau respondeu: "Porque o meu Deus e Senhor Jesus Cristo, acompanhado da sua Santa Mãe e do meu Santo Padre Agostinho, me diz: "Vamos! Servo bom e fiel, entra na alegria do teu Senhor".

Bem-aventurados mártires de Nagasaki

A 7 de julho de 1867, o Papa Pio IX beatificou 205 servos de Deus. martirizado no Japão entre 1617 e 1632. Destes, 52 foram imolados, queimados vivos ou decapitados, na "Colina dos Mártires" em Nagasaki, Japão, a 10 de setembro de 1622. Entre os mártires, havia padres, religiosos, casais, jovens, catequistas, viúvas e crianças, que deram um exemplo heroico. Eram de várias nacionalidades.

O autorFrancisco Otamendi

Mãe, pai, eu sou gay

Como acompanhar as crianças com atração pelo mesmo sexo a partir da fé cristã: um apelo à compreensão, à verdade e ao amor segundo os ensinamentos da Igreja.

10 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

Vários pais cristãos têm-me abordado para me falarem da sua dor ao receberem a notícia de que um filho ou filha é considerado homossexual, ou seja, que sente "atração pelo mesmo sexo" (SSA). Os pais estão confusos e não sabem como atuar. Não sabem como lidar com a questão. Querem o melhor para eles, mas não sabem o que é melhor. 

Para vos dar algumas sugestões práticas, começarei por apresentar as duas posições dominantes na nossa sociedade atual. No fundo, são duas formas de compreender o ser humano: a visão antropológica imanente (ideologia de género) e a visão transcendente (antropologia da unidade da pessoa). 

Estamos conscientes de que as escolas, as leis e os meios de comunicação social são três vias maciças através das quais somos bombardeados para adoptarmos uma forma de pensar que favorece a ideia de que podemos escolher o nosso género, independentemente de nascermos homens ou mulheres, dizem-nos que nascemos "neutros" (visão imanente). Os nossos filhos têm recebido esta informação em abundância.

A Igreja, por seu lado, conhecedora da natureza humana, exprime de forma equilibrada e luminosa a visão transcendente, defendendo que somos uma unidade inseparável de corpo e alma, e que a nossa sexualidade não está desligada da nossa alma, da nossa capacidade de amar. Por isso, a Igreja chama-nos a dar uma educação sexual integral, que é propriamente uma educação afetivo-sexual, uma educação para o amor.

Parte também da aceitação de uma determinada natureza. Fomos criados homem e mulher, temos a mesma dignidade, mas somos sexualmente diferentes e complementares, um facto que a simples observação e o bom senso podem corroborar. Na natureza do nosso projeto, está perfeitamente inscrita a dupla finalidade da sexualidade humana, que é ao mesmo tempo unitiva e procriadora: ajuda-nos a amarmo-nos mais como casal e a dar vida aos filhos.

O catecismo pede-nos que façamos a distinção entre pessoa homossexual, ato homossexual e cultura homossexual:

  1. Para a pessoa, todo o amor e compreensão que pudermos ter
  2. Para o ato, zero promoção, uma vez que é inerentemente confuso.
  3. Para a cultura, a denúncia de uma expressão que causa dor profunda no indivíduo, na família e na sociedade como um todo. 

Passo a citar os ensinamentos de dois documentos magistrais que nos foram dados pela Igreja.

O Catecismo da Igreja Católica é claro e profundo na sua resposta a esta questão. Diz o seguinte: "Um número apreciável de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais. Eles devem ser recebidos com respeito, compaixão e sensibilidade. Todos os sinais de discriminação injusta devem ser evitados em relação a eles. Estas pessoas são chamadas a cumprir a vontade de Deus nas suas vidas e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que possam encontrar devido à sua condição" (CIC 2358). 

A pessoa, cada pessoa, é chamada a viver a virtude da castidade. Não se trata de uma exigência exclusiva para aqueles que se sentem atraídos pelo mesmo sexo. Trata-se de viver a virtude que é a guardiã do verdadeiro amor: o domínio de si ao serviço do amor! A sexualidade é bela e foi concebida para ser vivida no canal perfeito que é o matrimónio. Vivê-la fora desse canal fará com que ela transborde e cause estragos. 

Por outro lado, o documento intitulado "A verdade sobre o amor humano", emitido pela Conferência Episcopal Espanhola, afirma no ponto 57: 

É fácil perceber que o quadro subjacente ao desenvolvimento da ideologia de género é a cultura "pansexualista". Uma sociedade moderna, diz-se, deve considerar bom "usar o sexo" como mais um objeto de consumo. E se não tem valor pessoal, se a dimensão sexual do ser humano carece de significado pessoal, nada nos impede de cair numa avaliação superficial do comportamento, baseada na mera utilidade ou na simples satisfação. Isto conduz à permissividade mais radical e, em última análise, ao niilismo mais absoluto. Não é difícil ver as consequências nefastas deste esvaziamento de sentido.

Nesta perspetiva, o que devem fazer os pais cristãos quando confrontados com uma criança que pede para ser aceite na AMS? 

- Abraçar e abençoar o nosso filho. Escutá-lo com um desejo sincero de o compreender.

- Acompanhá-lo na busca da sua felicidade que, para ser autêntica, deve ser sempre compatível com a santidade. 

Podemos propor aos nossos filhos a visão cristã da pessoa e da sexualidade; não se trata de impor, mas de lhes apresentar com amor e de lhes permitir escolher Cristo em liberdade.

E, claro, rezar pelo bem do nosso filho e pela unidade da família. Pedir com fé o discernimento e a sabedoria para guiar na verdade, sempre no quadro da verdadeira caridade. 

Junte-se ao ministério da igreja para familiares e amigos de pessoas com AMS, por exemplo, em Coragem.

Deus ama-nos a todos incondicionalmente e chama-nos a todos à santidade. Esforcemo-nos por imitar este amor misericordioso do nosso bom Deus. Isto significa conhecer melhor os nossos filhos, ouvi-los, viver com eles, exprimir-lhes abertamente o nosso amor e chamá-los a viver a castidade.  

Aceitarão ou rejeitarão o nosso convite no pleno uso da sua liberdade. Aprenderemos a respeitar-nos mutuamente e a colocar nas mãos de Deus aquele que tanto amamos. 

Como pais cristãos, sabemos que a escolha do projeto de Deus é o que preenche os anseios do coração. Esforcemo-nos por dar testemunho disso e por fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para aproximar os nossos filhos do encontro com a fonte do amor: Deus Nosso Senhor.

Evangelização

Rezar, conversar, converter. O servidor Discord que evangeliza

A evangelização digital não se faz apenas em Instagram y YouTubemas também pode ser encontrado nos servidores do Discórdiaum serviço de mensagens instantâneas conhecido sobretudo pelas suas conversas sobre videojogos e celebridades. No entanto, existe também um canto para a comunidade católica.

Bryan Lawrence Gonsalves-10 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 5 acta

Na aparência, Servus Dei Poderia ser apenas mais um canto da Internet: nomes de utilizador flutuam numa sala de chat, memes partilham espaço com a teologia e, no meio do burburinho, alguém pede ajuda com uma passagem das Escrituras.

Mas isto não é um servidor de jogos ou uma sala de conversação constituída por fãs. Servus Dei poderá ser o renascimento mais inesperado da comunidade católica na era digital. Longe dos métodos tradicionais de evangelização digital, trata-se de uma experiência em desenvolvimento sobre a forma como as crenças podem ser vividas, partilhadas e moldadas em linha através de conversas em tempo real.

Dos memes à missa

Fundada durante o caos silencioso da pandemia de COVID-19, Servus Deique em latim significa "Servo de Deus", não nasceu numa cave de igreja ou num dormitório de seminário, mas nos canais de texto de Discórdiauma plataforma mais conhecida por conversas sobre jogos do que por discussões teológicas.

"Nessa altura, Discórdia era sobretudo para brincar".explica CathMeme, o fundador do servidor, que pede para permanecer anónimo. "Mas vimos uma oportunidade de criar algo diferente, um espaço onde os católicos comuns pudessem discutir a sua fé, ser formados e criar uma comunidade"..

Atualmente, Servus Dei tem mais de 8.400 membros de todo o mundo, o que faz dele o maior servidor católico oficialmente verificado e associado pela Discórdia. O seu homólogo espanhol, Terra Sanctatem mais de 1.100 membros de língua espanhola. Juntos, fazem parte de uma revolução silenciosa, que muda os "gostos" e "desgostos" da retuítes por sessões de terço orientadas pela comunidade e perguntas e respostas religiosas 24 horas por dia.

Neste servidor, não é raro ver um católico responder a uma pergunta sobre o dogma mariano enquanto outro publica um meme de Santo Agostinho a lutar com o Wi-Fi. Apesar do caos típico de qualquer espaço aberto em linha, há uma reverência e um ritmo palpáveis. Rosários diários, terços da Divina Misericórdia e sessões de oração estruturadas coexistem com conversas de apologética, debates informais e memes baseados na fé.

"Servus Dei é um grupo misto de pessoas de todos os sectores da vida que vêm para aprender sobre Deus, amar e rir em conjunto".diz DariusAngel, um dos moderadores do servidor. Não se trata apenas de um sentimento caloroso, esta mistura de camaradagem informal e profunda tradição católica tem tido sérias repercussões.

De acordo com os registos do servidor, mais de 16.000 perguntas religiosas foram respondidas desde a sua fundação. Mais surpreendente ainda é o facto de mais de 300 não católicos se terem convertido à fé católica depois de terem passado algum tempo no servidor.

"Eu vim para Servus Dei sem expectativas".diz Jackyboy, membro de longa data. "No mínimo, não esperava ser um membro ativo, uma vez que nunca tinha utilizado Discórdia dessa forma. No entanto, depressa dei por mim a participar em debates e a aprender não só através da leitura, mas também em diálogo com outras pessoas fantásticas que levam a sua fé católica muito a sério".. Agora visita-o todos os dias, atraído por aquilo a que chama "pepitas de conhecimento e, de vez em quando, para uma boa gargalhada.

Esta mistura única entre o sagrado e o social é o que diferencia o Servus Dei da evangelização em linha tradicional. Ao contrário das páginas católicas de Instagram o Facebook, Servus Dei é profundamente interactiva, com conversas em tempo real, círculos de oração e uma cultura interna que tem tanto a ver com o apoio mútuo como com a catequese.

Proteger as verdades católicas na Internet

Como qualquer outro espaço na Internet, Servus Dei tem a sua quota-parte de debates animados e desvios filosóficos noturnos. "Claro que, de vez em quando, há um ou outro grupo desordeiro".admite Regularguy0708, outro membro veterano. "Mas, aconteça o que acontecer, no fundo o servidor mantém-se fiel à sua missão: ajudar as pessoas a encontrar respostas verdadeiras e uma conversão mais profunda do coração"..

Os moderadores afirmam que este tipo de confusão é típico das plataformas de conversação em tempo real, onde as conversas são rápidas e as paixões podem ser exaltadas. "Por vezes, tivemos trolls que atacaram o servidor".afirma CathMeme, fundadora do servidor. "Os sedevacantistas juntaram-se a eles, afirmando que a Igreja Católica Romana caiu e, nalgumas ocasiões, os satanistas até se infiltraram"..

Mas embora a porta esteja aberta a todos, esse acolhimento tem limites. "Fazemos cumprir as nossas regras, não permitimos que as pessoas insultem ou prejudiquem a Igreja ou que influenciem outros contra ela. Este nunca foi um servidor de debate; é um servidor educativo".

No centro desta missão está a fidelidade à Igreja. "Levamos muito a sério a obediência ao Magistério".acrescenta CathMeme, referindo-se a 1 Samuel 15, 22: "A obediência vale mais do que o sacrifício".. "Estamos abertos a toda a gente, mas, como é compreensível, temos regras. Esperamos que haja caridade..

Espaços digitais, impacto real

Nesse delicado equilíbrio entre abertura e ortodoxia, entre conversa informal e catequese, Servus Dei navega no ruído da Internet com uma graça surpreendente. Para muitos membros, esse equilíbrio criou um espaço que se assemelha menos a uma sala de conversação e mais a um refúgio espiritual.

"Servus Dei é um servidor educativo católico muito simpático e acolhedor".disse Serenity, um antigo moderador. "Dispõe de uma multiplicidade de recursos que cobrem todos os temas relacionados com a fé católica, permanece fiel ao Magistério da Igreja e não permite a expressão de respostas sem fontes diretas da Tradição da Igreja e das Escrituras".. Esta fidelidade não é apenas teórica, sublinhou, "Todos se encorajam mutuamente a pôr em prática a sua fé nas suas vidas, em actos e não apenas em palavras, seguindo o preceito que nos é dado na Epístola de Tiago: Ponde em prática a palavra e não a escuteis apenas" (Tg 1,22).

Essa fé vivida faz toda a diferença para pessoas como Wurli, um recém-convertido ao catolicismo que não tem pares na sua comunidade local que partilhem a sua fé. "Servus Dei tem sido uma casa para mim".diz ele. "Sinto-me bem lá, encontro comunidade e aprendo mais sobre a minha fé. Espero poder contribuir com a minha presença para a comunidade, por mais pequena que seja"..

"É um espaço de acolhimento para aqueles que estão a desenvolver a sua fé".afirmou Realpeacezone, um membro e patrono dos servidores. "O ambiente é informal mas centrado na fé, o que é muito apelativo para um público mais jovem.. Essa missão também moldou vidas muito para além das brilhantes janelas de chat do servidor. Vários antigos moderadores entraram na vida religiosa, tornando-se padres, freiras e até leigos celibatários.

O servidor também encoraja fortemente os seus membros a participar nas suas paróquias locais, a assistir à missa diária, a receber direção espiritual regular e a empenhar-se nas obras de misericórdia corporais e espirituais.

A nova fronteira da fé

Talvez seja um sinal de que a Igreja também está a crescer, não apenas em tijolos e bancos, mas em pixéis e texto. Existe um ambiente onde uma pessoa curiosa pode tropeçar num chat de voz, fazer uma pergunta sobre o sofrimento e encontrar uma comunidade disposta a responder não apenas com doutrina, mas com paciência, humor e oração.

Numa altura em que os espaços digitais podem frequentemente fragmentar-se e polarizar-se, Servus Dei oferece um guião diferente, que pode ter um toque de divino na discórdia.

O autorBryan Lawrence Gonsalves

Fundador de "Catholicism Coffee".

TribunaCarlos Espaliú Berdud

John Henry Newman: uma luz amável na escuridão

Em 31 de julho de 2025, foi anunciado que o Papa Leão XIV nomearia São João Henrique Newman Doutor da Igreja, reconhecendo no cardeal inglês do século XIX uma figura-chave para o diálogo entre a fé e a razão, a formação da consciência e a renovação espiritual da vida cristã.

10 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

Embora Newman já tivesse subido aos altares, a sua nomeação como Doutor da Igreja reforça a garantia da sua doutrina como católica, uma referência enriquecedora para todos aqueles que se debruçam sobre os seus escritos. Em suma, constitui-o ainda mais como um farol, cuja luz amável nos pode guiar na escuridão da noite, parafraseando o seu poema imortal Conduzir a luz com bondade.

Essa luz que ele projecta para a eternidade é, evidentemente, emprestada do seu Senhor, que ele procurou em criança, encontrou com o passar dos anos e acabou por amar incomensuravelmente. 

Ao recordar a sua vida e a sua obra nestes últimos dias, devo confessar que a caraterística que mais me chamou a atenção foi a sua constante disponibilidade para renunciar aos bens mundanos para seguir Jesus Cristo. 

Por exemplo, quando era apenas um adolescente, decidiu tornar-se clérigo na igreja anglicana e, sem que isso fosse necessário ou habitual no seu tempo, auto-impôs o celibato apostólico, negando voluntariamente a si próprio a possibilidade de encontrar um amor na terra que o acompanhasse na viagem da vida. 

No entanto, há um momento ainda mais impressionante de renúncia aos bens da terra, já na sua maturidade. De facto, NewmanCom a sua retidão de vida e a sua busca incansável do verdadeiro e do belo, apercebeu-se, no contexto do que se designou por "movimento de Oxford", que a verdade estava na Igreja Católica Romana e pensou em bater à porta de Roma. No entanto, para ele, que era uma figura de proa da Igreja Anglicana (Companheiro de Oriel, um dos Faculdades Mary's, a igreja da universidade), tornar-se católico significava deixar todo o mundo para trás. É difícil para as pessoas de outros tempos e ambientes avaliar o que esse passo implicava, mas penso que a imagem de um membro da nobreza a tornar-se um proscrito pode ilustrar o significado dessa decisão. 

Assim, quando, a 3 de outubro de 1845, alguns dias antes de ser recebido na Igreja Católica por Dominic Barberi, a 9 de outubro de 1845, em Littlemore, escreveu às autoridades de Oriel para as informar de que ia deixar o seu posto de académico, Newman estava consciente de que estava a deixar tudo para trás. Abandonava todos os seus sonhos anteriores para se tornar um católico comum, um leigo numa Igreja católica ainda perseguida e em minoria em Inglaterra. Tornar-se-ia, de um dia para o outro, um imigrante no seu próprio país.

O mais surpreendente é que, a julgar pelo conteúdo das cartas que escreveu à sua família e aos seus amigos mais próximos nessa altura, ele confessou que renunciar a uma posição social tão privilegiada não lhe custou nada. Para Newman, pelo contrário, pertencer ao único rebanho de Cristo era tudo. Acrescentava que só lhe doía, e muito, o desgosto de perder tantos amigos na Igreja Anglicana e em Oxford, de onde sabia que tinha de sair. 

Creio que o gesto de Newman de abandonar tudo para se concentrar no seguimento de Deus é um grande exemplo para os homens e mulheres do nosso tempo que, como dizia Pio XI, possuem a doença da falta de reflexão, da busca contínua e febril das coisas exteriores, do desejo imoderado de riquezas e prazeres que faz perder gradualmente de vista os nobres ideais, que nos afunda no mar dos bens terrenos e perecíveis, impedindo-nos de contemplar as coisas de cima, eternas, o próprio Deus (cfr. Pio XI, Mens Nostra, 5). 

Do mesmo modo, a nomeação de Newman como Doutor da Igreja dá-nos a grande alegria de apreciar como Deus, que nunca é ultrapassado em generosidade, devolveu a Newman, durante a sua vida, tudo aquilo de que ele tinha sido privado. Com o passar do tempo, recuperou os seus amigos. Foi-lhe concedido, pouco depois da sua conversão, o sacerdócio na Igreja Católica; o cardinalato no fim dos seus dias terrenos; e, mais recentemente, o reconhecimento da santidade após uma vida de grandes tribulações. E, finalmente, recebeu agora o doutorado da Igreja pelo Papa Leão XIV.

Este novo reconhecimento da Igreja com Newman permitiu-me também saborear a bondade de Deus com Domingos Barberi. Este religioso italiano que, na sua juventude, tinha visto o chamamento para converter a Inglaterra, apesar de só ter podido ir para lá quando tinha quase cinquenta anos, e que, por vezes, tinha sido recebido com pedras em algumas aldeias inglesas quando começou a estabelecer missões passionistas. A este humilde religioso, que falava um inglês deficiente, que também tinha sofrido indizivelmente, depois de ter chegado a Littlemore, na noite de 8 de outubro de 1845, Deus concedeu a graça de ver uma das grandes figuras do seu tempo ajoelhar-se diante dele, enquanto se secava diante de um fogo numa chaminé, pedindo-lhe que ouvisse a sua confissão geral e o recebesse na Igreja Católica. 

Obrigado, São João Henrique Newman, obrigado por seres essa luz suave que nos guia na escuridão.

O autorCarlos Espaliú Berdud

Professor de Direito Internacional e Relações Internacionais, Universidade CEU Fernando III. Bolseiro de Investigação, Blackfriars Hall, Universidade de Oxford.

Mundo

Novo massacre na R.D. Congo: mais de 70 mortos em ataque jihadista

Uma milícia jihadista, ligada ao Estado Islâmico, matou um grupo de cristãos que celebrava um funeral.

Javier García Herrería-9 de setembro de 2025-Tempo de leitura: < 1 minuto

Mais de 70 pessoas foram mortas na noite de segunda-feira, 8 de setembro, durante um funeral na cidade de Ntoyo, no leste da República Democrática do Congo (RDC). Segundo algumas fontes locais, o número de vítimas ultrapassa a centena.

O ataque foi levado a cabo pelas Forças Democráticas Aliadas (ADF), uma milícia jihadista ligada ao Estado Islâmico na África Central. Segundo um padre católico da paróquia de Manguredjipa disse ao sítio Web AtualidadeO que eu vi é horrível. Mataram quase todos os participantes num funeral". O chefe do grupo Babika, Eugène Viringa, avisou que o número de mortos poderia aumentar nas próximas horas.

Terrorismo ADF

As ADF surgiram no Uganda na década de 1990, mas desde 2019 têm operado sob a bandeira do Estado Islâmico, seguindo o juramento de fidelidade do seu líder. Desde então, intensificaram os massacres contra aldeias indefesas no leste da RDC, onde milhares de civis foram mortos.

Os funerais e os templos cristãos tornaram-se alvos regulares destes ataques, com o objetivo de intimidar e deslocar as comunidades católicas e protestantes. Em regiões como o Kivu do Norte e Ituri, a população civil vive em permanente insegurança. No mês passado julho houve um atentado que causou a morte de 35 pessoas, e em agosto mais de 50 pessoas foram mortas num outro ataque.

A República Democrática do Congo é um país de maioria cristã, mais de 50 % são católicos e outros 40 % são protestantes. O massacre de Ntoyo, segundo observadores locais, insere-se numa estratégia sistemática de violência destinada a enfraquecer a presença das comunidades cristãs na África Central.

Evangelização

Um bestseller católico completamente desconhecido

Desde 1979, os Papas têm sido também os grandes promotores deste pequeno livro que, na maioria dos casos, é distribuído às comunidades cristãs dos países onde há perseguição ou falta de recursos económicos.

Javier García Herrería-9 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Vejamos os números: "Dom Quixote" de Cervantes vendeu cerca de 500 milhões de exemplares, "O Senhor dos Anéis" 150 milhões e "O Principezinho" 140 milhões. No entanto, "Deus Fala aos Seus Filhos", com mais de 52 milhões de exemplares publicados em 194 línguas e 140 países desde o seu lançamento em 1979, estabeleceu-se como um fenómeno global na literatura infantil religiosa.

A obra é uma adaptação da Bíblia em que as principais histórias são recolhidas numa linguagem simples e com ilustrações. Nas últimas edições, o título foi alterado para "Deus fala aos seus filhos".

Material catequético para mudar vidas

Milhões de pessoas em todo o mundo continuam a não ter acesso à Palavra de Deus. Em contextos marcados pela guerra e pela violência, a reconciliação e o perdão tornam-se a única via para a paz interior. Em muitas escolas de países carenciados, como a Eritreia, a Bíblia das Crianças é por vezes o único livro de leitura para as crianças mais pequenas.

A Bíblia das Crianças foi apresentada pela Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) na Conferência Episcopal Latino-Americana em Puebla, México, no final de janeiro de 1979, na presença do Papa João Paulo II durante a sua primeira viagem fora de Itália. O êxito foi imediato: os bispos encomendaram diretamente 1,2 milhões de exemplares em espanhol. Este impacto inicial levou à tradução para outras línguas e hoje existem versões em 189 línguas, desde o Afar, falado por meio milhão de pessoas na Etiópia, Eritreia e Djibuti, até ao Zulu na África Austral.

Raquel Lázaro, responsável de comunicação da AIS em Espanha, explica que "a Bíblia das Crianças é um dos instrumentos mais 'emblemáticos' da AIS desde a sua fundação. Quando os responsáveis pelo projeto visitam as comunidades cristãs locais, é precioso para nós ver como este pequeno livro chega aos lugares mais remotos do planeta. É esse o objetivo: que a Palavra de Deus, cheia de esperança e misericórdia, chegue aos mais pequenos e necessitados em todos os cantos do mundo.

Distribuição e acções de formação

Desde a sua criação, a Bíblia das Crianças tem sido distribuída gratuitamente em países carenciados, enquanto nos países mais ricos o preço cobre os custos de produção. Entre as edições mais distribuídas encontram-se as versões em espanhol (14 milhões), português (10,3 milhões), inglês (2,5 milhões), francês (1,2 milhões) e suaíli (950.000). Após o colapso da União Soviética, uma estação de rádio cristã lançou a Bíblia para crianças em russo, gerando meio milhão de encomendas adicionais.

A obra recebeu também o reconhecimento de vários Papas. Bento XVI distribuiu o exemplar número 10 milhões da Bíblia das Crianças durante a sua viagem pastoral ao Brasil, em maio de 2007, na Fazenda da Esperança, sublinhando o seu valor educativo e espiritual na formação dos jovens de todo o mundo.

Com mais de quatro décadas de história, a Bíblia das Crianças continua a transformar vidas, alfabetizando e difundindo a fé entre os mais pequenos, consolidando-se como um material catequético de referência internacional.

Evangelização

O Papa Leão vai homenagear quase 1700 mártires modernos, símbolos de esperança

Neste ano jubilar, o Papa Leão XIV e os líderes cristãos de outras Igrejas comemorarão cerca de 1.700 "novos mártires e testemunhas da fé" do século XXI. São pessoas que morreram com a firme esperança de serem acolhidas na presença de Deus, disse o secretário do Dicastério para as Causas dos Santos do Vaticano.

CNS / Omnes-9 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

- Cindy Wooden, Catholic News Service, Cidade do Vaticano, 

Num ano jubilar dedicado à esperança, o Papa Leão XIV e os líderes cristãos vão comemorar cerca de 1700 "novos mártires e testemunhas da fé" no domingo, 14 de setembro. É também o 70º aniversário do Papa.

O Arcebispo Fabio Fabene, secretário do Dicastério para as Causas dos Santos do Vaticano, explicou ontem aos jornalistas o pensamento do Pontífice. "O Papa Leão espera que o sangue destes mártires seja uma semente de paz, reconciliação, fraternidade e amor", disse.

Tal como fez São João Paulo II durante o Ano Santo de 2000, o Papa Leão presidirá a uma cerimónia de oração ecuménica para o Jubileu de 2025. Nela serão recordados os católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes que morreram pela sua fé entre 2000 e 2025.

O Papa Francisco tinha criado uma comissão em 2023. O objetivo era compilar "um catálogo de todos aqueles que derramaram o seu sangue para confessar Cristo e dar testemunho do seu Evangelho" nos 25 anos desde o último Ano Santo.

Oração ecuménica

Estes mártires - católicos, ortodoxos, anglicanos e protestantes - serão recordados no dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Cruz. A liturgia será uma oração na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, um local frequente de oração ecuménica.

Numa conferência de imprensa realizada a 8 de setembro, Andrea Riccardi, historiador e vice-presidente da comissão, afirmou que o catálogo inclui 1624 cristãos. Os nomes foram apresentados por conferências episcopais, ordens religiosas e nunciaturas de todo o mundo.

Imagem do filme de animação "The 21", que presta homenagem aos cristãos coptas que foram massacrados na Líbia pelo ISIS em 2015, recusando-se a renunciar à sua fé em Jesus. Jonathan Roumie, que deu vida a Jesus em "The Chosen", co-produz o filme.

África, líder em mártires

Riccardi, que é também fundador da comunidade laical de Sant'Egidio, apresentou uma repartição dos mortos por continente. 643 pessoas em África. 357 na Ásia e na Oceânia. 304 na América do Norte e do Sul. 277 no Médio Oriente e no Norte de África. E 43 na Europa, embora 110 do número total de mortos noutros continentes fossem missionários da Europa.

O Arcebispo Fabene disse que o Vaticano ainda está a estudar como, quando e se deve publicar os nomes no catálogo. O Vaticano está a estudar como e quando publicar os nomes no catálogo, tendo em conta a possibilidade de isso poder pôr em perigo outros cristãos que vivem e trabalham nas mesmas áreas geográficas.

"Puseram a âncora da sua esperança em Deus e não no mundo", disse o arcebispo; "esperaram no Senhor e a sua recompensa será a vida eterna".

Além disso, disse Monsenhor Marco Gnavi, secretário da comissão, "a esperança que era o motivo das suas vidas antes da sua morte trouxe esperança. E o contexto era que os seus irmãos e irmãs eram frequentemente vítimas de conflitos étnicos, de perseguições religiosas, do crime organizado ou da negação mortal dos seus direitos.

Por exemplo, de acordo com os membros da comissão, a lista inclui a Irmã Dorothy Stang, um membro americano das Irmãs de Notre Dame de Namur. Foi morta a tiro na Amazónia brasileira em 2005 por defender os direitos à terra dos povos indígenas e dos agricultores pobres.

Alguns têm a canonização na calha

O Padre Angelo Romano, membro da comissão e funcionário do Dicastério para as Causas dos Santos, disse ao Catholic News Service que o catálogo não faz parte do processo católico oficial de reconhecimento do martírio de um potencial santo. No entanto, algumas das pessoas incluídas já têm uma causa de canonização em curso, e outras causas poderão ser iniciadas no futuro.

A comemoração ecuménica presidida por João Paulo II em 2000 teve lugar no Coliseu de Roma, um símbolo da perseguição e do martírio cristãos. O Padre Romano disse que o Vaticano "teria gostado muito" de realizar ali a cerimónia de oração de 2025. Mas Roma tem novas escavações arqueológicas mesmo em frente ao Coliseu, o que limita seriamente o espaço disponível para os participantes.

Sabendo que, como o Papa Francisco costumava dizer, o número de cristãos martirizados atualmente é maior do que nos primeiros séculos do cristianismo, os católicos não se devem sentir atacados, mas sim motivados para a solidariedade, disse o Padre Romano.

Diferenciar agressão de perseguição

"Uma sociedade que pode até ser agressiva para com a fé cristã é uma coisa; ser perseguido é outra", disse. "A perseguição significa que ir à missa é um risco, que rezar é um risco, que ser cristão é um risco, que praticar a caridade em nome da fé é um risco sério".

"Outro erro que penso que devemos evitar quando falamos de martírio - um erro no sentido estritamente teológico - é tentar compreender o martírio apenas em termos quantitativos: quantos são", disse o padre.

Um único mártir é motivo de reflexão para toda a Igreja

Os números ajudam as pessoas a compreender a magnitude do fenómeno, disse ele. "Mas, teologicamente, temos de ter cuidado para não nos concentrarmos demasiado nos números, porque mesmo um mártir é imenso, enorme, um motivo de reflexão para toda a Igreja. 

"Num mundo onde há tanto com que se preocupar, incluindo o aumento da violência a todos os níveis, o mártir é uma testemunha da esperança não violenta", disse o Padre Romano. "Um mártir escolhe não responder ao mal com o mal, não responder ao ódio com o ódio, mas com o amor".

Vários dos grupos de novos mártires mencionados na conferência de imprensa eram cristãos mortos em igrejas durante ataques terroristas.

Serão examinados os casos apresentados pelas dioceses ou outras realidades eclesiais.

O Arcebispo Fabene foi questionado sobre se Fletcher Merkel, de 8 anos, e Harper Moyski, de 10 anos, que foram mortos a tiro durante uma missa escolar na Igreja Católica da Anunciação, em Minneapolis, a 27 de agosto, poderiam ser considerados mártires.

"Se uma diocese ou outra realidade eclesial local nos apresentar esses números como testemunhas da fé, examiná-los-emos e veremos se podem ser incluídos na lista", respondeu.

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Esta informação foi originalmente publicada em OSV News. Pode consultá-la aqui

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O autorCNS / Omnes

Evangelização

Santa María de la Cabeza e São Pedro Claver

A veneração de Santa Maria de la Cabeza, esposa de Santo Isidro Labrador, que a liturgia celebra a 9 de setembro, reflecte-se desde há séculos em diversos lugares da geografia de Madrid: ruas, rotundas, capelas... São Pedro Claver é o padroeiro das missões católicas entre os africanos, pelo seu trabalho com os escravos na Colômbia.

Francisco Otamendi-9 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

A maior parte dos relatos de Santa Maria de la Cabeza está incluída nas fontes relativas à vida de seu marido Santo Isidoro. Nelas, a cônjuges sagrados são apresentados como um modelo de santidade e um exemplo de virtude. São Pedro Claver é o padroeiro das missões com africanos, devido à sua dedicação aos escravos.

Santa Maria de la Cabeza (séc. XII), casou com Santo Isidoro, com quem teve um filho. Ele partilhou com o seu marido uma vida de trabalho, piedade e caridade. Parece que o seu nome era Toribia, e passou a chamar-se Maria por causa da ermida onde esteve sepultada até à sua transferência para Torrelaguna em 1615. O apelido "de la Cabeza" (da Cabeça) parece provir do culto prestado separadamente à sua cabeça como relíquia sagrada.

Recorde-se que o seu marido, Santo Isidro Labrador, é festejado a 15 de maio, foi canonizado  em 1622, juntamente com Santo Inácio de Loyola, São Francisco Xavier, São Filipe Néri e Santa Teresa de Jesus. O único leigo e pai num grupo de religiosos ilustres.

Padroeiro das missões católicas entre os africanos

Pedro Claver, S.J., natural de Lérida, nascido em 1581, ainda não tinha terminado os seus estudos teológicos quando foi destinado à missão de Nova Granada, antigo nome da Colômbia. O jovem desembarcou em Cartagena em 1610 e foi ordenado padre em 1616 na missão onde, durante 44 anos, trabalhou entre os escravos afro-americanos. Foi um período de grande expansão do tráfico de seres humanos.

Pedro jurou servir sempre Escravos africanos. As margens onde desembarcavam milhares de pessoas tornaram-se o campo de apostolado do jovem jesuíta. Todos os meses, Pedro Claver ia ao encontro deles com o seu barco para lhes levar comida, alívio e conforto.

Despertou o sentido da dignidade humana e levou a fé para os não baptizados. Em 1650, S. Pedro Claver adoeceu com a peste e morreu em 1654. Foi canonizado em 1888 por Leão XIII. Em 1896 foi proclamado patrono das missões católicas entre os africanos.

O autorFrancisco Otamendi

Espanha

O bispo de Barbastro - Monzón reabre o debate sobre Torreciudad

No âmbito das festividades locais da Natividade da Virgem, o bispo de Barbastro-Monzón, Ángel Pérez, dedicou a sua homilia inteiramente à situação de Torreciudad.

María José Atienza / Javier García Herrería-8 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

A nova igreja de Torreciudad, que celebrou o seu meio século nas últimas semanas, está localizada, a partir de julho de 2023 O processo complica-se devido à exigência do bispo da diocese de Barbastrina, que pede o regresso da Virgem à antiga ermida, situada a poucos metros do novo templo.

Desde então, a Prelatura e o bispado têm-se desentendido sobre a validade do contrato que concedeu ao Opus Dei a transferência (mas não a propriedade) da imagem de Nossa Senhora dos Anjos a título perpétuo. A Obra defende a validade deste contrato e, portanto, a veneração pública da imagem na nova igreja, assim como a gestão da igreja e das suas dependências e o direito a apresentar uma lista de três sacerdotes para a nomeação do reitor. 

Um processo com altos e baixos

O processo de negociações entre a Diocese de Barbastro Monzón e o Opus Dei teve várias fases. 

Em outubro de 2024, o Papa Francisco nomeou Bispo Alejandro Arellano Cedillo, como Comissário Plenipotenciário Pontifício para Torreciudad, com o objetivo de que fosse este canonista quem, ouvidas todas as partes, decidisse o futuro de Torreciudad. Nessa altura, tanto a Prelatura do Opus Dei como D. Pérez Pueyo eram favoráveis a que se acatasse a decisão da pessoa nomeada pelo Papa para esse efeito.

Desde então, o Comissário teve a oportunidade de se encontrar com representantes da diocese e da Prelatura, bem como com o Papa Francisco e, mais tarde, com o Papa Leão XIV, sem que o teor de nenhuma dessas conversas fosse tornado público.  

A última vez que o processo foi atualizado foi há pouco mais de dois meses, no início de julho de 2025O bispado publicou uma nota na qual modificou em certa medida a sua exigência inicial, propondo que Torreciudad "seja reconhecida e erigida canonicamente como Santuário Internacional, sob a dependência direta da Santa Sé", e levando a imagem de Nossa Senhora para a ermida. Pediu também a devolução à catedral da pia batismal em que São Josemaria recebeu o sacramento. A pia batismal foi substituída por iniciativa do Cabido da Catedral nos anos 40, devido ao seu mau estado. Os restos mortais foram deixados no leito do rio Vero e, em 1959, foram oferecidos ao Opus Dei e transferidos para Roma. 

A atuação do Papa Francisco

Agora, o bispo diocesano de Barbastro Monzón voltou a pôr em evidência esta delicada questão, cuja decisão final está nas mãos da Santa Sé. De acordo com o bispo de Barbastro, o Papa Francisco apoiou as suas exigências - por escrito e de boca em boca - em pelo menos quatro ocasiões, embora até agora o bispo não se tenha pronunciado publicamente sobre nenhuma delas:

A primeira vez durante a visita ad Limina dos bispos espanhóis em dezembro de 2021. Já nessa altura, o Pontífice argentino manifestou o seu desejo de que a Virgem de Torreciudad ficasse na ermida e não na nave central da nova igreja.

Mencionou também uma carta pessoal escrita em 2023, na qual Francisco lhe escreveu: "Anjo, não desistas", referindo-se à sua determinação em não desistir de devolver a escultura à sua ermida original.

Em terceiro lugar, Pérez Pueyo assegurou que, durante uma breve saudação protocolar, a 18 de setembro de 2024, numa audiência na Praça de São Pedro, Francisco lhe perguntou: "Anjo, a Virgem Maria já desceu?

Finalmente, um mês mais tarde, numa carta manuscrita datada de 13 de outubro de 2024, o prelado afirma que Francisco lhe escreveu de novo, avisando-o "para ter cuidado com as 'intrigas mafiosas que estão em curso' neste assunto".

As cartas não foram publicadas, mas D. Pérez Pueyo afirma estar disposto a torná-las públicas, se necessário.

Disposto a "dar a sua vida como Eleazar".

Tomando como referência a figura bíblica de Eleazar, que deu a vida por se recusar a comer carne proibida pela lei judaica, o bispo da diocese aragonesa sublinhou que "se fosse obrigado, como pastor, repetiria as mesmas palavras do velho Eleazar, perante a pressão de aceitar o que não posso aceitar: que não o posso fazer 'sem trazer mancha e desonra à minha velhice', que poderia servir de mau exemplo aos meus paroquianos", referindo-se a uma possível decisão da Santa Sé que não contemplaria as principais exigências do bispo. 

O acordo relativo a Torreciudad não foi tornado público até à data de publicação desta notícia, enquanto a Prelatura do Opus Dei sempre assinalou a necessidade de aguardar a decisão do Comissário Plenipotenciário.

Datas-chave

17 de julho de 2023: O bispo de Barbastro-Monzón nomeia unilateralmente o pároco de Bolturina-Ubiergo, José Mairal, como reitor do Santuário de Torreciudad, e afirma que a situação canónica de Torreciudad é irregular, pelo que o contrato de cessão do Virgem e da ermida não é válido. 

1 de março de 2024. O Opus Dei publica a documentação sobre os acordos e contratos entre o bispado de Barbastro-Monzón e a prelatura, que explica em pormenor o acordo sobre a transferência da imagem e da ermida, e a construção da nova igreja.

9 de outubro de 2024. O Papa Francisco nomeia o bispo Alejandro Arellano como Comissário Pontifício para resolver as questões controversas sobre Torreciudad.

1 de julho de 2025. A diocese de Barbastro-Monzón pede o regresso da Virgem de Torreciudad à ermida e reclama a pia batismal da catedral de Barbastro, que se encontra na sede da prelatura. Também pede que Torreciudad seja erigida em Santuário Internacional e que o Opus Dei nomeie o reitor do Santuário. 

Como nos últimos dois anos se especulou muito sobre se a prelatura deveria pagar uma pesada taxa financeira à diocese pelo uso da imagem, a diocese pede que Torreciudad seja financeiramente independente. 

8 de setembro de 2025. O bispo de Barbastro Monzón denuncia numa homilia as pressões e dificuldades que está a ter para devolver a imagem de Torreciudad à ermida original.

O autorMaría José Atienza / Javier García Herrería

Evangelização

Carlo e o apelo à evangelização na era digital

Até o católico mais devoto pode perder a missa diária, mas quase toda a gente acede às redes sociais todos os dias. Seja por hábito ou por vício, percorrer as redes sociais é um dos comportamentos humanos mais comuns do nosso tempo. E nós temos a oportunidade - e a responsabilidade - de colocar Jesus nesses momentos.

OSV / Omnes-8 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

- Courtney Roach (OSV).

Tive o privilégio de visitar Assis, Itália, em junho de 2025, onde encontrei o túmulo do Beato Carlo Acutis, e não estava preparado para o impacto imediato e profundo que teria na minha vida de oração. Carlo lembra-nos que a santidade se encontra na utilização das ferramentas do nosso tempo, as ferramentas digitais, para conduzir os outros ao céu.

Quando entrei na Basílica de Santa Maria Maggiore, onde repousa o corpo de Carlo, lembro-me de pensar: "Mal posso esperar para ver as suas icónicas sapatilhas Nike! Enquanto esperava na fila para venerar o seu corpo, admito que me distraí com o calor do verão e com o irmão religioso que não parava de repetir: "Nada de fotografias! Mas depois vi-o.

Testemunho de Carlo

Ali mesmo, na cidade que eu tanto amava quando era criança, encontrei um jovem que deu tudo por Deus. E comecei a chorar.

Carlo morreu jovem. Está a caminho de se tornar santo (já o é), não porque tenha feito algo de grandioso, mas porque simplesmente fez o que amava e fê-lo de forma autêntica. Pensou que seria ótimo partilhar a verdade dos milagres eucarísticos na Internet, e assim o fez. E porque ele disse sim a algo que o fascinava como filho de Deus, a Igreja - e o mundo - foram transformados pelo seu testemunho.

Nesse dia, senti como se o Carlo me tivesse agarrado suavemente pelos ombros. Senti que ele procurava uma amizade celestial comigo. E estava a oferecer-me a sua intercessão não só pelo meu coração, mas também pelo trabalho que faço na evangelização digital.

Trabalho como gestor de marketing digital da FOCUS, juntamente com os meus fantásticos colegas de equipa. Juntos, orquestramos a estratégia dos meios de comunicação social por detrás de uma missão: processar Jesus através do algoritmo. 

As redes sociais na nossa vida

Costumo dizer que até o católico mais devoto pode perder a missa diária, mas quase toda a gente acede às redes sociais todos os dias. Seja por hábito ou por vício, percorrer as redes tornou-se um dos comportamentos humanos mais comuns do nosso tempo. Por isso, temos a oportunidade - e a responsabilidade - de colocar Jesus diretamente nesses momentos de distração, curiosidade e procura.

O que mais me impressiona é a evolução das redes sociais. Já não são apenas um local para manter o contacto com os amigos. São o local onde se tomam decisões. Compramos o que vemos no TikTok. Usamos roupas inspiradas por influenciadores do Instagram. Decoramos as nossas casas com coisas que descobrimos no Facebook. Aprendemos com estranhos no YouTube. Estas interações não são apenas passageiras, são formativas. Dão forma a quem nos estamos a tornar.

Podemos mostrar às pessoas a beleza, a verdade, Jesus.

E como católicos, temos uma escolha.

Podemos tornar-nos uma luz, como Carlo, e oferecer algo maior do que a tendência da semana. Podemos mostrar às pessoas a beleza. Podemos mostrar a verdade às pessoas. Podemos mostrar Jesus às pessoas.

Carlo Acutis recorda-nos que a santidade não está fora do nosso alcance. Encontra-se em fazer coisas comuns com um amor extraordinário e em utilizar os instrumentos do nosso tempo para conduzir os outros ao céu. Que possamos seguir o seu exemplo e que o nosso "sim" seja como o seu.

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Courtney Roach é diretora de marketing digital na FOCUS. Universidade de Wisconsin-Madison.

Este artigo foi originalmente publicado no OSV News, dois dias antes da sua canonização no domingo, dia 7. Pode lê-lo aqui.

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O autorOSV / Omnes

Iniciativas

No dia do aniversário de Nossa Senhora, a Mary's Meals anuncia um novo recorde de crianças alimentadas

A ONG Mary's Meals ultrapassa os 3 milhões de crianças alimentadas nas escolas, um feito que celebra com o aniversário da Virgem Maria

Teresa Aguado Peña-8 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Mais de três milhões de crianças em todo o mundo recebem agora uma refeição diária num ambiente escolar graças à Mary's Meals. A instituição de caridade, fundada por Magnus MacFarlane-Barrow em 2002, atingiu este marco histórico depois de ter expandido os seus programas de alimentação em nove países nos últimos 18 meses, incluindo o Malawi, o Haiti, a Zâmbia, o Zimbabué, o Sudão do Sul e a Etiópia.

O feito coincide com a época de regresso às aulas no hemisfério norte e reflecte a convicção central da ONG: a ligação entre a educação e a nutrição é fundamental para quebrar o ciclo da pobreza. Mary's Meals demonstra, mais uma vez, que um simples gesto, como uma refeição diária, transforma comunidades inteiras.

De acordo com os dados da organização, 71 milhões de crianças em idade escolar não frequentam a escola em todo o mundo. No entanto, foi demonstrado que as refeições escolares actuam como um poderoso incentivo para inverter o abandono escolar.

Luciano Ngikiri, diretor da Escola Primária de Namingwere, no Malavi, confirma: "Por causa da fome, muitas crianças são mandadas fazer recados e outros trabalhos para contribuir para a família. Temos taxas de escolarização muito baixas por causa da fome e da pobreza. Aqueles que vêm com fome não participam nas aulas. Mas agora, com o Mary's Meals, as crianças que ficavam em casa vão frequentar a escola em grande número e vão poder participar ativamente nas aulas. Sinto-me como se estivesse a flutuar de alegria.

Uma expansão sem precedentes

O crescimento tem sido particularmente significativo em países marcados por conflitos e emergências climáticas. Na região de Tigray, na Etiópia, devastada pela guerra, a Mary's Meals multiplicou por sete o seu alcance, passando de 30 000 (no início de 2024) para mais de 245 000 crianças servidas atualmente.

No Malawi e na Zâmbia, onde a organização trabalha há duas décadas, os beneficiários são agora mais de 1 milhão e 600 000, respetivamente, apesar das secas e inundações que afectam estas comunidades.

Mesmo em contextos extremamente instáveis, como o Haiti, a Mary's Meals conseguiu manter e expandir o seu trabalho: mais de 196.000 crianças recebem atualmente uma refeição escolar diária.

Um projeto orientado pela fé

Para MacFarlane-Barrow, o crescimento da Mary's Meals é fruto da providência e da proteção da Virgem Maria, a quem a obra é dedicada: "Escolhemos o dia 8 de setembro para celebrar o facto de alimentarmos mais de 3 milhões de crianças todos os dias de escola, porque é o dia em que celebramos o aniversário de Nossa Senhora, por isso, neste dia, retribuímos-lhe. Assim, neste dia, devolvemos-lhe todo este trabalho - Mary's Meals é dela! Esta é a nossa humilde prenda de aniversário".

A Mary's Meals sempre teve uma forte inspiração cristã, mas o seu trabalho é universal: "Sentimo-nos chamados a estar presentes nas partes do mundo onde as pessoas não têm voz".

Uma missão ao alcance de todos

O modelo das Refeições de Maria baseia-se na simplicidade e no empenhamento de voluntários das próprias comunidades. O custo é mínimo: 12 cêntimos de euro por refeição, cerca de 22 euros para alimentar uma criança durante um ano letivo inteiro.

MacFarlane-Barrow recorda-nos que, apesar de produzirem alimentos suficientes para todos, milhares de crianças continuam a passar fome. Mary's Meals convida-o a participar na sua missão: que cada criança receba uma refeição diária no seu local de ensino.

O autorTeresa Aguado Peña

Mundo

Novo programa de educação sexual da França denunciado à ONU

O Centro Europeu para o Direito e a Justiça considera que o conteúdo viola os direitos dos pais.

Javier García Herrería-8 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

O início do ano letivo em França é marcado pela aplicação do programa de educação sexual conhecido por EVARS ("Educar para a vida afectiva e relacional e para a sexualidade"), obrigatório em todos os estabelecimentos de ensino públicos e públicos, do pré-escolar ao liceu. Segundo o Centro Europeu de Direito e Justiça (ECLJ), esta iniciativa viola os direitos fundamentais dos pais enquanto principais responsáveis pela educação dos seus filhos.

O TJCE anunciou que levará o caso ao Comité dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais da ONU, que controla o cumprimento do pacto internacional que obriga os Estados a respeitar "a liberdade dos pais [...] de assegurar a educação religiosa e moral dos seus filhos em conformidade com as suas próprias convicções".

Conteúdo do programa

O programa EVARS, tal como denunciado por associações como Juristas para a Infâncianão se limita a uma introdução à vida afectiva e relacional, mas "promove a sexualidade precoce, incentiva as crianças a questionarem a sua identidade de género e faz do consentimento e do desejo os únicos princípios morais de referência". Além disso, sublinham que não existe qualquer possibilidade de isenção para as famílias nem qualquer obrigação de informar previamente os pais sobre os conteúdos ou materiais utilizados nas aulas.

O novo programa "obriga os rapazes a falar sobre a sua intimidade, a abordar as questões da puberdade e da sexualidade muito antes de serem confrontados com elas, e ensina-lhes todos os estereótipos feministas pró-aborto contra os homens, o casamento, a gravidez, etc.".

O conteúdo requer "a aquisição de conceitos e está sujeito a avaliação. No entanto, a avaliação implica respostas certas ou erradas. Assim, o carácter normativo deste programa é inegável: procura normalizar as relações sexuais precoces em todas as suas formas.

O que é o TJCE

O Centro Europeu para o Direito e a Justiça (ECLJ), uma organização internacional não governamental com estatuto consultivo especial junto das Nações Unidas desde 2007, dedica-se à promoção e proteção dos direitos humanos. De inspiração cristã, baseia o seu trabalho nos "valores espirituais e morais que constituem o património comum dos povos europeus e a verdadeira fonte da liberdade individual, da liberdade política e do Estado de direito". A sua atividade combina a defesa jurídica, a educação e o contencioso, com especial ênfase na proteção da liberdade religiosa e da dignidade humana perante os tribunais e organismos internacionais, como o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, o Conselho da Europa e o Parlamento Europeu.

O Conselho de Estado francês já rejeitou o pedido de anulação deste programa no passado, pelo que o ECLJ e outras associações consideram que a via internacional é agora a mais eficaz. A organização tenciona apresentar o seu pedido à ONU dentro de um mês, com o objetivo de levar o sistema educativo francês a rever as suas políticas neste domínio.

Evangelização

A Natividade da Virgem Maria

setembro é também um mês muito mariano. No dia 8 de setembro, a Igreja celebra o aniversário da Virgem Maria, a sua Natividade, uma das mais antigas festas marianas. Seguir-se-ão outras, como a do Santo Nome de Maria (dia 12) ou a de Nossa Senhora das Dores (dia 15). 

Francisco Otamendi-8 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Pensa-se que a origem da festa da Natividade da Virgem Maria está ligada à dedicação, no século IV, de uma antiga basílica mariana em Jerusalém. A atual igreja de Santa Ana foi construída sobre as suas ruínas no século XII. Segundo a tradição, neste local, explica Notícias do VaticanoA casa dos pais de Maria, São Joaquim e Santa Ana, foi o local de nascimento da Virgem, que viria a ser a Mãe de Jesus, Mãe de Deus.

Esta festa da Virgem Maria tem lugar nove meses depois da data da Imaculada Conceição, 8 de dezembro, e parece ter sido celebrada na Igreja oriental de Bizâncio (antiga Constantinopla, atual Istambul).

A festa de Nossa Senhora começou a ser celebrada no século VIII em Roma, sob o Papa Sérgio I, embora tenha uma longa história. a sua origem em Jerusalém. É a terceira festa da "natividade" no calendário romano, comemorando a natividade de Jesus, o Filho de Deus (25 de dezembro, Natal). A festa de São João Batista (24 de junho) e a festa da Virgem Maria (8 de setembro). 

Perspetiva dos mistérios da salvação

A liturgia liga o aniversário do nascimento da Virgem Maria à perspetiva do início dos mistérios da salvação, escreve o diretório franciscano. "A festa mariana é a primícia das coisas boas que o seu Filho nos trará". Nesta mesma data, nos dias imediatamente seguintes, Nossa Senhora é celebrada sob muitos nomes e títulos diferentes.

A 15 de agosto, na solenidade da Assunção de Maria, o Papa Leão XIV disse na homilia da missaO Papa disse: "Na cruz, ganhou a confiança; ganhou o amor, que é capaz de ver o que ainda não chegou; ganhou o perdão". "Na cruz, ganhou a confiança; ganhou o amor, que é capaz de ver o que ainda não chegou; ganhou o perdão". E Maria estava lá; ela estava lá, unida ao seu Filho. Hoje podemos sentir que Maria somos nós quando não fugimos, somos nós quando respondemos com o nosso 'sim' ao seu 'sim'".

O autorFrancisco Otamendi

Livros

Em busca da beleza perdida 

Pablo Alzola, em A aventura da belezamostra, através da filosofia, da literatura e do cinema, como a beleza continua a ser um caminho para a transcendência e a salvação.

Juan José Muñoz García-8 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

Porque é que nos sentimos tão atraídos pela beleza? Quando vemos uma obra de arte ou um filme de grande beleza, temos a sensação, mesmo que não o saibamos explicar, de assistir a um mundo transfigurado, a um mundo redimido. Há qualquer coisa que nos agarra. No entanto, hoje em dia, desconfiamos da beleza, pensamos que está ultrapassada.

Há alguns anos, estava a ensinar crítica cinematográfica numa universidade em Madrid e, enquanto explicava os fundamentos estéticos da análise cinematográfica, falei de beleza e vários alunos responderam automaticamente que a arte não tinha nada a ver com a beleza. Fiquei perplexo. Na formação clássica que adquiri, a beleza, a verdade e a bondade andam de mãos dadas, são propriedades do real. Porque é que alguns dos meus alunos não pensavam assim?

A beleza é o rosto da verdade e da bondade

Porque é que escolhemos o feio e o vulgar como autêntico? Porque é que se consome tanto pornografia, que despoja o corpo humano da sua beleza, do seu significado e da sua alma? O livro A aventura da beleza tem como objetivo responder a estas questões. Alzola afirma que a beleza nos torna mais humanos, elevando-nos acima de nós próprios. E as obras de arte são a expressão de algo que nos transcende. A beleza não é tanto plenitude como promessa e, nessa medida, é sinónimo de esperança.

É por isso que a beleza está longe de ser sinónimo de ingenuidade. As grandes obras de arte e mesmo os bons filmes que mostram a dor e o sofrimento, mas que estão abertos ao mistério, deixam-nos também o sentimento de uma promessa: porque na vida quotidiana temos a impressão de que o sofrimento e a morte têm a última palavra, mas a beleza autêntica fala-nos de uma realidade que será transfigurada, salva. É por isso que se diz que a beleza salvará o mundo, essa beleza que se esconde no mais belo dos homens, Jesus Cristo, na sua paixão cheia de sofrimento e diante da qual o nosso olhar se desvia.

Pablo Alzola, professor de Estética e Teoria das Artes na Universidade Rey Juan Carlos de Madrid, incita-nos neste ensaio a percorrer a história do pensamento desde a antiguidade clássica até à era pós-moderna, e a compreender como a beleza deixou de ser uma promessa de plenitude para se tornar uma estratégia suspeita de encobrir manipulações obscuras ou interesses espúrios. 

Cinema, filosofia e estética 

Alzola convida-nos a começar esta aventura olhando para o aspeto misterioso e sem limites que a beleza reflecte: como a inesquecível sequência de abertura de Centauros do desertoquando a porta de uma casa no Texas se abre e as personagens saem para o alpendre e olham para o vasto deserto, através do qual surge um enigmático John Wayne a cavalo. Tudo isto ocidental clássico fala de uma busca (Os Investigadores é o seu título original) e de resgate. Do mesmo modo, o nosso olhar subjetivo tem de estar aberto a toda a realidade, essa realidade inabarcável que a beleza reflecte.

Alzola dá uma importância essencial ao cinema neste ensaio, e é lógico que assim seja: o cinema é a sétima arte, embora tenha sido necessário muito tempo para que os intelectuais lhe dessem esse reconhecimento. O cinema não é apenas uma anedota útil para complementar uma ideia ou um simples exemplo para embelezar o nosso pensamento, mas é a filosofia em si mesma e, portanto, a beleza em si mesma. A arte do cinema reflecte esse mistério da realidade que tanto nos surpreende.

É por isso que desfilam A aventura da beleza autores como Platão, Homero, Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino, Shakespeare, Hume, Kant, Nietzsche, Dostoiévski, Rilke, Waugh, Tolkien e Heidegger. Filmes como A caminho de casa, Apocalipse agora, Canção de embalar, Amadeus, A árvore da vida, A Festa de Babette, Vertigem, O Sol de Marmelo, Melhor do que isso o 2001: Uma Odisseia no Espaço. Todos eles são discutidos e debatidos, criando um simpósio peculiar de filosofia, cinema e literatura.

Capítulos de uma aventura

Na sua tentativa de resgatar o belo, o autor estruturou os capítulos do seu ensaio de forma cronológica, percorrendo a história da filosofia ocidental desde a Grécia clássica até aos nossos dias, tudo isto envolto em palavras-chave que sintetizam o essencial de cada período: 

-Unidade" para a filosofia grega: unidade da beleza com o bem e com a origem divina de tudo, o que exige purificar o olhar e transcender as aparências sensíveis para poder contemplar a beleza plena, fonte da felicidade. Esta purificação ou catarse recorda-nos que a felicidade é possível, apesar das vicissitudes da vida, se o sujeito possuir as virtudes que aperfeiçoam o conhecimento e a vontade. 

-Relação" para a filosofia medieval, pois a filosofia cristã defende que podemos ver a beleza como uma relação entre as criaturas e o seu Criador, que é um ser pessoal. E o ato de ser recebido na criação divina a partir do nada, juntamente com a forma de cada coisa, torna a beleza concreta e não vaporosa. 

-Experiência" para a filosofia moderna. A modernidade não admite uma relação confiante com o mundo. A beleza deixa de ser uma qualidade do real, porque a beleza não está nas coisas, mas no sentimento que elas geram em nós. Perdem-se os critérios objectivos de avaliação da beleza, criando-se um círculo vicioso em que a beleza está onde um crítico fiável diz que está, e o crítico fiável é quem diz onde está a beleza. E também a unidade da estética e da ética começa a deslocar-se, e alguns, como Nietzsche, por exemplo, pensam que a beleza é uma máscara que esconde a verdade aterradora da existência, as suas profundezas de sofrimento e desespero. A obra de arte torna-se um ponto de interrogação, conclui Alzola. 

-Obra" para a filosofia contemporânea. Alguns, como Heidegger, admitem que a arte nos abre à verdade das coisas e do mundo. O cinema reflecte isso muito bem. A beleza seria outra forma de designar a verdade que acontece como desvelamento. Ao mesmo tempo, esta obra de arte perdeu o seu mistério e autenticidade: na era da selfie, perdeu a sua autenticidade. e obras de arte a que só se pode aceder por telemóvel, a criação artística perde o seu carácter único, talvez sagrado. A arte antiga desperta atitudes de contemplação e recolhimento, diz Walter Benjamin. A nova arte procura distrair-nos, provocar-nos, chocar-nos, é a arte como choque ou projétil. Este fenómeno pode ser observado na proliferação da violência e da fealdade em certos tipos de cinema a partir do final dos anos 60 do século XX. 

Beleza e transcendência

A pós-modernidade desfigurou o rosto da verdade e do bem, difamando a beleza e criando um mundo desencantado, cheio de desamparo e precariedade. Mas a beleza resiste a todas as conspirações, porque nos torna mais humanos, elevando-nos acima de nós próprios. E, assim, prepara o advento de algo, de Alguém, conclui Alzola. 

A aventura da beleza. Filósofos, cenas e ideias estéticas

AutorPablo Alzola
Editorial: Edições Asimétricas
Ano: 2025
Número de páginas: 237
O autorJuan José Muñoz García

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Vaticano

O Papa convida-nos a não desperdiçar a nossa vida e a "ser santos" como Frassati e Acutis.

O maior risco da vida é desperdiçá-la sem procurar seguir o projeto de Deus, afirmou o Papa Leão XIV no domingo, ao proclamar dois novos santos: dois jovens leigos dos séculos XX e XXI, Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis. O Pontífice recordou: "todos vós, todos nós, somos também chamados a ser santos".

OSV / Omnes-7 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 6 acta

Carol Glatz (Cidade do Vaticano, CNS). O maior risco na vida é desperdiçá-la sem procurar seguir o plano de Deus, disse o Papa Leão XIV no domingo, ao proclamar dois novos santos. São dois jovens leigos dos séculos XX e XXI.

"Os Santos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis são um convite a todos nós, especialmente aos jovens, para não desperdiçarmos a nossa vida, mas para a orientarmos para o alto. E a transformá-las em obras-primas".

A fórmula simples mas vencedora da sua santidade", disse, "é acessível a todos em qualquer altura. "Eles encorajam-nos com as suas palavras: "Não eu, mas Deus", como dizia Carlo. Pier Giorgio costumava dizer: 'Se tiveres Deus no centro de todas as tuas acções, então chegarás ao fim'".

Antes de canonizar os primeiros santos do seu pontificado, o Papa Leão saudou os mais de 80.000 fiéis que se tinham reunido cedo na Praça de São Pedro. Queria partilhar com eles a sua alegria antes do início da cerimónia solene.

"É um dia de grande alegria", a saudação de abertura do Papa Leão XIV

"Irmãos e irmãs, hoje é uma celebração maravilhosa para toda a Itália, para toda a Igreja, para todo o mundo", disse antes da Missa.

"Embora a celebração seja muito solene, é também um dia de grande alegria, e eu queria saudar especialmente os muitos jovens que vieram a esta santa missa", disse ele. Às famílias dos futuros santos e às associações e comunidades a que os jovens pertencem.

Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, canonizados pelo Papa Leão XIV (Wikimedia Commons e OSV News).

O Papa Leão pediu a todos que "sintam nos seus corações o que Pier Giorgio e Carlo experimentaram. Este amor por Jesus Cristo, especialmente na Eucaristia, mas também nos pobres, nos nossos irmãos e irmãs".

"Todos vós, todos nós, somos também chamados a ser santos". Disse isto antes de se retirar para preparar a Missa e prestar homenagem a uma estátua de Maria com o Menino Jesus. Prestou também homenagem aos relicários que contêm as relíquias dos dois jovens.

"Abandonarmo-nos à aventura que Ele nos oferece".

Na sua homilia, o Papa sublinhou o apelo de Jesus no Evangelho do dia "para nos abandonarmos sem hesitação à aventura que Ele nos oferece, com a inteligência e a força que o seu Espírito nos dá".

Que podemos receber na medida em que nos esvaziamos das coisas e das ideias a que estamos apegados, para escutar a sua palavra".

Foi isso que os dois novos santos fizeram e é isso que todos os discípulos de Cristo são chamados a fazer, disse ele.

Muitas pessoas, especialmente quando são jovens, disse ele, enfrentam uma espécie de "encruzilhada" na vida ao ponderarem o que fazer com as suas vidas.

Os santos da Igreja são muitas vezes retratados como 'grandes figuras'. E esquece-se que, para eles, tudo começou quando, ainda jovens, disseram 'sim' a Deus e se entregaram completamente a Ele, sem guardar nada para si", disse o Papa.

Frassati e Acutis: "apaixonados por Jesus".

"Hoje olhamos para São Pier Giorgio Frassati e S. Carlo AcutisUm jovem do início do século XX e um adolescente dos nossos dias, ambos apaixonados por Jesus e prontos a dar tudo por ele.

O Papa Leão passou grande parte da sua homilia a partilhar citações de ambos e pormenores das suas vidas, algo de que o Papa Francisco se tinha afastado, preferindo concentrar-se mais nas leituras do dia.

Pier Giorgio: "um farol para a espiritualidade laical".

"A vida de Pier Giorgio é um farol para a espiritualidade laical", disse o Papa Leão.

"Para ele, a fé não era uma devoção privada, mas era impulsionada pelo poder do Evangelho e pela sua pertença a associações eclesiais", afirmou.

"Foi também generosamente empenhado na sociedade, contribuiu para a vida política e dedicou-se apaixonadamente ao serviço dos pobres.

O Papa Leão XIV na Missa em que declarou santos o Beato Carlo Acutis e o Beato Pier Giorgio Frassati, celebrada na Praça de São Pedro, no Vaticano, a 7 de setembro de 2025. (CNS Photo/Lola Gómez).

Acutis "encontrou Jesus na sua família".

"Carlo, por seu lado, encontrou Jesus na sua família, graças aos seus pais, Andrea e Antonia, que estão aqui hoje com os seus dois irmãos, Francesca e Michele", disse. Entretanto, a multidão aplaudiu e Antonia sorriu timidamente para a câmara.

St. Acutis também encontrou Jesus na escola jesuíta que frequentou e "especialmente nos sacramentos celebrados na comunidade paroquial", disse. "Cresceu integrando naturalmente a oração, o desporto, o estudo e a caridade nos seus dias de criança e de jovem."

O Papa observou que os novos santos "cultivaram o seu amor a Deus e aos irmãos e irmãs através de actos simples, ao alcance de todos. Como a missa quotidiana, a oração e, sobretudo, a adoração eucarística".

Frassati nasceu a 6 de abril de 1901 em Turim e morreu em 4 de julho de 1925, com 24 anos, de poliomielite. Acutis nasceu de pais italianos em 3 de maio de 1991 em Londres e morreu em Monza, Itália, em 12 de outubro de 2006, com 15 anos, de leucemia.

A doença não os impediu de amar

O Papa acrescentou que "mesmo quando a doença os atingiu e encurtou as suas jovens vidas, nem isso os impediu de amar, de se oferecerem a Deus, de o abençoarem e de lhe rezarem por eles e por todos".

A missa contou com a presença de vários familiares e pessoas próximas dos novos santos, bem como de dignitários como o Presidente italiano Sergio Mattarella.

O Papa Leão XIV recebe as oferendas de Antonia Salzano, mãe de São Carlo Acutis, e da sua família durante a missa de canonização. Na foto, Francesca Acutis, Antonia Salzano, Andrea Acutis e Michele Acutis (Foto CNS/Vatican Media).

A família de Acutis e o milagre da jovem costa-riquenha

Os pais de St. Acutis, Andrea e Antóniae os seus irmãos gémeos, Michele e Francesca, que nasceram quatro anos depois da morte do irmão, estavam presentes. Juntos, levaram as ofertas ao Papa. Michele fez também a primeira leitura da Missa em inglês.

Valeria Valverde, que leu a primeira oração dos fiéis, é uma jovem costa-riquenha que sofreu um grave traumatismo craniano quando vivia em Itália. Foi a sua cura inexplicável que proporcionou o segundo milagre necessário para a canonização de Santo Acutis.

Frassati, nos movimentos seculares

São Frassati era ativo na Ação Católica, na Sociedade de São Vicente de Paulo, na Federação Italiana de Universidades Católicas e na Ordem Terceira Dominicana.

Lorenzo Zardi, vice-presidente do grupo de jovens da Ação Católica Italiana, fez a segunda leitura da Missa. Michele Tridente, secretário-geral do movimento laical, entregou também ao Papa os presentes do ofertório.

Antes de rezar o Angelus, o Papa agradeceu de novo a presença de todos para celebrar os dois novos santos da Igreja.

Uma freira segura uma fotografia de Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis no dia em que o Papa Leão XIV preside à missa de canonização do Beato Carlo Acutis (Foto de OSV News/Matteo Minnella, Reuters).

Oração pela Terra Santa e pela Ucrânia: "Deus quer a paz!"

No entanto, apelou também aos fiéis para que "rezem incessantemente pela paz, especialmente na Terra Santa, na Ucrânia e em todas as outras terras ensanguentadas pela guerra".

"Aos governantes, repito: ouçam a voz da consciência", disse.

"As aparentes vitórias obtidas com armas, semeando a morte e a destruição, são na realidade derrotas e nunca trarão paz e segurança", afirmou.

"Deus não quer a guerra, Deus quer a paz", exclamou sob aplausos. Deus dá força àqueles que trabalham para deixar para trás o ciclo do ódio e seguir o caminho do diálogo.

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Esta informação foi originalmente publicada no OSV News. Pode lê-la aqui aqui.

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O autorOSV / Omnes

Vaticano

7 curiosidades sobre Carlo Acutis

Carlo Acutis, chamado o "ciberapóstolo da Eucaristia", teve uma vida curta mas extraordinária, marcada por uma fé profunda, pelo seu amor à tecnologia e pela sua solidariedade.

Teresa Aguado Peña-7 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

Carlo Acutis, o primeiro santo milenarserá canonizado hoje, 7 de setembro, pelo Papa Leão XIV. O jovem, conhecido como "o influenciador de Deus", morreu aos 15 anos de idade de leucemia fulminante. A sua vida foi marcada por um profundo amor à Eucaristia, pela paixão pelos computadores e pelo desejo de pôr a tecnologia ao serviço do Evangelho. Apesar da sua curta vida, deixou um testemunho de fé, simplicidade e solidariedade que inspirou milhares de pessoas. 

Da sua vida destacamos sete aspectos curiosos que definem o jovem santo. 

A sua cuidadora polaca alimentou o seu caminho de fé

Desde muito cedo, Carlo teve uma inclinação natural para o sagrado. Aos três anos, pedia à mãe para entrar nas igrejas para saudar Jesus e costumava apanhar flores para a Madonna. 

Aos sete anos, pediu para receber a Eucaristia e, pedindo uma isenção ou dispensa, Carlo recebeu a sua primeira comunhão mais cedo do que o habitual. Antonia Salzanoa sua mãe, disse ao jornal Corriere della Sera: "O Carlo salvou-me. Eu era analfabeta na fé. O filho descobriu a fé graças à sua ama polaca, Beata, devota de São João Paulo II. Apesar de os pais não serem praticantes, ela incutiu-lhe uma espiritualidade intensa. 

Serviu os pobres em cozinhas de sopa

Todas as noites, levava refeições quentes aos sem-abrigo. Servia à mesa dos pobres, das irmãs de Madre Teresa de Calcutá em Baggio e dos Capuchinhos. Um empregado hindu da sua família converteu-se ao catolicismo depois de ver como Carlo ajudava os mais desfavorecidos.

Previu a sua morte

Carlo Acutis previu a sua própria morte. Alguns dias depois do funeral, a mãe encontrou na secretária do computador uma curta-metragem que ele tinha filmado em Assis três meses antes: "Quando eu pesar 70 quilos, estou destinado a morrer".
Também previu que a sua mãe teria gémeos e, em 2010, ela deu à luz Francesca e Michele.

O seu corpo "inteiro" em Assis

Aquando da sua exumação em 2019, o seu corpo foi encontrado "inteiro, não intacto", com todos os seus órgãos preservados. A diocese esclareceu que não se tratava de uma incorruptibilidade milagrosa, mas de uma preservação notável. 

Carlo pediu à sua mãe que o enterrasse em Assis. A mãe de Carlo disse ao Corriere della Sera que a família tinha uma casa em Umbria. "Um cartaz dizia que estavam à venda novos espaços no cemitério comunitário. Perguntei ao Carlo o que é que ele achava. Ficaria muito feliz se viesse parar aqui". Agora o seu corpo repousa no Santuário da Espoliaçãoonde os fiéis poderão adorá-lo para sempre.

O coração como relíquia viva

O coração de Carlo está conservado num relicário na Basílica Papal de São Francisco, em Assis, num belo paradoxo: os seus órgãos não puderam ser doados devido à sua doença, mas o seu coração continua conservado. 

A tecnologia ao serviço da fé

Auto-intitulou-se "ciber-apóstolo" da Eucaristia. Aos 11 anos, criou um sítio Web que documentava mais de 150 milagres eucarísticos em todo o mundo, com mapas, vídeos, textos descarregáveis em várias línguas e uma "exposição virtual" que era reproduzida em santuários de todo o mundo. 

Defensor corajoso da sua fé

Não tinha medo de defender os ensinamentos católicos. Nos debates escolares sobre o aborto, fê-lo com convicção moral. Era também conhecido por ser um amigo leal. Costumava apoiar e proteger as crianças que estavam a ser vítimas de bullying, especialmente um colega de turma com uma deficiência. Além disso, partilhava com os seus amigos mensagens sobre o valor da participação na missa e da confissão, o respeito pela dignidade de cada pessoa e a importância da castidade.
Enquanto estudante, foi convidado a criar o sítio Web da sua paróquia e outro para promover o voluntariado escolar; ganhou um concurso nacional intitulado "Sarai volontario" (Serás voluntário).

O autorTeresa Aguado Peña

Evangelização

Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da Extremadura e Rainha do Mundo Hispânico

A Extremadura (Espanha) celebra a solenidade da sua padroeira, Nossa Senhora de Guadalupe, Rainha do Mundo Hispânico, a 6 de setembro. Uma invocação diferente para a Virgem de Guadalupe, padroeira do México e Imperatriz da América, cuja festa é celebrada a 12 de dezembro. 

Francisco Otamendi-6 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Alguns códices antigos situam a origem da imagem do Virgem de Guadalupe no século I do cristianismo, e o seu autor, São Lucas. "Embora a imagem que hoje se venera aqui seja uma talha românica de cedro do século XII". Assim o explicam os frades franciscanos do mosteiro e santuário de Guadalupe, situado em Cáceres (Extremadura).

Conta a lenda que, quando São Lucas morreu, a imagem foi enterrada ao seu lado. Foi depois transferida da Ásia Menor para Constantinopla no século IV. De lá, o Cardeal Gregório levou-a para Roma (582), onde foi eleito Papa em 590 com o nome de Gregório Magno.

Este papa tornou-se o principal devoto da imagem, que foi transferida de Roma para Sevilha, pois o papa ofereceu-a como presente ao arcebispo Leandro. A imagem foi venerada em Sevilha até ao início da invasão árabe (711). 

Em 714, alguns clérigos que fugiam de Sevilha esconderam-na junto ao rio Guadalupe, onde foi encontrada por um pastor, a quem a Virgem apareceu. Esta encarregou-o de escavar o local para encontrar a sua imagem e de construir uma ermida que viria a ser um mosteiro e um santuário. Os franciscanos retomam esta lenda, mas dizerA imagem que hoje aqui se venera é uma escultura românica do século XII". 

Significado de Guadalupe

Dizer GuadalupeA intenção, dizem os frades, "é trazer permanentemente à memória fragmentos da grandeza e das sombras da Coroa de Castela, dos seus reis peregrinos, da unidade nacional". Também "da epopeia americana, das visitas e promessas de Cristóvão Colombo, do fervor dos descobridores e conquistadores do Novo Mundo".

E trechos também "da inumerável série de santos peregrinos (João de Ávila, Pedro de Alcántara, Teresa de Jesus, João de Deus, Cristóvão de Santa Catarina, João Paulo II...). E "de peregrinos famosos e nobres (Marquês de Santillana, Cervantes, Hernán Cortés...). De nobres peregrinos pobres atendidos nos seus hospitais, nos armários da portaria, nas casas de campo de cada um dos seus treze caminhos de peregrinação...". O enclave, sublinham os frades, tem "uma história de Fé e Cultura de mais de sete séculos".

No programação Este sábado, o Arcebispo de Toledo, D. Cerro Chaves, presidirá ao Novenário, cujo tema geral é "No único Cristo somos um, com Santa Maria de Guadalupe".

O autorFrancisco Otamendi

Os últimos dias de Orwell

Orwell, marcado pela sua experiência na Guerra Civil de Espanha e pela sua rejeição do totalitarismo, manteve até aos seus últimos dias um firme espírito anticomunista e de crítica à URSS. Morreu em 1950, vítima de tuberculose, e foi sepultado em Sutton Courtenay, segundo o rito anglicano.

6 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

Na excelente biografia escrita por Yuri Felshtinsky, afirma-se que Orwell, que tinha viajado em 1937 para a Guerra Civil Espanhola com o pretexto de estudar o papel da Igreja Católica na guerra, encontrou no seu contacto com o anarquismo e o comunismo na Catalunha a fonte da sua futura rejeição das raízes do totalitarismo e do coletivismo burocrático. A propósito de uma conversa com um vigário anglicano que o visitou, afirmou, com a sua ironia caraterística, que tinha de admitir que era verdade "Ele disse que estava muito contente por saber que se tratava apenas de igrejas católicas. 

Anti-comunismo

Em 1946, ele e outros autores publicaram uma carta aberta no jornal Forward, pedindo que os julgamentos de Nuremberga abordassem os julgamentos de Moscovo de 1936-1938, nos quais os réus (colaboradores próximos de Lenine e Trostsky) eram considerados responsáveis pelas relações diretas com as autoridades do Reich nazi e a Gestapo; os tratados de amizade germano-soviéticos; o assassinato de civis e soldados polacos na floresta de Katyn às mãos dos soviéticos, etc. A carta não teve repercussões porque os governos britânico e americano da altura não estavam interessados em confrontar a URSS. 

Até ao último dia da sua vida, Orwell escreveu num caderno uma lista crescente de indivíduos no Ocidente que, na sua opinião, eram comunistas clandestinos ou agentes da influência soviética. Os seus sentimentos anticomunistas acentuaram-se nos últimos meses de vida e chegou a enviar uma lista de 36 pessoas a um velho conhecido que trabalhava no Departamento de Investigação da Informação, cujo objetivo era combater a propaganda comunista no Império Britânico.

Doença final

Como D. J. Taylor escreveu num artigo na O GuardiãoEm janeiro de 1950, todas as tardes, via-se uma pequena procissão de visitantes, um a um, a atravessar as alegres praças de North Bloomsbury até ao hospital da University College London, onde Eric Arthur Blair, conhecido mundialmente como George Orwell, estava a morrer. 

O escritor britânico encontrava-se na UCH e no hospital há quase quatro meses, desde o início do ano anterior. Duas décadas de problemas pulmonares crónicos tinham resultado no diagnóstico de tuberculose. Num sanatório de Gloucestershire, seis meses antes, quase morrera, mas recuperara o suficiente para ser transferido para Londres e ser tratado pelo distinto especialista em tórax Andrew Morland. 

Felizmente, o dinheiro, cuja ausência tinha perturbado Orwell durante a maior parte da sua vida adulta, já não era um problema. 1984publicado em junho anterior, tinha sido um enorme sucesso em ambos os lados do Atlântico. Dezasseis anos mais nova do que Orwell, com uma série de amantes anteriores, Sonia Brownell parecia uma candidata improvável ao papel de segunda mulher do escritor, viúvo desde a morte de Eileen O'Shaughnessy em 1945. Mas o casamento foi celebrado na presença do capelão do hospital, o Reverendo WH Braine, no quarto de Orwell, a 13 de outubro de 1949. Estavam presentes David Astor, Janetta Kee, Powell, um médico e Malcolm Muggeridge, um escritor de esquerda e amigo de Orwell que acabaria por se converter primeiro ao cristianismo e, quase aos 80 anos, ao catolicismo. 

Na madrugada de sábado, 21 de janeiro, Orwell morreu de uma hemorragia pulmonar maciça. A notícia espalhou-se durante todo o fim de semana. "G. Orwell está morto e a Sra. Orwell, presumivelmente, é uma viúva rica", observou Evelyn Waugh numa carta a Nancy Mitford. Muggeridge, na altura a trabalhar no Daily Telegraph, escreveu alguns parágrafos comemorativos para a coluna Peterborough. "Pensei nele, como em Graham [Greene], que os escritores populares exprimem sempre de forma intensa um desejo romântico...".

Vontade

O falecido acabou por fazer um testamento três dias antes da sua morte, na presença de Sónia e da irmã da sua primeira mulher, Gwen O'Shaughnessy. Materialmente, estava a transferir o seu património literário para Sónia. Uma grande apólice de seguro de vida tomaria conta do seu filho adotivo, Richard, que estava então ao cuidado da sua tia, a irmã de Orwell, Avril. Orwell, que durante a sua vida se considerava agnóstico, embora reconhecesse a importância do cristianismo para a civilização ocidental, tomou providências para que fosse enterrado de acordo com os ritos da Igreja de Inglaterra e para que o seu corpo fosse enterrado (e não cremado) no cemitério mais próximo. A tarefa de tratar deste assunto coube a Powell e Muggeridge. 

Ambos os amigos tentaram recorrer aos serviços do Reverendo Rose, vigário da Christ Church, Albany Street NWI. A influência de Astor garantiu-lhe um jazigo no adro da Igreja de Todos os Santos, em Sutton Courteney, Oxfordshire. Muggeridge registou no seu diário o facto de Orwell ter morrido no dia do aniversário de Lenine e ter sido enterrado pelos Astor, "que me parece cobrir toda a extensão da sua vida".

Funeral

O funeral foi marcado para quinta-feira, 26 de janeiro. Na véspera, Powell e a sua mulher visitaram a casa de Muggeridge depois do jantar, levando Sónia com eles, "obviamente em mau estado". No seu último encontro, no dia a seguir à morte de Orwell, Sónia tinha sido dominada pela dor. Muggeridge decidiu que "Amá-la-ia sempre pelas suas lágrimas verdadeiras...".

Deixou um relato pormenorizado dos acontecimentos do dia seguinte: Fred Warburg cumprimentando as pessoas à porta da igreja, a atmosfera fria, a congregação "maioritariamente judeus e quase inteiramente não crentes". que tinham dificuldade em seguir a liturgia anglicana. Powell escolheu os hinos: "Todos os povos que na terra habitam", "Guia-me, ó grande Redentor" e "Dez mil vezes dez mil". "Não me lembro porquê", Powell escreveu mais tarde, "talvez porque o próprio Orwell tenha falado do hino, ou porque ele era, à sua maneira, uma espécie de santo, mesmo que não fosse de vestes brilhantes".

Tanto Powell como Muggeridge consideraram a ocasião extremamente angustiante. Muggeridge, em particular, ficou profundamente comovido com a leitura que Powell fez do Livro do Eclesiastes: "Então o pó voltará à terra como era, e o espírito voltará ao Deus que o deu". Regressou à sua casa perto de Regent's Park para ler os obituários escritos, entre outros, por Symons, VS Pritchett e Arthur Koestler, vendo neles já "como é criada a lenda de um ser humano".

Família

Francesca LaRosa, uma história de infertilidade e esperança com as suas canções

Francesca LaRosa recebeu em Roma o Prémio de Música Católica para a melhor nova cantora pela sua canção "My Soul Proclaims". E fez a sua própria viagem através dos salmos, que lhe trouxeram uma nova vida e uma canção em honra das palavras de Maria no "Magnificat". O cantor contou agora à OSV News a sua história de infertilidade e a esperança que está por detrás das suas canções. 

OSV / Omnes-5 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

- Lauretta Brown (OSV News)

Os salmos podem ser uma parte da Missa que muitos católicos ignoram. Mas há alturas na vida em que os salmos adquirem um novo significado. É quando caminhamos com o Senhor através das dificuldades e da dor, tentando agarrar-nos à esperança. Aqui está a história de Francesca LaRosa.

LaRosa sempre gostou de cantar quando era criança e começou a cantar na missa com o seu pai aos 9 anos de idade. À medida que se envolveu mais no ministério da música, começou a adaptar os salmos responsoriais aos seus próprios arranjos musicais. 

A primeira vez que compôs música para um salmo, quando era adolescente, foi encorajada pela mãe. "Consegui ouvir e encontrar as melodias, e vi as Escrituras de uma forma diferente. Era como se pudesse ver a melodia a sair da página", recorda.

Acabou por se tornar diretora musical da sua paróquia natal, a Igreja Católica de St. Barnabas em Indianápolis, antes de partir para seguir a sua própria carreira musical.

Embora inicialmente pensasse que iria dedicar-se à música cristã contemporânea, em 2020 descobriu que "Deus me tinha realmente trazido de volta aos salmos".

Infertilidade, "uma cruz pesada para carregar".

Eu era casada e sofria de infertilidade, e perguntei a Deus: "Porque é que isto está a acontecer? Porque é que não podemos ter filhos? É uma cruz muito pesada para carregar no meio de uma pandemia. Fiquei tão destroçada", diz ela. "Enquanto estava a ter esta conversa com Deus, tropecei acidentalmente na mesa de cabeceira quando ia a sair do quarto e a minha Bíblia caiu no chão. Abri-a para ver em que página estava, e estava nos Salmos.

Perguntei a Deus se ele queria que eu me concentrasse nos salmos da sua música, e então "senti uma enorme sensação de paz". Como resultado, decidiu embarcar numa "viagem pelos salmos". registo de todos os salmosTambém estão a vender os seus arranjos no seu sítio Web.

Embora os tenha incorporado na sua música com a intenção de ajudar outros cantores, descobriu ao mesmo tempo que os salmos lhe traziam conforto no seu processo de infertilidade.

Cirurgia para a endometriose

"No dia seguinte à gravação do meu último salmo, fui operado por um médico de Napro e descobriu que eu tinha uma doença crónica chamada endometriose, que ele conseguiu remover completamente", explicou. "Logo após a cirurgia, fiquei curada e fui abençoada com um filho. Duas semanas depois, descobrimos que estávamos à espera de um bebé".

O trabalho de LaRosa com os salmos também acabou por chegar a um público alargado e gerar ligações inesperadas. Os seus vídeos chamaram a atenção do compositor católico Tom Booth, que a pôs em contacto com a musicista católica Sarah Hart, que se tornou sua mentora e amiga. 

Enquanto ainda lutava contra a infertilidade e a meio da gravação dos salmos, LaRosa colaborou com Hart para musicar o "Magnificat" para a sua canção "My Soul Proclaims".

"Um momento muito emotivo".

"Abrimos Lucas 1 e foi um momento muito comovente ler Lucas 1 como duas mulheres, e ler a história de Maria e Isabel. Santa Isabel tem sido uma pessoa muito importante na minha vida devido à minha experiência com a infertilidade", observou LaRosa. "Escrevi-o na perspetiva de alguém que não podia ter filhos.

"Cantar que a minha alma proclama a grandeza do Senhor, cantar as palavras de Maria e o facto de ela dizer: 'Santo, Santo é o seu nome', trouxe-me muita cura na minha jornada de infertilidade, escrevendo isso com a Sarah naquela época de deserto", disse ela.

Estão à espera de um filho e lançam a canção

Lançaram a canção logo após ela e o marido, David, terem descoberto que estavam à espera de um filho. Ela falou sobre o momento emocional em que ouviu a música no dia seguinte à descoberta. "Essa música encheu as paredes da minha casa, que tinha testemunhado a minha história quebrada", disse ela. "E agora, esta canção tem um significado muito diferente para mim, agora que ouço as palavras de Maria enquanto estou grávida. Fiquei emocionada.

Ofereceu "uma oração de louvor a Deus".

O videoclip da canção, gravado pouco depois de ter descoberto que estava grávida, mostra-a a caminhar pelo corredor central de uma igreja local, oferecendo a sua "própria oração de louvor a Deus". A cantora disse que tinha verdadeiras lágrimas de gratidão por estar "com o meu filho em adoração, caminhando em direção a Jesus".

LaRosa soube dos Prémios de Música Católica através de um dos seus seguidores e o seu marido submeteu a sua música - só para ver o que acontecia.

Depois de receber um convite para assistir à cerimónia de entrega dos prémios, ela e o marido começaram por ter dúvidas, pois sabia que estaria em trabalho de parto nessa altura. Mas decidiram que poderiam ir a Roma quando os seus pais e sogros se ofereceram para os acompanhar e ajudar com o bebé. Formaram uma viagem especial em família a Roma durante o Ano Jubilar da Esperança.

O bebé nasceu um mês antes da cerimónia de entrega dos prémios.

A filha do casal, Gabriella, nasceu pouco mais de um mês antes da cerimónia de entrega dos prémios e recebeu o nome do anjo Gabriel e da festa da Anunciação.

O parto e o pós-parto correram muito bem e até conseguiram obter o passaporte e a certidão de nascimento da Gabriella a tempo da viagem, "pela graça de Deus", disse LaRosa.

Agradeceu o seu percurso pessoal, cantando "My Soul Proclaims", e depois foi convidada a atuar em Roma.

"O círculo está fechado".

"Tinha acabado de ter a minha filha cinco semanas antes de a cantar em Roma", disse. "O círculo completou-se desde que a cantei no videoclip, quando estava grávida de uma semana, até à altura em que a cantei em Roma, cinco semanas depois de ter dado à luz e a minha filha estava lá comigo.

"Quando fui anunciada como a melhor nova cantora, quase caí no chão", disse ela, "sinto-me tão indigna de tudo isto e estou tão grata por cada momento....".

Ver o Papa Leão XIV, o primeiro Papa americano, no Angelus foi também uma experiência incrível, disse ela, e a pequena Gabriella recebeu a sua bênção à distância na Praça de S. Pedro.

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Lauretta Brown é editora de cultura do OSV News. Siga-a no X @LaurettaBrown6.

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Este artigo foi originalmente publicado no OSV News em inglês. Pode lê-lo aqui aqui

O autorOSV / Omnes

ColaboradoresFernando Gutiérrez

Santa Teresa de Calcutá. A maior dádiva

Em 5 de setembro de 1997, morreu Madre Teresa de Calcutá, cujo carisma está intimamente ligado ao autor deste texto.

5 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

Hoje a Igreja Católica celebra a memória de Santa Teresa de Calcutá, uma freira de origem albanesa que, pelo seu sim aos projectos do Senhor, conseguiu levar o amor de Deus aos mais pobres dos pobres em mais de 130 países. Por outras palavras, a todos os cantos do planeta. O que é impossível para o homem é possível para Deus.

Lembro-me nestes dias que, no mesmo ano em que a Igreja Católica, liderada pelo Papa Francisco, canonizou Santa Teresa de Calcutá, uma missionária da caridade me disse uma frase que ficou gravada no meu coração: "A nossa fé, comparada com a fé da Madre, é muito pequena". Referia-se à Madre Teresa, que esta irmã conheceu bem nos seus anos de formação em Calcutá e que viu enveredar por caminhos inexplorados, confiando única e exclusivamente na sua confiança em Deus. Na sua fé.

E se a fé desta freira era, segundo ela própria, pequena comparada com a da Madre, como seria a minha? Quero essa fé, pensei logo para mim. Pelo menos a da Irmã que poderia ser do tamanho de um grão de mostarda. Depressa percebi que ter fé não era apenas uma questão de a querer.

A minha experiência em Calcutá

Durante os quinze meses que vivi em Calcutá, houve uma coisa que me chamou a atenção. O lugar onde começou esta grande obra de caridade, que Deus realizou através da Madre Teresa no humilde bairro de Motijheel, é ainda hoje uma zona maioritariamente muçulmana, onde ainda existe muita pobreza, tanto material como espiritual. E pensei muitas vezes enquanto passeava pelas suas ruas: se eu tivesse crescido em Calcutá com uma santa tão perto de mim, ter-me-ia convertido há muito tempo e a minha fé já seria do tamanho daquele grão de mostarda. E estaria a mentir se não dissesse que muitos, em Calcutá e noutras partes do mundo, se encontraram com Jesus por acaso com a Madre ou com uma das suas irmãs. Há exemplos disso, atrevo-me a dizer, por todo o lado por onde passou este furacão de caridade ao serviço do Rei da humanidade.

Nestas últimas semanas na Terra Santa, um pensamento semelhante voltou à minha oração. Não pretendo, evidentemente, colocar a Mãe ao mesmo nível de Jesus, Deus me livre, mas posso dizer que tanto Nosso Senhor como esta santa, e certamente muitos outros santos, partilham esse mistério que talvez um dia venhamos a compreender. A terra onde Jesus nasceu, os lugares por onde passou o próprio Filho de Deus feito homem, o monte onde morreu crucificado ou o Santo Sepulcro de onde ressuscitou ao terceiro dia, são hoje lugares onde os seus seguidores, os seguidores de Jesus Cristo e dos seus ensinamentos, os cristãos, são uma minoria. Como é que isto é possível?

Cresci no seio de uma família católica que me educou na fé desde muito cedo. Fui batizado aos treze dias, estudei sempre em escolas católicas e, além disso, em minha casa tive e tenho ainda, graças a Deus, o exemplo de pais que, sem estarem longe de ser perfeitos, viveram sempre a sua fé com profunda coerência. Tudo isto não impediu, no entanto, que o meu encontro com o Deus vivo, na Eucaristia e nos irmãos, sobretudo nos mais necessitados, demorasse mais de trinta anos a chegar. Quantos baptizados vivem como se não fossem baptizados! Quantos cristãos que não conhecem Cristo! Quantos! Demasiados.

No passado domingo, 24 de agosto, durante a oração do Angelus na Praça de S. Pedro, o Santo Padre Leão XIV dirigiu-nos as seguintes palavras, que penso que deveríamos meditar:

"A nossa fé é autêntica quando abraça toda a nossa vida, quando é um critério nas decisões que tomamos, quando faz de nós mulheres e homens empenhados no bem e capazes de arriscar por amor, como fez Jesus, que não escolheu o caminho fácil do sucesso ou do poder, mas, para nos salvar, amou-nos até atravessar a porta estreita da Cruz. Ele é a medida da nossa fé, Ele é a porta que devemos atravessar para sermos salvos, vivendo o seu mesmo amor e sendo construtores de justiça e de paz com a nossa vida".

Hoje, ao recordarmos em todo o mundo esta grande pequena santa do final do século passado, exemplo de fé para os menos jovens e também para os mais jovens que hoje continuam a ver como as suas vidas se transformam ao entrarem em contacto com as suas Missionárias da Caridade, ao elevarmos as nossas orações pelos mais pobres e pela paz a Santa Teresa de Calcutá, proponho-lhe, caro leitor, duas coisas: em primeiro lugar, agradeçamos a Deus o imenso dom da fé e, em segundo lugar, rezemos por todos os nossos irmãos e irmãs, pelos que querem mas não podem, pelos que não vêem embora não possam, em Calcutá, na Palestina ou em Israel, para que cada dia mais e mais pessoas possam gozar de plena felicidade por terem recebido, gratuitamente e sem merecer, o dom da fé, o maior dos dons.

O autorFernando Gutiérrez

Leiga missionária e fundadora da Missão Filhos de Maria.

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Iniciativas

@Glorybiblebracelets O que é que a Bíblia te pode dizer hoje?

Com muita imaginação, espírito empreendedor e uma boa dose de fé, dois jovens asturianos lançaram, no início de 2025, GloryBibleBraceletsAs etiquetas NFC em pulseiras e porta-chaves dão-lhe acesso a diferentes versículos da Bíblia.

Maria José Atienza-5 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Uma pulseira que nos leva a um versículo bíblico quando aproximamos o telemóvel? Esta foi a ideia inicial da GloryBibleBracelets

O projeto foi importado dos Estados Unidos por Celia, uma das suas criadoras: "Vi que estavam a fazer muitas pulseiras deste tipo, com etiquetas NFC que redireccionam para o site de uma loja ou de uma marca, e também para este tipo de conteúdo religioso... Pensei em fazer uma linha deste estilo com frases da Bíblia em espanhol e, juntamente com um amigo, começámos uma linha deste tipo. GloryBibleBracelets"

Não apenas pulseiras

Desde o seu lançamento, foram vendidas mais de meio milhar de pulseiras e acessórios nos últimos meses. Os seus compradores são adolescentes, grupos de jovens paroquiais, etc. 

Embora tenham começado com uma série de pulseiras, através do seu sítio Web GloryBibleBracelets A empresa também oferece porta-chaves, peluches divertidos de Jesus e estatuetas de Mini Jesus, que têm apenas cinco centímetros de tamanho. 

GloryBibleBracelets tornou-se conhecido principalmente através de redes sociaise também nas redes sociais têm recebido numerosas críticas ou comentários desrespeitosos que os seus criadores aceitam com bom humor: "Sabíamos que em Espanha seria menos bem recebido do que nos Estados Unidos. Lá, a religião é muito respeitada. Mesmo que não se seja crente, as pessoas não costumam troçar de nós; na Europa, e especialmente em Espanha, isso não acontece muitas vezes".

Versículo do dia de @Glorybiblebracelets
Demonstração das pulseiras @Glorybiblebracelets

O que torna esta iniciativa especial? 

As pulseiras, os porta-chaves e os peluches estão equipados com um sistema de etiquetas NFC, uma tecnologia de comunicação sem fios de curto alcance que permite a troca de dados entre dispositivos muito próximos, normalmente a poucos centímetros um do outro, como o utilizado para pagamentos móveis. 

Neste caso, a etiqueta envia um link para o telemóvel que, ao ser aberto, apresenta um versículo bíblico sobre uma bela imagem. Uma forma de "levar a Palavra de Deus" consigo e que pode servir de acompanhamento ou inspiração. 

Para os jovens criadores de GloryBibleBracelets "o objetivo das pulseiras é evangelizar, mas de uma forma mais moderna e divertida". 

"Há quem se levante todos os dias e coloque a pulseira para ver um versículo, ou quem o consulte quando está a passar um mau bocado no trabalho....", sublinham. Uma forma simples de iniciar a oração em qualquer altura do dia. 

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Evangelização

Beato Pier Giorgio Frassati: como "ser santo na normalidade da vida".

Numa fotografia amplamente difundida, o Beato Pier Giorgio Frassati parece fazer uma pausa durante uma caminhada nas montanhas e apoia-se na sua bengala, fumando um cachimbo. A sua postura é descontraída e confiante. Para muitos, Frassati é alguém que poderiam imaginar entre os seus amigos, um futuro santo que de alguma forma se lhes assemelha. O Papa Leão XIV vai canonizá-lo, juntamente com Carlo Acutis, este domingo.

OSV / Omnes-4 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 6 acta

- Maria Wiering (OSV News).

"O que mais me impressiona em Pier Giorgio Frassati é a sua acessibilidade", disse Christine Wohar, diretora executiva da FrassatiUSA. "Ele mostra-nos como podemos (...) ser santos na normalidade das nossas vidas.

Frassati era bonito, viril, robusto, divertido e atlético, como ele próprio referiu. Era devoto da Eucaristia e de Maria, e passava o tempo em adoração e a rezar o terço. Provinha de uma família abastada, mas também estava empenhado na caridade pessoal, bem como em causas sociais mais amplas e no ativismo baseado na fé.

No entanto, segundo Wohar, ela também tinha desafios com os quais era fácil identificar-se. O casamento dos seus pais estava à beira da separação legal, ele tinha dificuldade em conciliar os estudos com outros compromissos. Estava dividido entre sair com uma rapariga de quem gostava e ser mal interpretado pelos membros da família. 

Será canonizado no domingo, juntamente com Carlo Acutis. 

O Papa Leão XIV tenciona canonizar o jovem de Turim, falecido em 1925, juntamente com o seu compatriota italiano, o Beato Carlo Acutis, a 7 de setembro. A data é um mês mais tarde do que a data inicialmente indicada - mas não confirmada - de novembro de 2024 pelo falecido Papa Francisco, que tinha dito que Frassati seria canonizado durante o Jubileu da Juventude, de 28 de julho a 3 de agosto.

A Ir. Wohar tinha planeado uma peregrinação em grupo para essa celebração e, quando a data foi alterada, revelou-se demasiado difícil de remarcar. Assim, ela e outros passaram o final de julho e o início de agosto a visitar locais relacionados com Frassati em Itália, antes de participarem nos eventos do Jubileu em Roma. Aí veneraram as relíquias de Frassati na basílica de Santa Maria sopra Minerva, para onde o seu corpo tinha sido temporariamente transferido de Turim para as celebrações do Jubileu.

Nesse caixão estava inscrita, com a sua letra, uma frase que muitos dos seus devotos fizeram do seu lema pessoal, carregado de significado espiritual: "Verso l'alto" ("Em direção às alturas"). Escreveu a frase numa outra fotografia que lhe foi tirada durante a escalada, agarrado a uma rocha e olhando para o topo. Seria a sua última escalada.

O Beato italiano Pier Giorgio Frassati destacou-se no alpinismo. Morreu com 24 anos de idade e foi beatificado por São João Paulo II em 1990. Este domingo, dia 7, será canonizado pelo Papa Leão XIV juntamente com o Beato Carlo Acutis (foto de arquivo CNS).

Católico piedoso, ativista apaixonado pelos pobres

Pier Giorgio Michelangelo Frassati nasceu a 6 de abril de 1901 em Turim, filho de Adelaide Ametis, pintora, e de Alfredo Frassati, jornalista e político que foi senador italiano e embaixador na Alemanha. Em criança, Pier Giorgio participava em grupos católicos e tentava comungar diariamente. 

Fortalecido por uma sólida vida de oração enraizada na devoção mariana e na Eucaristia, aos 17 anos entrou para a Sociedade de S. Vicente de Paulo. O objetivo era cuidar dos pobres e dos soldados feridos que regressavam a casa da Primeira Guerra Mundial. 

Era conhecido por dar dinheiro e bens aos pobres, chegando mesmo a renunciar às férias na casa de verão da família, dizendo: "Se todos saírem de Turim, quem cuidará dos pobres?

Doutrina social da Igreja

A sua preocupação com as pessoas marginalizadas e oprimidas persistiria ao longo da sua curta vida. Influenciou a sua decisão de estudar engenharia mineira na Real Universidade Politécnica de Turim, com o objetivo de trabalhar com os mineiros. 

Embora fosse inteligente, os seus estudos foram afectados pelo tempo que passou a ajudar os pobres e pelo ativismo político. Em 1919, juntou-se à Ação Católica, que promovia a doutrina social da Igreja, especialmente tal como articulada na encíclica "Rerum Novarum", de 1891, promulgada pelo Papa Leão XIII. 

Dois anos mais tarde, ajudou a organizar a primeira conferência Pax Romana em Ravena, que tinha por objetivo unir os estudantes universitários católicos para trabalharem em prol da paz mundial. Em 1922, entrou para os Leigos Dominicanos, também conhecidos como Ordem Terceira de São Domingos, escolhendo o nome "Girolamo", em homenagem ao inflamado pregador dominicano do século XV em Florença, Girolamo Savonarola.

Frassati, conhecido pela sua alegria, a sua reverência e as suas ocasionais discussões

Durante a sua juventude, foi um ávido amante do ar livre e gostava de esquiar e fazer montanhismo, arte e música, poesia e teatro. Reunia regularmente os seus amigos e era conhecido por ser um brincalhão, cortando os lençóis dos amigos e acordando-os com toques de trompete, o que lhe valeu a alcunha de "Fracassi", como um "flop", um arruaceiro barulhento.

"Ele sabia como se divertir", disse Wohar. "Ele era uma explosão de alegria. Era a vida da festa. Mas na igreja era reverente e sereno, "falava de tudo com o Senhor", acrescentou. 

"Ele fazia com que a religião parecesse divertida e envolvente", disse Wohar. "Contam-se histórias de como ele fazia apostas e, se ganhasse, os seus amigos tinham de ir à adoração ou à missa ou rezar o terço ou algo do género." "Ele acreditava que o apostolado da persuasão era a coisa mais bela e necessária para ajudar os seus amigos a encontrar o caminho de Deus."

Frassati também se envolveu em lutas de punhos devido às suas convicções políticas baseadas na fé. E, em mais de uma ocasião, em confrontos com comunistas, fascistas e forças da ordem durante manifestações de activistas.

No meio dos seus estudos, da sua vida social e do seu ativismo político, Frassati continuou a levar a sério a sua vida espiritual, as suas obras de caridade e os seus esforços de evangelização, nunca perdendo uma oportunidade de convidar os seus amigos para se juntarem a ele na oração, na leitura das Escrituras ou na missa.

Consciente do seu futuro eterno

Um aspeto frequentemente ignorado de Frassati era a sua atenção diária à morte, disse Wohar. Estava empenhado em preparar-se todos os dias para a sua própria morte, dizendo que tinha a "ambição" de se encontrar com Deus, mesmo como seu juiz.

"Ele tinha consciência do seu futuro eterno, e isso determinava realmente a forma como vivia o seu presente", disse ela. "Escreveu cartas muito bonitas sobre isso. Um dia, visitou alguém que tinha acabado de morrer no hospital e disse: 'Isto é o que me vai acontecer dentro de pouco tempo', o que foi quase profético."

Sintomas da poliomielite. Plenitude da caridade

No final de junho de 1925, Frassati começou a sentir sintomas de poliomielite, que terá contraído quando visitava os doentes e os pobres em Turim. No entanto, a sua avó também estava a morrer em casa, pelo que minimizou a sua doença e concentrou-se nela, tal como a sua família. Morreu a 3 de julho.

À medida que o seu sofrimento se agravava, o seu pensamento estava também nos seus amigos e nos pobres. Implorava à irmã, Luciana, que entregasse medicamentos e outros objectos prometidos aos necessitados que visitava regularmente. Ela contou este facto no seu livro "O meu irmão Pier Giorgio: os seus últimos dias". 

Pier Giorgio Frassati morreu a 4 de julho de 1925, com 24 anos, e no seu funeral participaram centenas de pobres da sua cidade, revelando a muitos, especialmente aos seus familiares, a plenitude da sua caridade. Foi inicialmente sepultado na cripta da família, na cidade vizinha de Pollone, mas o seu corpo foi transferido para a catedral de São João Batista, em Turim, após a sua beatificação em 1990.

Pier Giorgio Frassati estava "imerso no mistério de Deus e totalmente dedicado ao serviço constante do próximo: assim podemos resumir a sua vida terrena", disse São João Paulo II (OSV News photo/Catholic Press Photo).

Frassati: um "homem das bem-aventuranças".

Aquando da beatificação de Frassati, São João Paulo II descreveu-o como um "homem das bem-aventuranças".

"Nele, a fé e os acontecimentos quotidianos fundem-se harmoniosamente, de modo que a adesão ao Evangelho se traduz num cuidado amoroso para com os pobres e os necessitados, num crescendo contínuo até aos últimos dias da doença que o levou à morte", disse o Papa. 

"O seu amor pela beleza e pela arte, a sua paixão pelo desporto e pela montanha, a sua atenção aos problemas da sociedade não diminuíram a sua relação constante com o Absoluto", prossegue. "Totalmente imerso no mistério de Deus e totalmente dedicado ao serviço constante do próximo: é assim que podemos resumir a sua vida terrena!

Um "São Frassati" para os nossos tempos

Embora a causa de canonização de Frassati tenha sido aberta pouco depois da sua morte, ficou parada durante algum tempo. Wohar disse acreditar que a sua canonização este ano, um século após a sua morte, faz parte do plano de Deus. 

"O Senhor, na sua sabedoria, sabia que precisávamos de um Pier Giorgio Frassati, um Santo Frassati, para uma época como a que estamos a viver agora", disse.

"Se ele tivesse sido canonizado, por exemplo, nos anos 40, talvez nunca o tivéssemos tido no nosso radar", continuou. "Talvez tivesse sido esquecido como um dos muitos, muitos, muitos santos italianos. O facto de ser canonizado neste Ano Jubilar da esperança, quando precisamos de esperança na nossa cultura, penso que apresenta uma imagem de esperança para os jovens adultos, para todos, mas especialmente para este grupo etário".

E acrescentou: "É o momento perfeito de Deus".

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Maria Wiering é editora-chefe do OSV News.

Este artigo foi originalmente publicado no OSV News em inglês, e está disponível para consulta. aqui.

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O autorOSV / Omnes

Mundo

Católicos e sociedade civil unem forças na Marcha pela Vida na Lituânia

Vilnius acolherá a maior Marcha pela Vida da Lituânia em mais de três décadas, no dia 4 de outubro, e os organizadores esperam participantes de toda a região do Báltico. A Marcha pela Vida é o maior evento das últimas três décadas em Vilnius, no dia 4 de outubro, e os organizadores esperam a participação de toda a região do Báltico.

Bryan Lawrence Gonsalves-4 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

A Marcha pela Vida terá lugar no momento em que o Parlamento Europeu continua a deliberar sobre um projeto de lei relativo à saúde reprodutiva que alarga o acesso ao aborto e o seu financiamento público. A medida foi aprovada por pouco em primeira leitura em maio de 2025 e será depois submetida a audições e debates nas comissões antes da votação final.

A Lituânia é um dos poucos países da UE onde o aborto é legal, mas em grande parte não está regulamentado; durante a ocupação e o domínio soviéticos, o procedimento era estritamente controlado pelo Estado. Após a independência, o país continuou a basear-se na regulamentação do aborto da era soviética. A proposta de Lei da Saúde Reprodutiva formalizará e alargará o acesso ao aborto, transformando-o de um decreto ministerial em legislação de pleno direito.

A proposta

Simonas Streikus, principal organizador do evento Zygis už gyvybę (Marcha pela Vida) em Vilnius, referiu que o evento tinha como objetivo realçar a importância duradoura da vida humana. "Há valores que nunca mudam. O principal deles é a vida humana, a base da nossa humanidade. Para sermos verdadeiramente humanos, temos de honrar a vida com respeito, com amor, com responsabilidade e com proteção. É por isso que marchamos, para que a sociedade veja e se lembre desta verdade", afirmou. 

A Marcha pela Vida partirá da Biblioteca Nacional Martynas Mažvydas às 13h00, percorrerá a Avenida Gedimino e terminará na Praça da Catedral de Vilnius com discursos, música e actividades familiares. Os organizadores afirmam que o fim neste local é intencional, assinalando a sua importância como centro cívico e espiritual da capital. Ao terminar neste local, esperam ligar a defesa da vida à identidade histórica mais alargada da Lituânia, na encruzilhada onde a fé, a política e a cultura há muito convergem.

Ramūnas Aušrotas, um defensor da Marcha pela Vida de Vilnius, que trabalha como professor de bioética na Universidade de Ciências da Saúde da Lituânia, afirmou: "Na bioética contemporânea existe uma inconsistência perturbadora, porque quando um nascituro é desejado, todos os recursos médicos são mobilizados para salvaguardar a sua vida. Quando a criança não é desejada, de repente as regras mudam e a interrupção da gravidez é permitida. Há quem chame a isto um compromisso social; na realidade, reflecte uma incoerência ética. A vida humana não pode ser valorizada e negada ao mesmo tempo".

A nova lei

A lei proposta permitiria o aborto a pedido até às 12 semanas de gravidez e até às 22 semanas em casos de violação, incesto ou necessidade médica. Também alargaria o acesso ao aborto, tornando-o amplamente disponível, tanto cirúrgico como médico, incluindo através de consultas de tele-saúde, exigindo simultaneamente que os procedimentos sejam totalmente financiados pelos contribuintes, tornando o aborto um serviço garantido pelo Estado.

"Vi o milagre da vida no seu início e a dignidade do seu fim natural", disse Richard Cervin, um médico de família com mais de 30 anos de experiência na Lituânia. "Se não podemos defender os indefesos, quem é que devemos defender? A proteção da vida do nascituro não é uma questão política ou ideológica, mas simplesmente uma questão muito humana. 

Soma das forças

A próxima Marcha pela Vida está a ser organizada por uma coligação de grupos da sociedade civil e organizações católicas seculares, reflectindo uma ampla base de apoio. Apesar de se basear em parte na participação católica, a marcha em si é de natureza secular e está aberta a participantes de todas as religiões ou de nenhuma.

Os organizadores esperam que participem famílias, estudantes, profissionais de saúde e jovens activistas sociais, sublinhando o amplo apelo do evento. "A santidade da vida transcende as fronteiras religiosas, não é preciso acreditar em Deus para saber que matar os vulneráveis é errado", disse Diana Karvelienė, diretora de comunicação do evento. Diana Karvelienė, diretora de comunicação do evento, sublinhou que a iniciativa é, em última análise, uma iniciativa de esperança, expressando solidariedade para com as mães, cuja força passa muitas vezes despercebida, e para com os pais, cujo apoio é vital tanto para as mães como para as crianças.

À medida que a marcha de 4 de outubro se aproxima, é vista não só como uma marcha pública pacífica contra a legislação pendente, mas também como uma afirmação da bússola moral da Lituânia. Para os participantes, o debate sobre os direitos reprodutivos não é apenas uma questão de política, mas uma questão de identidade nacional que levanta a questão do tipo de sociedade que a Lituânia escolhe construir para as gerações futuras. 

Quando lhe perguntaram por que razão participaria na Marcha, Lukrecija Kozlovskytė, uma artista e antiga membro da direção da Ateitininkai, uma organização de jovens católicos lituanos, respondeu: "Não posso ficar de braços cruzados enquanto vidas inocentes são ceifadas. Para mim, seria como assistir a um assassínio na rua e não fazer nada.

Independentemente do resultado da votação no Parlamento lituano, a Marcha de Vilnius pela Vida está destinada a tornar-se um ponto de viragem no debate público do país sobre a dignidade humana, o papel do Estado na sua proteção e a determinação dos cidadãos em defender as suas convicções. Para os participantes, o evento é um ato de solidariedade em defesa dos nascituros, ao mesmo tempo que encoraja as mães e os pais na tarefa sagrada de criar uma família. Em última análise, esperam que a sua presença seja o testemunho de uma única verdade fundamental: a vida, em toda a sua fragilidade, merece sempre ser defendida.

O autorBryan Lawrence Gonsalves

Fundador de "Catholicism Coffee".

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Evangelização

São Moisés, libertador do povo hebreu e transmissor do Decálogo

No dia 4 de setembro, a Igreja celebra São Moisés, profeta e libertador do povo hebreu da escravidão do Egito para a Terra Prometida, segundo a Bíblia. Recebeu de Deus os Dez Mandamentos (o Decálogo) no Monte Sinai e é uma figura central no judaísmo, no cristianismo e no islamismo.

Francisco Otamendi-4 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Moisés é conhecido por ter conduzido o povo hebreu da escravidão no Egito para a Terra Prometida, por ter recebido os Dez Mandamentos de Deus no Monte Sinai e por ter actuado como legislador do seu povo, tal como é narrado na Bíblia. É considerado um grande profeta.

Conduziu o seu povo através do deserto durante quarenta anos para chegar a Canaã, a Terra Prometida por Deus. Moisés recebeu o Decálogo diretamente de Deus no Monte Sinai (Êxodo 20). Quando o Filho de Deus se encarnou, à pergunta sobre qual é o maior mandamento da lei, Jesus respondeu: "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento" e "amarás o teu próximo como a ti mesmo".

São Moisés foi o legislador que ditou as regras e os preceitos para a vida dos israelitas, com base na Aliança com Deus. Jesus cita-o em numerosas ocasiões nos Evangelhos. Na Transfiguração, o Senhor aparece glorioso aos apóstolos com os profetas Moisés e Elias, que conversam com ele.

"Eu sou quem eu sou

No dias dos santos no vaticano pode ler uma extensa sinopse da vida de Moisés, recolhida nos cinco livros do Pentateuco da Bíblia. Podem citar-se numerosos factos bíblicos da vida de Moisésalgumas das quais foram registadas em filme. 

Nascido no Egito e depositado no Nilo para evitar a sua morte, foi retirado das águas pela filha do Faraó, que o adoptou como seu filho. Mais tarde, o Senhor apareceu-lhe numa sarça ardente e disse-lhe: "Eu sou quem sou" (Êxodo 3).

Deus disse a Moisés: "Vai ter com o Faraó, rei do Egito, e diz-lhe que deixe sair os filhos de Israel da sua terra. Mas Moisés desculpou-se: "Se os filhos de Israel não me ouvem, como é que o Faraó me há-de ouvir, pois sou mudo de palavras? Então Deus enviou-o a ele e ao seu irmão Aarão para pedirem a libertação do povo hebreu.

Às portas da Terra Prometida

Depois das pragas do Egito, Moisés conduziu o povo de Israel através do Mar Vermelho e do deserto. Morreu no monte Nebo, na terra de Moab, às portas da Terra Prometida. 

Pontos 2052 a 2082 do Catecismo da Igreja Católica explicar os Dez Mandamentos, o Decálogo, do ponto de vista da Sagrada Escritura e da Tradição da Igreja. 

O autorFrancisco Otamendi

Sobre a tentativa delirante de fazer de Cervantes um homossexual

O novo filme de Alejandro Amenábar reabriu o velho e banal debate sobre a possibilidade de Miguel de Cervantes ter sido homossexual.

4 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

Há 25 anos que estudo Cervantes, 8 dos quais exclusivamente. Defendi e publiquei uma tese de doutoramento sobre a Quixote. Li dezenas de livros e artigos sobre o autor e a sua obra. Publiquei uma monografia sobre o amor no Quixoteuma edição de O curioso impertinente, y Publiquei seis capítulos de livros, dezassete artigos e um prólogo sobre aspectos de Cervantes, e apresentei catorze comunicações em conferências. Por último, também dei seminários e palestras sobre o maneta de Lepanto e até conduzi visitas guiadas. 

Após estes anos de estudo, a proposta da homossexualidade de Cervantes parece-me estranha e impostada. O nosso autor tinha uma filha natural, era casado e dedicava especial atenção às mulheres: a sua obra está repleta de personagens femininas fortes. Não uso este facto para provar que ele não era homossexual, mas afirmo que não está demonstrado que o fosse.

É evidente que, desde o início deste terceiro milénio, surgiu uma obsessão particular pela homossexualidade. Mas não faz sentido reler o passado com base nos preconceitos do presente. Recordo-me de um magnífico curso de doutoramento dirigido por um sábio professor da Universidade de Granada. Tratava-se da mística de Santa Teresa e de São João da Cruz. Um estudante levantou a questão da possível homossexualidade do apóstolo São João, o preferido de Jesus. O professor explicou que nem todas as relações de amizade têm de ser sexualizadas, que o nosso prisma atual sofre de uma certa distorção em relação a estas questões.

Não tenho qualquer interesse especial em negar a homossexualidade de Cervantes, mas é surpreendente a tendência para transformar toda a gente em homossexual. Parece que um tal protótipo deve deslocar o herói, o atleta, o sábio, o orador, o mártir, o santo, o cavaleiro, a donna angelicata, o cortesão e o discreto. Porque estes modelos antropológicos que acabo de referir são-no pelas suas acções, não pela sua orientação sexual. O mérito do ser humano está, como defendia precisamente Cervantes, na virtude, e não no sangue (e eu acrescento, não no sexo).

Cervantes foi mantido em cativeiro em Argel durante cinco anos. Tentou fugir várias vezes, sem sucesso, mas nunca fez figura de parvo: reconheceu os factos. Paradoxalmente, não recebeu o castigo que as suas fugas mereciam. E há quem pense que uma das razões da clemência para com ele pode residir na sua homossexualidade. Trata-se de uma hipótese. Cervantes levava consigo cartas, uma delas de Don Juan de Áustria, que o retratavam como um soldado valente, o que levou a que lhe fosse pedido um resgate mais elevado e, presumivelmente, a que fosse tratado com maior tolerância, para além de a sua forte personalidade fazer dele uma pessoa muito singular. Em todo o caso, uma hipótese não é uma prova. É uma atitude muito contemporânea do sujeito crítico neutralizar ou matar o objeto. Mas é mais justo que o sujeito respeite o objeto, quer se trate de textos ou de pessoas.

No entanto. Possuímos os seus escritos. Como já disse, publiquei um estudo sobre o amor no Quixote. A conceção do amor que emerge do grande romance de Cervantes é maravilhosamente humanista, uma síntese do pensamento judaico-cristão e greco-latino; a pedra angular sobre a qual assenta esta cartografia do amor são as virtudes da prudência, da justiça, da fortaleza e da temperança. O amor surge não só como um mero sentimento ("o amor nos jovens, na maior parte das vezes, não é um sentimento, mas um apetite", lê-se no capítulo 24 da primeira parte do Quixote), mas um conhecimento, uma vontade, uma entrega em liberdade.

Como bom homem do século de ouro, Cervantes é cativado pela beleza, nomeadamente feminina, um êxtase que se enraíza na poesia lírica trovadoresca, estilnovista e pertarquista. O epicentro quixotesco é antes a amizade entre Dom Quixote e Sancho: um amor de amizade que não deve ser confundido com o amor erótico, nem com o amor de necessidade. O Banquete de Platão, o De amicitia de Cícero ou Os quatro amores de C. S. Lewis, entre muitas outras obras, podem ilustrar o maravilhoso e polifónico mosaico do amor na tradição europeia. 

A obsessão monótona pelo sexo é uma "contribuição" contemporânea. Mas a leitura de Cervantes ou de outros clássicos poderia libertar-nos deste espartilho, que já é tão cansativo. 

Evangelho

A cruz da perseverança. 23º Domingo do Tempo Comum (C)

Joseph Evans comenta as leituras do 23º Domingo do Tempo Comum (C) para o dia 7 de setembro de 2025.

Joseph Evans-4 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

No Evangelho de hoje, Jesus é difícil de compreender. Começa por falar da necessidade de carregar a cruz. Podemos não gostar, mas compreendemos o que ele está a dizer. Temos de aceitar as coisas duras da vida para sermos seus discípulos: uma vida mole e fácil não nos levará ao céu. O Senhor diz-nos então algumas coisas duras, que cada um de nós tem de "adiar". a "o seu pai e a sua mãe, a sua mulher e os seus filhos, os seus irmãos e irmãs, e até ele próprio".O facto de os colocar radicalmente em segundo lugar em relação a Deus.

Mas a segunda parte do Evangelho torna-se confusa. Depois de nos dizer que temos de carregar a nossa cruz, Jesus parece saltar para algo que não tem nada a ver com isso. Conta-nos a parábola de um homem que começou a construir uma torre e não a conseguiu acabar, pelo que foi escarnecido. Depois fala de um rei que vai para a guerra com outro rei e precisa de se certificar de que tem homens suficientes para enfrentar o seu adversário. Se se apercebe que não tem, envia enviados para pedir a paz. Jesus termina dizendo que não podemos ser seus discípulos se não renunciarmos a todos os nossos bens. Mas o que é que o facto de não se conseguir terminar uma torre ou de se perceber que se tem um exército mais fraco do que o inimigo tem a ver com carregar a nossa cruz?

Talvez a resposta esteja em perceber que, muitas vezes, uma das maiores encruzilhadas que enfrentamos é simplesmente a necessidade de perseverar naquilo que começámos. Podemos embarcar em actividades ou compromissos de vida cheios de entusiasmo, mas quando as coisas se tornam difíceis, começamos a duvidar e a pensar em desistir, e por vezes desistimos. As pessoas desistem de todo o tipo de projectos por esta razão. Ou os casamentos acabam. Ou as pessoas não são fiéis à sua vocação. Quando o entusiasmo se esgota, quando a faísca se apaga, desistem. Muitos são bons a começar, mas poucos têm o que é preciso para levar até ao fim o que começaram. São Paulo mostra esta perseverança heróica na segunda leitura de hoje, abraçando a sua prisão por Cristo e estando mesmo disposto a renunciar a uma das poucas consolações que tinha, a presença de Onésimo.

Qualquer empresa que se preze passa por momentos difíceis e temos de perseverar. Temos de continuar a construir, mesmo que seja difícil, e não tentar recuperar aquilo de que já desistimos. E se eu realmente achar que não consigo perseverar, talvez não deva começar, até estar pronto para o fazer. Como aquele rei que pede paz. Mas o que ele deve fazer então é dar os passos necessários para construir o seu exército.

Por vezes, a prudência exige que não comecemos algo porque nos apercebemos de que somos demasiado fracos para o fazer. Mas depois pedimos a Deus a força que nos falta e trabalhamos para ultrapassar a fraqueza ou os maus hábitos que nos impedem de o fazer.

Vaticano

A dor sudanesa do Papa Leão, que vê Jesus como "mendigo do amor

Na Audiência de quarta-feira, o Papa Leão XIV sublinhou que a sede de Jesus na cruz é a de um "mendigo de amor". O homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante aos outros, mesmo quando são hostis e inimigos, disse. No final, expressou a sua dor pela tragédia no Darfur (Sudão) e rezou pelas crianças e jovens em idade escolar.

Francisco Otamendi-3 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 3 acta

Depois de ter saudado milhares de pessoas presentes na Praça de São Pedro no papamóvel e de ter abençoado numerosos bebés, o Papa Leão mostrou-se em o Tribunal de Justiça O seu pesar e as suas orações pelas vítimas da catástrofe natural no Sudão. 

Recordou também ao Papa São Gregório Magnoa memória litúrgica de hoje, para os próximos santos Pier Giorgio Frassati y Carlo Acutisque será canonizado no domingo. Dirigindo-se em particular aos peregrinos de língua polaca, pediu que "setembro seja um mês de oração pelas crianças e jovens que regressam à escola e por todos os que estão envolvidos na sua educação". 

Rezemos por eles, disse, "por intercessão dos bem-aventurados, que em breve serão santos, Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, pelo dom de uma fé profunda no seu caminho de maturidade. Abençoo-vos de coração".

Tragédia de Darfur

O Papa Leão XIV ofereceu as suas orações pelos mortos depois de dias de fortes chuvas terem provocado um deslizamento de terras numa zona remota do Sudão. E rezou por todas as pessoas envolvidas nas operações de busca e salvamento em curso.

"Sua Santidade o Papa Leão XIV ficou profundamente triste ao saber da a devastação causada pelo deslizamento de terras na aldeia de Tarasin, na região central do Darfur, no Sudão, e assegura a todos os afectados por esta catástrofe a sua proximidade espiritual", dizia um telegrama do Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano, ao Bispo Yunan Tombe Trille Kuku Andali de El Obeid.

O Papa Leão apelou hoje "aos responsáveis e à comunidade internacional para que assegurem corredores humanitários e uma resposta coordenada" para pôr termo à catástrofe humanitária.

Pelo menos um milhar de mortos

No final do dia 1 de setembro, o Movimento de Libertação do Sudão - Exército, um grupo rebelde que controla a área, informou ontem que toda a aldeia de Tarasin tinha sido soterrada pelo deslizamento de terras de 31 de agosto e que cerca de 1000 pessoas tinham morrido, segundo o OSV. O grupo disse que apenas uma pessoa sobreviveu, informou a The Associated Press.

A BBC citou mais tarde o coordenador humanitário adjunto da ONU para o Sudão, dizendo que pelo menos 370 pessoas tinham morrido no deslizamento de terras na aldeia, localizada nas remotas montanhas Marrah, no oeste do Sudão.

Antoine Gérard, funcionário da ONU, disse à BBC que, devido ao facto de a área ser tão remota e acidentada, era difícil saber a extensão dos danos ou o número exato de vítimas.

Crucificação. "Tenho sede". 

Na sua catequese, o Papa retomou o ciclo do Ano Jubilar, "Jesus Cristo, nossa esperança", e centrou a sua meditação no tema "A crucifixão. Tenho sede" (Jo 19,28)".

A sede do crucificado não é apenas uma questão fisiológica, é a expressão profunda de um desejo: "Jesus tem sede de amor, de relação e de comunhão", sublinhou. "Ele não se envergonha de ter assumido a nossa frágil humanidade. Aquele que deu tudo não hesita em mostrar-se necessitado". 

Duas reflexões sobre o poder

Mais adiante, referiu-se ao poder em pelo menos duas ocasiões. 

Por um lado, reflecte sobre o gesto de Jesus. "Este gesto é um sinal eloquente de que o homem não se realiza pela força do poder, que não basta salvar-se a si próprio, mas que tem necessidade dos outros, que deve aprender a abrir-se com confiança aos outros. Para que o nosso amor seja autêntico, não devemos apenas dá-lo, mas também recebê-lo. Jesus ensina-nos a dar, mas também a receber. Jesus ensina-nos a dar, mas também a receber amor".

E acrescentou: "Este é o paradoxo cristão: Deus salva não fazendo, mas deixando-se fazer. Não vencendo o mal com a força, mas aceitando até ao fim a fraqueza do amor". 

"Na cruz, Jesus ensina-nos que o homem não se realiza no poder, mas na abertura confiante aos outros, mesmo quando são hostis e inimigos. A salvação não está na autonomia, mas na humildade de reconhecer a própria necessidade e saber exprimi-la livremente".

Peregrinos de vários países 

No seu discurso aos peregrinos francófonos, saudou em particular os do "Senegal, acompanhados pelo seu bispo, D. Paul Abel Mbamba, e os do Luxemburgo e de França".

O Papa prestou uma atenção especial à lista dos peregrinos e visitantes dos países de língua inglesa, no todo ou em parte, que participaram na audiência de hoje. Em particular os grupos provenientes de "Inglaterra, Escócia, Irlanda, Irlanda do Norte, Áustria, Dinamarca, Malta, Países Baixos, Suíça, Camarões, Austrália, Hong Kong, Indonésia, Japão, Filipinas, Vietname e Estados Unidos da América".

Recordou aos falantes de língua espanhola "São Gregório Magno. Peçamos ao Senhor que na nossa peregrinação por este mundo, por intercessão deste santo Papa, saibamos reconhecer com humildade a nossa necessidade do amor de Deus e dos nossos irmãos".

"Não esqueçamos que só Ele, o Infinito, pode saciar a nossa sede de infinito", recordou aos falantes de alemão. E, como é habitual, houve também palavras para os falantes de chinês, português, árabe, polaco e, claro, italiano.

O autorFrancisco Otamendi

Evangelização

São Gregório Magno, Papa e Doutor da Igreja, e Apóstolo de Inglaterra

A liturgia celebra a 3 de setembro São Gregório Magno, Papa, um dos quatro grandes Padres latinos, juntamente com Santo Agostinho, Santo Ambrósio e São Jerónimo. Promoveu o canto litúrgico (canto gregoriano), a reforma da missa, a gestão dos bens da Igreja e a evangelização de Inglaterra. 

Francisco Otamendi-3 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

De família cristã, São Gregório nasceu em Roma por volta de 540 e, ainda jovem, tornou-se prefeito da cidade. Mais tarde, distribuiu o seu património pelos mosteiros e tornou-se monge na abadia beneditina de Santo André, da qual se tornou mais tarde abade. O Papa Pelágio II nomeou-o legado papal em Constantinopla, mas o pontífice morreu de peste. E no ano 590 São Gregório Magno o futuro apóstolo de Inglaterra foi eleito papa.

Durante o seu pontificado, distinguiu-se pelo seu zelo pela liturgia e pela elaboração do Sacramentário, que constitui o núcleo fundamental do Missal Romano. Promoveu também o canto litúrgico que leva o seu nome (gregoriano) e o seu impulso evangelizador.

No ano de 597, São Gregório enviou para Santo Agostinho de Cantuária e um grupo de quarenta monges para evangelizar os anglo-saxões em Inglaterra. A missão levou a fé cristã ao rei Ethelbert, que tinha casado com Bertha, uma princesa cristã da família real franca, e a milhares de saxões, e lançou as bases para a difusão do cristianismo na Europa. São Gregório Magno morreu a 12 de março de 604.

Mártires no Japão, Coreia e França

A liturgia acolhe também hoje o abençoado Bartolomé Gutiérrez e companheiros martirizados no Japão. Três deles eram agostinianos, um jesuíta e dois franciscanos. Foram apanhados nas perseguições contra os cristãos, que queriam fazê-los apostatar, mas permaneceram firmes na confissão de Cristo. Depois de terem sido torturados, foram queimados em 1632, em Nagasaki. 

Os santos John Pak Hu-jae e cinco mulheres eram leigos que também foram obrigados a sofrer pela sua firmeza na fé e foram decapitados em Seul, na Coreia, a 3 de setembro de 1839. 

A liturgia de hoje celebra também 72 outros bem-aventurados mártires franceses, na sua maioria sacerdotes, da diocese de Paris ou de outras dioceses ou institutos religiosos. Foram mortos a 3 de setembro de 1792, um dia depoisno seminário lazarista de Saint-Fermin, em Paris. 

O autorFrancisco Otamendi

Evangelização

História do Ícone de Nossa Senhora de Czestochowa: guerras e cicatrizes

A famosa imagem de Nossa Senhora de Czestochowa, conhecida como a "Madona Negra", é a protagonista de uma história dramática entrelaçada com a história e a fé polacas. Enquanto as lendas atribuem a imagem a São Lucas e à mesa da Sagrada Família, os historiadores de arte datam-na entre os séculos VI e XIV. O que é certo é o seu papel duradouro como protetor espiritual da Polónia.  

OSV / Omnes-3 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 5 acta

- Czestochowa, Polónia (OSV News). 

Enquanto a famosa imagem de Nossa Senhora de Częstochowa é conhecida em todo o mundo, a sua história está repleta de acontecimentos dramáticos que merecem ser reconhecidos. 

Desde as lendas sobre a origem da madeira em que a "Madona Negra" foi escrita - os ícones são "escritos", não pintados - até à razão pela qual a imagem está marcada. O ícone reflecte o destino histórico da Polónia e é um refúgio espiritual para os católicos de todos os cantos do mundo.

Origens do ícone de Nossa Senhora 

A data de criação do ícone é incerta e os historiadores de arte acreditam que se trata de um ícone bizantino dos séculos VI ou IX ou dos séculos XII a XV. Sabe-se que foi levado para o mosteiro de Jasna Góra no século XIV.

No entanto, a lenda atribui-o a São Lucas, que alegadamente escreveu o ícone na mesa onde a Sagrada Família jantava. "Diz a lenda que o ícone de Jasna Góra foi criado numa mesa da casa da Sagrada Família", disse à OSV News o Padre Michal Legan, um sacerdote paulino de Jasna Góra.

"Hoje sabemos que isso não é verdade. Mas podemos facilmente imaginar que este ícone tem um impacto na vida das famílias polacas e das famílias de todo o mundo. Porque está pendurado praticamente em todas as casas polacas, num lugar onde as famílias se reúnem e rezam", disse o Padre Legan, que dirige a redação católica da televisão polaca.

Escondido durante a ocupação da Polónia na Segunda Guerra Mundial

De facto, uma enorme mesa de biblioteca é a peça de mobiliário que ajudou a salvar Nossa Senhora dos horrores da ocupação alemã nazi da Polónia.

A eclosão da guerra representou uma séria ameaça para Jasna Góra. Os nazis alemães compreenderam o profundo significado religioso e cultural do ícone de Nossa Senhora de Częstochowa. Havia um perigo real de que o quadro fosse confiscado, destruído ou vendido a coleccionadores privados.

Perante esta ameaça, os monges paulinos deram um passo ousado. Esconderam o ícone num compartimento especialmente preparado para o efeito, em cima de uma das mesas da biblioteca de Jasna Góra. O seu tamanho monumental e a sua aparência despretensiosa garantiram que o tesouro inestimável passaria despercebido.

A antiga biblioteca do santuário mariano de Jasna Góra, em Czestochowa, na Polónia, abriga duas mesas únicas, feitas à mão na década de 1730. Durante a Segunda Guerra Mundial, por medo dos nazis, o ícone foi escondido numa das mesas (Foto de OSV News/courtesy of the Jasna Góra shrine).

Na Biblioteca Antiga, duas obras-primas 

A Antiga Biblioteca de Jasna Góra alberga duas mesas únicas feitas na década de 1730 pelo Irmão Grzegorz Woźniakowicz. São obras-primas de escultura em madeira e marchetaria, ricamente decoradas com cenas de santos e feitas de uma variedade de madeiras com um artesanato de nível barroco.

A sua conceção não era apenas decorativa, mas também prática. As mesas foram construídas como unidades individuais, não amovíveis, tão pesadas e monumentais que era fisicamente impossível retirá-las da biblioteca. Esta caraterística revelou-se crucial na proteção do ícone da Madona Negra durante a guerra.

A certa altura, os ocupantes nazis da Polónia planearam transportar as mesas para Dresden, na Alemanha, como valiosas obras de arte. À medida que a ameaça se intensificava, o ícone foi novamente transferido, desta vez encerrado numa cela de mosteiro. Sobreviveu aos anos mais negros da guerra, embora os movimentos subsequentes tenham causado alguns danos que exigiram um restauro posterior.

Uma "arca simbólica", como uma relíquia, um brasão de armas

Embora o ícone não tenha passado toda a guerra dentro da mesa, o seu papel continua a ser significativo. Foi o primeiro esconderijo, uma "arca" simbólica destinada a proteger o tesouro espiritual da nação. Atualmente, a mesa é tratada como uma relíquia histórica. Quase tão valiosa como os livros e manuscritos raros que a rodeiam na biblioteca.

"Há um belo simbolismo no facto de o ícone, que segundo a lenda foi pintado sobre a mesa da Sagrada Família, ter sido escondido dos alemães durante a Segunda Guerra Mundial. Precisamente sobre uma das mais belas mesas que se podem encontrar na Polónia e na Europa", disse o Padre Legan.

Um sacerdote paulino que mostrou a mesa a OSV News descreveu-a como "não apenas uma peça de mobiliário", mas como "um escudo, um refúgio e uma proteção". E observou que "sem a decisão dos irmãos" de a esconder, "quem sabe o que teria acontecido ao quadro?".

Cicatrizes do século XV

No entanto, a imagem não escapou a danos ao longo dos séculos, com cicatrizes que remontam ao século XV, fazendo da "Madona Negra" uma das imagens marianas mais famosas do mundo. 

Em 1430, ladrões atacaram o mosteiro na Páscoa, cortando e partindo a imagem na Capela de Nossa Senhora. O rei Władysław Jagiełłło ordenou o seu restauro. E os pintores voltaram a montar e a pintar o painel, embora os métodos de conservação fossem deficientes. As cicatrizes ainda são visíveis, quer porque as tentativas de as cobrir falharam, quer porque, como diz a tradição, foram deliberadamente deixadas como lembrança do ataque. 

É também a aparência de Nossa Senhora que a torna única, disse o Padre Legan à OSV News. "De acordo com São João Crisóstomo, um ícone não é para ser olhado e admirado, mas sim para que a pessoa representada no ícone olhe para nós", disse ele. "Trata-se do olhar de Deus, que é cheio de bondade e não julga, e do olhar da Mãe de Deus, que também nos permite descobrir a nossa dignidade."

Os bispos rezam diante da estátua de Nossa Senhora de Czestochowa no santuário mariano de Jasna Góra, a 2 de maio de 2025 (Foto de OSV News/cortesia da Conferência Episcopal Polaca).

Rainha da Polónia, venerada pelos fiéis em muitos países

Embora Nossa Senhora de Częstochowa seja principalmente a "Rainha da Polónia", a sua importância estende-se para além da Polónia. O ícone tem sido venerado durante séculos por fiéis de outras nações. Só em 2024, mais de 4 milhões de peregrinos visitaram o santuário de Jasna Góra, um lugar de refúgio espiritual amado por muitos santos polacos, incluindo São João Paulo II. 

Um santuário especial em Doylestown, na Pensilvânia, apelidado de "Częstochowa americana", é gerido pelos Padres Paulinos desde a década de 1950. Tornou-se um local de peregrinação para as comunidades da diáspora polaca e para outros que procuram orientação espiritual, um reflexo de Jasna Góra do outro lado do Atlântico.

O autorOSV / Omnes

Espanha

A Universidade de Navarra lança um curso em linha sobre a Bíblia e a arqueologia

O programa destina-se a todos os interessados em aprofundar o conhecimento da Bíblia e da cultura do Médio Oriente.

Redação Omnes-2 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Como era a Terra Santa no tempo de Jesus? Como é que os vestígios arqueológicos se relacionam com os relatos bíblicos? Estas são algumas das questões que serão abordadas no novo curso promovido pela Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, que tem como objetivo aproximar os participantes das origens do cristianismo através da história, da geografia e da arqueologia.

O programa é oferecido em colaboração com a Fundação Cretio (EUA) e o Saxum Visitor Center (Israel). Será ministrado inteiramente online, em espanhol ou inglês, com início a 29 de setembro. Com uma duração de dez semanas e uma carga lectiva de 2 ECTS, permitirá a cada estudante progredir ao seu próprio ritmo e com total flexibilidade.

Porquê aprender arqueologia?

Diego Pérez Gondar, professor da Faculdade de Teologia e diretor académico do curso, sublinha a importância desta formação: "Se não soubermos quem somos e de onde vimos, estamos condenados a repetir os mesmos erros vezes sem conta. Quanto mais não seja para compreender os problemas do mundo atual, penso que é essencial ter um conhecimento mínimo das origens da civilização e dos contributos do monoteísmo judaico-cristão, do pensamento grego e do direito romano"..

O curso destacará também o papel da arqueologia bíblica como chave de leitura dos textos antigos. Segundo Pérez Gondar, "A fé não é puro fideísmo ou fundamentalismo; a fé precisa de uma lógica. Muita dessa história deixou os seus vestígios, que são estudados pela arqueologia, e que nos ajudam a compreender como ler os textos que surgiram nesse contexto antigo".. Acrescenta que estas questões interessam tanto aos crentes como aos não crentes, porque "o que os seres humanos realmente precisam é de resolver o sentido da existência"..

Concebido como um "peregrinação académica Na Terra Santa, o curso abordará a sua geografia, a sua história e os principais textos bíblicos, com especial atenção para o Novo Testamento. "Gostaríamos que fosse o primeiro de outros cursos semelhantes, pois há muito material para transmitir".O diretor académico salienta.

Livros

Uma nova edição de Caminho para o leitor do século XXI

Graças a este trabalho, Camino pode continuar a ser lido com proveito pelas novas gerações, não apenas como um documento histórico ou como um clássico da espiritualidade, mas como aquilo que sempre foi: um livro vivo, escrito para acompanhar as pessoas na sua relação com Deus.

Javier García Herrería-2 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

"Escreves-me: "Padre, tenho... uma dor de dentes no coração". -Não o tomo como uma brincadeira, porque compreendo que precisas de um bom dentista para fazer algumas extracções. Se te deixasses!..." (ponto 166). Quando um jovem leitor do século XXI lê um simples ponto do Caminho como este, pode não compreender totalmente o seu significado, uma vez que a palavra "chacota" é completamente estranha ao leitor atual.

Poderá também ficar surpreendido ao encontrar expressões como "intransigência santa"., "coação sagrada"., "santo descaramento"., "santa ambição"., "santa irreverência". ou a chamada para "obedecer cegamente ao superior". Estas frases de Caminho podem ser entendidas de uma forma benigna, como dispositivos retóricos enfáticos, se se partir de um bom conhecimento do autor ou se se contrastarem estas ideias com outras passagens das obras de São Josemaria ou de outros livros. No entanto, uma leitura isolada e descontextualizada destes termos pode ser enganadora.

Porquê uma nova edição anotada?

Embora já existisse uma edição crítica de referência - a de Pedro Rodríguez, publicada em 2002, centrada na génese literária e histórica do texto -, era necessária uma versão que ajudasse o leitor do século XXI a compreender expressões, frases feitas e referências culturais que se tornaram obsoletas ou que foram carregadas de nuances imprevistas com o passar do tempo.

Expressões como "uma moeda de cinco dólares" não têm significado para quem nunca viu uma moeda dessas. O mesmo se aplica a metáforas, ditos ou comparações que se referem a um mundo desconhecido para muitos. Algumas palavras não são de todo compreendidas, como "ir" (no sentido de troçar, cf. ponto 69).

O desafio que se coloca ao leitor contemporâneo de Caminho não é apenas linguístico, é também semântico. Algumas palavras adquiriram novas conotações. "Caudilho", por exemplo, adquiriu nuances muito diferentes das que o autor pretendia.

Poderiam ser dados muitos exemplos. A palavra proselitismo Atualmente, é muitas vezes mal interpretado ou interpretado num sentido negativo, ao passo que no seu contexto original era entendido de forma adequada e positiva.

O mesmo desafio que Shakespeare

O que acontece com o leitor atual de Camino é muito semelhante ao que um leitor inglês experimenta quando é confrontado com Shakespeare: a língua torna-se cada vez mais arcaica, muitas expressões soam estranhas ou incompreensíveis e é necessário recorrer a notas explicativas para compreender o significado. O mesmo acontece a um falante de espanhol quando lê Cervantes.

Este não é o caso das traduções de CaminoA tradução para outras línguas permite aos editores atualizar o vocabulário e tornar a mensagem compreensível para o leitor moderno. O mesmo acontece com os leitores que lêem Shakespeare numa língua diferente da original. O texto espanhol de Caminho, por outro lado, manteve-se inalterado, de tal modo que hoje soa por vezes como o espanhol "antigo", mesmo para os próprios espanhóis.

Referências históricas e culturais

A isto juntam-se referências históricas muito específicas à história de Espanha que podem ser desconcertantes, sobretudo para leitores de outros países. São Josemaria alude, por exemplo, a Lepanto ou para Las Navas de TolosaA primeira batalha é mais conhecida, a segunda muito menos, e ambas requerem um contexto cultural que já não é dado como adquirido.

Há também conceitos da herança cristã tradicional que são obscuros para o leitor médio de hoje: expressões como mortificação, exame individual ou locuções latinas, que eram familiares na primeira metade do século XX, são agora pouco compreendidas.

O valor desta edição

Em resumo, Camino é um livro escrito há quase cem anos, num contexto marcado pela Guerra Civil Espanhola, por uma forte componente religiosa e por um clima cultural muito diferente do da sensibilidade contemporânea, marcada pelo politicamente correto e pela sensibilidade. acordou. Este desfasamento temporal significa que certas frases podem soar muito diferentes do que soavam na altura, correndo mesmo o risco de serem mal interpretadas.

A edição anotada de Fidel Sebastián não altera uma única palavra do texto original: mantém intacta a obra de São Josemaría. O autor teve o bom senso de manter a língua original dos pontos em espanhol e o que proporciona são numerosas notas de rodapé que ocupam mais de metade do volume, explicando vocabulário, ditos, metáforas, referências históricas e conceitos teológicos. É, de certa forma, uma ponte entre a língua e a mentalidade de 1939 e o leitor de 2025.

Notícias do Camino

Com mais de cinco milhões de exemplares vendidos, traduzido em dezenas de línguas e com mais de quinhentas edições em circulação, Caminho é, sem dúvida, o livro mais conhecido de São Josemaría Escrivá, fundador do Opus Dei. Publicado pela primeira vez em 1939, converteu-se num clássico da espiritualidade cristã contemporânea e no quarto livro em espanhol mais traduzido da história. A sua influência continua viva: nesse mesmo ano, a aplicação católica Hallow, muito popular nos Estados Unidos, recomendou-o para a Quaresma, e durante várias semanas esteve entre os livros religiosos mais vendidos no país. Um sinal claro de que a obra continua a ser espiritualmente relevante.

É neste contexto que o 100º número da CaminoNão se trata apenas de um marco numérico, mas de um compromisso editorial para atualizar a compreensão de um texto com quase um século. A novidade é o facto de se tratar de uma edição anotada pelo filólogo Fidel Sebastián Mediavilla, especialista em literatura do Século de Ouro espanhol.

Camino

AutorSão Josemaría Escrivá de Balaguer
Editorial: Rialp
Ano: 2025
Número de páginas: 506
Evangelização

Beatos mártires de Paris na Revolução Francesa

A liturgia da Igreja acolhe no dia 2 de setembro muitos beatos mártires martirizados em Paris durante os massacres de 1792. Foram 191 beatos, 96 encerrados no convento das Carmelitas de Paris, e outros grupos. O motivo da sua morte foi a sua recusa em jurar a "Constituição Civil do clero", considerando-a contrária à fé. Um texto que tinha sido condenado pelo Papa Pio VI em 1790. 

Francisco Otamendi-2 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Neste dia, a Igreja homenageia os beatos, muitos deles sacerdotes, vítimas na capital francesa do governo revolucionário, que queria impor a Constituição Civil do Clero. Tratava-se de uma lei de 1790, em plena Revolução Francesa, que pretendia apresentar a Igreja Católica em França à autoridade do Estado, e transformar o clero em funcionários públicos. O seu objetivo era substituir a autoridade do Papa pela do Estado. 

A lei exigia que o clero jurasse fidelidade à nação e à lei, e havia padres "juramentados". Mas muitos clérigos foram perseguidos e/ou executados por não terem jurado. O Papa Pio VI tinha condenado a lei, o que levou a um sério conflito diplomático entre a Santa Sé e a França. 

Hoje comemoramos 191 mártires franceses que se opuseram a esta lei. 96 foram presos e executados no convento das Carmelitas, em Paris, a 2 de setembro de 1792. Houve mártires do clero secular, da família franciscana e de outras instituições religiosas. 

Beatificado em 1905 e 1926

O Beato Pedro Tiago Maria Vitalis e 20 companheiros mártires - um diácono e os outros sacerdotes seculares - foram executados no mesmo dia. A execução teve lugar na abadia de Saint Germain des Prés, em Paris. Papa Pio XI beatificado a 17 de outubro de 1926, juntamente com outros mártires da Revolução Francesa

O Mártires de Compiègne são comemorados a 17 de julho. São 16 as freiras carmelitas descalças executadas em Paris nessa data, em 1794, durante a própria Revolução. São Pio X beatificou-as em 1905 e o Papa Francisco canonizou-as em 2024.

A liturgia também se congratula hojeEntre outros, São Zeno, mártir de Nicomédia (atual Turquia), Santo Antolino de Amiens, padroeiro de Palência, e o Beato Brocardo, do Carmelo. Também a sueca Beata Ingrid Elofsdotter, que no fim da sua vida foi professa dominicana em Skänninge (Suécia).

O autorFrancisco Otamendi

Os ensinamentos do Papa

Deixar que Jesus o cure

No âmbito do ciclo de catequeses para o Jubileu de 2025, Leão XIV completou o itinerário da vida pública de Jesus (encontros, parábolas e curas), dedicando quatro quartas-feiras às curas: Bartimeu; o paralítico da piscina; a hemorragia e a filha de Jairo; e o surdo-mudo.

Ramiro Pellitero-2 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 7 acta

Porque é que temos de nos deixar curar e contribuir para a cura dos outros? Porque somos vulneráveis. Só aqueles que não têm experiência ou conhecimento de si próprios e dos outros podem não ter consciência desta necessidade. As catequeses do Papa Leão XIV deste verão centraram-se em alguns milagres de diferentes curas de Jesus no Evangelho.

Bartimeu: levanta-se diante de Jesus que passa e bate à porta

A caminho de Jerusalém, Jesus encontra Bartimeu, um cego e mendigo (cfr. Audiência Geral, 11-VI-2025). O seu nome significa filho de Timeu, mas também filho de honra ou de admiração, o que sugere que "...".Bartimeu - devido à sua situação dramática, à sua solidão e à sua atitude imóvel, como observa Santo Agostinho - não consegue viver o que é chamado a ser.".

Sentado à beira da estrada, Bartimeu precisa que alguém o pegue e o ajude a sair da situação em que se encontrava e a continuar a andar. E ele faz o que sabe fazer: pede e grita. É uma lição para nós. "Se queres mesmo alguma coisa -O Papa propõe, Faça tudo o que puder para o conseguir, mesmo quando os outros o repreendem, o humilham e lhe dizem para parar. Se queres mesmo, continua a gritar!!"

De facto, o grito de Bartimeu, "Filho de David, Jesus, tem piedade de mim!" (Mc 10,47) - tornou-se uma oração bem conhecida na tradição oriental, que também nós podemos utilizar: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador"..

Bartimeu é cego, mas, paradoxalmente, vê melhor do que os outros e reconhece quem é Jesus. Perante o seu grito, Jesus pára e chama-o: "...".porque -observa o sucessor de Peter. não há grito que Deus não ouça, mesmo quando não temos consciência de nos dirigirmos a Ele.".

Atirando fora o manto

É interessante notar que Jesus não se aproxima imediatamente dele, mas, para reanimar a vida de Bartimeu, "... diz-lhe: "Não sou um homem, sou um homem, sou um homem.empurra-o para se levantar, confia na sua possibilidade de andar. Este homem pode levantar-se, pode erguer-se dos mortos.". Ele é capaz de o fazer, mas primeiro tem de se despir do manto..  

Isto significa, sublinha o Papa, que Bartimeu deve deixar a sua segurança, a sua casa, a sua veste defensiva (que até a lei reconhecia, cf. Ex 22,25), e apresentar-se diante de Jesus em toda a sua vulnerabilidade".Muitas vezes, o que nos bloqueia são precisamente as nossas seguranças aparentes, aquilo que colocámos para nos defendermos e que, pelo contrário, nos impede de caminhar".. 

É digno de nota o facto de Jesus lhe perguntar o que poderia parecer óbvio: "O que é que queres que eu faça por ti?". Porque, por vezes, não queremos ser curados das nossas doenças: preferimos ficar calados para não nos responsabilizarmos.

"Bartimeu não quer apenas voltar a ver, quer também recuperar a sua dignidade! Para olhar para cima, é preciso levantar a cabeça. Por vezes, as pessoas ficam bloqueadas porque a vida as humilhou e só querem recuperar a sua dignidade.".

Em todo o caso, "O que salva Bartimeu, e cada um de nós, é a fé.". Ao curar Bartimeu, Jesus devolve-lhe a liberdade de movimentos, sem lhe pedir que o siga. Mas Bartimeu escolhe livremente seguir Jesus, que é o Caminho.

O homem paralisado na piscina: protagonista da vida real 

Noutra ocasião, Jesus encontra, junto à porta do templo, um homem que estava paralisado há muito tempo (trinta e oito anos), à espera de ser curado pelas águas de uma piscina chamada "piscina de água". Betzatá ("casa da misericórdia"), considerada taumatúrgica (cf. Audiência Geral, 18-VI-2025).

O Papa Leão observa que esta piscina "poderia ser uma imagem da Igreja, onde se reúnem os doentes e os pobres e onde o Senhor vem para curar e dar esperança.".

O homem já está resignado, porque não consegue mergulhar na piscina quando a água está agitada (cf. v. 7) e outros vão à sua frente e ficam curados. "De facto, o que muitas vezes nos paralisa é a desilusão. Sentimo-nos desanimados e corremos o risco de nos desleixarmos.".

A nossa vida está nas nossas mãos

Jesus dirige-se também a este paralítico com uma pergunta que pode parecer superficial: "Queres ser curado?". Uma pergunta necessária porque pode faltar a vontade de ser curado. Isto também se aplica a nós: "Por vezes, preferimos manter-nos doentes, obrigando os outros a cuidar de nós. Por vezes, é também um pretexto para não decidirmos o que fazer com as nossas vidas.". 

Jesus ajuda-o a descobrir que a sua vida também está nas suas mãos. Convida-o a levantar-se, a sair da sua situação crónica e a pegar na sua maca. Essa maca representa a sua doença passada, a sua história, que o levou a jazer como um morto. "Agora -O Papa Leão observa Podes carregar essa maca e levá-la para onde quiseres: podes decidir o que fazer com a tua história! É tudo uma questão de caminhar, de assumir a responsabilidade de escolher o caminho a seguir.". E isto graças a Jesus!

A mulher hemorrágica e a filha de Jairo: substituir o medo pela fé

Ao introduzir a sua catequese sobre a hemorragia e a filha de Jairo, Leão XIV salientou que em Cristo ".há uma força que também nós podemos experimentar quando entramos em relação com a Sua Pessoa"(Público em geral, 25-VI-2025). 

Começou por referir o cansaço de viver que nos pode ameaçar na nossa realidade complexa, e que nos pode levar a ficar fechados, entorpecidos e até bloqueados pelo julgamento daqueles que procuram rotular os outros.

Algo semelhante aparece na passagem evangélica em que se entrelaçam as histórias da filha de Jairo (uma rapariga de doze anos prestes a morrer) e de uma mulher com perdas de sangue que procura Jesus para ser curada (cf. Mc 5,21-43).

O Papa olha para "o pai da rapariga: não fica em casa a chorar a doença da filha, mas sai e pede ajuda.". Apesar de ser o chefe da sinagoga, não se impõe, não perde a paciência e espera; e quando lhe vêm dizer que a sua filha morreu e que é inútil incomodar o Mestre, continua a ter fé e continua a esperar.

A sua conversa com Jesus é interrompida pela mulher que sofria de um fluxo de sangue e que consegue aproximar-se de Jesus e tocar no seu manto (v. 27). "Com grande coragemconsidera Leão XIV- Esta mulher tomou uma decisão que mudou a sua vida: toda a gente lhe dizia para se afastar, para não dar nas vistas. Tinha sido condenada a ficar escondida e isolada.". Isto pode acontecer-nos: "Por vezes, também nós podemos ser vítimas do julgamento dos outros., que tentam colocar-nos num vestido que não é nosso. E depois enganamo-nos e não conseguimos sair dele.".

Decidir procurar Jesus

Mas aquela mulher teve a força de procurar Jesus, pelo menos para tocar nas suas vestes. Embora houvesse uma multidão de pessoas à volta do Mestre, só ela ficou curada, por causa da sua fé, como observa Santo Agostinho: "A multidão aperta, a fé toca"..

O mesmo acontece com a nossa fé, afirma o Papa: "Cada vez que fazemos um ato de fé dirigido a Jesus, estabelece-se um contacto com Ele e imediatamente a Sua graça flui d'Ele. Por vezes não nos apercebemos, mas de uma forma secreta e real a graça chega até nós e transforma lentamente a nossa vida a partir do interior.".

Quando o pai da rapariga recebe a notícia de que ela morreu, Jesus diz-lhe "Não tenhas medo, acredita!". Ao chegar a casa, no meio de pessoas que choram e gritam, Jesus afirma: "A criança não está morta, mas a dormir". (v. 39). Entra onde está a rapariga, pega-lhe na mão e diz-lhe Talitá kum, "Rapariga, levanta-te!". A rapariga levanta-se e começa a andar.

Perante este grande milagre, Leão XIV sublinha: "Este gesto de Jesus mostra-nos que ele não só cura todas as doenças, mas também desperta da morte. Para Deus, que é a vida eterna, a morte do corpo é como um sonho. A verdadeira morte é a da alma: é dela que devemos ter medo!!".

Por fim, o Papa observa que Jesus diz aos pais da rapariga que lhe dêem de comer: "... Jesus disse aos pais da rapariga: "... Jesus é o único que a pode alimentar.um sinal concreto da proximidade de Jesus à nossa humanidade". É por isso que também nós devemos alimentar espiritualmente tantos jovens que estão em crise. Mas, para isso, é necessário que nos alimentemos do Evangelho..

A cura do surdo-mudo: deixar-se "abrir" por Jesus e comunicar com os outros

O Papa introduz um quarto sermão (cf. Audiência Geral 30-VII-2025) sobre as curas de Jesus, olhando para o nosso mundo, permeado por um clima de violência e de ódio que se opõe à dignidade humana. A "bulimia" da hiperconexão e o bombardeamento de imagens, por vezes falsas ou distorcidas, sobrecarregam-nos e podem submeter-nos a uma tempestade de emoções contraditórias.

Neste cenário, podemos ter o desejo de desligar todos os contactos e de nos fecharmos em silêncio: "...".a tentação de nos fecharmos no silêncio, numa falta de comunicação em que, por muito próximos que estejamos, já não somos capazes de dizer as coisas mais simples e mais profundas uns aos outros."

O Evangelho de Marcos apresenta um homem que não fala nioye (cf. Mc 7, 31-37). E Leão XIV volta a dirigir-se a nós: "Exatamente como nos pode acontecer hoje, este homem pode ter decidido parar de falar porque não se sentia compreendido e desligar a voz porque se sentia desiludido e magoado com o que tinha ouvido.".

Continua o Papa: "De facto, não é ele que vem a Jesus para ser curado, mas é levado a ele por outras pessoas.Poder-se-ia pensar que aqueles que o conduzem ao Mestre são os que se preocupam com o seu isolamento.". E acrescenta que a comunidade cristã também se revê nestas pessoas".a imagem da Igreja, que acompanha cada ser humano até Jesus para que possa escutar a sua palavra". Observa ainda que o episódio se passa em território pagão, o que sugere um contexto em que outras vozes tendem a encobrir a voz de Deus.

Como noutras ocasiões, o comportamento de Jesus pode parecer estranho à primeira vista, uma vez que leva esta pessoa consigo e a afasta, parecendo assim acentuar o seu isolamento. "Mas, -O Papa observa Se o observarmos mais de perto, este gesto ajuda-nos a compreender o que está por detrás do silêncio e do fechamento deste homem, como se ele (Jesus) tivesse compreendido a sua necessidade de intimidade e de proximidade.".

Chegar às pessoas isoladas

O professor oferece-lhe, antes de mais, uma proximidade silenciosa, através de gestos que falam de um encontro profundo: toca-lhe nos ouvidos e na língua; não usa muitas palavras, diz-lhe apenas: "...".Abre!" (em aramaico, efatà).

Leão XIV observa: "É como se Jesus te dissesse: "Abre-te a este mundo que te assusta! Abre-te às relações que te desiludiram! Abre-te à vida que desististe de enfrentar!Porque fecharmo-nos em nós próprios nunca é a solução.

Um último pormenor: depois do encontro com Jesus, essa pessoa não só volta a falar, como o faz "normalmente". Isto pode sugerir, diz o Papa, algo sobre as razões do seu silêncio: talvez se tenha sentido inadequado, incompreendido ou não compreendido. 

Nós também:"Todos nós passamos pela experiência de sermos mal compreendidos e incompreendidos. Todos nós precisamos de pedir ao Senhor que cure a forma como comunicamos, não só para sermos mais eficazes, mas também para evitar magoar os outros com as nossas palavras.".

Além disso, Jesus proíbe-o de contar o que lhe aconteceu, como se quisesse indicar que, para dar testemunho dele, deve ainda seguir um certo caminho."Para conhecer verdadeiramente Jesus é preciso percorrer um caminho, é preciso estar com ele e passar também pela sua paixão. Quando o tivermos visto humilhado e sofrido, quando experimentarmos o poder salvador da sua Cruz, então poderemos dizer que o conhecemos verdadeiramente. Não há atalhos para se tornar um discípulo de Jesus.".

Cinema

O simbolismo bíblico em "O Senhor dos Anéis" de Tolkien.

A profunda fé católica de J.R.R. Tolkien é inseparável do enredo de O Senhor dos Anéis. Embora Tolkien não tivesse a intenção explícita de criar uma história religiosa, a sua profunda educação católica e o seu conhecimento das Escrituras fluíram naturalmente para a sua narrativa.

Bryan Lawrence Gonsalves-2 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 5 acta

Nos últimos anos, assistimos a um interesse renovado pela obra "O Senhor dos Anéis" de Tolkiencom lançamentos recentes, incluindo a série prequela da Amazon "Os Anéis do Poder", o filme de ação e anime "Guerra dos Rohirrim" e o jogo de vídeo "Regresso a Moria", bem como vários projectos em preparação.

À medida que as histórias da Terra Média continuam a atingir novas audiências, os leitores e espectadores são inevitavelmente atraídos pelos profundos temas religiosos tecidos na obra de Tolkien, uma influência que deriva da sua educação profundamente católica.

O próprio Tolkien, no entanto, foi claro quanto às suas intenções. Embora sua fé inevitavelmente moldasse sua imaginação, ele resistia à idéia de suas histórias serem vistas como alegorias diretas. "Não gosto cordialmente de alegorias em todas as suas manifestações, e sempre o fiz desde que me tornei velho e cauteloso o suficiente para detetar a sua presença", escreveu uma vez.

Em vez disso, Tolkien preferia a ideia de "aplicabilidade", acreditando que os leitores deveriam encontrar os seus próprios significados nas suas histórias em vez de serem guiados pela mão do autor. Para ele, a verdadeira narração de histórias oferecia liberdade, não instrução.

Apesar desta ressalva, muitos assinalaram a presença inegável de simbolismo bíblico em "O Senhor dos Anéis" de Tolkien, especialmente nas personagens de Frodo, Gandalf e Aragorn.

Frodo: O portador de um fardo semelhante ao de Cristo

Talvez o paralelo cristão mais óbvio seja entre Frodo e Cristo. Apesar de Cristo não ter pecado, tomou sobre si os pecados do mundo, acabando por se sacrificar pela humanidade. Da mesma forma, Frodo, inocente, aceita o fardo do Um Anel e caminha para a sua destruição na Montanha da Perdição. O peso crescente do Anel reflecte a luta de Cristo com a cruz, um fardo que se torna mais pesado à medida que se aproxima do Calvário.

As imagens de Tolkien são impressionantes: Sam descobre o peso esmagador do Anel depois de o ter carregado por breves instantes, com a cabeça baixa "como se uma grande pedra lhe tivesse sido espetada" ("The Two Towers", p. 434). Da mesma forma, Cristo cai sob o peso da cruz, precisando da ajuda de Simão de Cirene (Lucas 23:26). Num subtil eco linguístico, Frodo é também ajudado por Sam, cujo nome é notavelmente semelhante a "Simão".

A tentação liga ainda mais a viagem de Frodo à de Cristo. Tal como Cristo foi tentado por Satanás no deserto (Mateus 4:1-11), Frodo enfrenta a sedução do Anel em múltiplas ocasiões. No início de A Sociedade do Anel (p. 112), Frodo é dominado pelo súbito desejo de colocar o Anel quando um Cavaleiro Negro se aproxima.

Mais tarde, no Topo do Tempo, cede à tentação e usa-a, quase se revelando aos seus inimigos (The Fellowship of the Ring, p. 262). Embora Cristo resista à tentação, ambas as figuras enfrentam intensas batalhas interiores em que ceder significaria um fracasso catastrófico.

Finalmente, Frodo, tal como Cristo, fica permanentemente marcado pela sua experiência. Mesmo após a destruição do Anel, Frodo continua a sofrer com as suas feridas. Em aniversários como o 6 de outubro, data em que foi apunhalado por uma lâmina de Morgul, Frodo está visivelmente doente e confessa: "Estou ferido; nunca sarará verdadeiramente" (O Regresso do Rei, p. 377-78). Do mesmo modo, Cristo conserva as marcas da crucificação, como se vê quando mostra as suas feridas a Tomé (João 20,24-29).

Gandalf: Morte, Ressurreição e o Cavaleiro Branco

Gandalf é uma segunda figura de Cristo. Depois de lutar contra o Balrog em Moria e cair para a sua morte aparente, Gandalf ressuscita e regressa à Terra Média transformado de Gandalf, o Cinzento, em Gandalf, o Branco. Esta transformação vale-lhe o título de Cavaleiro Branco, uma possível alusão ao Apocalipse 19:11: "Vi os céus abertos e diante de mim um cavalo branco, cujo cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro".

Tolkien capta a dramática chegada de Gandalf a Helm's Deep: "De repente, por cima de um cume apareceu um cavaleiro, vestido de branco, brilhando ao sol nascente... Eis o Cavaleiro Branco", gritou Aragorn. Gandalf regressou. ("As Duas Torres", p. 186).

O paralelo mais marcante entre Gandalf e Cristo é a sua experiência comum de morte e ressurreição. Após a sua ressurreição, em João 20:17, Cristo diz a Maria Madalena: "Não me detenhas, porque ainda não voltei para o meu Pai", aludindo ao seu regresso iminente ao Céu. Do mesmo modo, Gandalf, após a sua luta mortal com o Balrog, diz à Irmandade: "Nu, fui enviado de volta por um curto período de tempo, até que a minha tarefa esteja concluída" ("The Two Towers", p. 135). Isto sugere que Gandalf também passa para outro reino, talvez celestial, antes de regressar à Terra Média transformado em Gandalf, o Branco.

Para além disso, a morte de ambas as figuras é profundamente simbólica. A crucificação de Cristo derrota Satanás e redime a humanidade do pecado. Ao mesmo tempo, o sacrifício de Gandalf derrota o Balrog, a personificação do mal antigo, e liberta os seus companheiros da escuridão opressiva de Moria. Em ambas as histórias, a morte não se torna um fim, mas um ato triunfante de libertação.

Aragorn: O rei oculto e o curandeiro

Aragorn, o legítimo herdeiro do trono de Gondor, surge como outra figura semelhante a Cristo. Embora destinado a governar, Aragorn deve primeiro esperar e provar a si próprio antes de reclamar o seu reino. Tolkien dá a entender a verdadeira identidade de Aragorn ao longo da história, embora a maioria das personagens não tenha consciência da sua importância, um reflexo de como a realeza divina de Cristo estava escondida e orientada para o futuro durante o seu tempo na Terra.

Este tema da grandeza oculta reflecte o ceticismo que Cristo enfrentou. Em João 1:46, ao ouvir falar de Jesus, Natanael pergunta: "Nazaré, pode vir daí alguma coisa boa? Do mesmo modo, Aragorn, apresentado aos leitores e às personagens como o endurecido selvagem "Trancos", é recebido com desconfiança. Quando Frodo decide confiar nele, o estalajadeiro de Bree, Barliman Butterbur, avisa-o: "Bem, podes saber o que fazes, mas se eu estivesse no teu lugar, não me metia com um selvagem" ("A Sociedade do Anel", p. 229).

O papel de Aragorn como curandeiro reforça ainda mais o seu paralelismo com Cristo. Conhecido pela sua capacidade de curar feridas graves, Aragorn cumpre uma antiga profecia de Gondor: "As mãos do rei são as mãos de um curandeiro, e assim será conhecido o rei legítimo" ("O Regresso do Rei", p. 169). Ao longo da saga, Aragorn cura Merry após o ataque dos Cavaleiros Negros, cuida de Frodo após o seu ferimento com a espada de Morgul, ajuda os seus companheiros após as batalhas e, mais tarde, reanima Sam e Frodo após a provação dos Campos de Pelennor. O ministério de Cristo foi igualmente marcado por curas milagrosas e até pela ressurreição de mortos, entrelaçando a realeza com a compaixão.

Ao tecer estes traços na personagem de Aragorn, Tolkien cria um retrato de um rei oculto cuja autoridade se baseia não só no poder, mas também no serviço e na restauração, uma imagem distintamente cristã inserida profundamente no quadro mítico da epopeia.

A fé de Tolkien no coração da Terra Média

A profunda fé católica de J.R.R. Tolkien é inseparável do enredo de O Senhor dos Anéis. Numa carta ao seu amigo Padre Robert Murray, o próprio Tolkien reconheceu esta influência, escrevendo: "O Senhor dos Anéis é, evidentemente, uma obra fundamentalmente religiosa e católica; inconscientemente no início, mas conscientemente na revisão. É por isso que não incluí, ou suprimi, praticamente todas as referências a qualquer coisa como "religião", cultos ou práticas, no mundo imaginário. Porque o elemento religioso é absorvido pela história e pelo simbolismo".

Embora Tolkien não tivesse a intenção explícita de criar um conto religioso, sua profunda educação católica e seu conhecimento das Escrituras fluíram naturalmente em sua narrativa. O resultado é um épico ricamente simbólico em que os temas bíblicos do sacrifício, ressurreição, realeza e redenção ressoam, tecidos subtil mas poderosamente no mundo mítico da Terra Média.

O autorBryan Lawrence Gonsalves

Fundador de "Catholicism Coffee".

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Evangelização

Os santos Josué e Egídio e os mártires da perseguição religiosa do século XX

No dia 1 de setembro, a liturgia celebra a festa de São Josué, sucessor de Moisés na condução do povo de Israel à Terra Prometida. O calendário dos santos celebra também o abade Santo Egídio (ou São Giles) e, entre outros, os beatos mártires da perseguição religiosa do século XX.

Francisco Otamendi-1 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

O Martirologia romana no dia 1 de setembro, a "Comemoração de S. Josué, filho de Nun, servo do Senhor, que, tendo recebido a imposição das mãos de Moisés, ficou cheio do espírito de sabedoria e, à morte de Moisés, conduziu o povo de Israel, atravessando o Jordão, de forma admirável à terra da promessa (Js 1,1)".

Josué foi uma das personagens mais ilustres do Antigo Testamento. O seu nome de nascimento, segundo o livro dos Números, era Oséias, mas foi mudado pelo seu antecessor Moisés. 

Viveu por volta do século XII a.C. Colaborou com Moisés e, na sua morte, conduziu o povo de Israel. São-lhe atribuídos feitos milagrosos: as muralhas de Jericó O sol parou até que Israel saísse vitorioso. Josué acreditava firmemente que só a fidelidade à aliança lhes garantia a proteção de Deus. É venerado pelo judaísmo, pelo cristianismo e pelo islamismo.

Santo Egídio e os mártires do século XX

San Gil, ou Santo Egídiogozava de um culto de seguidores em grande parte da Europa. Fundou uma abadia na região de Nîmes (França), da qual foi abade e onde morreu no século VI/7. Aí nasceu a cidade de Saint-Gilles. São igualmente celebrados neste dia os bispos franceses São Vicente de Dax e São Victorius de Le Mans.

A Igreja também fixou este dia para comemorar mártires da perseguição religiosa do século XX em Espanha. Entre eles, o Beato José Samso i Elías, sacerdote, que perdoou de coração os que o fuzilaram, como todos eles, ou Ángel Amado Fierro, Buenaventura Pío Ruiz de la Torre e Claudio José Mateo, Irmãos das Escolas Cristãs (La Salle). 

O pároco valenciano Alfonso Sebastiá Viñals, Benito Clemente España Ortiz, de Burgos, Cristino (Miguel) Roca Huguet e onze companheiros mártires, religiosos da Ordem Hospitaleira de São João de Deus. E Hugo Bernabé e Leóncio Joaquín, mártires, irmãos das Escolas Cristãs, ou José Prats e Tomás Cubells, trabalhadores diocesanos, são outros beatos do dia.

O autorFrancisco Otamendi

Vaticano

Papa denuncia "pandemia" de violência armada

Na oração do Angelus, o Papa Leão XIV denunciou a "pandemia" de violência armada no mundo e apelou a que se calasse a voz das armas na guerra da Ucrânia, pedindo um cessar-fogo imediato. Rezou pelas vítimas do Minnesota e pelos migrantes mortos na Mauritânia, e pelo cuidado da Criação, cujo dia é esta segunda-feira.

CNS / Omnes-1 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

- Cindy Wooden, Cidade do Vaticano, Catholic News Service (CNS)

O Papa Leão XIV, ao rezar publicamente pelas vítimas do tiroteio na escola de Minneapolis, rezou também pelo fim da "pandemia" da violência armada.

Depois de recitar a oração do Àngelus No dia 31 de agosto, o Papa Leão passou do italiano para o inglês enquanto rezava pela comunidade da Escola Católica da Anunciação em Minneapolis, onde duas crianças foram mortas durante a missa de 27 de agosto e outras 18 ficaram feridas.

Recordando "as vítimas do trágico tiroteio durante uma missa numa escola no estado americano do Minnesota", o Papa disse: "Incluímos nas nossas orações as inúmeras crianças mortas e feridas todos os dias em todo o mundo.

Pelo fim da guerra da Rússia contra a Ucrânia

"Pedimos a Deus que acabe com a pandemia de armas, grandes e pequenas, que infecta o nosso mundo", disse ele. "Que a nossa Mãe, Maria, Rainha da Paz, nos ajude a cumprir a profecia de Isaías: 'Transformarão as suas espadas em relhas de arado e as suas lanças em foices'".

O Papa Leão também apelou novamente para o fim da guerra A Rússia contra a Ucrânia, condenando novos ataques a várias cidades ucranianas, incluindo Kiev.

"Infelizmente, a guerra na Ucrânia continua a semear morte e destruição", disse o Papa a milhares de pessoas reunidas para a oração do meio-dia.

"Renovo a minha proximidade ao povo ucraniano e a todas as famílias feridas", disse, e apelou a todos "para não cederem à indiferença, mas para estenderem a mão (ao povo ucraniano) através da oração e de actos concretos de caridade".

Cessar-fogo e empenhamento no diálogo

"Reitero veementemente o meu apelo urgente a um cessar-fogo imediato e a um empenhamento sério no diálogo", afirmou. "É tempo de os dirigentes abandonarem a lógica das armas e enveredarem pelo caminho da negociação e da paz, com o apoio da comunidade internacional. A voz das armas deve ser silenciada, enquanto a voz da fraternidade e da justiça deve ser levantada."

Tragédia do afogamento de migrantes africanos

O Papa Leão também rezou pelos migrantes africanos que se afogaram no dia 26 de agosto, quando o seu barco se virou ao largo da costa da Mauritânia, enquanto tentavam chegar às Ilhas Canárias, em Espanha.

"Os nossos corações estão também feridos pelas mais de 50 pessoas que morreram e pelas cerca de 100 que continuam desaparecidas no naufrágio de um barco" ao largo da Mauritânia. O barco "transportava migrantes que tentavam percorrer os 1100 quilómetros (cerca de 680 milhas) até às Ilhas Canárias e naufragou ao largo da costa atlântica da Mauritânia", disse o Papa.

"Esta tragédia mortal repete-se todos os dias em todo o mundo", disse o Papa Leão. Rezemos para que o Senhor nos ensine, como indivíduos e como sociedade, a pôr plenamente em prática a sua palavra: "Eu era estrangeiro e tu me acolheste".

Falando em inglês e italiano, o Papa recomendou a todos os "feridos, desaparecidos e mortos em toda a parte o abraço amoroso do nosso Salvador".

Oração pelo cuidado da criação 

1 de setembro é o Dia Mundial de Oração pelos Direitos Humanos. Cuidados com a Criaçãorecordou o Papa Leão. Há dez anos, o Papa Francisco, em sintonia com o Patriarca Ecuménico Bartolomeu I, instituiu este dia para a Igreja Católica.

Esta celebração "é mais do que nunca importante e urgente, e este ano o seu tema é 'Sementes de paz e esperança'. Unidos a todos os cristãos, celebramo-la e prolongamo-la no "Tempo da Criação" até 4 de outubro, festa de S. Francisco de Assis. No espírito do Cântico do Irmão Sol, composto por ele há 800 anos, louvamos a Deus e renovamos o nosso compromisso de não estragar o seu dom, mas de cuidar da nossa casa comum".

Que a Igreja seja uma "oficina de humildade".

No seu discurso antes da oração do Angelus, o Papa Leão XIV encorajou-nos a aprender a servir como Cristo e a olhar para além de nós próprios. Olhando pela janela do Palácio Apostólico, o Pontífice reflectiu sobre o Evangelho do dia, tirado do evangelista Lucas. Jesus está a almoçar em casa de um dos chefes dos fariseus e observa "que há uma corrida pelo primeiro lugar". E "através de uma parábola, descreve o que vê e convida a pensar aqueles que o observam". 

O Santo Padre dirigiu-se à Igreja em particular: "Rezemos hoje para que a Igreja seja para todos. um workshop sobre humildadeOu seja, aquela casa onde se é sempre bem-vindo, onde os lugares não são conquistados, onde Jesus pode ainda levar a Palavra e educar-nos na sua humildade e liberdade".

Dignidade de quem se sente filho ou filha de Deus

"Aqueles que se exaltam, em geral, parecem não ter encontrado nada mais interessante do que eles próprios e, no fundo, têm pouca auto-confiança", continuou o Santo Padre.

"Mas aqueles que compreenderam que são muito valiosos aos olhos de Deus, que se sentem profundamente filhos ou filhas de Deus, têm mais coisas de que se orgulhar e possuem uma dignidade que brilha por si mesma. Esta é colocada em primeiro plano, ocupa o primeiro lugar sem esforço e sem estratégias, quando em vez de servirmos as situações, aprendemos a servir", sublinhou.

O autorCNS / Omnes

O decálogo do Whatsapp

As novas formas de comunicar implicam novos pecados, novas formas de ser pouco caridoso, e é por isso que decidi escrever alguns mandamentos do Whatsapp.

1 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 4 acta

Uma notificação toca e, do outro lado do Whatsapp, um breve "Olá" indica o início de uma conversa de conteúdo ainda desconhecido. Passam segundos, até minutos, e o interlocutor parece não se sentir encorajado a continuar. Não se sabe o que fazer entretanto, porque, se estivermos naquele momento a bater croquetes e tivermos lavado as mãos para não sujar o telefone, a atitude educada a tomar, por deferência para com a pessoa que iniciou a conversa, é esperar que ela acabe de se dirigir a nós para responder o mais rapidamente possível. Finalmente, depois de vários alertas de "digitação" da aplicação, e quando se estava prestes a colocar impacientemente as mãos de volta nas migalhas de pão, finalmente, a seguinte mensagem: "Como estás? 

Não preciso de contar até ao fim para que todos nos reconheçamos numa história semelhante em que fomos obrigados a perder o nosso tempo de uma forma injustificada e enlouquecedora. Talvez o problema seja meu por querer responder a tudo no mais curto espaço de tempo possível. A verdade é que admiro aqueles que são capazes de demorar horas ou mesmo dias a responder a uma mensagem de Whatsapp e fazem-no ao fim de algum tempo sem pestanejar, como se tivéssemos acabado de lha enviar. Devem ter muita paciência! (ops, desculpa, disse isto em voz alta).

Admito que a mesma pressa que me leva a falar e a responder rapidamente para não desperdiçar o tempo das pessoas me leva, por vezes, ao extremo oposto, a saltar as regras mais elementares da civilidade. Mais de uma vez, um amigo praticou comigo a correção fraterna, respondendo com um elegante e discreto "Bom dia" inicial à mensagem fria e sem saudação que lhe enviei logo pela manhã. 

Como podemos ver, as novas formas de comunicar implicam novos pecados, novas formas de falhar na caridade, por isso decidi escrever alguns mandamentos do Whatsapp que também podem ser úteis para si, talvez completando-os com as suas próprias intenções: 

1. tratar o outro como uma pessoa. O nosso interlocutor não é um robot, é um filho ou filha de Deus com dignidade. Compreendendo o contexto informal da aplicação pelas suas próprias idiossincrasias, respeitemos as formas, as maneiras. Sejamos corteses e amáveis, façamos com que o outro se sinta à vontade na conversa, pratiquemos a misericórdia.

2) Respeitar o tempo de cada um. Inclua o vocativo ou a saudação na mesma mensagem e evite os vapores curtos e espaçados. Utilizar as mensagens de voz com moderação. Não colocar a nossa preguiça de escrever sobre os ombros dos outros. Em grupos grandes, não usemos demasiado o chat nem o monopolizemos. 

3. não há invasão da privacidade. Não incluir ninguém que não tenha pedido para ser incluído em grupos ou listas de correio eletrónico sem justificação. Para partilhar algo que nos chama a atenção, utilizemos os estados ou abramos uma conta numa rede social. Desta forma, só quem tiver tempo e vontade o verá, sem incomodar quem não estiver interessado no momento.  

4. Conversarás com a verdade. As correntes de Whatsapp chegam-nos através de alguém que conhecemos, mas a sua origem é geralmente obscura e procuram manipular a opinião pública apelando às nossas emoções e não à nossa razão. Não transmita notícias que não sejam apoiadas por meios de comunicação sérios. Pode-se pecar contra o oitavo mandamento sem ter mentido, mas apenas divulgando uma mentira. Fofocas e boatos, fora.

5. Mostrarás o teu rosto. A menos que tenhamos um problema que exija privacidade, a nossa fotografia de perfil deve corresponder à nossa identidade. A que tirámos no casamento de 97 ou a dos nossos netos são para mostrar, é certo, mas não nos representam e fazem com que seja difícil para quem fala connosco reconhecer-nos entre os seus contactos.

6. Promover a comunhão. Nós, cristãos, somos chamados a ser, como na oração de São Francisco, "instrumentos da vossa paz". Quando confrontados com os mal-entendidos típicos da linguagem escrita ou com uma discussão acesa num grupo, cabe-nos a nós servir de ponte para a compreensão. No atual clima de tensão social, os apelos à comunhão são um Evangelho vivo.

7. Aguardar pacientemente a resposta do seu interlocutor.. Vivemos num mundo acelerado e o Whatsapp é um filho desta circunstância. Quando demoram muito tempo a responder, devemos pensar que a outra pessoa tem de descansar, estar com a família, tratar das suas obrigações ou simplesmente não lhe apetece estar online. Sejamos pacientes.

8. Terá uma pausa do seu telemóvel. É a versão em primeira pessoa do mandamento anterior. A desconexão digital é saudável para o corpo e para a alma. A virtude da temperança ajudar-nos-á a deixar espaço para o que é importante. É urgente deixar o telemóvel na gaveta para desfrutar da nossa família ou para dedicar mais tempo à oração ou a não fazer nada.

9. Praticar a solidariedade digital. O Whatsapp pode ser um excelente instrumento de caridade. Usá-lo para encorajar alguém que está a passar por um mau momento, para se interessar pelos doentes, para dizer olá de vez em quando a alguém que sabemos que está mais sozinho, para promover iniciativas de solidariedade ou para ouvir com carinho alguém que precisa de desabafar são novas obras de misericórdia digital.

10. Partilhar a fé. Se o Evangelho é a causa da nossa alegria, é lógico que queiramos transmiti-lo. Façamo-lo com sabedoria e prudência, sem proselitismo, sabendo que, mais do que com palavras, evangelizamos com a nossa maneira de ser e de agir. Façamo-lo com sabedoria e prudência, sem proselitismo, sabendo que, mais do que com palavras, evangelizamos com uma maneira de ser e de agir. É por isso que este último mandamento é o resumo de todos os outros: que o nosso Whatsapp seja sempre uma boa notícia!

O autorAntonio Moreno

Jornalista. Licenciado em Ciências da Comunicação e Bacharel em Ciências Religiosas. Trabalha na Delegação Diocesana dos Meios de Comunicação Social em Málaga. Os seus numerosos "fios" no Twitter sobre a fé e a vida diária são muito populares.

Uma palavra para todos. 60º aniversário da Palabra-Omnes

Há 60 anos, ele nasceu Palavrahoje OmnesA revista continua a acompanhar os seus leitores com reflexão, liberdade responsável e fidelidade ao Magistério da Igreja, ligando o passado e o presente no panorama sócio-religioso.

1 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Em setembro de 1965, o primeiro número da então revista Palavrados quais Omnes é herdeiro e continuador.

Já nessa altura, o primeiro editorial afirmava que esta publicação tinha como objetivo ".promover entre os seus leitores escolhas doutrinais e práticas verdadeiramente livres, ou seja, decisões pessoais responsáveis, que resultem dessa reflexão sobre a palavra de Deus e sobre os acontecimentos eclesiais". Um apelo à liberdade e à responsabilidade pessoal na tarefa da formação que, seis décadas mais tarde, continua a ser não só plenamente válido, mas absolutamente necessário no contexto social, cultural e religioso atual.

Nestes sessenta anos, através das páginas do Palavras-Omnes grandes figuras da filosofia e da teologia católica, como o Cardeal Wojtyla, futuro São João Paulo II, o Cardeal Joseph Ratzinger - depois Bento XVI -, São Josemaria Escrivá, Josef Pieper, Gustave Thibon e muitos outros que, ao longo do caminho, traçaram uma trajetória que não poderíamos agradecer mais.

Mais de meio século de vida em que os meios de comunicação, as línguas, as sensibilidades e até, no nosso caso, o cabeçalho, sofreram mudanças importantes. O que começou como uma revista para sacerdotes em espanhol é hoje um meio de comunicação global, lido em sete línguas em todo o mundo e cujo público leitor inclui homens e mulheres das mais variadas idades e situações pessoais. Hoje, mais do que nunca, a palavra chega a todos (Omnes) através da Internet, de uma forma direta e simples.

Os formulários mudaram, mas Omnes mantém a essência e o espírito que a fizeram nascer em 1965 e é, atualmente, um dos meios de comunicação de referência no atual panorama sócio-religioso. Caracteriza-se pela sua fidelidade ao Magistério da Igreja, pela sua unidade com a figura do Santo Padre e pela análise dos principais temas que preocupam e ocupam os católicos de hoje, sejam leigos, sacerdotes ou religiosos. Desde o seu nascimento, e sob a direção de Pedro Rodríguez, José Miguel Pero-Sanz, Alfonso Riobó e, atualmente, María José AtienzaOs meios de comunicação social não evitaram as questões mais espinhosas: a receção do Concílio Vaticano II, os dilemas morais e éticos ligados à conceção do ser humano ou à sua morte natural, certas decisões da hierarquia eclesiástica, etc., etc. 

Nos próximos meses, Omnes recuperará algumas das jóias que marcaram a nossa história: entrevistas, artigos, colaborações, que constituíram um marco na época e que são particularmente interessantes no contexto atual.

Finalmente, um meio de comunicação não existe sem os seus leitores, colaboradores e amigos. Alguns dos nossos leitores, colaboradores e amigos estão connosco desde o início e, por isso, é sempre justo reconhecer e agradecer-lhes o seu apoio e confiança nestes 60 anos, na esperança de que outros venham a pegar no seu testemunho nas décadas vindouras. Que sejam, para todos nós, os primeiros sessenta.

Evangelização

Entrevista com o Cardeal Wojtyla sobre o sacerdócio

Em outubro de 1972, a revista Palabra (n.º 86) publicou uma entrevista exclusiva de Joaquín Alonso Pacheco com o então cardeal Karol Wojtyła, arcebispo de Cracóvia. A conversa teve lugar por ocasião do primeiro aniversário do Terceiro Sínodo dos Bispos, dedicado ao sacerdócio ministerial, no qual o cardeal polaco tinha desempenhado um papel de destaque.

Joaquín Alonso Pacheco-1 de setembro de 2025-Tempo de leitura: 13 acta

No primeiro aniversário do Terceiro Sínodo dos Bispos, para a PALABRA trazemos às suas páginas as declarações do Cardeal Wojtyła, cujo desempenho notável no Sínodo, como representante do episcopado polaco, é bem conhecido.  

O Cardeal Arcebispo de Cracóvia, D. Karol Wojtyła, teve a amabilidade de responder a uma entrevista com o diretor de "CRIS", Joaquín Alonso Pacheco.  

O Cardeal, para além de se referir aos temas tratados no Sínodo, fala da situação da Igreja na Polónia, onde, apesar de várias dificuldades, os padres dão provas admiráveis da sua consciência sacerdotal.

-A Polónia é um dos países que registou o maior aumento de vocações sacerdotais nos últimos anos. Neste fenómeno, a imagem do sacerdote que os cidadãos polacos desejam para a sua Igreja desempenha, sem dúvida, um papel importante. Poderia explicar, Eminência, que expectativas tem a Igreja na Polónia a este respeito?

-Antes de mais, devo dizer que devemos ao último Sínodo dos Bispos, que intensificou e sistematizou a reflexão sobre o tema do sacerdócio ministerial, o facto de esta reflexão ter chegado a toda a Igreja, desde as Conferências Episcopais às Igrejas locais e a todos os fiéis. Tocámos assim um dos pontos fundamentais da consciência da Igreja. Nesta consciência da Igreja, reavivada pelo Sínodo, coloca-se também o problema das expectativas dos católicos em relação à figura do padre, no que diz respeito à Polónia.  

É verdade que a falta forçada de organizações católicas no nosso país nos impediu muitas vezes de consultar todos os sectores do laicado na fase preparatória do Sínodo; no entanto, outros acontecimentos permitiram-nos tomar conhecimento direto dos seus sentimentos sobre o problema do sacerdócio. A celebração, em 1970, do cinquentenário da ordenação sacerdotal de Paulo VI, que foi vivida com particular intimidade na Polónia; o 25º aniversário da libertação de 250 sacerdotes dos campos de concentração de Dachau e, no ano passado, a preparação para a beatificação de Maximiliano Kolbe - o sacerdote católico que deu a sua vida em Auschwitz em troca da de um pai de família - significaram para os nossos fiéis uma espécie de introdução espiritual ao Sínodo e, para nós, uma ocasião para constatar que a figura do sacerdote está no centro da consciência da Igreja na Polónia.  

As respostas dadas pelos nossos padres, na primavera passada, às questões colocadas pelo Secretariado do Sínodo na fase preparatória provam-no. As suas respostas estão em consonância com esta consciência, ou seja, definem a figura do sacerdote de acordo com as suas próprias convicções e, ao mesmo tempo, de acordo com as exigências concretas de todo o Povo de Deus. Na Polónia, é consolador o facto de existir uma estreita relação entre a existência sacerdotal concreta - a forma como o padre se vê a si próprio - e as exigências da fé viva da Igreja - a sensus fidei do Povo de Deus, para o qual foi chamado ao ministério.  

Destas respostas pode deduzir-se que, para os católicos polacos, o problema do padre gira sobretudo em torno do próprio momento da vocação sacerdotal. Esta é corretamente vista como um chamamento pessoal muito especial de Cristo, o prolongamento sobrenatural do chamamento dirigido por Jesus aos Apóstolos. Todos os fiéis, nas várias formas de vida cristã, procuram conduzir a sua vida de acordo com a intenção especial de Deus contida no Batismo, mas a vocação sacerdotal é justamente entendida em toda a sua peculiaridade. A esta nova "Vem e segue-me". O chamamento de Cristo, imperativamente pronunciado por Cristo, responde, na sensibilidade dos nossos fiéis, à certeza de que o carácter pessoal de tal chamamento deve ser seguido de um compromisso total da pessoa. Em suma, a expressão com que a Epístola aos Hebreus descreve o sacerdote é literalmente vivida: ex hominibus assumptus (Heb 5, 1). 

É isto que explica que, apesar das dificuldades objectivas, os seminários sejam objeto de uma atenção particular por parte de todos e sejam mantidos exclusivamente graças aos donativos dos fiéis, e explica também a extraordinária participação com que - sobretudo nas comunidades provinciais, mas também nas grandes cidades - são seguidas as ordenações sacerdotais e as celebrações das primeiras missas.

Podemos continuar a utilizar o modelo do texto paulino para ilustrar um segundo aspeto importante desta consciência dos fiéis polacos relativamente ao sacerdócio: pro hominibus constituitur. Os fiéis vêem no sacerdote o substituto e o seguidor de Cristo, que sabe enfrentar de bom grado qualquer sacrifício pessoal pela salvação das almas que lhe são confiadas. Estão seguros dele e apreciam, sobretudo, o seu zelo apostólico concreto e o seu incansável espírito de sacrifício pelo próximo, realizado no espírito de Cristo. E é precisamente insistindo nestas dimensões da existência sacerdotal que creio que se pode ultrapassar qualquer "crise de identidade". O sacerdote é útil à sociedade se conseguir utilizar todas as suas capacidades físicas e espirituais no desempenho do seu ministério pastoral. Os fiéis não precisam de funcionários da Igreja, nem de dirigentes administrativos eficientes, mas de guias espirituais, de educadores (entre o meu povo é comum a convicção de que o cristianismo possui princípios morais e possibilidades educativas insubstituíveis).

Voltando ao documento sinodal, para ver reflectida nele a situação polaca, seria necessário fazer uma nova correção: em vez de insistir na crise de identidadeNo caso da União Europeia, seria necessário sublinhar a identificação de per vitam et ministerium que é precisamente o aspeto mais relevante do modo como os nossos fiéis consideram o sacerdócio, à luz de tudo o que já foi sublinhado por alguns documentos conciliares como o Lumen gentium e a Presbyterorum ordinis. Isto não significa que os padres polacos não vejam com gratidão o trabalho realizado pelo Sínodo.

É Deus quem dá o sacerdócio.

-Em muitos países ocidentais, onde a industrialização levou à difusão de uma mentalidade cada vez mais típica de uma sociedade secularizada, fala-se de um sacerdócio. a tempo parcial Como é que Vossa Eminência considera este problema em relação ao problema da falta de clero?

-O documento final do Sínodo responde a esta questão em termos essenciais. Na parte dedicada aos princípios doutrinais, lemos: "A permanência desta realidade impressa ao longo da vida - uma doutrina de fé conhecida na tradição da Igreja como carácter sacerdotal - demonstra que Cristo associou irrevogavelmente a Igreja a Si para a salvação do mundo e que a própria Igreja está definitivamente entregue a Cristo para a realização da sua obra. O ministro, cuja vida traz a marca do dom recebido pelo Espírito Santo, é um sinal permanente da fidelidade de Cristo à sua Igreja"..

Em conformidade com toda a tradição, o Sínodo afirmou que o sacerdócio ministerial, como fruto da vocação particular de Cristo, é um dom de Deus na Igreja e para a Igreja; e é precisamente este dom que, uma vez aceite pelo homem na Igreja, é irrevogável. De facto, o Sínodo reafirmou que "esta participação especial no sacerdócio de Cristo não desaparece de modo algum, mesmo que o sacerdote seja dispensado ou afastado do círculo do ministério por razões eclesiais ou pessoais"..

Na prática, é a Igreja que, através do bispo, chama certos indivíduos ao sacerdócio e lho transmite de forma sacramental, mas isso não nos deve fazer esquecer que o autor do dom, aquele que instituiu o sacerdócio, é o próprio Deus. "Pela imposição das mãos é comunicado o dom imperecível do Espírito Santo (cf. 2Tm 1,6). Esta realidade configura e consagra o ministro ordenado a Cristo Sacerdote (cf. PO 2) e torna-o participante da missão de Cristo na sua dupla vertente de autoridade e de serviço. Esta autoridade não é própria do ministro: é uma manifestação da sua própria autoridade. "exasiae (isto é, do poder) do Senhor, em virtude do qual o sacerdote desempenha uma missão de enviado na obra essencial da reconciliação (cf. 2 Cor 5, 18-20)"..

E o sacerdócio? a tempo parcial? Também neste caso, a resposta é dada no documento final do Sínodo. "O tempo integral deve ser dedicado ao ministério sacerdotal como regra ordinária. Por isso, a participação nas actividades seculares dos homens não pode, de modo algum, ser colocada como finalidade principal, nem pode ser suficiente para refletir toda a responsabilidade específica dos sacerdotes".. Trata-se, portanto, de dar uma resposta adequada à pergunta "O que é um sacerdote?", neste contexto o Sínodo retoma as palavras do Presbyterorum ordinis: "Sem serem do mundo ou terem o mundo como fim, os padres devem, no entanto, viver no mundo. (cf. PO 3; 17; 10; 17, 14-16). como testemunhas e divulgadores de uma vida diferente desta vida terrena (cf. PO 3)".

Só com base nestas premissas é que se pode chegar a uma solução realista e conforme à fé. O Sínodo não esqueceu que, mesmo em épocas passadas da história da Igreja, houve sacerdotes que se dedicaram a actividades extra-sacerdotais, mas sempre em estreita ligação com a sua missão pastoral específica. "para poder determinar em circunstâncias concretas a conformidade entre as actividades seculares e o ministério sacerdotal, é necessário perguntar se e de que modo tais funções e actividades servem não só a missão da Igreja, mas também as pessoas, mesmo as não evangelizadas, e finalmente a comunidade cristã, segundo o juízo do bispo local com o seu presbitério, consultando se necessário a Conferência Episcopal"..

A decisão do bispo ou da conferência episcopal deve, portanto, ter em conta estas premissas. Finalmente, o Sínodo consente o exercício das actividades extra-sacerdotais, mas com alguns esclarecimentos importantes: "Quando estas actividades, que normalmente competem aos leigos, são de algum modo exigidas pela missão evangelizadora do próprio sacerdote, devem estar em consonância com as outras actividades ministeriais, uma vez que, em tais circunstâncias, podem ser consideradas como modalidades necessárias do verdadeiro ministério. (cf. PO 3)".

O Sínodo assumiu, portanto, a responsabilidade de proteger a Igreja do risco de desvalorizar o dom divino do sacerdócio. Dentro deste mesmo sentido de responsabilidade, defendo que o problema da escassez do clero deve ser enquadrado nas suas devidas dimensões; não podemos pensar em resolver as dificuldades decorrentes da quantidade renunciando à qualidade. Trata-se de melhorar a utilização do sacerdote na Igreja, mas sem esquecer que só "o Senhor das colheitas Este dom pode ser multiplicado, cabendo aos homens aceitá-lo com as disposições exigidas pela sua natureza.

Crise de identidade?

Das suas palavras, podemos concluir que a crise que afecta o sacerdote se deve sobretudo às dificuldades de fé e à falta de uma verdadeira espiritualidade sacerdotal na Igreja de hoje. Pensa, no entanto, que, para além desta crise, há também uma cultura macroscopicamente descristianizada? O Sínodo, a que se referiu, também abordou este aspeto; qual é a sua opinião sobre isso?

Durante os trabalhos do Sínodo, falou-se muito da crise de identidade do sacerdote, enquadrando-a no contexto de uma crise de identidade mais fundamental da própria Igreja. No entanto, certas expressões parecem-me pouco claras: é evidente que, mais do que uma crise objetiva, estas expressões aludem a uma consciência subjectiva de crise. Esclarecido isto, passo a responder diretamente à sua pergunta. O documento final sobre o padre, embora evitando a expressão "crise de identidade" - utilizada no documento preparatório - evoca essa ideia precisamente nos pontos dedicados a ilustrar essa crise. Eis um exemplo: "Perante esta realidade, há quem se interrogue de forma inquietante: existe ou não existe uma razão específica para o ministério sacerdotal? Este ministério é necessário ou não? O sacerdócio é permanente? O que significa ser sacerdote hoje? Não seria suficiente para o serviço das comunidades ter presidentes nomeados para servir o bem comum, sem necessidade de ordenação sacerdotal, e exercer o seu cargo temporariamente?

É certo que se pode argumentar que questões como estas surgiram historicamente no âmbito teológico, apelando a pressupostos teóricos sistematicamente elaborados por certos teólogos como resposta à metodologia teológica tradicional. Mas, uma vez formulados e lançados na opinião pública eclesial, exprimem uma atitude de contestação existencial mais profunda. O texto preocupa-se precisamente em reconstruir a génese deste segundo tipo de contestação e, neste contexto, continua a referir-se a todo o campo da cultura contemporânea: "Os problemas acima descritos, alguns dos quais são novos e outros já conhecidos no passado, mas que agora se apresentam sob novas formas, não podem ser entendidos isoladamente do contexto global da cultura moderna, que questiona seriamente o seu próprio significado e valor. Os novos recursos da técnica suscitam uma esperança demasiado entusiasta e, ao mesmo tempo, uma profunda inquietação. Pode perguntar-se, com razão, se o homem será capaz de dominar o seu próprio trabalho e de o orientar para o progresso"..

"Alguns jovens, sobretudo, perderam a esperança no sentido deste mundo e procuram a salvação em sistemas puramente meditativos, em paraísos artificiais e marginais, afastando-se do esforço comum da humanidade".

"Outros são animados por esperanças utópicas sem qualquer relação com Deus, de modo que, na busca de um estado de impressão total, transferem o sentido de toda a sua vida pessoal do presente para o futuro. 

"Desta forma, a ação e a contemplação, a educação e o lazer, a cultura e a religião, os pólos imanente e transcendente da vida humana, estão completamente desligados".

O problema é o seguinte: este diagnóstico é justo? Ou melhor: explica de facto tudo? Ou seja, será que se deve realmente ao contexto da cultura contemporânea? Os membros do episcopado polaco que estão em contacto com as dificuldades do pós-guerra estão inclinados a argumentar que o documento generaliza um conjunto de sintomas caraterísticos do mundo ocidental tecnologicamente desenvolvido; a situação da Igreja noutros países apresenta aspectos bastante diferentes.

Vida de fé.

O Sínodo não ignorou certamente esta realidade: "Sabemos que há várias partes do mundo onde esta profunda mudança de cultura ainda não se fez sentir e que as questões acima referidas não são levantadas em todo o lado, por todos os padres, nem do mesmo ponto de vista".

Na Polónia, porém, talvez devido à influência de um regime político e sócio-político diferente, a transformação cultural não só é menos percetível, como também bastante diferente. Sondagens recentes entre os padres polacos mostraram que não há nem uma crise de identidade do sacerdócio nem uma crise de identidade da Igreja na Polónia. No confronto com a ideologia marxista e o seu ateísmo programado e propagandeado, a Igreja não perdeu a sua própria identidade. As crises, quando ocorrem, são individuais; e aqui voltamos ao problema da fé e da espiritualidade. A fé é uma graça sobrenatural que se desenvolve nas mais variadas e contraditórias circunstâncias. Neste momento, como o aumento do progresso material traz consigo fortes tensões na vida espiritual, penso que é preciso sublinhar que a sua resolução radical depende de um aumento proporcional da vida de fé. E esta, para além dos diagnósticos, foi também a resposta fundamental do Sínodo.

A opinião pública na Igreja.

-Paralelamente à missão de estimular e garantir a fé (Magistério) está a função de guiar os crentes e de lhes transmitir fielmente as indicações magisteriais. Neste sentido, poderia explicar a alusão que fez recentemente à teologia?

-Não se trata apenas de teologia, mas em geral da formação da opinião pública na Igreja. Neste domínio, um papel decisivo é desempenhado pela meios de comunicação socialEstes últimos, como é sabido, estruturam-se de acordo com as suas próprias leis. Estas, evidentemente, não podem atuar em detrimento da sua fidelidade à mensagem.

O problema é tão real que o próprio Sínodo o reflectiu no documento sobre a justiça com estas palavras: "A consciência do nosso tempo exige verdade nos sistemas de comunicação social, o que inclui também o direito à imagem objetiva divulgada pelos próprios meios de comunicação social e a possibilidade de corrigir a sua manipulação"..

A Igreja abordou a questão da comunicação de uma forma cada vez mais positiva e confiante (basta pensar no decreto conciliar Inter mirifica e na instrução Communio et progressio), mas ao mesmo tempo não se pode esconder a existência objetiva do perigo de que os males da comunicação possam prejudicar o direito à verdade e tornar-se um dos principais centros de injustiça no mundo contemporâneo. Por conseguinte, ao atribuir ao meios de comunicação social o texto sinodal afirma explicitamente que a sua finalidade é a correta: "Este tipo de educação, porque torna todas as pessoas mais plenamente humanas, ajudá-las-á a não serem manipuladas no futuro, nem pelos meios de comunicação social nem pelas forças políticas, mas, pelo contrário, permitir-lhes-á moldar o seu próprio destino e construir comunidades verdadeiramente humanas"..

Estes textos estão no centro do nosso tema, embora ultrapassem de certo modo o contexto: ajudam a dissipar os mal-entendidos que surgem quando passamos do nível da vida da Igreja - onde os pastores e os teólogos dão o seu contributo específico, na fidelidade ao seu ministério pastoral e sacerdotal - para o nível da comunicação e da formação da opinião pública. Por isso, considero justificada a preocupação dos padres sinodais em evitar a distorção de elementos essenciais à vida da Igreja no decurso das comunicações sociais. Trata-se de desencadear um movimento de sensibilização que promova nos responsáveis pela comunicação uma maior consciência da sua responsabilidade na edificação da Igreja segundo a vontade de Cristo, detectando com realismo os factores que - devido a interesses partidários e a um difundido espírito de divinismo - exercem uma influência negativa.

Questionar os valores cristãos.

-Entre as advertências feitas aos sacerdotes pelo recente Magistério eclesiástico, destaca-se pela sua frequência a advertência contra a tentação de adaptar o anúncio da Palavra e os critérios da ação pastoral à mentalidade mundana. Se esta mentalidade se mostra cada vez mais impregnada de ideologia permissiva e se já se fala abertamente de "teologia permissiva", será que tal advertência deveria estender-se também aos teólogos?

-O permissivismo e as suas manifestações na esfera teológica são fenómenos típicos da sociedade ocidental que, em países como a Polónia, têm, por enquanto, uma influência bastante relativa. Como observador externo, portanto, só posso limitar-me a considerações gerais.

Em primeiro lugar, é evidente que na raiz do permissivismo está uma conceção exclusivamente horizontal - e, portanto, algo reduzida - da liberdade. A liberdade é o elemento constitutivo da dignidade da pessoa, ininterruptamente proclamada e defendida pelo pensamento cristão. Mas é preciso também ter presente que a liberdade cristã nunca é um fim em si mesma, mas é necessariamente um fim em si mesma: é o meio para alcançar o verdadeiro bem. O erro de perspetiva do permissivismo consiste em inverter o ponto de vista: o fim passa a ser a busca da liberdade individual, sem qualquer referência ao tipo de bem em que a liberdade está empenhada. A consequência prática é que, fora da realização do bem, a liberdade se transforma em abuso e, em vez de fornecer ao indivíduo o terreno para a sua auto-realização, determina o seu esvaziamento e a sua frustração. Tudo o que resta da liberdade é a slogan.

Não há dúvida de que tal abordagem deve ser considerada como absolutamente contrária aos critérios que devem orientar uma teologia correta e uma ação pastoral eficaz. Os teólogos e os pastores devem, em tal situação, interrogar-se constantemente sobre os verdadeiros valores cristãos. O homem leva a norma da sua liberdade - segundo a expressão de Paulo - num "vaso de barro". (II Cor. 4, 7). As tentações são muitas, mas as possibilidades de recuperação são igualmente grandes. Muitas confusões podem ser evitadas, no que diz respeito aos problemas da sociedade permissiva, recordando que é a mensagem cristã - com a sua raiz na consciência natural - e não a permissividade, que deve ditar as leis da luta pela liberdade autêntica, que é também sempre uma das componentes indispensáveis da missão da Igreja.

-Qual é, na sua opinião, Eminência, a lição que os padres de hoje, e em particular os padres polacos, podem tirar de uma figura como Maximiliano Kolbe?

-O facto de Maximiliano Maria Kolbe ter sido identificado durante os trabalhos do Sínodo confere à sua figura - como sublinhou o Cardeal Duvial, atual presidente da assembleia sinodal - um significado que ultrapassa as fronteiras nacionais e o torna um exemplo para todos os sacerdotes: o sinal de um tempo marcado por crueldades desumanas, mas também por episódios consoladores de santidade. Depois, para nós polacos, a sua beatificação tem obviamente um carácter muito especial: para os sacerdotes mais velhos, recorda-nos os tormentos sofridos com o resto da população nos campos de extermínio, onde a dor e a solidariedade prepararam a Igreja na Polónia para novas provações. Para os mais jovens, o Padre Kolbe representa uma indicação de quanto o sacerdote deve exigir de si mesmo no serviço aos outros.

Outros aspectos da sua personalidade podem também ser considerados paradigmáticos (basta pensar na sua devoção a Nossa Senhora e na sua ação apostólica na imprensa); toda a sua figura, tão intimamente marcada pela cruz, é um apelo premente ao desígnio apostólico da vocação cristã e à renúncia total de si, que é uma dimensão constante da existência sacerdotal.

O autorJoaquín Alonso Pacheco

Mundo

Tallinn prepara-se para a beatificação de Eduard Profittlich, um exemplo contra a perseguição

No dia 6 de setembro, o Arcebispo Eduard Profittlich, mártir da fé e figura de proa da Igreja Católica local, será beatificado.

Javier García Herrería-31 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

A capital da Estónia prepara-se para um acontecimento histórico: no dia 6 de setembro, terá lugar a beatificação do Arcebispo Eduard Gottlieb Profittlich, SJ (1890-1942), mártir da fé e primeira figura da Igreja Católica no país. A cerimónia terá lugar na Praça da Liberdade e será presidida, em nome do Papa, pelo Cardeal Christoph Schönborn, Arcebispo de Viena. Espera-se a presença de fiéis de toda a Estónia.

Profittlich, um jesuíta alemão que dedicou a sua vida à missão na Estónia, chegou ao país em 1930 e rapidamente se tornou um ponto de referência para a comunidade católica local. Nomeado administrador apostólico em 1931 e arcebispo em 1936, tornou-se cidadão estónio e trabalhou com dedicação para consolidar a Igreja.

Philippe Jourdan, bispo de Tallinn e promotor da causa de beatificação, sublinha que "há muito a aprender com D. Eduard Profittlich. Era uma pessoa aberta e com uma grande capacidade de comunicação. Tinha sempre tempo para todos e comunicava com muitas famílias, independentemente da sua filiação religiosa. Com a sua atitude digna, conquistou a simpatia dos estónios na sociedade estónia. A Igreja Católica na Estónia não esquece Eduard Profittlich, que partilhou o destino do nosso povo e da Igreja durante o período mais difícil da história do país".

Fiel em tempos de perseguição

O destino do arcebispo foi selado após a ocupação soviética em 1940. Apesar de um convite para regressar à Alemanha, Profittlich decidiu ficar com os seus fiéis. Foi preso em junho de 1941 e transferido para a prisão de Kirov, a 800 quilómetros de Moscovo. Após meses de interrogatórios noturnos, foi condenado à morte por alegadas actividades anti-revolucionárias, mas morreu na prisão a 22 de fevereiro de 1942, antes de a sentença ser executada.

Durante décadas, o paradeiro e as circunstâncias da sua morte permaneceram ocultos. Só depois da independência da Estónia é que os pormenores do seu martírio se tornaram conhecidos, abrindo caminho à sua causa de beatificação. O Bispo Jourdan explica que "durante a ocupação soviética, a vida da Igreja na Estónia era pobre e, para ser sincero, era mesmo muito difícil praticar a fé aqui, no território ocupado, durante mais de 50 anos. As pessoas desconheciam completamente o destino de Profittlich. Toda a informação sobre a sua morte se espalhou quando a Estónia se tornou independente e recuperou alguns documentos de pessoas deportadas e presas, entre os quais os protocolos de interrogatório de Profittlich na prisão de Kirov, em 1941. De imediato, iniciou-se o debate sobre a sua beatificação na Igreja Católica.

Esperança para os católicos da Estónia

O Papa Francisco aprovou o decreto de beatificação em dezembro de 2024, reconhecendo o martírio de Profittlich "in odium fidei". O seu lema episcopal, Fides et Pax ("Fé e Paz"), simboliza a sua dedicação e será um foco de inspiração durante a cerimónia. Para os católicos da Estónia, a beatificação representa um testemunho de fidelidade no meio da perseguição; para a Igreja universal, um exemplo de fé inabalável perante a hostilidade e a violência.

No dia 6 de setembro, a Estónia vai celebrar não só um pastor e mártir, mas também um novo intercessor que liga a memória de um passado doloroso à esperança de um futuro de fé e liberdade. As expectativas são grandes em Tallinn e a comunidade católica prepara-se para um momento histórico de oração, reflexão e reconhecimento.

Evangelização

Enquanto alguns questionam a confissão, outros duplicam os seminaristas com campanhas audaciosas

Harvard documenta o declínio acentuado da confissão nos Estados Unidos, enquanto várias dioceses, como a de Nova Iorque e a de Denver, tentam campanhas inovadoras para promover as vocações sacerdotais.

Javier García Herrería-30 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

A Harvard University Press publicou este ano o livro Because I Have Sinned: The Rise and Fall of the Catholic Confession in the US (Porque eu pequei: a ascensão e queda da confissão católica nos EUA)do historiador James O'Toole. O livro descreve como, até à década de 1960, era comum as paróquias católicas oferecerem cinco a seis horas de confissões todos os sábados, com os padres a ouvirem centenas de confissões por semana.

O autor explica que a prática do sacramento diminuiu drasticamente nas últimas décadas e que muitos católicos parecem considerar que já não é indispensável para receber a comunhão ou para levar aquilo que entendem como "uma vida católica plena". O livro convida à reflexão sobre a forma como os fiéis podem continuar a exprimir e a compreender os seus ideais numa Igreja em mudança, e sugere mesmo que poderão surgir novas formas de vida cristã no século XXI, se o sacramento da penitência já não satisfizer as necessidades espirituais da comunidade.

A proposta arrojada de Nova Iorque

Em contraste com esta tendência para adaptar as práticas sacramentais cristãs aos tempos actuais, a Arquidiocese de Nova Iorque lançou uma iniciativa única para promover as vocações sacerdotais. Através do sítio Web Sacerdote de Nova IorqueOs católicos são convidados a apresentar dados de jovens que considerem ter uma possível vocação para o sacerdócio. Em seguida, a diocese contacta pessoalmente os candidatos para os encorajar a iniciar um período de discernimento.

A campanha também aborda as objecções comuns que os pais expressam quando um filho está a pensar em entrar para o seminário. Estas incluem ideias como "ele é demasiado jovem", "vai ficar sozinho", "o celibato é impossível", "não vou ter netos", "vou perder o meu filho" ou "ele não vai ser feliz". O sítio Web responde a estes "mitos" com uma abordagem proactiva destinada a tranquilizar as famílias.

Será que uma campanha deste género funciona?

O modelo de Nova Iorque foi reproduzido na Diocese de Denver, em parceria com o grupo de meios de comunicação católicos Vocações Vianney. Desde o seu lançamento em maio passado, as paróquias apresentaram mais de 900 nomes de jovens considerados potenciais candidatos ao ministério sacerdotal.

Cada um dos nomeados recebe uma carta pessoal do Arcebispo de Denver, felicitando-os pelo reconhecimento e encorajando-os a estarem abertos ao chamamento de Deus. Jason Wallace, que envia mensagens semanais de discernimento e organiza pequenos grupos de acompanhamento espiritual com padres e diáconos.

A resposta tem sido notável: mais de 70 jovens já confirmaram a sua participação nestes encontros e, como resultado, 23 novos seminaristas foram admitidos este ano, quase o dobro do ano anterior. Segundo a diocese, este aumento reflecte a importância da oração, o apoio das famílias e o envolvimento das paróquias e escolas na pastoral vocacional.

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Evangelização

Santa Margarida Ward, Beato Cardeal Ildefonso Schuster e Beata Maria Rafols

A liturgia celebra muitos santos e beatos no dia 30 de agosto. Entre eles contam-se a mártir inglesa Margaret Ward, a catalã Maria Rafols, fundadora da congregação das Irmãs da Caridade de Santa Ana no século XIX, e o Cardeal de Milão, o beneditino romano Ildefonso Schuster, que defendeu a Igreja e a liberdade de ensino.

Francisco Otamendi-30 de agosto de 2025-Tempo de leitura: < 1 minuto

A Igreja celebra este dia em inglês Margarida Wardque recusado para revelar os esconderijos dos padres na Londres do século XVI, no período elisabetano. Foi preso e enforcado juntamente com o Beato Richard Leigh, um padre, e os leigos Edward Shelley e Richard Marti, John Roche, um irlandês, e Richard Lloyd, um galês.

A liturgia comemora também o beato catalão de hoje Maria Rafols. Nascida em Barcelona em 1781, continuou a sua apostolado em Saragoça, no hospital de Nuestra Señora de Gracia, com os doentes, as crianças abandonadas e os deficientes. 

Durante os cercos de Saragoça na Guerra da Independência, o Mãe Rafols Ajudou muitas pessoas com um grupo de jovens. Dirigiu-se também às autoridades francesas e espanholas para interceder pelos doentes, feridos e prisioneiros. 

Defensor da liberdade, denunciou a perseguição

O Beato Cardeal Schuster nasceu em Roma em 1880 e iniciou o seu noviciado no mosteiro beneditino de São Paulo Fora dos Muros, em Roma. Foi ordenado sacerdote em 1904 e cultivou o estudo da liturgia, da arte sacra, da arqueologia e história cristãs e da tradição monástica beneditina. Em 1918, foi eleito abade do seu mosteiro. 

Pio XI nomeou-o Arcebispo de Milão em 1929, e criou-o cardeal. Exigiu que os Estados renunciassem às pretensões totalitárias sobre a juventude e a educação, e denunciou as perseguições religiosas e a legislação racista do seu tempo. Na Segunda Guerra Mundial, ajudou as vítimas e levou uma vida austera e penitente. Morreu no seminário de Venegono a 30 de agosto de 1954. Foi beatificado por São João Paulo II em 1996.

O autorFrancisco Otamendi

Vaticano

Oito cardeais para o Dicastério do Clero e novas províncias siro-malabares

O Papa Leão XIV nomeou oito cardeais e catorze bispos como membros do Dicastério para o Clero, cujo Prefeito é o Cardeal sul-coreano Lazarus You Heung-sik. Nomeou também 11 consultores para o mesmo Dicastério, dois dos quais são religiosos. Além disso, foram erigidas 4 províncias eclesiásticas siro-malabares na Índia. 

CNS / Omnes-29 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Os consultores religiosos do Dicastério são a Madre Trapista americana Martha Driscoll, superiora da comunidade feminina do mosteiro de Tre Fontane, em Roma. E a romena Iuliana Sarosi, membro da Congregação da Mãe de Deus e professora de psicologia na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

O dicastério fornece orientação e assistência aos bispos em todas as questões relacionadas com a seleção, formação e educação contínua dos sacerdotes diocesanos e diáconos permanentes.

Purpurates com o sul-coreano Lazarus You Heung-sik

Os cardeais membros do dicastério são Luis Antonio G. Tagle, Pró-Prefeito do Dicastério para a Evangelização, Secção para a Primeira Evangelização e as Novas Igrejas Particulares, e Jean-Marc Aveline, Marselha (França). Virgílio do Carmo da Silva, S.D.B. Díli (Timor-Leste) e Stephen Brislin, Joanesburgo (África do Sul). Frank Leo, Toronto (Canadá) e José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação. Mario Grech, Secretário Geral da Secretaria Geral do Sínodo, e Arthur Roche, Prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos.

Arcebispos e bispos

Entre os arcebispos e bispos, contam-se Salvatore Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, Secção para as Questões Fundamentais da Evangelização no Mundo. Alejandro Arellano Cedillo, Decano do Tribunal da Rota Romana. Alfonso Vincenzo Amarante, C.SS.R., Reitor Magnífico da Pontifícia Universidade Lateranense. Jesús Vidal Chamorro, Bispo de Segóvia (Espanha) e Erik Varden, O.C.S.O., Bispo Prelado de Trondheim (Noruega).

Além disso, foi nomeado o bispo Luis Manuel Alí Herrera, secretário da Comissão Pontifícia para a Proteção dos Menores. E os Bispos James F. Checchio, de Metuchen, Nova Jersey, e Edward M. Lohse, de Kalamazoo, Michigan.

4 novas províncias eclesiásticas siro-malabares na Índia

A Santa Sé informou também sobre algumas nomeações e novas circunscrições eclesiásticas. siro-malabares na Índia.

Em primeiro lugar, o Sínodo dos Bispos da Igreja Maior do Arcebispado Siro-Malabarês elegeu como bispo da Eparquia de Adilabad o Reverendíssimo Padre Joseph Thachaparambath, C.M.I., com o consentimento prévio do Santo Padre.

Depois, também no âmbito das Igrejas Orientais, o Vaticano anunciou a criação das províncias eclesiásticas siro-malabares de Faridabad, Kalyan, Shamshabad e Ujjain, na Índia. 

A decisão foi tomada, em todos os casos, por Sua Beatitude Mar Raphael Thattil, Arcebispo Maior de Ernakulam-Angamal e do Siro-Malabar. A decisão foi tomada com o consentimento do Sínodo dos Bispos e após consulta da Sé Apostólica. 

Ao mesmo tempo, Sua Beatitude Mar Raphael Thattil nomeou os primeiros arcebispos metropolitanos, tendo aceite a renúncia do bispo eparquial de Kalyan. Da mesma forma, Sua Beatitude Mar Raphael Thattil, com o consentimento do Sínodo dos Bispos e após consulta à Sé Apostólica, designou a Eparquia de Hosur como sufragânea da Arquidiocese Metropolitana de Trichur.

O autorCNS / Omnes

Vaticano

Viver e agir de acordo com a fé; evitar a dupla personalidade, diz o Papa aos políticos

O Papa Leão XIV recordou a um grupo de políticos franceses que ser cristão implica viver a fé em todas as dimensões da vida pública e privada, sem separar a vocação política da identidade cristã.

OSV / Omnes-29 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

Por Cindy Wooden, OSV.

Mesmo em países com a mais rigorosa separação entre a Igreja e o Estado, ser cristão significa viver e agir como cristão, disse o Papa Leão XIV a um grupo de políticos e líderes cívicos franceses.

"O cristianismo não pode ser reduzido a uma simples devoção privada, pois implica uma forma de viver em sociedade marcada pelo amor a Deus e ao próximo, que em Cristo já não é um inimigo, mas um irmão", disse o Papa aos membros do grupo da diocese de Créteil, em 28 de agosto, que se encontravam em peregrinação com o seu bispo, D. Dominique Blanchet.

O Papa Leão iniciou a audiência dizendo à delegação que, embora presumisse que muitos deles falavam inglês, "tentarei falar francês, contando com a vossa benevolência".

Fé em todos os domínios do cristianismo

A fé em Jesus tem implicações em "todas as dimensões da vida humana, como a cultura, a economia e o trabalho, a família e o matrimónio, o respeito pela dignidade humana e pela vida, os cuidados de saúde, a comunicação, a educação e a política", disse o Papa.

"Uni-vos cada vez mais a Jesus; vivei nele e dai testemunho dele", disse o Papa Leão ao grupo. Não deve haver "nenhuma divisão na personalidade de uma figura pública; não há o político de um lado e o cristão do outro. Não há o político de um lado e o cristão do outro, mas sim o político que, sob o olhar de Deus e guiado pela sua consciência, vive os seus compromissos e responsabilidades como cristão".

O Papa encorajou os políticos e os líderes cívicos a crescerem na sua fé e a estudarem a doutrina. católico A UE compromete-se a "aplicar a doutrina social da Igreja no exercício das suas funções e na elaboração das leis".

Menção do direito natural

"Os seus fundamentos estão em profunda sintonia com a natureza humana e a lei natural que todos podem reconhecer, incluindo os não cristãos e os não crentes", disse. "Por isso, não tenham medo de a propor e defender com convicção: é uma doutrina de salvação que visa o bem de cada ser humano e a construção de sociedades pacíficas, harmoniosas, prósperas e reconciliadas.

O Papa Leão rezou para que a peregrinação do Ano Jubilar ajudasse os peregrinos a "regressar aos seus compromissos quotidianos fortalecidos na esperança, mais firmemente enraizados no trabalho para a construção de um mundo mais justo, mais humano, mais fraterno, que só pode ser um mundo mais profundamente imbuído do Evangelho".

O autorOSV / Omnes

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Evangelização

10 vezes o Papa Leão citou Santo Agostinho nos seus discursos

Por ocasião da festa de Santo Agostinho, aqui estão 10 discursos públicos em que o Papa Leão se referiu ao pensamento de Santo Agostinho, ou o citou diretamente. O primeiro foi no próprio dia 8 de maio.  

OSV / Omnes-29 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 5 acta

- Maria Wiering (OSV News)

A descrição que o Papa Leão XIV fez de si próprio, ao subir à varanda da Basílica de Pedro, no dia 8 de maio, dia da sua eleição, sublinhava a sua vocação na ordem agostiniana. "Sou agostiniano, filho de Santo Agostinho, que disse um dia: 'Contigo sou cristão e por ti sou bispo'". 

Nestes últimos meses, o Papa Leão dirigiu constantemente o olhar da sua audiência para Santo Agostinhoo bispo do século V que continua a ser um peso pesado filosófico e teológico no pensamento católico.

Eis 10 vezes em que o Papa Leão se referiu ao pensamento de Santo Agostinho ou o citou diretamente.

Nós somos os tempos

1) "Vivamos bem e os tempos serão bons.. Nós somos os tempos". (Discurso80.8) - Discurso aos meios de comunicação social, 12 de maio de 2025. 

Dias depois da sua eleição para o papado, o Papa Leão partilhou uma citação de Santo Agostinho, quando falava aos meios de comunicação social sobre o seu serviço à verdade e o seu papel na facilitação do diálogo sobre questões sociais.

2) "A Igreja é constituída por todos aqueles que estão em harmonia uns com os outros. com os seus irmãos e irmãs e que ama o teu próximo".(Sermão 359, 9) - - - -Homilia na Missa de início do Ministério Petrino, 18 de maio de 2025.

Na homilia da missa inaugural do seu pontificado, o Papa Leão sublinhou o seu grande desejo de uma Igreja unida, de se tornar "fermento para um mundo reconciliado". Aí apresentou esta citação de Santo Agostinho.

Unidade: "Num só, que é Cristo, somos um".

3) "De facto, a unidade foi sempre uma preocupação constante da minha parte, como mostra o lema que escolhi para o meu ministério episcopal: "In Illo uno unum". Esta expressão de Santo Agostinho de Hipona recorda-nos como também nós, embora sejamos muitos, "no Único, que é Cristo, somos um"". (Exposições sobre os Salmos, 127, 3). - -Público a representantes de outras igrejas e comunidades eclesiais e de outras religiões, 19 de maio de 2025.

No dia seguinte à sua missa inaugural, o Papa Leão encontrou-se com líderes de outras igrejas, comunidades eclesiais e outras religiões para discutir a fraternidade universal e o diálogo inter-religioso.

4) "A oração do Filho de Deus, que nos dá esperança no nosso caminhoRecorda-nos também que um dia seremos todos um unum (cf. Santo Agostinho, Sermo super Ps. 127): um no único Salvador, abraçados pelo amor eterno de Deus". - Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos, 1 de junho de 2025.

O Papa Leão concluiu a homilia do Jubileu das Famílias, das Crianças, dos Avós e dos Idosos com esta citação de Santo Agostinho. Aí ele apontava para o amor e a unidade da família em Cristo, tanto hoje como entre aqueles que nos precederam.

O apelo sincero de Santo Agostinho".

5. "Que nos acompanhe o apelo sincero de Santo Agostinho, que dizia: Amai esta Igreja, estai nesta santa Igreja, sede esta Igreja; amai o Bom Pastor, ao cônjuge, pelo que apenasque não engana ninguém, que não quer que ninguém pereça. Rezar também pelas ovelhas dispersasPara que também eles venham, para que também eles o reconheçam, para que também eles o amem, para que haja um só rebanho e um só pastor. (Sermão 138, 10) -Discurso Discurso ao clero da Diocese de Roma12 de junho de 2025.

O discurso do Papa Leão ao clero da sua diocese sobre a comunhão sacerdotal, sendo um exemplo vivo no seu campo de missão e enfrentando os desafios do nosso tempo, culminou nesta nomeação.

A crença em Deus, com os valores positivos que dela derivam, é uma fonte imensa de bondade e verdade. para a vida dos indivíduos e das comunidades. Santo Agostinho falava da necessidade de passar do "amor sui" - amor próprio egoísta, míope e destrutivo - ao "amor Dei" - um amor livre e generoso, radicado em Deus e que conduz ao dom de si". (cf. A Cidade de Deus, XIV, 28) - Discurso aos membros da União Interparlamentar Internacional, 21 de junho de 2025.

Numa alocução dirigida aos membros da União Interparlamentar Internacional, uma organização mundial de parlamentos com ênfase na democracia e na diplomacia, o Papa Leão referiu-se à compreensão de Santo Agostinho sobre o amor. E à sua aplicação na construção da cidade de Deus sobre uma lei fundamental de caridade.

Viagem à pátria celeste

7 - "Sempre que a Igreja cede à tentação da "sedentarização e deixa de ser "civitas peregrina" - o povo de Deus em peregrinação para a pátria celeste - (cf. Agostinho, A cidade de Deus, Livros XIV-XVI), deixa de estar "no mundo" e torna-se "do mundo".(cf. Jo 15,19). -Mensagem para o Dia Mundial dos Migrantes e Refugiados 202525 de julho de 2025

Nesta mensagem, o Papa Leão recordou que os migrantes e os refugiados recordam à Igreja o seu caminho de peregrinação para o céu e que podem ser missionários da virtude da esperança nos países que os acolhem. 

8. No seu comentário a este ponto do texto, Santo Agostinho diz, em nome de Jesus: "A multidão aperta, a fé toca" (Sermão 243, 2, 2). Assim é: cada vez que fazemos um ato de fé dirigido a Jesus, estabelecemos contacto com Ele e, imediatamente, a Sua graça brota d'Ele. Por vezes não nos apercebemos, mas de uma forma secreta e real, a graça chega até nós e transforma gradualmente a nossa vida a partir de dentro." - Público em geral25 de junho de 2025.

A catequese do Papa na Audiência Geral de quarta-feira sobre a cura da mulher hemorrágica e a ressurreição da filha de Jairo, em Marcos 5, reflectiu sobre o poder transformador da virtude da fé.

Caminhos da mente para Deus

9. As universidades católicas são chamadas a tornar-se "caminhos da mente para Deus", seguindo a feliz expressão de São Boaventura, para que a oportuna exortação de Santo Agostinho se torne realidade em nós. 

"Vede, irmãos, o que há na alma humana. Ela não tem luz própria, não tem poderes próprios: mas tudo o que é bom na alma é virtude e sabedoria: mas ela não é sábia por si mesma, nem forte por si mesma, nem luz para si mesma... Há uma certa origem e fonte de virtude, há uma certa raiz de sabedoria, há uma certa, por assim dizer, sim, também deve ser dito, região de verdade imutável: dela a alma se afasta e se escurece, ela se aproxima e é iluminada" (Exposição sobre o Salmo 58, I, 18). - Mensagem aos participantes na 28ª Assembleia Geral da Federação Internacional das Universidades Católicas, 28 de julho de 2025.

A mensagem do Papa Leão às instituições católicas de ensino superior chamava a atenção para o seu papel na formação dos intelectos na busca da verdade e para o perigo de "cantos de sereia" novos, populares ou seguros que desviam a atenção da sua missão.

A Cidade de Deus

10. "Para encontrarmos o nosso equilíbrio nas actuais circunstâncias, especialmente vós, como Legisladores e líderes políticos católicos, Sugiro que olhemos para o passado, para a figura imponente de Santo Agostinho de Hipona. Como uma das principais vozes da Igreja no final da era romana, assistiu-se a uma enorme agitação e desintegração social. 

Em resposta, escreveu A Cidade de Deus", uma obra que oferece uma visão de esperança, uma visão de sentido que pode falar-nos ainda hoje". - Discurso à Rede Internacional de Legisladores Católicos, 23 de agosto de 2025. 

O Papa Leão recomendou o livro de Agostinho a um grupo internacional de legisladores católicos, apontando a comparação que o santo faz entre a "Cidade dos Homens" e a "Cidade de Deus", e o que a mentalidade de cada uma significa para o florescimento da sociedade.

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Maria Wiering é escritora sénior do OSV News.

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Este artigo foi originalmente publicado no OSV News em inglês, e pode ser consultado aqui. aqui

O autorOSV / Omnes

Evangelização

Martírio de São João Batista, testemunha heróica da verdade

A memória litúrgica do martírio de S. João Batista, que a Igreja celebra a 29 de agosto, completa a solenidade do seu nascimento a 24 de junho. O Batista morre como mártir da verdade.

Francisco Otamendi-29 de agosto de 2025-Tempo de leitura: 2 acta

João é um primo de Jesus, concebido por Isabel do seu marido Zacarias. O seu nascimento A data da sua morte é cerca de seis meses antes da de Cristo, segundo o episódio evangélico da Visitação da Virgem Maria a Santa Isabel. A data da sua morte situa-se entre 31 e 32 d.C. A opinião cristã geral é que o Batista morreu como mártir da verdade.

"Não é um mártir da fé - porque não lhe é pedido que a negue - mas um mártir da verdade. É um homem 'justo e santo' condenado à morte pela sua liberdade de expressão e por ser fiel ao seu mandato", disse Papa Francisco.

"Como um verdadeiro profeta, João deu testemunho da verdade sem se comprometer", registado Papa Bento XVI. "Denunciou as transgressões dos mandamentos de Deus, mesmo quando os protagonistas eram os poderosos. Assim, quando acusou Herodes e Herodíades de adultério, pagou com a vida, coroando com o martírio o seu serviço a Cristo, que é a verdade em pessoa.

Os factos

A história do Evangelho é bem conhecida. Herodes mandou prender João por causa de Herodíades, a mulher do seu irmão, com quem ele tinha casado. Pois João disse a Herodes: "Não te é lícito ter a mulher do teu irmão" (Mc 6,18-19). Por ocasião do aniversário de Herodes, Salomé, filha de Herodias, dançou em honra do rei. Ela agradou tanto a Herodes e aos seus convidados que o monarca prometeu dar-lhe tudo o que ela pedisse, até mesmo metade do seu reino. Ela, depois de consultar a mãe, pediu a cabeça de João, que foi decapitado.

De acordo com a agência do Vaticano, a cerimónia fúnebre de hoje tem origens antigasA relíquia: remonta à dedicação de uma cripta em Sebaste (Samaria), onde a cabeça do Batista era venerada já em meados do século IV. No século XII, o Papa Inocêncio II mandou transferir a relíquia para a igreja de São Silvestre in Capite, em Roma. A celebração do martírio de São João já estava presente em França no século V, e em Roma no século seguinte.

Testemunho corajoso

Entre as considerações que a figura e a vida de S. João Batista podem sugerir, "podemos olhar especialmente para o seu testemunho corajoso e heroico da verdade, que o levou ao martírio", escreveu O prelado do Opus Dei, Fernando Ocáriz, disse a 26 de agosto Recordo as palavras de São Josemaria: "Não tenhas medo da verdade, ainda que a verdade te leve à morte" (Caminho, n.º 34). 

"Sem chegar ao extremo do martírio, o amor à verdade pode, nalgumas circunstâncias, trazer consigo inconvenientes de vária ordem e, por vezes, muito notáveis", continua o prelado. "Ao mesmo tempo, o amor à verdade sobre a realidade do mundo e de si mesmo liberta-nos (cf. Jo 8, 32); e, radicalmente, a Verdade que é Cristo liberta-nos (cf. Jo 14, 6). Sem liberdade não poderíamos amar, e sem amor nada valeria a pena".

O Diretório Franciscano Sublinha: "Os seus discípulos recolheram o corpo, sepultaram-no e foram contar o facto a Jesus. Assim, o precursor do Senhor, como uma lâmpada ardente e brilhante, tanto na morte como na vida, deu testemunho da verdade".

O autorFrancisco Otamendi